A safira se destacava entre os pequenos diamantes que a rodeavam no anel que adornava a mão direita da moça de olhos tão azuis quanto a joia.
-Maravilhoso, não? – Betelgeuse sorria, enquanto Marguerith observava o anel com discreto espanto.
-Ainda não acredito que Stephanio te pediu em casamento.
A felicidade estava visivelmente impressa no rosto da mais velha das gêmeas.
-Quando ele me disse que tinha uma surpresa, eu não imaginava que seria isso. Claro que era só uma questão de tempo até que ele fizesse a proposta, mas acreditei que demoraria mais.
Marguerith ajeitou-se no sofá de veludo negro de dois lugares que dividia com a irmã na biblioteca da casa.
-Tio Sirius deve estar extasiado com esse acerto, especialmente depois do fiasco com Tomek.
Os lábios de Betelgeuse formaram um novo sorriso, contudo, seus sentimentos eram de escárnio e não contentamento.
-Pobre Tomek. Como será que ele está agora que o pai foi preso por apoiar Grindelwald e perder toda fortuna? Foi uma infelicidade o que aconteceu com os Grygiel.
Apesar das palavras de lástima, era notável que a moça parecia se divertir com a situação, ou, pelo menos com o fato de que se salvara de um enlace desastroso.
-Os Ivory não apoiaram Grindelwald? – Marge perguntou, curiosa.
-Sim, mas a família de Stephanio é poderosa demais na Rússia para ser afetada com o declínio daquele bruxo. E respondendo sua pergunta, Tio Sirius parecia no paraíso quando dei a notícia.
Marguerith não se conteve, soltando uma risada
-Não culpo nosso tio. Os Ivory são uma família tão antiga e importante quanto a nossa. – a caçula das gêmeas comentou.
-E eu amo Stephanio – Betelgeuse falou.
A caçula notou uma certeza inabalável nas palavras da irmã. Involuntariamente sentiu uma inveja absurda de Bete. A mais velha realmente parecia feliz, e Marge desejou algo assim para si.
Naquela noite, o sono parecia tê-la abandonado. Marguerith fitava o dossel creme acima de sua cama sem conseguir descansar. Ela também estava amando, assim como a irmã. Não fazia sentido negar para si a mesma felicidade que via em Betelgeuse.
Poderia ser loucura o que estava prestes a fazer, porém, naquele instante, ela não queria pensar nas consequências, desejava apenas se entregar a todos os sentimentos que tentou reprimir.
Marguerith se levantou, trocou a camisola por um vestido e um chapéu. Em cima da penteadeira estava caixinha que Alphard havia lhe dado. Ela abriu, lendo o endereço. Com cuidado, saiu de casa sem que notassem e aparatou.
Alphard terminava de organizar os livros na estante do pequeno apartamento que tinha adquirido. Ele escutou um barulho vindo de fora e olhou para a entrada. Nesse momento, a maçaneta da porta girou, logo revelando a caçula das gêmeas. Alphie piscou os olhos, confuso ao vê-la ali.
Marguerith entrou, cerrando a porta atrás de si.
-Eu quero ser sua namorada. – ela disse – E também quero passar a noite com você.
-Tem certeza? -Alphard perguntou ao que Marge assentiu, resoluta.
Seguindo até onde a moça de olhos esmeraldinos permanecia parada, Alphard se colocou diante dela, deixando escapar um meio sorriso nos lábios. Com delicadeza, ele pegou uma das mãos dela e a guiou até o quarto.
Sonhara tanto com aquele momento que lhe era quase impossível acreditar que o que estava acontecendo era real.
Apesar da expressão neutra de Marguerith, seus olhos a traíam. Ele pôde ver o brilho que perpassava pelos orbes verdes. Alphie se aproximou ainda mais, retirando o chapéu da cabeça da moça, para, logo em seguida, colocar a mão sobre o peito dela, notando, com satisfação, que o coração dela estava tão descompassado quanto o dele.
A mão do rapaz desceu até a altura do pescoço de Marge. Os dedos nervosos demoraram mais que o desejado para desatar o nó que prendia as alças da roupa. Quando conseguiu, ele ficou a observar as camadas da parte de cima do vestido caindo, os seios escondidos sob um lindo sutiã de renda branca. Percebendo que ela não o repelira, Alphard foi tirando, uma a uma as peças de roupa, revelando aos poucos, o corpo de Marguerith.
A moça decidiu fazer o mesmo – ela própria desabotoou a camisa e a calça, tirando as roupas de Alphard.
Marge seguiu na frente, deitando-se na cama, tentando manter o rosto sério, embora o rapaz conseguisse perceber um leve tremor nas mãos dela.
