As luzes tímidas do alvorecer surgiam detrás das montanhas que rodeavam Hogwarts, refletindo nas folhas ocres das árvores daquele meado de outono, fazendo com que o castelo e seus terrenos parecessem banhados em ouro. No meio daquela paisagem, uma figura solitária se destacava. Uma jovem de cabelos negros e encaracolados andava com seriedade no caminho que saia do Herbário. Trazia consigo, além dos livros, uma bolsa de tecido que continha algumas ervas que pretendia usar nas aulas de Poções. Marguerith Black estava tão compenetrada em seus futuros afazeres que, apenas no último segundo, sentiu-se erguida e rodopiada em pleno ar. Involuntariamente, soltou um grito de susto.

-Não precisas gritar, milady, sou apenas, eu seu mais dileto servo. - respondeu um moreno de olhos azuis.

-Alphie? Só poderia ser você a me pregar uma peça dessas! - respondeu a moça, já no chão e recomposta do susto.

O rapaz abriu um amplo sorriso.

-Confesse, Marge, que faço sua vida muito mais divertida.

A sonserina fitou o rapaz, com olhos pretensamente sérios, embora um brilho de inconfessada diversão ondulasse no fundo do mar esverdeado de seus orbes.

-Não tem mesmo jeito, não é, Alphie? Vejo até que já está com o violão a tiracolo. Mal começou o dia e já está a se dedicar a vagabundagem. Ou, como suspeito por suas olheiras e olhar embotado, foi novamente com Abraham e Bartemius para o Cabeça de Javali, se dedicarem ao Bafo de Dragão, música e mulheres, e chegou agora ao castelo.

-Mulheres é departamento exclusivo de Bart, Marge. - respondeu o rapaz com um sorriso maroto a brincar-lhe nos lábios- Você sabe que sou um artista adepto do amor sincero. Quero dedicar a minha vida a idolatrar uma única musa, a inspiração contínua de minhas canções: Você.

-Sei...- respondeu a sonserina, incrédula, ajoelhando-se para recolher algumas ervas que haviam caído no chão. - Alphard, você é um Black, deveria se portar como tal...

O rapaz também ajoelhou-se, ajudando a prima a colocar na bolsa as ervas e recolhendo os livros que haviam caído graças à brincadeira dele.

-Você não me leva a sério, Marguerith. - disse ele, com uma pontada de melancolia.

A moça ergueu o rosto, fitando-o o rapaz com ternura e seriedade.

-Você é que não leva a si mesmo a sério, Alphard. Conheço você desde que éramos crianças, e sei que é muito mais do que essa máscara de jocosidade que gosta de usar. O que ganha fazendo com que tio Sirius e toda a família o vejam como um irresponsável que não importa com nosso nome?

O moreno levantou-se, irritado, passando os dedos por entre a vasta cabeleira escura.

-Tio Sirius! O mundo não gira ao redor daquele velho. Eu não entendo por que é tão importante para você agrada-lo. Certo era seu pai. Tio Phineas fez a escolha correta abandonando essa família maldita!

-Não diga isso! – Marge gritou, levantando-se de imediato - Nunca mais repita isso! Desde quando ser morto pelos mesmos trouxas que ele defendia e me abandonar assim é certo?

Alphard fitou a moça pequena que estava à sua frente, olhos marejados, apertando com força as unhas contra as palmas das mãos. Marguerith sempre aparentava ser uma fortaleza inabalável, por isso, muitas vezes ele se esquecia do quão frágil na verdade ela poderia ser às vezes.

-Desculpe, Marge. - disse ele, tomando as mãos dela entre as suas - Eu não queria te magoar...Eu não devia ter falado do seu pai...

Ele percebeu que ela soltou um soluço baixo, fazendo com que ele se lembrasse da primeira vez que viu Marge chorar. Exatamente no dia em que ela soube da morte de Phineas Black.

-Tio Phineas não te abandonou... E eu não vou te abandonar...

Marguerith permaneceu calada, mas os soluços cessaram. O silêncio começou a incomodar Alphard.

-Embora realmente não entenda tamanha consideração de sua parte para com nosso tio... -ele falou.

