Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e às empresas licenciadas.

Imagem da capa pertence à Caio Palma

Essa one faz parde de Acidente do destino.

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Manhã de sexta, Casa de Áries…

— Você entendeu bem o plano? — Koga fuzilava com o olhar o pequeno ariano à sua frente.

— Eu não sei, não, tia Koga... — Kiki olhou apreensivo para Luísa e Calisto, que estavam com as mãos na cintura, apenas observando as reações dele.

— Pensa bem, loirinho: são pães de queijo e bolinhos de chuva feitos pela Koga, e você poderá comer tudo so-zi-nho, sem precisar dividir com o Mu ou o Shion. — Luísa tentava seduzir o menor mais uma vez.

Calisto, que já estava sem paciência, pois não via a hora de botar o plano em ação, bateu palminhas e falou ao mesmo tempo:

— Vamos, guri, decide logo, é pegar ou largar!

— Ma-mas... é o Shaka... — Os olhos azuis subiram em direção à escadaria do Monte Zodiacal, aflito.

— Ele não vai recusar. O Mu não está na forja? — Com a voz doce e melodiosa, Koga passou a mão por trás do ombro da criança, já o levando em direção à escadaria.

— Tenho certeza de que ele não vai desconfiar de nada. — Luísa pegou na mãozinha dele, dando leves tapinhas no dorso, tentando passar segurança.

Enquanto isso, Calisto cantarolava baixinho atrás dos três:

— Quem quer pão, pão, pão, pão?

O loirinho olhou para as duas e, depois, para a escada.

— Ahhhh, tudo bem, mas eu quero o dobro de pão de queijo!

Koga, Luísa e Calisto abriram um sorriso e disseram em uníssono:

— Feito!!!

Alguns andares acima …..

— Senhor Shaka! Senhor Shaka! – a voz infantil de Kiki quebrou o silêncio e tranquilidade da Sexta Casa Zodiacal, fazendo Shaka abrir os olhos por causa do desconforto que aquilo causou em seus ouvidos sensíveis.

O pequeno ariano ao ver os olhos azuis do mais velho estancou o passo na mesma hora. Um sorrisinho amarelo se formou em seus lábios e uma enorme gota surgiu em sua cabeça – "Droga, será que ele vai usar o Rendição Divina em mim? Se eu morrer eu mato aquelas três doidas porque toda noite vou vir puxar os pés delas", "Só eu mesmo para aceitar uma "missão" dessas em troca das guloseimas da Koga".

— Por Lorde Ganesha, fale logo o que você quer moleque! – a voz do virginiano soou mais áspera que ele gostaria. Mas era bem verdade que ele estava com ganas de pegar aquele menino e pendurar de ponta cabeça no Cabo Sunion.

— Errr...desculpa senhor Shaka, mas é que o mestre Mu pediu para você ir ajudá-lo.

Shaka franziu o cenho tentando descobrir se o pequeno ariano falava a verdade ou estava querendo aprontar uma das suas. "E se fosse verdade? E se recusasse ajuda ao amigo, com certeza Mu iria querer entrar numa Guerra de Mil Dias", resignado tomou o caminho da saída do Sexto Templo.

Enquanto isso, na parede lateral do lado de fora, só se podiam ver três pares de olhos coloridos e curiosos observando tudo atentamente.

— Aiiiiii, para de pisar no meu pé, Cali! — reclamou a escorpiana, baixinho.

— Então para de puxar meus cabelos, Lu! — devolveu a canceriana.

— Shiuu, meninas, ele vai nos escutar! — Koga estava com ganas de pegar aquelas duas matracas ambulantes e jogar escada abaixo. Como poderiam parecer duas crianças?

Mas, antes que a virginiana pudesse fazer algo, as três viraram os pescoços para a entrada de Virgem e viram Shaka sair de lá, voando as tranças. Acompanharam com os olhos até ele sumir de vista. Logo em seguida, Kiki surgiu com um sorriso vitorioso, fazendo um gesto de positivo com a mão. As três entenderam muito bem o recado e, como sabiam que estavam aprontando mais uma, começaram a caminhar na ponta dos pés. Koga, a mais alta, na frente; Calisto, a mais baixa, no meio; e, por fim, Luísa. Tinham a cara mais deslavada do mundo.

Antes de entrar no Templo de Virgem, Luísa deu uma última olhadinha em direção a Leão, só para se certificar de que Shaka não as pegaria com a boca na botija, porque, se isso acontecesse, ela sabia que o dourado não hesitaria em tirar todos os seus sentidos ou até se juntar com outros dois e usar a Exclamação de Athena para extinguir a existência dela e das amigas da face da Terra e de todas as dimensões possíveis e imagináveis.

