ELECTRA ADHARA BLACK
Evan Rosier tinha sido morto por Alastor Moody em um duelo - ele tinha se recusado a se render e duelado literalmente até a morte.
Eu sabia que ele era bom.
Mas duelar com ele era outra história.
Eu tinha sido treinada por aurores, mas ainda era só uma aluna da escola e não havia necessidade de serem tão severos comigo. Meus pais haviam me treinado, mas apenas o suficiente para me defender na escola e não passar vergonha nos treinamentos de verão.
Evan Rosier não tinha pena. Muito menos paciência em apontar meus erros, como comumente era feito comigo.
Ele levou cinco minutos para me desarmar.
- Pensei que tivesse sido treinada por aurores. - ele entregou minha varinha e eu aceitei, um tanto cabisbaixa.
Eu tinha sido humilhada. Em uma das coisas que eu mais era competente!
- Eu fui. Mas não fui treinada para a batalha de fato. Eles só queriam que soubéssemos nos defender e segurar as pontas até alguém chegar… E eles tem medo do meu pai. Jamais iriam fazer comigo o que você fez.
Evan me fez sentar no sofá, enquanto os outros discutiam qualquer coisa que não fosse minha absoluta vergonha, mas James olhava para mim de tempos em tempos, com a testa franzida.
- Seu pai é tão poderoso assim? - ele perguntou, interessado. Eu franzi o nariz:
- Papai é um bruxo bom. Mas foi educado em Durmstrang, onde magia negra não é exatamente um tabu. - eu expliquei. - Harry Potter finge cegueira súbita sempre que papai faz algo minimamente duvidoso.
- Ele usa magia negra?
- Não. - eu sacudi a cabeça. - Mas ele anda em uma linha tênue.
- Como você. - James sentou do meu lado, jogando um braço sobre os meus ombros, enquanto meu avô, ainda sentado à minha frente, erguia as sobrancelhas. - Ainda não esqueci aquele Confringo. Muito menos o Sectumsempra.
- Conhecem esse? - Evan perguntou, interessado.
- Ficou um pouco famoso. Rende uma detenção imensa. - eu franzi o nariz. - Mas é utilizado em situações… Bem, violentas.
- Como?
- Como um basilisco tentando te comer. - eu expliquei, arrancando uma risada dos dois. - Ou quando… Quando alguns projetos de bruxos das trevas atacam sua família. Usei uma vez na escola.
- E não foi expulsa? - Sirius perguntou, sentando ao lado de Evan, curioso.
- Ele usou o Crucio contra James. - eu disse, pacientemente. - Ele foi da sala de Minerva direto para as mãos de papai.
- Entre um Crucio e um Sectumsempra, o Crucio é muito pior. - Sirius concordou. - Ainda recebeu uma detenção?
- Deveria ter recebido o restante do semestre, mas Minerva concordou que era uma situação extrema e, portanto, eu seria absolvida. - eu ergui as mãos, na defensiva. - Ele iria matar James.
- E você o fatiou como um presunto. - Rosier acenou com a cabeça, arrancando uma gargalhada de Sirius e James. Eu ri:
- Ele mereceu. Primeiro ofendeu todos os Weasley, depois fez questão de atacar James pelas costas e eu cheguei no meio da coisa. James estava no chão e o primeiro feitiço que eu pensei foi esse. - eu me expliquei. James me apertou perto dele e beijou a minha cabeça:
- Els salvou a minha vida. Eu devo muito a ela.
- Ele salvou a minha alguns meses depois no quadribol. - eu emendei. - Um lufano me nocauteou com um balaço e James não me deixou cair no chão.
- Foi incrível. - Alvo disse, do outro lado da sala. É claro que todos estavam escutando. - Ele mergulhou com a vassoura e saltou dela no último segundo. James tomou todo o impacto. Quase quebrou o quadril.
- Nós ganhamos muitos hematomas, mas sobrevivemos. - James revirou os olhos. - Electra acordou sedenta por sangue lufano naquela tarde.
- Ele foi suspenso dos jogos do resto do ano. - Bells disse, delicadamente.
- Deveria ter sido expulso da escola! - Cygnus bradou. - Não se preocupem. Eu a vinguei.
- E ganhou um mês de detenções com Filch. - Alvo riu. - Mas Els só perdeu para James até hoje. - ele soou preocupado e a sala ficou subitamente silenciosa.
- Devemos treinar a partir de agora. - Evan ficou de pé. - Começaremos pelo básico e depois iremos nos aprofundar no mais complexo.
- Primeiro feitiços defensivos em duelos. - Sirius olhou o outro garoto, que concordou:
- E depois as azarações. - ele guardou a varinha e bocejou em seguida. - Nos encontraremos amanhã, aqui, a partir das sete da noite. Primeiro vamos começar a dissecar nossos problemas e depois vamos rever os feitiços.
