JAMES SIRIUS POTTER

Eu pingava suor, mantendo Electra entre meu corpo e uma parede, enquanto a maldita cobra de cerca de cinco metros de comprimento. Sirius ria como um maníaco enquanto nos atacava. Electra se desvencilhou um pouco do meu aperto, apontando a varinha sobre o ombro, tentando calcular a altura exata da coisa:

- CONFRINGO! - ela gritou, a raiva ecoando na palavra com tanta intensidade, de forma que isso se estendeu ao feitiço: A cobra de madeira foi destruída em um milhão de pedacinhos, com Sirius xingando alto, enquanto os outros se protegiam dos estilhaços.

Eu soltei Els e olhei a sala magicamente aumentada. Havia pedaços de madeira e vidro para todo lado, Sirius ostentava um corte que vertia sangue no meio da testa e Alvo espanava poeira da roupa. Os outros pareciam um tanto horrorizados com o poderio mágico da setimanista à minha direita, que arrumava os cachos como se não tivesse destruído uma coisa com um aceno de varinha de costas para o alvo.

- Ela acertou a cabeça em cheio. - Pontas disse, pigarreando. - Você joga quadribol?

- Sou batedora. - foi tudo o que Electra disse, olhando meu avô. - Que horas são, James?

- Quase uma da tarde. - eu olhei meu relógio e encarei os outros. - Vamos. Electra e eu temos que ir à reunião da Ordem ainda. - eu limpei Electra e eu com um aceno de varinha e liderei os outros para fora da Sala Precisa e até o Salão Principal.


- Bem-vindos, Sr Potter e Srta Black. - Dumbledore sorria sob a barba espessa, sentado em uma cadeira macia. Ele estava acompanhado por McGonagall, um homem barbudo que pelas fotos que eu tinha visto era Caradoc Dearborn, Fabian e Gideon Prewett e, para a minha supresa, Alastor Moody.

- Estamos recrutando adolescentes agora, Alvo? - Moody olhou para o diretor. McGonagall parecia especialmente horrorizada:

- Eles ao menos têm dezessete anos, Alvo! - a voz da professora ficou aguda de uma forma que eu nunca tinha ouvido. Electra encolheu os ombros, sem responder, mas eu abri um sorriso cordial:

- Não se preocupe conosco, professora.

- James, Electra, estes são os membros da Ordem em quem mais confio. Minerva, Alastor, Caradoc Dearborn e os irmãos Prewett. - o diretor apresentou o grupo, embora Els e eu já soubéssemos quem eram todos eles. De todos, apenas Minerva vivera o suficiente para nos conhecer.

- É um prazer conhecê-los. - Els abriu um sorriso delicado, amansando a maior parte dos bruxos, exceto por McGonagall e Moody, que sorriam para ela em resposta.

- Estes membros são para quem vocês deverão de reportar. Ninguém mais. - Dumbledore ficou de pé. - Suponho que queiram contar sua história para eles?

Electra e eu nos entreolhamos.

- São pessoas de alta confiança, Srta. Black. - Dumbledore lembrou.

- Morreríamos antes de delatá-los. - Dearborn lançou um olhar severo sobre nós dois. Antes que eu pudesse impedi-la, Electra balbuciou:

- Já ouvimos isso e da última vez Voldemort quase venceu.

- Da última vez? - Minerva pulou de pé. - Ora, Alvo…

- Peço que os ouça, Minerva. - Dumbledore ergueu a mão, e a professora voltou a se sentar, parecendo incomodada. Com um aceno de varinha, uma mesa com doces foi trazida para o centro das cadeiras e Dumbledore acenou para que Electra e eu nos sentássemos, o que fizemos imediatamente. - Se puderem explicar aos nossos amigos, Srta. Black.

Els se ajeitou na cadeira:

- Nós não somos daqui. Alphard não é meu pai e James não é um primo distante de James Potter. - ela disse, ansiosa. Eu apertei o joelho dela, encorajando a garota a falar. Aquilo não passou despercebido pelos outros, mas nós os ignoramos. - Nós… Bem, foi tudo culpa de Cygnus, o tonto do meu irmão.

Aquilo arrancou uma risada divertida dos Prewett e um sorriso resistente escapou de Dearborn.