Quando percebeu que a barra estava limpa, entraram e rumaram para o quarto de Shaka. Ficaram maravilhadas com a beleza do cômodo: os móveis, todos no estilo rústico, com vários entalhes espalhados por eles; a cama, grande, com uma colcha vermelha e várias almofadas em outros tons de vermelho, laranja e amarelo. Ao lado, havia uma pequena mesinha onde estavam depositados alguns vasos no estilo indiano, um incensário e, no chão, um tapete felpudo, também numa cor forte. Todas essas cores vibrantes poderiam ser um exagero, mas, nesse caso, não eram, porque contrastavam com a cor clara das paredes.

— Meninas, só olhem, tá? Shaka é muito chato com organização, eu vou ver se tem alguma coisa aqui no quarto!

— É hoje que eu descubro o segredo para ter os cabelos perfeitos! — Calisto passava uma palma da mão na outra, como quem vai começar a aprontar, vendo uma porta dentro do quarto, alvo de suas más intenções. Pulava feito criança, indo em direção ao banheiro para começar a procurar nos armários os xampus, cremes e sabe-se lá mais o quê.

— Eu também vou! — Luísa falou, indo atrás da amiga. — Também quero descobrir o segredo.

— Abre as gavetas, Lu, que eu procuro dentro do gabinete!

A canceriana se sentou no chão, abrindo as portas. Seus olhos brilharam com tantos potinhos e coisas coloridas. Já Luísa estava quase enfiando seu corpo inteiro dentro das gavetas.

— Amiga, nunca imaginei que Shaka pudesse ser tão vaidoso. Ele tem mais cremes que uma loja de cosméticos! — A escorpiana ia abrindo um por um para sentir o cheiro. Enquanto isso, Calisto abria todos os óleos essenciais do indiano e fazia uma mistureba com as mãos!

— Genteeee, ele tem argila negra! Amiga, passa isso no rosto, dizem que é melhor que qualquer anti-idade!

— Jura?! Dá aqui, vou passar. Passa esse creme nos seus pés também, está dizendo que é até esfoliante!

Enquanto isso...

Koga ficou no quarto. Havia aberto o guarda-roupas do virginiano e retirava, um por um, os saris de Shaka, olhando cada um deles com admiração, pois eram todos mais lindos que o outro.

— AHHHHHH! — Calisto deu um grito assim que abriu uma caixinha, enquanto Luísa já estava fazendo hidratação nos cabelos, após molhá-los na pia.

— Que isso, Calisto?! Enlouqueceu?! — A escorpiana perguntou, dando um pulinho por causa do susto.

— Manaaaaaa! Por que o Buda guarda creme depilatório???

As duas se olharam e começaram a rir alto no banheiro!

— Ahahahah, será que ele depila a perna? — Luísa pegou a bisnaga, lendo o rótulo para ver se havia uma parte específica do corpo para o uso do creme.

— Será que ele passa isso no... — Apontou para o meio das pernas, e então Calisto teve outro surto de risada alta e escandalosa.

Koga, ouvindo as risadas das amigas, foi logo se juntar a elas.

— Meninas, mas o que é isso? — A virginiana olhou o banheiro, que estava de pernas para o ar, com as duas com a cara cheia de máscara de argila, creme no corpo todo e ainda fazendo hidratação nos cabelos. Luísa e Calisto mais pareciam duas ETs do que outra coisa. — Minha Santinha, o que vocês fizeram aqui?

— Relaxa aí, Ko, senta aqui com a gente e vem passar os cremes também.

— M-Mas e se o Shaka chegar e ver esse estrago todo? Ele vai fazer picadinho da gente!

— Ele não vai chegar tão cedo, então vamos aproveitar.

Resignada, mas com receio, a virginiana se sentou com as amigas. Depois que fizeram tudo o que achavam que tinham direito, foram até o quarto. Koga e Calisto começaram a olhar cada centímetro daquele quarto. Já Luísa pegou um dos sáris que estavam em cima da cama e vestiu. Soltou os cabelos e fechou os olhos.

— Saga, Shura e Camus, não deixarei vocês arrancarem a cabeça de Athena — falou, tentando imitar o Santo de Virgem. Mas, como não ouviu as amigas rirem com sua brincadeira, abriu os olhos. Ao se virar para as amigas, elas estavam em choque, com os olhos quase saltando. Então, olhou na mesma direção que elas olhavam. Foi a vez dela arregalar os olhos.

Parado na soleira da porta, segurando Kiki de qualquer jeito, estava Shaka, olhando-as com cara de poucos amigos.

— Posso saber o que vocês estão fazendo aqui?