- Podemos incluir transfiguração? - Bells perguntou, ansiosa. - Vai ser bem útil.
- Claro. - eu acenei com a cabeça. - Você quer só a prática ou…
- Por favor, faça seus esquemas. - Cygnus quase implorou. - Aqueles esquemas com o timing e movimentos exatos da varinha são as coisas mais valiosas nas quais eu coloquei as mãos.
- Tudo bem. - eu ri. - Montarei os esquemas. Mas vou precisar adiantar alguns temas do sexto ano com vocês para chegarmos aos temas do sétimo. Se vocês não conseguem nem mudar a cor das sobrancelhas, - eu encarei Al, que fez careta. - nunca vão conseguir fazer o de Desilusão.
- Você faz parecer fácil! - Al jogou os braços para cima.
- Porque você tem o tempo de atenção de um peixinho dourado. - eu revirei os olhos, fazendo James rir. - Vou montar os esquemas. E se alguém chorar - eu ergui a voz quando Cygnus e Alvo começaram a falar alto. - eu vou dar motivos para chorar.
- Aí está. - James deu tapinhas no meu joelho. - Vamos montar um cronograma e nos organizar com base nele. - ele ficou de pé, assumindo a liderança, como sempre fizera.
Nós nos arrastamos durante as aulas do dia - Slughorn chegou a perguntar a Lily sobre isso e ela tinha explicado que tínhamos passado muito tempo estudando e estávamos muito cansados.
James ainda me carregava nas costas pelo castelo, tranquilo, enquanto nós discutíamos os próximos temas de Transfiguração e também de DCAT - novamente sem professor e assumido temporariamente pelo próprio Dumbledore.
As aulas seriam muito interessantes.
E ainda havia o projeto de Alquimia e nossa pesquisa para retornar a 2021. James e eu tínhamos dividido as tarefas: ele procuraria as runas e eu investigaria a parte de magia do tempo de fato. Eu me lembrava vagamente da runa e James tinha dado uma olhada na minha memória buscando detalhes - ele dizia que agora sabia o que procurar, só não sabia por onde começar.
E era por isso que, tendo o último período de aulas livre, James e eu nos enfiamos na biblioteca e deixamos os outros responsáveis por listar suas maiores dificuldades com DCAT e transfiguração, enquanto James e eu revirávamos os livros de Runas Antigas disponíveis na biblioteca, com Pince nos olhando com uma certa agressividade.
- Que diabo ela tem? - James bufou, empurrando mais um livro para o lado. - Este é inútil. "Magia em Runas para Bruxos Excepcionais" porcaria nenhuma!
- Nada sobre tempo? - eu perguntei, esfregando os olhos.
- Nem uma palavra. - ele se recostou na cadeira, olhando a pilha à minha direita com melancolia. - Como você gosta disso?
- Você gosta de Trato das Criaturas Mágicas. - eu lembrei.
- Dragões. - foi a única resposta dele. - E você? Rabiscos estranhos?
- Magia antiga e ancestral. - eu revirei os olhos, me inclinando para frente, os braços apoiados na mesa. James me imitou, me encarando com expectativa. - Não se faz mais magia assim, Sr. Potter.
- Entendo, Srta. Black.
- O que estão procurando com tantos livros assim? - Pince parou à minha esquerda. James se ajeitou na cadeira:
- Temos uma tarefa de Alquimia, Madame Pince. - James respondeu, polido.
- Não existem turmas de alquimia. - ela esticou a mão para o livro que eu tinha aberto, mas eu coloquei a minha mão sobre ele:
- Pergunte ao Professor Dumbledore. - eu impedi que ela retirasse o livro da minha frente. - Ou se quiser chamar a diretora da nossa Casa, fique à vontade.
- Isso é insubordinação!
- Pelo menos eu não estou impedindo ninguém de estudar porque gosto de ter um pouco de poder. - eu ergui o queixo.
Madame Pince ergueu o queixo, colou as mãos aos lados do corpo e saiu andando com os saltos estalando no piso de madeira escura. James olhou para mim, os olhos brilhando de diversão:
- Ela vai distorcer tudo.
- Que distorça. - eu bufei, azeda. - Será que Dumbledore pode me dar um bilhete para saquear aquilo ali? - eu apontei a seção reservada com a cabeça. James riu:
- Ela só vai deixar você pegar um livro por vez. - ele disse, delicadamente.
- Dumbledore pode deixar claro que eu posso fazer o que eu quiser ali. E você vai junto. - eu suspirei, voltando a olhar o livro. - Parece que estou presa em um limbo, James. Não sei por onde começar ou qual livro procurar. É uma runa específica e antiga. Eu estive em muitos lugares antigos e li muitos livros mais antigos ainda. Mas em nenhum deles aparecia algo desse tipo.
