Após a conversa com Saori, onde a deusa demonstrou todo o seu apoio para a escorpiana, Luisa saía da sala com um semblante mais leve. Enquanto se dirigia para a saída, encontrou Saga, que também saía de sua conversa com o Grande Mestre. O geminiano acompanhou Luisa durante o percurso até a casa de peixes.

— Luisa, posso fazer uma pergunta? – Saga estancou os passos e a olhou sério.

— Claro! – mesmo com receio, concordou, parando os passos também.

— Você veio para essa dimensão por acaso, encontrou situações e pessoas diferentes, mas mesmo assim encontrou aquele que sempre amou. Você está feliz aqui? Nesse momento, se pudesse, optaria por voltar para sua dimensão ou ficaria aqui?

Luisa baixou o olhar enquanto sentia o coração bater à milhão. Achou que o dourado iria perguntar qualquer coisa, menos o que tinha acabado de perguntar. Por isso, não sabia o que responder, seus sentimentos estavam confusos, um turbilhão de coisas passava por sua mente e coração. Saga percebeu o desconcerto da moça, então levou os dedos até o queixo dela e levantou o rosto para que ela o fitasse.

— Desculpa, não deveria ter feito essa pergunta. Não entenda isso como se eu quisesse ser invasivo, mas é apenas uma curiosidade, afinal eu fui um dos culpados para que vocês viessem para cá. – tirou os dedos do queixo feminino e já iria seguir caminho quando sentiu Luisa segurar seu braço. Foi a vez dele a olhar.

— Não se desculpe e nem se sinta culpado. Isso aconteceu porque tinha que acontecer. Sinceramente, não sei o que responder. Eu me sinto feliz aqui, mas também sinto falta dos meus familiares e amigos e, em relação ao Milo… – mordeu o lábio, de uma maneira nervosa – Sim, eu o amo de uma maneira que nunca amei ninguém, mas depois do que ele fez... não sei se ele me ama. Então, continuo não sabendo o que te responder.

Foi a vez de Saga permanecer em silêncio. Ficou surpreso com a sinceridade da moça e de certa forma já tinha sua resposta. Então ambos seguiram seu caminho até a casa de peixes e despediram ao chegar lá.

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Calisto subiu até o Décimo Primeiro Templo correndo quase na velocidade do som, se isso fosse possível sem treinamento. Se jogou no sofá da sala, se enrolando no edredom como fazia de costume, percebendo que a Casa de Aquário estava mais gelada que de costume. Apenas seria possível observar seus pequenos olhos castanhos envoltos pelo cobertor.

Ficou se lembrando do beijo roubado pelo canceriano e de como foi maluca por ter cedido e, mais maluca ainda de ter enlaçado seus braços em volta daquele pescoço másculo e forte e ter sentido todos os gominhos daquela barriga trabalhada com seus pequenos dedinhos, a língua macia do cavaleiro brincando dentro da sua boca

— Aaah, Calisto, acorda mulher! – se auto recriminou por estar sonhando acordada.

Então ela se levantou como um grande Temaki se direcionando até o corredor do quarto de Camus. Iria pedir para ele se acalmar um pouco, ele devia estar lendo um livro de aventura e estar muito entusiasmado para a casa estar tão gelada assim. Bateu algumas vezes na porta e nada.

— Será que ele está dormindo? – ela então abriu a porta devagar com o máximo de cuidado para não se desenrolar do edredom fofinho. – Ué, cadê ele? – o quarto estava impecavelmente arrumado como de costume. A canceriana fechou novamente o cômodo e com certa dificuldade se virou – Se o Camyu não está aqui, quem está deixando esta casa tão gelada? O pato chulezento está na Sibéria… – fez um bico pensativa. – estranho…

Ouviu vozes animadas que vinham da cozinha então foi devagarinho, como uma pequena lagarta detetive. Andava grudada na parede sem fazer nenhum barulho, até chegar no dormente da porta da cozinha.

"Meu querido, que saudades, nem acredito que veio me visitar" – era a voz de Marie – "Você está cada dia mais bonito, como pode?" – ela dizia animada. – "Me dá um abraço apertado!"

— Será que Marie tem namorado? – Calisto deduziu pelo teor da conversa, tentou olhar um pouquinho para dentro da cozinha, mas se acovardou quando ouviu a outra voz.

"Você que continua linda. O tempo não passa para você, Marie."

— Nossa, quanto amor! – Calisto murmurava baixinho, virando um poço de curiosidade.

"Então me conte, como anda sua vida? Está gostando de alguém? Namorando?"