- Nós não nascemos neste tempo. Somos do futuro. Voldemort foi um problema que perdurou muito tempo e influenciou muitos bruxos das trevas. - ela disse, rápido demais para ser interrompida. - Ele foi derrotado, claro, mas estávamos falando sobre outro bruxo no Salão Comunal da Grifinória e Cygnus ficou cutucando uma runa desconhecida. Nós fomos engolidos por uma luz azul e acordamos aqui, mais de quarenta anos no passado.

- Perdão? - Moody nos encarou e Dumbledore foi quem respondeu:

- Eles não são deste tempo, Alastor. Vieram do futuro, um no qual Voldemort foi derrotado.

- Com muita dificuldade, diga-se de passagem. - eu emendei. - James Potter não é meu primo e sim meu avô. Sirius não é primo de Electra e sim avô dela. Nós viemos por acidente.

- E já que estamos aqui, decidimos ajudar. Estamos presos, de qualquer forma. - Electra suspirou. - Recriar aquela runa, que eu nunca vi antes, é mais difícil do que o esperado.

- Deve ser uma magia antiga. - Dearborn ponderou. Els sacudiu a cabeça:

- Acredito que seja ancestral. Magia do tempo é muito complexa e difícil de ser manipulada. Para desfazer o que foi feito, preciso não apenas destrinchar aquela runa e sim refazê-la espelhada e na ordem contrária dos traços ou estaremos presos em um limbo. - Electra explicou.

- Você sabe muito para uma sextanista. - Gideon Prewett estreitou os olhos.

- Sim, sei. Porque na verdade sou uma setimanista no último ano de alquimia, presente em todos os treinamentos de verão dos Aurores desde os catorze anos. Assim como James. - ela apontou para mim.

- Não espere muito de mim. Electra é quem vive fuxicando aquela biblioteca dos Black. Ela é quem sabe sobre essa coisa de magia antiga e ancestral. Para mim é quase tudo a mesma coisa. - eu ergui as mãos, na defensiva. Electra franziu os lábios:

- Posso ser melhor nisso, mas James é nosso melhor duelista e estrategista. - ela explicou. - De qualquer forma, estamos presos nessa linha do tempo até encontrarmos uma forma de voltar.

- E enquanto estão aqui, irão nos ajudar. - Moody acenou com a cabeça. - Devem saber que isso pode deletar sua própria existência.

- Estou trabalhando com eles para que isso não aconteça. - Dumbledore disse, pacientemente. - Eles trouxeram informações essenciais para a queda de Voldemort.

- E quais seriam estas informações, Alvo? São tão boas que está disposto a colocar crianças para lutar? - Moody encarou o diretor, cuja olhar se tornou duro:

- Electra e James têm dezessete, quase dezoito anos. Não poderia impedi-los. - ele respondeu, frio. - E já que querem se opor a um bruxo das trevas, é melhor que estejam conosco.

Quando o silêncio ficou um pouco longo demais, eu pigarreei:

- Meu pai, Harry, é filho de James Potter e Lily Evans. - eu expliquei, sorrindo quando os olhos de Minerva se encheram de carinho. - Ele foi quem derrotou Voldemort. Quando era um bebê, Voldemort o caçou, matando meus avós quando ele tinha apenas um ano, mas meu pai sobreviveu.

Minerva colocou a mão sobre a boca, horrorizada.

- Ele evitou a ascensão de Voldemort algumas vezes, mas aos quinze não conseguiu impedi-lo novamente e ele retornou ao poder. Aos dezessete, ele era abertamente caçado, com Voldemort tomando conta do Ministério da Magia. Quando estava prestes a completar dezoito, ele o venceu pela última vez e foi a queda real de Voldemort e seus seguidores. - eu continuei. - Quando qualquer pessoa na minha família completa dezessete anos, somos explicados muitos detalhes que foram deixados de fora dos livros. Incluindo a forma como Voldemort se tornou tão poderoso.