A voz do virginiano saiu tão cortante que as três amigas, internamente, já pensavam qual dos Seis Mundos escolheriam. Tinham certeza de que seus fins eram iminentes.

— Eu acho que fiz uma pergunta! — bradou o virginiano mais uma vez.

Koga abria e fechava a boca igual um peixe, Calisto começava a se desesperar e procurar alguma janela para pular, e Luísa, que ainda trajava a roupa do indiano, não sabia se chorava, se corria ou se ficava.

— Vamos? Estou esperando! O que cargas d'água vocês fazem no meu quarto? — O loiro estava fuzilando as três, e Kiki, de ponta-cabeça, só sendo segurado pelos pés, rezava baixinho com as mãos unidas em prece. Se tinha uma coisa que Shaka odiava, era a invasão da sua privacidade! Ele, percebendo que dali não sairia nenhuma resposta, resolveu se aproximar das três. Porém, sua visão periférica entregou ainda mais as traquinagens daquelas três projetos de Hades.

— Ma-mas... MAS O QUE FIZERAM NO MEU QUARTO? QUE BAGUNÇA É ESSA?

— Glupt! — Koga já se via de mala e cuia na frente da porta do Templo, pedindo asilo para quem quer que passasse por ali.

— MEU BANHEIROOOOO! VOCÊS ENLOUQUECERAM?? — Ele se virou, indo em direção ao cômodo. — Por Buda, mas isso está pior que mercado indiano!!! Vislumbrando todos os seus poucos utensílios espalhados pelo chão do banheiro. — Pela roda de Samsara, alguém pode abrir a boca e explicar o que eu estou vendo aqui?

As três se entreolharam. Como estavam próximas, se deram as mãos e, de forma muda, disseram adeus. Se ajoelharam na frente do Guardião da Sexta Casa, que parecia prestes a explodir.

— Misericórdia! — Primeiro, Calisto juntou as mãos, com os olhos se enchendo de lágrimas.

— Shaka, por favor, não nos mate! — Luísa engolia em seco, já pensando em como Milo ficaria decepcionado com sua morte e o motivo.

— Nós só queríamos saber qual é o segredo do seu cabelo ser tão bonito e sedoso! — Koga se desesperou e resolveu contar a verdade.

As outras duas fuzilaram a amiga, que levantou os braços em rendição.

— Ele ia descobrir de qualquer jeito... — sussurrou para as duas.

Shaka entreabriu os lábios, sem acreditar no que tinha escutado e no que estava vendo ali na sua frente. Largou Kiki de qualquer jeito, deixando o menino se estatelar no chão!

— Aiiiiiiiiii! — O garotinho gemeu, passando a mão na cabeça onde bateu.

Shaka colocou as mãos na cintura, franziu o cenho e apontou o dedo indicador em direção às três, que fecharam os olhos para não ver o seu fim. Até que uma gargalhada alta saiu da boca do virginiano!

— Ahahahahahahah! Vocês tinham que ter visto a cara de vocês! Hahahahahahah! O que é isso que passaram na cara??? E os cabelos, pela deusa!

Calisto, envergonhada e olhando para baixo, respondeu:

— Usamos suas argilas e cremes…

— Ah, então quer dizer que as mocinhas resolveram fazer o dia da beleza no meu Templo e ainda usando os meus produtos? E ainda por cima usaram uma criança para me enganar? De quem foi essa ideia?

As amigas se entreolharam e apontaram o dedo aleatoriamente, umas para as outras, dizendo em uníssono:

— Foi ela.

— Então nenhuma quer assumir a culpa? Então terei que tomar atitudes drásticas! — Shaka falou enquanto se aproximava das três, que se encolheram.

Nesse pequeno percurso, que para elas parecia ter sido em câmera lenta, Koga já havia rezado dez Ave-Marias, Calisto dez Pai-Nossos e Luísa dez dos dois anteriores, tal era o desespero delas. Mas, tal qual como aconteceu antes, o virginiano se desatou a rir.

— Hahaha! A cara de pânico de vocês está impagável. Acho que eu merecia um Oscar por minha atuação.

As três se olharam, sem entender nada.

— Venham cá, suas demônias, vamos ver o resultado dessa meleca que fizeram. — Olhou com mais atenção para o rosto de cada uma delas, parando em Luísa. — Menina, que máscara é essa que você está usando?

— A de argila negra — respondeu com simplicidade.

O santo de Virgem então se aproximou mais da escorpiana. — E sua pele é mista?

— Que nada! É tão oleosa que, às vezes, parece que virei óleo no rosto.

— Por Buda, menina, você deveria ter colocado a de algas marinhas. Essa que colocou não é nada auspiciosa para sua pele.