Calisto ergueu uma sobrancelha. - "Humm, não é namorado da Marie, quem será que é?" - Tentou prostrar-se novamente para bisbilhotar a conversa alheia até.

— Non posso acreditar que agora você escuta a conversa dos outros, mademoiselle?! – Calisto caiu de cara no chão, enrolada no edredom ao ouvir a voz altiva de Camus de Aquário, que apareceu como uma assombração na sua frente, fazendo com que o casal se virasse em sua direção assustados com a queda repentina da garota na frente da porta da cozinha.

Camus passou por cima dela, entrando na cozinha.

— Boa tarde, Marie! Como está Isaak? – ele pegou na mão da serva beijando seu dorso.

— Mestre! – o general fez um meneio respeitoso a Camus e ficou olhando sem saber o que fazer, já que Calisto parecia tentar se livrar da coberta com muita dificuldade, até conseguir sair do tubo quente toda descabelada.

Calisto se levantou toda torta jogando os longos cabelos para trás, dando um tchauzinho para o Marina.

— Olá, eu sou Calisto. Ainda não fomos apresentados. – ela, então, olhou para o aquariano, que bebericava um copo d'água, lançando um olhar mortalmente frio para a canceriana.

Percebendo que daquele mato não ia sair cachorro, resolveu tomar iniciativa e estendeu a mão para o finlandês que, da mesma forma que Camus fez com Marie, beijou-lhe o dorso.

— Isaak de Kraken, General Mari...bla bla bla – Calisto só via os lábios do belo general se mexerem.

"Nossa, como era lindo!" E aquela cicatriz que ela imaginava ser um horror, era super sexy.

— Mon ange? – Camus cortou a sonhadora canceriana, que o olhou sorrindo com cara de besta – Isaak lhe fez uma pergunta. – Camus estava quase chorando por tentar segurar a risada. Isaak ainda não conhecia Calisto, mas ele sim, e sabia muito bem que ela não havia ouvido uma palavra de seu pupilo.

— AHmmm. – ela olhou para o olho verde dele e depois para os amarelos e felinos de Marie, que revirou os olhos e saiu dali para buscar a bandeja de chá.

— Mon Dieu, Calisto! – a serva murmurou, buscando os sachês na caixa de chá.

— O que você perguntou mesmo? Eu me distraí um pouquinho. – ficou com um sorriso amarelo diante do Marina.

Isaak olhou para Camus como quem dizia: Essa moça é doida?

— Só perguntei se você se adaptou a esta dimensão, nada demais senhorita, não precisa ficar encabulada. – a castanha estava um pimentão.

— Então, Isaak, falando em perguntas não respondidas, você não respondeu a minha. – Marie cortou a situação constrangedora.

— Ah, Marie... – Isaak deu um sorriso safado que Calisto quase perdeu a respiração. Isso acontecia quando Camus sorria pra ela também. Esses cavaleiros… ai, ai. – Sabe que eu tô na prateleira pra quem quiser pegar, né? – seu olhar desviou para o de Calisto que quase queimou a boca com o líquido quente servido. – Mas meu coração é de uma mulher só. Pena que ela é apaixonada por um Dragão Marinho, se é que me entendem.

Calisto captou na hora mas não se manifestou, resolvendo ficar com aquela carta na manga. Lembrava muito bem como aquela sereia projeto de baiacu poderia ser perigosa, e saber que o Marina era apaixonado por ela poderia ser útil caso ela tentasse aprontar mais com Koga.

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Com a cabeça girando de tantas dúvidas, Koga decidiu caminhar um pouco sozinha pelo santuário. Pensou em ir até a arena e se distrair assistindo aos treinos dos cavaleiros e aspirantes, mas ficou com receio de acabar encontrando o protagonista de seus pensamentos por lá e acabar agindo por impulso, tamanha a saudade que sentia dele.

Imaginar que pudesse encontrar com Kanon fez sua imaginação fluir e ficou fantasiando como seria bom se ele a abraçasse apertado como costumava fazer, e depois ele enfiava o rosto na curva de seu pescoço e inspirava profundamente para sentir seu perfume, o que lhe causava muitos arrepios e a fazia se derreter todinha contra ele. O pescoço era o seu ponto fraco e ele sabia disso, por isso ele abusava dessa parte do corpo da sua bombom...

— Bombom... – ela riu com a lembrança dele a chamando assim no meio de todo mundo, sem a menor vergonha. Sentia saudades de ouvir a voz dele a chamando assim.