- Ele criou Horcruxes, pedaços de sua alma presos em objetos. Se feitos da forma correta, isso o torna imortal até que aquela peça e o pedaço de alma sejam destruídos de forma irreversível. A própria alma do bruxo tem magia, irá se reconstruir até que não haja mais possibilidade de fazê-lo. - Els explicou, quando alguns bruxos pareceram confusos. - É um ritual complexo e muito obscuro. Voldemort criou sete em seu curso de vida, mas atualmente ele tem cinco. Nós sabemos quais são, mas ainda não sabemos onde estão.

- E suponho que esse será seu trabalho para a Ordem? - Dearborn questionou, cruzando os braços. - Dumbledore, vejo que eles são corajosos e inteligentes, mas esse tipo de tarefa não deveria ser designado a eles…

- Apenas nós sabemos quais são e sabemos quais feitiços de proteção foram utilizados. - Electra interrompeu. - James é um bom legilimente e eu sou uma oclumente melhor ainda. Vocês não vão receber qualquer informação a respeito. Voldemort matou os avós de James, meu avô foi morto pela sua tenente. Dentre nós - ela apontou o círculo, séria. - nós dois somos os que mais temos direito a um pedaço de alma daquele desgraçado.

- Pelo menos aceitem nossa ajuda. - Minerva pediu, séria. - Se irão se enfiar em tarefas perigosas, deixem-nos ajudá-los.

- Podem nos treinar. Mas a tarefa em si é nossa. - eu cedi e olhei o diretor. - Era isso?

- Sim, Sr. Potter. Há algo mais que queira discutir?

- Sim. Duas coisas, na verdade. - eu me ajeitei na cadeira. - James e Lily foram traídos por um amigo, que era o fiel do Feitiço Fidelius do esconderijo deles.

- Suponho que ele já esteja passando informações adiante. - Fabian cruzou os braços. - Já têm comprovação? Não quero ter que esmurrar alguém inocente.

Bem que minha avó tinha sido muito clara sobre o quanto eu gostaria dos irmãos dela, se eles fossem vivos.

- Enquanto vocês trabalham por fora da escola, Electra e eu trabalhamos por dentro. Nesse meio tempo, conseguimos nossos próprios informantes. - eu expliquei, ignorando o olhar de surpresa de Moody. - Ainda não posso expô-los, mas em breve talvez seja necessário. Nós sabíamos quem seria, mas ainda não tínhamos certeza se já havia se corrompido.

- E o nome? - Gideon pressionou.

- Peter Pettigrew. - eu olhei Minerva, que sacudiu a cabeça:

- Ele jamais…

- Ele é um rato traidor. - Electra cuspiu, fazendo Dearborn sorrir com carinho. - Um rato traidor que eu mesma interrogarei assim que tiver a chance. Ele fez meu avô mofar em Azkaban por doze anos enquanto era inocente. Ele passou informações a Voldemort e, depois que ele caiu ao tentar matar tio Harry, foi ele quem o ajudou a voltar ao poder.

- Vocês têm confirmação? - Dumbledore questionou.

- Sim, de dentro do próprio círculo de seguidores de Voldemort. - eu apertei o joelho de Electra novamente, tentando acalmá-la. - Se ele já está passando informações, diretor, precisamos manter um olho nele. É claro que cessar o fluxo de informações para Pettigrew será um erro, porque saberão que sabemos e isso vai fazer o ritmo da guerra se acelerar. Podemos ceder um pedacinho aqui e ali, sopesando os riscos e benefícios.

- Isso também nos coloca em alguns problemas relacionados a isso. Lily, Sirius, James e Remus sabem sobre nós. - Electra emendou. - E agora sabem sobre esta traição. Não podíamos esconder deles depois de conseguirmos nossas próprias fontes, já que isso os colocaria em maior risco se deixassem escapar sobre a nossa existência. - ela explicou. - De qualquer forma, há a questão da segurança de todos nós. Se eles morrerem, nós desapareceremos antes que um de vocês possa piscar.

- E é isso que queríamos discutir, além de Pettigrew. - eu olhei o diretor e depois McGonagall. - Nós planejamos sair da escola. Quer dizer, sairemos para os feriados para a Mansão Potter e não retornaremos. Vamos focar na nossa parte de destruir Horcruxes e retornar ao nosso tempo. Mas para isso, precisamos manter os demais conosco. E isso coloca as famílias deles em risco.