-Disse tudo, Alphard, ele é nosso tio.- respondeu a moça, soltando-se do rapaz. -Ele acolheu a mim e à minha irmã quando mais precisávamos. Não sei o que seria de nós sem ele e a Tia Hesper.

O moreno abaixou a cabeça. Compreendia o ponto de vista de Marguerith, concordava com a devoção em relação a Hesper, mas Sirius... Nada no universo, por tudo que presenciou na família, poderia fazer Alphard acreditar na boa vontade e altruísmo vindo do tio. O velho Black sempre fazia alguma coisa se tivesse certeza de que ganharia algo em troca. Por isso Alphard optara por não se encaixar nas expectativas de Sirius. Não queria ser usado por ele. Entretanto, Marguerith, não percebia isso ou talvez não se importasse.

-Tudo bem, Marge. Eu não quero me indispor com você, especialmente por causa de Sirius Black.

A moça meneou a cabeça, precisava fazer Alphard compreender o quão importante ele era para ela.

-Eu nunca ficaria com raiva de você por causa do nosso tio. Você é meu melhor amigo, esteve comigo nos melhores e piores momentos.

O moreno sorriu, beijando a fronte da prima, e colocando um dos braços por sobre os ombros dela enquanto com a outra segurava os livros de Marguerith.

-Se Betelgeuse escutar isso, vai ficar enciumada – ele gracejou.

Marge franziu a testa, com seriedade.

-Queria que vocês dois se dessem melhor, facilitariam tanto a minha vida...

-Eu não odeio a sua irmã. Apenas não temos tanta afinidade...

O modo frio da mais velha das gêmeas incomodava em demasia ao rapaz. Betelgeuse em quase tudo lhe lembrava o que detestava na família. Ela caminhava pelos corredores da escola como uma rainha. Nada parecia afetá-la, quase como se fosse uma donzela de gelo.

Era verdade que Marguerith emulava os mesmos comportamentos da irmã com grande parte dos colegas, especialmente com aqueles que não pertenciam à Casa dos Serpentes. Entretanto, ele sabia que existia nela um lado mais suave que ela escondia dos demais. Não conseguia culpá-la. Marge quase morreu envenenada quando pequena, embora pouco se lembrasse disso. O pai foi assassinado durante a guerra. E Marguerith ainda viu a mãe definhar lentamente até finalmente partir não muito tempo atrás. Tudo isso fez com que ela criasse uma muralha quase intransponível ao redor de si, com fortes mágoas difíceis de curar. Alphard se sentia grato por ela ter aberto uma pequena fresta entre aqueles tijolos para poder passar.

-Preparada para a grande festa de Natal em família? – ele perguntou, mudando propositalmente de assunto.

-Ainda não me decidi.

Reunir toda a família sempre trazia sentimentos conflitantes para Marguerith. Se por um lado ela sabia que muitos dos primos e tios ainda a viam como a bastarda indigna de Phineas Black, por outro, ela e Bete estavam sob a tutela direta do grande patriarca da família, posição privilegiada que ela admitia para si mesma que gostava de ostentar. Era como se naqueles momentos, cada um deles precisava engolir seus orgulhos feridos e se submeter a ela e à irmã. Elas eram as atuais joias da coroa da Família Black. Se indispor diretamente com elas era também se indispor diretamente com Sirius. Ninguém, a não ser Alphard em seus rompantes de rebeldia juvenil, parecia desejar perder as vantagens de se ter as boas graças do velho Black a seu favor. Marguerith não podia negar que esse tipo de poder e posição era quase deleitosamente intoxicante.

Com esse pensamento, ela permitiu-se sorrir. Se não pudesse aproveitar desse frágil status na festividade, ao menos teria a companhia de Alphard para alegra-la.

-Ainda temos dois meses para nos prepararmos. E, talvez, não seja tão ruim no fim das contas. – ela respondeu por fim.

-Pelo menos a comida dos elfos nos salva – Alphard concordou, risonho. – O pudim de Natal mais perfeito de toda Grã-Bretanha!


Dois meses se passaram mais rápido que Alphard e Marguerith haviam previsto, afinal, eram anos de NOMs e os professores pareciam empenhados a ocupar todos os seus horários livres com deveres. Pelo que Marge soubera, nem mesmo Alphard, Abraham e Bartemius conseguiram manter as escapadelas para Hogsmeade.