Luísa arregalou seus olhos azuis e uma enorme gota se formou em sua cabeça. Depois, olhou para Calisto, fuzilando-a com o olhar e, em seguida, deu um "pedala" na amiga. — Olha o que fez eu fazer, fica aí se fazendo de entendida quando não sabe nada.

— Calma, meninas! — Shaka resolveu intervir, senão era bem capaz das duas começarem a se engalfinhar bem no meio de seu quarto. — Não briguem, senão isso vai virar karma e vocês poderão ficar nesse ciclo vicioso e não irão para o nirvana.

As duas viraram de costas uma para a outra, cruzaram os braços e fizeram um bico enorme. Koga riu, achando que as amigas pareciam duas crianças birrentas.

Para terminar aquele clima tenso, o virginiano as arrastou para o banheiro, onde começou a retirar as máscaras dos rostos. Quando finalmente terminou, ficou fitando-as sério, deixando-as na expectativa. Será que haviam ficado que nem a Madame Min?

— Estão lindas!!! — exclamou Shaka.

Elas começaram a passar as mãos nos rostos, percebendo que estavam lisos, iguais bumbum de nenê. Realmente, a máscara cumpre o que promete.

E mais uma vez, para a surpresa das três, Shaka começou a explicar todos os truques que usava para os cabelos e a pele. As amigas ficaram maravilhadas, não só com as dicas, mas também por conhecer esse outro lado do virginiano. Afinal, ele não era tão ruim quanto parecia.

Horas mais tarde...

— Shakaaaa, eu estou cansada, amanhã eu faço — dizia Koga, toda manhosa.

— Nada disso, Tereza. Você prometeu para o Kiki, agora irá fazer! — mais uma vez o virginiano foi enfático em sua decisão.

Koga sentia como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre seu corpo. É claro que cumpriria com sua promessa e faria as guloseimas para o pequeno ariano, mas faria isso durante o fim de semana. Haviam ficado até pouco arrumando a bagunça que fizeram, e a virginiana não sentia mais seus pés. Tudo o que queria naquele momento era tomar um banho e dormir.

— Vou chamar Luísa e Calisto para te ajudarem e ficarei aqui para certificar que tudo o que vocês prometeram seja feito.

No dia seguinte, na casa de Áries…

— Mas o que significa esse banquete todo, Kiki? Por acaso voltou a surrupiar a banca de pães no vilarejo? – Mu colocou as mãos na cintura e olhou feio para o pupilo, já antecipando a dor de cabeça que sentiria em ter que se desculpar mais uma vez com o senhor Hércules.

— Não é nada disso, mestre Mu. – o pequeno ariano falava de boca cheia e já se preparando para abocanhar outro pão de queijo antes mesmo de engolir o que já tinha na boca. – É só um pagamento por uma missão que cumpri com perfeição. – sorriu matreiro e continuou se fartando, sem dar importância para o cenho franzido do mestre.

— Missão? – perguntou o mais velho franzindo o cenho e já imaginando que não deveria ter sido nada bom.

— É. – Kiki confirmou, metendo outro pão de queijo na boca. – Eu ajudei a Luísa, Koga e Calisto em algo que elas pediram.

— E o que seria? – Mu sentia seu sétimo sentido apitando, quando esses quatro se juntavam, boa coisa não saía. As três brasileiras eram mulheres feitas, mas quando queriam, agiam pior que uma criança de cinco anos.

O pequeno ariano então contou tudo o que havia acontecido no dia anterior, com a maior inocência do mundo, deixando Mu lívido – se é que isso era possível, afinal ele era mais branco que papel.

— Vocês são loucos!? Fazer isso com o Shaka, logo com o Shaka! Por Zeus – passou a mão nervosamente no rosto, imaginando o que o virginiano poderia ter feito com eles.

— Ora, mestre Mu, o senhor está se preocupando à toa. O senhor Shaka não é esse bicho de sete cabeças que as pessoas pensam. – deu um sorrisinho matreiro. – Ele é um bicho de oito cabeças.

Mu não pôde evitar de rir com a fala do pupilo. Ele, como melhor amigo de Shaka, o conhecia muito bem e sabia que ele, no fundo, era um homem admirável e com bom coração. Afinal, havia entrado para o exército de Athena para tentar aplacar as mazelas que sua amada Índia sofria.

E as três amigas? Com certeza, neste momento, devem estar no décimo quinto sono, se recuperando da confusão que armaram. Talvez, da próxima vez, pensassem melhor antes de aprontar outra dessas... ou talvez não, porque, às vezes, é bom dar vazão às suas crianças interiores e esquecer um pouco os problemas diários.