- Quer esconder as famílias? - Dearborn perguntou. - Isso os colocará em maior evidência…

- Assim que não voltarmos, todos os olhos se virarão para eles. - Electra lembrou e Caradoc suspirou, acenando com a cabeça. - As famílias Potter, Evans e Lupin devem ser escondidas simultaneamente ao que deveria ser nosso retorno às aulas.

- E vocês ficarão onde?

- Ainda não decidimos. - eu respondi. - Temos algumas semanas até termos tudo definido, enquanto isso vamos focar no mais imediato.

- De acordo. - Gideon olhou o irmão, que acenou com a cabeça. - Há alguém além dessas famílias que devemos proteger?

- Suas próprias. Se somos alvos, vocês serão em breve. - Electra respondeu e olhou para mim e eu acenei com a cabeça. - Especialmente sua irmã, Molly, e o marido dela, Arthur.

- Perdão?

- Eles são os avós de James. - Electra encolheu os ombros. - A caçula deles, Gina, é a mãe de James e Al. Então, eles precisam ficar vivos.

- Certo. - Gideon passou a mão no rosto e eu sorri ao ver o relógio que, neste momento, eu carregava no punho. Apesar de querer muito, não seria uma boa ideia contar a ele que morreria em batalha. Pelo menos, não por enquanto. - Os dois são maiores de idade?

- Sim. Ambos nascidos em outubro. Completaremos dezoito anos no próximo mês. - eu respondi. - Els é apenas uma semana mais nova do que eu.

- Bem, já que são maiores de idade não podemos impedi-los. - McGonagall pareceu exasperada. - Nos deixem ajudá-los. Pelo menos, a treiná-los.

- Estamos todos à disposição de vocês. - Caradoc acenou com a cabeça, os outros concordando. - Contaremos sobre vocês, mas não sobre a forma como chegaram a nós e muito menos sobre quem realmente são. Apenas apresentaremos vocês como novos membros escolhidos a dedo por Dumbledore.

- Muito bem. - Dumbledore ficou de pé e nós o imitamos. - Por hoje, é isso. Mantenham a segurança nas casas das autoridades trouxas e, agora, comecem a monitorar as famílias Evans, Potter e Lupin.

- Certo, Alvo. - Moody o encarou, sério, e depois se virou para Els e eu. - Vocês dois vão aos treinamentos de verão dos aurores?

- Há uma lista e alguns requisitos. James e eu temos frequentado desde as férias do quarto para o quinto ano. - Electra explicou. - Meu pai, Atlas, não pega leve porque sou a filha dele.

- Muito menos comigo. - eu reclamei.

- Ele está garantindo que a filha tenha um namorado que possa protegê-la. - Gideon jogou um punhado de doces na boca. Electra corou e eu tossi, sem graça.

- Nós não somos namorados. - ela disse, desconfortável.

- Ah. - Gideon pigarreou. - Desculpe. É raro ver duas pessoas tão próximas que não estão juntas.

- Tudo bem. James é ótimo. Eu teria sorte de ter alguém como ele como meu namorado. - Electra respondeu, evitando me olhar. McGonagall arregalou os olhos e olhou Dearborn, que sorria com diversão.

- Deveríamos ir. Logo vão notar que sumimos e eu não quero lidar com o seu irmão tentando me intimidar. - eu segurei a mão de Els, ignorando o olhar brilhante demais de Fabian.

- Você fica intimidado por Cygnus? - Electra soou divertida, depois de acenar para os outros bruxos, enquanto eu abria a porta.

- Não, mas é irritante e me faz querer colocar um punhado de tentáculos na cara dele. - eu respondi, fechando a porta atrás de mim com um clique suave, a risada de Els ecoando pela escadaria da sala do diretor.

Pelo menos aquilo aliviava o fiasco de ter meu relacionamento com Electra questionado. E, Merlin, eu devia estar sendo muito óbvio se Gideon e Fabian tinham percebido em menos de uma hora de convivência.


Os outros estavam, desta vez, no salão comunal, tentando parecer focados nas tarefas dadas para o final de semana. Os olhos de Sirius brilharam quando nos viu entrar:

- Ah, finalmente. Onde estavam? - ele questionou, fazendo metade do salão olhar para Els e eu e cair na risadinha.