Em um instante estavam envoltos a dezenas de livros, e, quando perceberam já estavam no Expresso de Hogwarts, voltando para Londres.

Na noite seguinte estavam todos em Grimmauld Place 12 reunidos com quase todos os parentes: tios, irmãos e primos de pelo menos três gerações diferentes.

Sirius e Hesper, como sempre, entraram no recinto como um rei e uma rainha entre seus súditos. Betelgeuse e Marguerith chegaram na festividade ao lado dos tios como pequenas princesas daquele reinado.

Hesper havia providenciado vestidos exclusivos de uma modista francesa, algo que dificilmente as demais primas teriam acesso com a mesma rapidez. A matriarca sempre se empenhou em providenciar o melhor para as "suas meninas", especialmente depois da morte de Rosette.

-Estão deslumbrantes – a mulher falou, de forma afetuosa.

-Obrigada, tia. – as duas responderam em uníssono.

Sirius apenas assentiu silenciosamente.

-Aproveitem a festa – Hesper disse, antes de começar a circular entre os convidados de braços dados com o marido.

Não demorou muito para que as gêmeas estivessem junto das demais primas. Não eram mais vistas como crianças fazia um tempo, e mesmo as mulheres casadas já as aceitavam em seu círculo. Betelgeuse começou a falar do vestido que ganhara de presente, destacando as qualidades da peça e da modista. As demais comparavam as próprias roupas e trocavam dicas de moda. Apesar do esforço descomunal, era perceptível que Walburga Black se ressentia por não ser o centro das atenções, porém as outras primas fingiam não reparar no desconforto dela.

Marguerith, por sua vez, não estava tão bem disposta a conversar sobre vestidos e moda naquela noite. Ainda se sentia cansada dos estudos e da viagem de trem.

A moça de olhos verdes se desligou da conversa, passando a observar os presentes. Ela prendeu sua atenção, involuntariamente em um casal, que conversava polidamente com a anfitriã. Era a filha do seus tios Belvina e Hebert, juntamente com o marido. Do lado do homem, estava uma garotinha. Ele segurava a mão da menina, de modo protetor e carinhoso. A esposa estava com o braço enlaçado ao dele. Uma onda involuntária de melancolia percorreu o corpo de Marguerith.

Do outro lado da sala, Alphard escutava, entediado, o seu primo, e também cunhado, Orion contar sobre o cavalo da raça graniana que iria ganhar de presente dos pais no próximo aniversário. Ele deixou seus olhos percorrem o recinto em busca de Marguerith ou Batermius, que também viera na festa com os pais e as irmãs. Talvez conversar com um dos dois salvasse a noite da completa monotonia.

Alphard encontrou a moça primeiro, e percebeu que Marge parecia tão ou mais miserável que ele. Talvez ele pudesse tornar a noite dos dois mais interessante.

Aproveitando que as demais primas estavam entretidas e Marguerith se afastara um pouco delas, Alphard se aproximou sorrateiro, pegando a mão da moça com cuidado. Ela se virou para ele, que colocou o dedo sobre os lábios, pedindo que ela fizesse silêncio.

Com os dedos entrelaçados, eles deixaram o murmurinho da festa para trás, percorrendo os familiares corredores do casarão até chegarem diante da imensa tapeçaria onde podia se ver quase todos os Blacks vivos e vários de seus ancestrais.

-O que estamos fazendo aqui, Alphie? – Marguerith perguntou, entre o curiosa e o divertida.

-Trazer um pouco de mistério e deslumbramento para a nossa noite. A festa parecia estar matando a nós dois de tédio.

A sonserina pensou consigo que tédio não era a melhor palavra para descrever o que sentia: um misto de saudades pelo que havia tido e pelo que desejava ter. Contudo, preferiu guardar aqueles sentimentos para si.

-E o que tem de tão espetacular nessa tapeçaria que já vimos centenas de vezes? – Marguerith cruzou os braços e arqueou a sobrancelha, intrigada.