Seria tão fácil se ela simplesmente jogasse tudo pro alto e se atirasse nos braços dele assim que o visse novamente. Toda essa saudade já teria fim e ela voltaria a sentir os braços fortes ao redor de seu corpo, sua voz grave dizendo alguma safadeza ao pé do ouvido... Sorriu novamente ao lembrar de como ficava sem graça quando ele fazia isso na frente de quem quer que fosse.

— É um descarado todo o tempo. – Koga caminhou até uma coluna caída pelo caminho aleatório que fazia e sentou no chão se recostando no antigo objeto de mármore. – Você me tirou do sério por tantas vezes com suas crises de ciúmes sem razão... É um bobo! – pegou umas pedrinhas pelo chão e começou a separá-las pelo tamanho. – Você é um idiota, Kanon! Como pode passar pela sua cabeça que eu sequer olharia para outro, tendo VOCÊ comigo?! Eu… eu te...

— Você o ama!

Com o susto, Koga pulou de seu lugar olhando para trás com as mãos no peito. Como aquele homem chegou até ali sem que ela notasse?!

— Saga?! Quer me matar do coração, é?

O loiro sorriu de leve.

— Me perdoe, cunhada. Não tive a intenção de assustá-la. – a chamou assim para fazer um teste de sua reação.

— Pois foi o que pareceu! E sim, era isso mesmo o que eu ia dizer. – concluiu a virginiana com um bico e as sobrancelhas unidas, tentando disfarçar o calor que queimava seu rosto.

— Então, se você o ama, por que não reata com ele? Eu sei que ele errou, mas ele está disposto a reparar todos esses erros.

— E quem me garante que ele não fará novamente? – Koga virou-se para ele e cruzou os braços.

— Acho que não preciso te lembrar que, assim como eu, Kanon errou muito no passado mas quando ele percebeu seu erro ele se redimiu. Então tenho certeza que com você ele fará o mesmo.

Com sua resposta, o geminiano desarmou totalmente Koga. Ela sabia que tudo o que ele falou era verdade. Por fim, suspirou profundamente e respondeu num sussurro:

— Vou pensar... Tenho medo de me magoar novamente.

— Eu entendo. Mas dê uma chance para vocês. – dito isso, ele saiu, deixando a virginiana com seus pensamentos.

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Após sua tietagem com Isaak, Calisto ainda estava com a cabeça a milhão. Não entendia por que tudo tinha que ser tão complicado, e ainda por cima veio aquele beijo roubado pelo Máscara pra bagunçar ainda mais a sua cabeça.

Uma vozinha ficava se repetindo pra jogar tudo pro alto e agarrar de vez aquele italiano, mas ainda tinha um certo receio de se entregar. Odiava mentiras e meias verdades, e isso era tudo o que ele representou até agora.

— Carcamano idiota, por que você tem que ser tão difícil? – esbravejou, chutando uma pedrinha pra longe.

— Porque ele tem medo, Calisto. Ele errou muito e agora tenta não cometer os mesmos erros. – a voz grave de Saga fez com que a canceriana desse um pulo por causa do susto.

— Aiiiii criatura! Tá querendo me matar, é? Fica aparecendo assim do nada igual um fantasma.

— Desculpe, não queria te assustar. Não percebi que você estava distraída.

— Tá, tá... – Calisto balançava as mãos – Mas voltando ao outro assunto, não venha querer defender seu amigo! Eu sei que ele errou, mas ele continua errando, só que de outro jeito. – cruzou os braços e fez um bico enorme.

— Não estou defendendo! Você não tem ideia de como foi quando voltamos à vida, em como eu, Mask, Afrodite e Shura sofremos por causa do remorso. Foi preciso muito esforço para tirar todo esse sentimento do nosso coração. Então, peço que se coloque no lugar do Máscara da Morte e, se você o ama, coloque uma pedra em cima do que aconteceu. Ele precisa de você.

Calisto sentiu o mundo começar a girar sob seus pés. De fato, não havia pensado em tudo o que o geminiano falou. Nesse momento sentiu seu coração apertar dentro do peito. Será que estava sendo egoísta? Se perguntava e quando foi falar com Saga, ele havia sumido. – To falando, essa criatura é que nem um fantasma ou o Mestre dos Magos.

E assim, tendo suas dúvidas esclarecidas, ou pelo menos grande parte delas, Saga voltou para a casa de Gêmeos com a cabeça e o coração mais leves. Decidiu por arquivar mentalmente a descoberta de como enviar as meninas de volta para sua dimensão, e aguardar. Se aqueles três patetas fizessem tudo direitinho a partir dali, teriam o amor daquelas mulheres para o resto de suas vidas.

Continua...