Electra estreitou os olhos:

- Surrando uns sonserinos. - ela se jogou na poltrona, suspirando em seguida. - Deveríamos praticar aquela transfiguração da McGonagall. Eu queria muito dominar aquilo.

- Para garantir sua posição como professora substituta no futuro? - Cygnus perguntou, inocente. Els sorriu docemente para o irmão:

- Para deixar você permanentemente com o cabelo amarelo-canário.

Alvo e Bells riram alto, ignorando o olhar um tanto preocupado dos demais.

- Podemos treinar ainda hoje. - Pontas estralou o pescoço, distraído. - Mas me deixe terminar essa parte da redação de Poções. Já fizeram a de vocês?

- Sim. - eu respondi, distraído. Slughorn tinha mantido as mesmas tarefas, o que tinha tornado a minha vida e a de Els imensamente mais fácil. Foi só procurar exatamente a página do livro, relembrar as partes importantes e reescrever a redação do ano passado, salvo com alguns detalhes. - Foi bem fácil.

Al crispou os lábios para mim, sem responder, porque sabia que isso iria nos expor se respondesse como queria.

- É porque você tem Els. - foi tudo o que Cygnus resmungou. - Podia deixar um pouco do cérebro dela para gente.

- Na verdade, sou eu quem tenho James nessa. - Els riu. - Ele é melhor do que eu em Poções. - ela ficou de pé. - Vou tomar um banho, arrumar as coisas de Transfiguração e volto.

- Que coisas? - Remus olhou para Anabelle, franzindo a testa. - Ela só precisa da varinha.

- A doente da minha irmã - Bells estalou a língua. - tem resumos excepcionais em Transfiguração. O examinador dela nos NOMs foi falar com meu pai sobre isso. Ela tem a descrição exata do tempo e movimentos de varinha. Inclusive, nas férias, estava brincando de aperfeiçoar alguns feitiços.

Anabelle tinha razão - Electra obcecada com Transfiguração. E ela não estava tentando aperfeiçoar uns feitiços e sim o processo para transformação em animago.

Eles não tinham ideia do quão aterrorizante Electra era.

Não que Alvo, também, não fosse. Ele era surreal em Poções. Eu era bom, mas Alvo era outra coisa. A facilidade que ele tinha em identificar poções, ingredientes e criar antídotos não era comum, principalmente em bruxos menores de idade.

Enquanto Alvo era o expert em Poções, eu era o melhor em DCAT. Era muito frequente que eu ajudasse os meus irmãos e os irmãos de Electra e, por vezes, a própria Electra. Bells era conhecida por ser excelente em feitiços - mas eu não a tinha visto mexer com isso até agora. Cygnus, por outro lado, dominava Aritmancia - Els tinha cedido o posto a ele quando ele conseguiu resolver uma questão que ela estava estagnada havia uma semana.

Ainda assim, para mim, Electra era a mais excepcional entre nós. Saber transfiguração exigia talento em feitiços - e feitiços eram a base de todo o nosso conhecimento bruxo. Sem contar que não era qualquer um que estava a um passo de criar uma nova forma de se tornar animago aos dezessete anos.

- Vou cochilar. Me chamem quando terminarem. - eu afundei no sofá. - E se alguém se atrever a fazer uma gracinha que seja - eu encarei principalmente Cygnus e Alvo, que fizeram caretas. - vai sofrer o mesmo em dobro. - eu fechei os olhos e caí no sono.

ELECTRA ADHARA BLACK

James estava mal-humorado, depois que eu o acordei, já que ninguém tinha coragem de acordá-lo. Eu tinha mandado um dos meninos até a cozinha para buscar café.

Café que agora James bebia como se não houvesse amanhã.

- São cinco da tarde. Você vai passar a noite em claro. - eu revirei os olhos. James sacudiu a cabeça:

- Estou tão cansado que provavelmente dormirei como um bebê. - ele respondeu, depois que nos ajeitamos na Sala Precisa. Os demais criavam seus próprios basiliscos, se divertindo com a magia que tentavam criar.