Alphard deu um meio sorriso matreiro. Sabia que apesar de não parecer, por seu porte altivo e sério, e seus modos de dama bem educada, a prima tinha uma tendência a gostar de histórias com teor macabro. Até mesmo tinha uma ampla coleção de antigos Penny Dreadfuls, séries de livros baratos produzidos durante o século XIX, sobre façanhas de detetives, criminosos ou entidades sobrenaturais.

-Eu vou adiantar o seu presente de Natal. – ele disse, visivelmente empolgado – A verdadeira história da mui antiga e nobre Casa Black!

-Você bebeu? – Marge perguntou bem humorada.

-Esta noite não. – ele respondeu, dando uma piscadela marota – Eu encontrei um livro perdido na biblioteca da minha casa. Muito antigo e enfeitiçado. Embora ele pareça fino, tem várias folhas por dentro. E conta a história da nossa família desde os primeiros Blacks, até o final do século XIX. Alguns deles estão na tapeçaria, outros eu nunca tinha ouvido falar. Queria te dar de presente mas o Senhor Pollux não quer desfalcar nosso acervo.

Alphard revirou os olhos. Praticamente ninguém além dele tinha apreço pela biblioteca da casa. Era por pura mesquinharia que o pai lhe negara o pedido.

-Então, por favor, madame, sente-se para eu começar nosso espetáculo.

Marguerith assentiu, acomodando-se no carpete, com os joelhos fletidos e a cabeça apoiada sobre eles.

-A primeira parte de nossa história se chama: A Saga da Senhora de Àquila e do Grande Cão dos Black. Embora eu prefira chama-la de: Como nossa família foi amaldiçoada e já nasceu banhada em sangue...

Séculos atrás, antes dos Quatro Grandes fundarem Hogwarts, existiam duas famílias com fortes laços de amizade e vizinhos de feudo. Os Black e os Atwoods.

Os Black tinham dois filhos, Arcturus, o herdeiro, e Altair. Os Atwoods tinham uma filha, Hildegard, que fora prometida desde criança como esposa de Acturus.

Certo dia, quando Hilde mal havia completado a décima primavera, ela foi encontrada, por seu prometido, Arcturus, na floresta, junto dos cadáveres de seus pais, cruelmente assassinados.

Ela foi acolhida pelos futuros sogros e criada por eles em companhia do cunhado, Altair. Enquanto Arcturus foi para as Cruzadas Bruxas contra os bruxos do Oriente.

Altair e Hilde mantinham uma relação de amizade fraternal, entretanto, ambos eram apaixonados um pelo outro. Hilde negava o sentimento em respeito ao desejo dos falecidos pais e dos sogros de que ela se casasse com Arcturus. Altair, porém, não gostava do irmão, não apenas por Hilde, mas por achar que existia algo pérfido por baixo da pose de bom moço de Arcturus.

Depois de anos, afastado pelas Cruzadas, Arcturus finalmente retornou para se casar com noiva.

Embora Altair se confessou apaixonado por Hilde e a beijou, ela o rechaçou. O rapaz decidiu partir para um Refúgio de Monges Alquímicos. Sendo assim realizado o casamento entre Hildegard e Arcturus.

O casal partiu para a sede do feudo dos falecidos pais de Hilde. A vida do casal seguia aparentemente tranquila por algum tempo. Um enorme cão negro apareceu na floresta da feudo de Áquila quando Hilde saiu para um passeio. O cão se revelou manso e se tornou guardião e companhia de Hildegard nas cada vez mais constantes viagens de Arcturus.

O cão desapareceu misteriosamente pouco depois de Arcturus e Hildegard receberem uma carta falando que o pai dele estava doente.

Uma noite, um estranho surgiu para se encontrar com Acturus e Hilde inadvertidamente escutou a conversa entre ele e o marido. Ela descobriu que o esposo planejou matar o pai dele para herdar o feudo, e que não apenas isso, foi também o mandante do atentado que matara os pais dela com receio de que a mãe de Hilde pudesse gerar um herdeiro masculino e ele não ficasse também com as terras dos sogros.

Hilde esperou Arcturus viajar para poder fugir para a casa dos sogros, onde pediria ajuda e revelaria a verdade. Era inverno. Ela partiu, mas, foi pega por uma nevasca e desfaleceu sem conseguir se aproximar de seu destino. Antes de desmaiar, ela viu seu protetor cão negro e descobriu que ele sempre foi Altair, que era um animago. Ele levou Hilde para o Refúgio de Monges Alquímicos, onde ela foi bem cuidada.