Ele a seguiu, deitando-se ao lado dela. Alphard permaneceu algum tempo apenas a observar o corpo nu da moça, desejava guardar nas lembranças o máximo de detalhes possíveis.
Depois ele cerrou os olhos, deixando seus dedos também memorizarem o corpo dela. Ainda sem abri-los, ele começou a beijá-la, a partir da altura das coxas, até lentamente alcançar os lábios dela.
Marguerith correspondeu com a mesma paixão.
As carícias se tornaram cada vez mais intensas e íntimas. Alphard notou que a expressão de Marge mudou por um momento, se contraindo, e temendo a estar machucando, fez menção de afastar. Mas, ao perceber ele tentando romper o contato, ela o puxou com mais força para junto de si.
A noite passou com eles dois perdendo-se em si mesmos. O perfume de rosas dela mesclando-se ao cheiro de almiscarado que vinha dele, se tornando uma única fragrância. Até que ambos, exaustos, quedaram na cama.
Marguerith aninhou-se nos braços de Alphard, do mesmo modo que na noite em que se beijaram pela primeira vez, e em pouco tempo ela parecia estar dormindo. Ele, apesar do cansaço físico, ainda permaneceu acordado, fitando o teto.
Entretanto, naquela noite, mais do que nunca antes, ele percebeu que não poderia viver mais sem Marguerith. Ele enfrentaria sem medo o grande patriarca da família quando chegasse a hora.
-Eu nunca vou desistir de você, Marge. – ele murmurou baixinho antes de, finalmente, cerrar os olhos e dormir.
Marguerith piscou os olhos, tentando afastar o sono. Ao seu lado, Alphard ressonava tranquilamente. Ela deixou escapar um sorriso ao vê-lo.
Marge levou a mão no rosto do rapaz, fazendo um delicado carinho. Foi então que percebeu que, apesar da respiração suave, ele estava acordado. Sorriu de leve, afastando a mão do rosto dele, antes de virar-se na cama, ficando de barriga para cima.
Por alguns instantes, Alphard apenas a fitou, os longos cabelos negros embaraçados sobre os lençóis, a face calma, o tênue sorriso...
- Eu amo você. - ele murmurou.
Marge piscou os olhos, voltando a virar a cabeça para encará-lo.
- Eu sei.
O silêncio voltou a cair entre eles. Alphard observou-a morder os lábios muito de leve, como se procurasse algo para falar. Foi então que ele se sentou na cama, puxando as roupas que tinham ficado jogadas ali para si, sem encará-la. Um temor repentino de que Marguerith tivesse se arrependido pela noite que haviam compartilhado tomou conta dele.
Foi então que ele sentiu a mão delicada dela sobre seu ombros, os olhos verdes brilhando vivamente.
- Eu estou feliz. - ela disse, séria. – Eu já te disse e repito, também te amo.
Alphard a encarou por alguns instantes, como se procurasse um traço de mentira por trás dos olhos da moça. Mas não havia nada ali que pudesse contradizer o que ela estava dizendo. Ao contrário. Havia ternura na face dela, havia carinho nos olhos dela... Havia amor enfim.
Ele voltou a puxá-la para si, abraçando-a com cuidado.
- Você quer se casar comigo? - ele murmurou, baixinho, sem soltá-la.
Marguerith arregalou os olhos, verdadeiramente surpresa. Ela não esperava por aquilo. Acabara de aceitar o namoro e ele já lhe fazia um pedido daquela amplitude... Ela não sabia o que responder, deixou-se ficar em silêncio por um tempo, aconchegada nos braços dele, tentando colocar os pensamentos em ordem. Ela o amava, e aquilo deveria bastar, não deveria? Contudo, ela não queria se precipitar. Havia muito o que pensar, muito o que organizar dentro dela mesma antes de se sentir verdadeiramente preparada para dar o passo derradeiro. Marguerith afastou-se um pouco do abraço dele, pousando novamente a mão no rosto do rapaz. Seus orbes fixaram-se nos dele para que Alphard compreendesse que ela não o estava repudiando
- Eu quero sim... Mas não agora... Talvez depois da nossa formatura. Eu quero descobrir como é estar com você não como meu melhor amigo, mas como a pessoa que eu amo.
Ele a observou por alguns instantes, antes de assentir, beijando-a de leve.
- Eu espero. - ele respondeu - Vou esperar o tempo que você achar necessário.
Ela sorriu, puxando Alphard novamente para o colchão. Aconchegou a cabeça no ombro dele, sentindo os dedos do namorado brincarem suavemente entre os cachos de seu cabelo. Marguerith queria que aquele momento de tranquilidade perdurasse para sempre. Queria que o mundo todo parasse e não precisasse se preocupar com o que diria para o tio e para Bete ou sobre o receio que tinha de perder pessoas queridas. Ali, no quarto semi iluminado pela pálida luz da manhã, desejava apenas deixar-se quedar, sem medo, nos braços de Alphard.