Alvo, por exemplo, tinha transfigurado almofadas redondas em dentes - que ele tinha jurado usar para nos cutucar durante nosso treinamento com eles para o basilisco real. Remus e Cygnus tinham seguido para a biblioteca, pesquisar. Lily e Pontas tentavam criar algo mais próximo da realidade, enquanto Bells tinha um olhar sádico demais criando o basilisco falso mais comprido até agora.

- Você realmente acha que conseguimos lidar com o basilisco sem os outros membros da Ordem? - eu olhei James, subitamente ansiosa. Ele olhou para mim:

- Não temos opção. - James ponderou. - Quanto menos gente souber dessa coisa de Horcruxes e quais são, melhor. Nove de nós envolvidos nisso já é demais.

- Achei estranho Dumbledore não se envolver mais. - eu disse, baixo. James sacudiu a cabeça:

- Ele quer saber do que somos capazes. - ele respondeu, no mesmo tom. - Se somos capazes de fazer aquilo que nos comprometemos.

Eu acenei com a cabeça, concordando. Dumbledore era genial, sim, mas não era bondoso. No mínimo, estava usando essa caçada às Horcruxes para nos testar e saber se estávamos aptos para tudo o que viria com a guerra que, até agora, andava lenta.

Ele e nós sabíamos que a coisa ia desandar assim que Voldemort suspeitasse das Horcruxes destruídas. Então, precisávamos estar mais do que prontos para a eclosão da coisa de fato.

Sirius se virou para mim, um sorriso alegre demais no rosto:

- Prontos?

James se levantou, oferecendo a mão para mim:

- Claro que estamos. - ele sorriu e eu o imitei.

Aquilo ia ser divertido.


Não foi divertido.

Na verdade, sequer estávamos prontos para o que eles tinham preparado. Da primeira vez, tínhamos treinado contra um basilisco por vez. Dessa vez, haviam quatro. James tinha sido jogado para um canto, xingando o irmão de todos os palavrões possíveis, mas tinha destruído o monstro e jogado um dente de basilisco na cara do irmão, com raiva. O basilisco que Sirius criara era bem agressivo, mas James e eu tínhamos conjurado o Sectumsempra juntos, de modo que a coisa se partiu em mil pedaços. O basilisco criado por Lily e Pontas era, o que eu tinha imaginado, ser o pior. Minha testa sangrava e eu tinha o lábio cortado de ter sido arremessada por uma cauda comprida. Em momento de raiva, eu tinha optado pelo Confringo novamente - só que desta vez acertei uma mesa e não a criatura, fazendo pedaços de madeira voarem para todo lado.

Foi James, de novo, que destruiu o basilisco, com um Confringo mirado de forma mais adequada.

Agora só nos restava o basilisco criado pela sádica da minha irmã caçula. O basilisco dela tinha obrigado James e eu a procurar abrigo sob um pedaço de parede caído. James, como sempre, mantinha o meu corpo sob o dele, como se fosse um escudo, para me proteger do pior.

- James, eu vou usar o Confringo. - eu trinquei os dentes, tentando mirar na sombra da coisa.

- Não temos um bom visual daqui. - ele bufou, quando o pedaço de concreto nos apertou mais ainda, fazendo com que o nariz dele colasse no meu.

Era muito difícil pensar em feitiços quando James estava tão perto que eu podia ver os pontinhos dourados nos olhos castanhos dele.

- Vamos ter que arriscar.

- Vamos de Estupefaça primeiro. - ele ponderou. - Ele vai recuar. E então você usa seu confringo.

- Feito.

James olhou para o chão, observando a sombra antes de colocar a mão para fora e estuporar a coisa sem dizer uma palavra. A sombra do basilisco recuou o suficiente para que eu sentisse segurança de esticar a minha mão sobre o pedaço de concreto que prendia James e eu no chão e, também em silêncio, conjurei meu feitiço favorito.

O basilisco explodiu em mil pedacinhos e uma gosma vermelha voou por toda a sala, causando gritos e risadas de todo canto. Um pedaço da gosma escorreu pelo meu braço, me causando uma careta que fez James rir:

- Sua irmã é genial. - ele tentou empurrar o pedaço de concreto com as costas, mas não conseguiu, resmungando em seguida. - Pode levitar isso, Els? Não tenho força suficiente para erguer concreto.