Já recuperada, ela e Altair conversaram e revelaram tudo o que sabiam um para o outro. O rapaz – enquanto cão – sumiu para – enquanto pessoa- salvar o pai. Entretanto, ele não tinha provas contra o irmão mais velho.

Aparentemente preocupado com a esposa, Arcturus chegou ao Refúgio de Monges Alquímicos por ouvir boatos que ela estava lá. Porém ele não sabia que Hilde e Altair haviam descoberto a verdade sobre ele. Arcturus exigiu ter a esposa de volta, segundo os direitos que tinha. Hilde, entretanto, o acusou por seus crimes e pediu um duelo baseado no princípio da "vindicta" ou "vendetta". Durante a Idade Média não se considerava um insulto ou injúria resolvidos até que fosse vingado.

Eles duelaram arduamente entre si, e Arcturus quase matou a esposa, contudo Altair interveio, usando o mesmo princípio em nome do pai dele e de Arcturus, que quase morreu por causa do vilão. Porém, Hilde se recuperou e deu o golpe final, matando Arcturus e vingando os pais.

Poderia ser um final feliz para Hildegard e Altair, que se casaram depois disso. Mas a sombra dos atos de Acturus recaiu sobre todos eles e todos nós.

Durante as Cruzadas, Arcturus dizimou uma aldeia, não poupou nem um homem, mulher ou criança. Nessa vila havia uma bruxa poderosíssima, que tentou deter o exército de Black durante semanas até ser subjugada e torturada durante três dias e três noites. Nos suspiros finais, ela amaldiçoou todos que usassem o sobrenome de Arcturus e compartilhassem uma fração do seu sangue.

Hildegard teve vários filhos. Embora o mais velho proviesse da semente de Arcturus, era amado como se fosse filho de Altair.

Isso não impediu que a maldição o atingisse e atingisse seus irmãos pelo simples fato de serem todos Blacks...

O próprio Altair não alcançou a velhice, morrendo nos braços de sua amada Hildegard.

A Maldição seria passada de geração a geração... Até que não sobrasse mais ninguém carregando o sobrenome Black.

Por longos trinta minutos Alphard continuou a descrever vários outros fatos relacionados com aquele terrível segredo. A história de traições, assassinatos, morte e pecado que atingiu quase todos os nomes impressos na árvore da família.

Ao fim do relato, Marguerith parecia verdadeiramente chocada com o que acabara de ouvir. Ela levantou-se, se aproximando da tapeçaria, pousando os dedos no lugar onde imagem de seu pai estavam queimada, o que impedia que os nomes dela e da irmã fizessem parte da tapeçaria. Tudo o que Alphard dissera fazia sentido. Talvez a morte precoce de Phineas fosse resultado daquela funesta maldição.

-Marge? – Alphard perguntou, preocupado. Parecia-lhe que sua história tinha tido o efeito contrário do que pretendia.

-Você acredita nisso que me contou? – ela perguntou, com uma seriedade quase fria.

Alphard a puxou pelos ombros, fazendo com que Marguerith se sentasse ao lado dele no carpete. Seu olhar se fixou nos orbes verdes da jovem. Era como olhar para um túnel, com uma tênue luz ao fundo. Misterioso, mas convidativo. Ele se sentiu levemente desconcertado.

-Se eu acreditasse não teria te contado isso, apenas queria dividir com você uma história que apesar de eu achar tola em suas superstições, era excitante e envolvente.

Marge ponderou um pouco sobre aquilo. Era uma história poderosa, mas apenas uma lenda familiar. Toda família bruxa tinha a sua.

-Tomara que esteja certo. -ela refletiu por fim.

Alphard assentiu, colocando novamente sua mão por cima da dela, que estava pousada no chão. Marguerith abaixou os olhos. Observando seus dedos entrelaçados, ela sentiu o toque protetor e carinhoso do primo. Naquele instante, Marge soube que estava em casa. E que Alphard nunca permitiria que nada ruim acontecesse com ela.