Marguerith não tardou a chegar em casa, e, para sua sorte, todos ainda estavam dormindo. Ela se demorou um pouco no próprio quarto, tentando processar tudo o que acontecera. Combinou com Alphard de manterem o namoro discreto, mesmo em Hogwarts. Não queria fazer alarde antes que se sentisse preparada para contar para o tio. Depois da formatura em Hogwarts, formalizariam o noivado diante de Sirius e dos demais. Contudo, não desejava mentir para a irmã, apesar de antever que Betelgeuse talvez não aprovasse a impulsividade da caçula.
No café da manhã com os tios e a irmã, o noivado de Bete com Stephanio era o assunto principal, para o alívio de Marguerith, assim, ninguém perceberia seu discreto nervosismo.
Hesper e Betelgeuse começaram a programar o dia para que pudessem comprar as primeiras peças do enxoval. Aquilo manteve as mulheres da casa ocupadas, deixando que Marguerith ficasse a sós com a irmã apenas na hora do chá. Embora usualmente a tia compartilhasse daquela tradição vespertina com as sobrinhas, naquele dia em questão, a mulher tinha uma reunião de negócios junto com o marido em Belgravia, um dos bairros ricos da capital inglesa.
Betelgeuse observou as mãos ligeiramente trêmulas da irmã enquanto esta lhe servia o chá. Era algo quase imperceptível, mas nunca passaria em branco pelos olhos observadores da gêmea mais velha. Detendo-se na face de Marguerith, ela percebeu a excessiva palidez da tez da outra, assim como o piscar nervoso dos longos cílios negros.
Havia qualquer coisa durante todo o dia que não combinava com o formalismo natural da irmã. Conhecia Marge quase como conhecia a si mesma. Ela estava estranha. Qualquer coisa como se a mais nova tentasse esconder algo, como se reprimisse o que lhe ia pela mente.
Fechando os olhos, Betelgeuse deixou o corpo relaxar na cadeira, enquanto a mente buscava uma conexão qualquer com os pensamentos da outra. Elas conseguiam fazer isso entre si, às vezes, desde meninas. E foi então que ela viu.
A xícara que Marge segurava caiu com estrépito no chão, derramando todo o seu conteúdo sobre o tapete persa. Embora não conseguisse fechar sua mente para a irmã, ainda assim, pudera sentir a invasão. Bete reabriu os orbes azuis, encarando a face surpresa da caçula.
-Eu ia contar para você... – Marguerith balbuciou.
Não era como se temesse a irmã, mas desejava o apoio dela, ou, pelo menos que não se opusesse, como havia feito quando contou que amava Alphard.
Sem expressar qualquer emoção, a mais velha se levantou, dando as costas a Marguerith.
- Tem ideia da consequência que seus atos tão impensados poderiam ter causado?
A voz baixa e grave de Betelgeuse feriam muito mais que gritos nervosos e irritados. Marge mordeu o lábio inferior, abaixando a cabeça, encarando os cacos de porcelana sobre o chão.
- Eu não...
- Você poderia estar grávida agora. Quer estragar sua vida como Cygnus e Druella? Como se explicaria então diante de todos? Como se explicaria diante do nosso tio?
Betelgeuse tinha razão. Nem por um instante ela refletira nas consequências que sua atitude poderia trazer. Agira de forma egoísta, quase leviana. Entretanto, mesmo após aquelas palavras, havia algo que ela percebera que estava sentindo.
Pois não estava arrependida. E duvidava que pudesse se arrepender algum dia de ter tomado aquela decisão.
-Alphard e eu vamos nos casar. – Marguerith afirmou com determinação. – Depois de nossa formatura, ele vai conversar com tio Sirius e fazer a proposta. Não é como se ele estivesse se aproveitando de mim. As intenções dele são sérias.
Betelgeuse cruzou os braços, arqueando a sobrancelha. Não confiava no primo. Nunca confiou. Entretanto, preferiu dar o benefício da dúvida para o rapaz conforme havia prometido a ele em Hogwarts.
-Para o seu próprio bem, espero mesmo que esteja certa, Marge.
-Você vai contar para tio Sirius? – a gêmea caçula perguntou, ainda apreensiva.
-Não. – ela respondeu, bebericando o líquido quente enquanto percebia que a irmã limpava o chá derramado e consertava a xícara usando a varinha. – Isso é assunto seu e do nosso primo. Vou deixar que resolvam do seu jeito. Mas se Alphard fizer qualquer coisa que vá te prejudicar, eu vou intervir.
-Ele não vai, Bete. Eu sei que ele não vai me decepcionar.