- Claro. - eu acenei com a cabeça, obedecendo o Potter.

Que situação constrangedora.

Eu nem queria imaginar o nível das piadas que Alvo estava criando.

- Aproveitaram o escuro? - Al perguntou, tirando gosma dos óculos. Pontas e Sirius riram alto e eu encarei o Potter mais novo:

- Mais uma palavra e eu vou garantir que a linhagem Potter não continuará por você.

Alvo riu, mas havia certa cautela nos olhos dele.

- Foi inteligente, Bells. - James elogiou a loira, que sorriu largamente:

- Temos que nos preparar para a chuva de gosma que vai vir se precisarmos usar o Confringo da Electra. - ela disse, animada. - Mas devíamos encerrar por hoje. Está tarde e vocês devem estar exaustos.

- Continuaremos amanhã. - Sirius concordou. - Vamos nos limpar e ir atrás de Remus e voltar para o salão comunal.


Os dias se passaram rápido demais, nosso treinamento sendo basicamente contínuo até que nossos irmãos se dessem por satisfeitos pelo dia. James e eu tínhamos melhorado nossa mira, mas ainda era muito difícil. E nossos irmãos não estavam tentando nos matar de fato, só nos irritar - eles sabiam que perder para pessoas mais novas nos deixavam irritados.

A noite de terça-feira chegou voando - e assim minha ansiedade atingiu o ápice. Uma coisa era ir com James, como sempre tínhamos feito. Outra era vê-lo combinar com o irmão de se encontrar no salão comunal ou de nem subir.

Eu tinha tentado ir dormir, assim como os outros, mas meus olhos não se pregavam. Que tipo de informações eles nos dariam? Pettigrew desconfiava de alguma coisa? Teríamos que sair antes do previsto? Pior: teríamos que adiantar nossa visita ao basilisco para esta semana, ainda sem resposta de Fleamont Potter?

Eu girei na cama, socando o travesseiro com força. Eu não tinha estrutura mental nenhuma para não saber o que estava acontecendo com os garotos agora. Principalmente em campo aberto daquele jeito.

De repente, eu entendia a reação dos outros muito melhor agora que estava no lugar deles.

O sol nasceu em algum momento entre os pequenos cochilos que eu tinha tirado. Eu me levantei, suspirando, e fui tomar um banho para parecer menos cansada do que me sentia. Uma noite insone não deveria acontecer com uma guerra prestes a estourar e eu estando bem na linha de frente e isso era o que mais me preocupava. Por agora, estávamos em Hogwarts, protegidos. E quando fôssemos procurar as Horcruxes? E quando Voldemort começasse a nos caçar abertamente? Estar cansada não era opção.

Anabelle e Lily me esperavam, ambas taciturnas, quando eu saí do banho, as duas já arrumadas enquanto eu ajeitava meu cabelo em duas tranças longas - nossa única comunicação havia sido um bom dia muito desanimado - e nós descemos.

Graças a Merlin, todos os garotos estavam lá. Um peso enorme saiu dos meus ombros e eu respirei, aliviada quando vi James e Alvo ilesos.

- Bom dia. - eu cumprimentei o grupo grande. - Como estamos hoje?

- Bem. - James colocou um braço sobre o meu ombro. - Achei o livro que queria.

Meu estômago afundou. James queria dizer o que eu achava que queria? Eu olhei para o garoto à minha esquerda e depois para Alvo:

- Vamos ter que passar na Walburga. - ele disse, baixo. Eu trinquei os dentes:

- Algo mais?

- Meu pai me respondeu. - Pontas ergueu um vidro repleto com um líquido transparente. - Ele só quer que vocês expliquem depois o porquê. Está interessado nesse trabalho de Alquimia.

- Claro que está. - eu abri um sorriso tenso. - Vamos?

- Vamos. - James tirou o braço do meu ombro e segurou a minha mão com delicadeza, me levando para fora do salão comunal e em direção à Sala Precisa.


- Que livro? - Remus quis saber, assim que James lacrou a Sala. James suspirou, passando a mão pelo rosto:

- É uma das Horcruxes. - ele disse, olhando Alvo. - Expliquei a Al ontem. É o diário dele, da época de escola. Teremos que encontrá-lo. Está na Mansão Black.

- Minha mãe está guardando um pedaço de alma de Voldemort? - Sirius parecia enojado.

- É o que Nott disse. Aparentemente, ele ouviu uma conversa entre o pai dele e Orion e Walburga. Eles tinham um caderno preto em mãos e diziam que o Lorde das Trevas tinha concedido uma grande honra à família ao pedir que guardassem o livro de sua família, repassado a ele por seu pai. - Alvo explicou. - É o diário dele. Eles não sabem que é uma Horcrux, mas acharam muito peculiar.

- Bem. Agora teremos que invadir Grimmauld Place. - Cygnus passou a mão pelo rosto. - Aquele lugar é impenetrável.

- Não é não. - eu sacudi a cabeça, fazendo os outros três Blacks me encararem. - Tem uma entrada secreta, usada pelos elfos.

- E como é que você sabe? - Bells perguntou. Eu encolhi os ombros:

- Eu já disse. Nunca fui aos Diggory prestar condolências. A mansão estava muito protegida, mas aquele pedaço é um segredo. Descobri por acaso, em uma das nossas idas até lá, no último Natal.

- Você me faz parecer um santo. - Sirius sacudiu a cabeça. Eu sorri:

- Obrigada. Agora, se toda a coisa não for para o inferno antes dos feriados, poderíamos pedir ajuda a Regulus. Ele estará dentro de Grimmauld Place. Depois, quando formos embora, o levamos conosco.

- É uma possibilidade. - Sirius ponderou. - Mas isso o colocará na linha de frente, Electra, e você tem que se lembrar de que ele tem apenas dezesseis anos.

- Sei disso. Mas talvez eu precise dele, de fato. - eu lembrei, suspirando. - Eu conheço a Grimmauld Place da minha época, não da sua. Pode ser que continue a mesma porcaria escura, mas pode ser que não. Além do mais, a única criatura viva quando entrei sem permissão era Monstro. Agora há pelo menos Orion e Walburga.

- Com as festas de Natal, todos os meus primos estarão lá. Incluindo Belatriz. - Sirius cruzou os braços. - Você mesma disse uma vez que ela era terrível.

- Ela era basicamente o braço direito dele. - Anabelle suspirou. - E se ela estiver lá, não tem chance alguma de você ir sozinha.

- Não irei sozinha. - eu rebati. - Preciso de ajuda, mas antes preciso saber mais detalhes dessa entrada com Regulus. Ele vai ter que investigar antes de irmos para sabermos quantos podem passar por lá e se é seguro. Se não, teremos que invadir a mansão arrombando a porta.

- O que vai ser impossível, considerando todos os feitiços que a Walburga colocou lá. - Alvo ponderou. - Bom. Vamos falar com Regulus a respeito depois. Agora, precisamos resolver a questão do basilisco.

- Já temos as lágrimas e sabemos a localização de duas das Horcruxes. - Lily se ajeitou na poltrona, ansiosa. - Podemos tentar matar o basilisco nos próximos dias.

- Hoje é quarta-feira. - James olhou para mim. - Vamos abandonar os estudos dessa semana e vamos focar no basilisco. Vamos matá-lo neste sábado.

- E dar início à caçada. - Pontas concordou. - Todos nós iremos ajudá-los agora. Precisamos estar preparados para o que vier nessa missão e depois.

- Remus e eu terminaremos nossa pesquisa. - Cygnus acenou com a cabeça. - Para termos um plano B, caso tudo saia dos eixos.

Caso James e eu não tivéssemos sucesso em matar o basilisco da forma como vínhamos planejando. Caso tudo saísse dos trilhos.

Pelas calças de Merlin, para onde eu estava levando meus irmãos?

- Não vai sair, mas prefiro a segurança de ter um plano B. - Remus disse, quando ficamos em silêncio, todos divagando sobre o que poderia causar a necessidade de usar nosso plano B. - Vamos tomar café.

- E começar a nos preparar. Sábado temos um compromisso importante. - Lily se levantou e foi em direção à saída da Sala Precisa e nós a seguimos.

Agora não havia mais como voltar atrás.

Em três dias, nós iríamos invadir o covil do Basilisco.