- Nós vamos achar uma solução. - ele disse, delicadamente. - Prometo. Essa runa deve estar escondida em algum livro besta.
- Ou na seção reservada. - eu lembrei.
- Talvez na coleção privada de Dumbledore. - James ponderou. - Vamos tentar aqui, primeiro. Depois vamos procurar em outro lugar.
Eu acenei com a cabeça e James e eu voltamos a revirar os nossos livros atuais. Ele bufava, virando página atrás de página, enquanto eu passava os olhos rapidamente pelo meu terceiro livro da pilha. Quando cheguei ao terço final, um pequeno pigarro me fez olhar para a minha esquerda.
Minerva McGonagall e Madame Pince nos encaravam, ambas sérias. James suspirou, se ajeitando, mas eu olhei ambas:
- Boa noite.
- Boa noite, Srta. Black. Madame Pince me relatou insubordinação de sua parte e do Sr. Potter. - ela me encarou, os lábios franzidos.
- Não foi insubordinação. Ela acha que nós não estamos fazendo um projeto de Alquimia com o Professor Dumbledore. - eu respondi, encarando a bibliotecária, que tinha a cara franzida como se tivesse chupado limão:
- Não há turma de Alquimia.
- De fato, não há. Mas foi notificada que a Srta. Black e o Sr. Potter dariam continuidade ao seu estudo de Alquimia na escola sob supervisão do Professor Dumbledore. - McGonagall disse, olhando a bibliotecária.
- Esses livros são sobre Runas. Não entendo como…
- Porque é burra. - eu respondi, com simplicidade. James riu, mas ficou calado quando a professora lançou um olhar de alerta para ele. - Alquimia engloba todas as esferas da magia, incluindo Runas. É dependente disso, na verdade. Esperava mais da bibliotecária de Hogwarts.
- Menos dez pontos para a Grifinória pelo desrespeito. - Minerva disse, firme. - Srta. Black, nem todos temos conhecimento de Alquimia. Entendo sua frustração…
- Eu não entendo porque ela não pode me deixar estudar. Não é como se eu tivesse invadido a biblioteca de Dumbledore. - eu interrompi. - Esses livros estavam cheios de pó, largados numa prateleira lá no fundo. Ninguém vai usar porque ninguém quer saber de Runas relacionadas a Alquimia, muito menos de magia ancestral. Por que não posso usá-los? Estou passando um pente fino primeiro, não vou levar todos para o salão comunal.
Minerva respirou fundo, como se pedisse paciência a todos os fundadores de Hogwarts e olhou para mim:
- Certo, Srta. Black. Faça sua seleção e escolha seus livros. Se ninguém mais os usa, pode tê-los em sua mesa. Depois devolva-os para seu lugar de origem.
- Certo. Obrigada, professora.
- E se comporte. - ela disse, séria. - Uma boa noite para você, Srta. Black. E para você, Sr. Potter. - ela lançou um raro sorriso para James e saiu. Pince saiu atrás da professora:
- Certamente uma detenção… - ela dizia e eu revirei os olhos, voltando minha atenção para James, que riu:
- Você sempre consegue incomodar os bibliotecários. - ele se recostou na cadeira, alargando a gravata. Eu tentei parecer menos nervosa do que me sentia:
- Não acho justo que atrapalhem minha pesquisa. - eu respondi. Por que ele tinha que se comportar assim? Alargar a gravata e abrir os botões era normal. Mas por que fazer isso me encarando?
Custava ele me ajudar a suprimir meus sentimentos por ele?
- Ela só estava preocupada. - James riu, enfiando a gravata na mochila. - E Alphard criou você com muitas histórias do Sirius. É claro que você teria esse tipo de comportamento e ela ficaria preocupada.
- Não gosta do meu comportamento? - eu ergui as sobrancelhas. James deu uma piscadela:
- Gosto muito. - ele sorriu torto e puxou mais um tomo para frente, passando a mão sobre a barba por fazer. - E lá vamos nós. - ele suspirou.
Eu fiz careta e afundei no meu próprio livro.
James e eu fomos basicamente chutados para fora da biblioteca por Pince, por volta das dez da noite, alegando que sequer deveríamos estar fora do salão comunal, depois de enfiar os livros nas mochilas e encantá-las para terem peso de uma pena.
- Eu espero que tenhamos alguma resposta nesses livros, James. - eu suspirei, enquanto subíamos mais um lance de escadas, James tendo toda a paciência do mundo enquanto me carregava nas costas. - Será que se você tiver o bilhete de Dumbledore será mais fácil? Quer dizer, o problema é claramente comigo e não com você.
- Acho que ela detesta nós dois. - ele disse, distraído, parando depois de chegarmos ao quinto andar. - Vamos parar um pouco. - James me ajudou a descer. - Você é leve e eu sou jogador de quadribol, mas subir as escadas é difícil.
- Desculpe. - eu murmurei, pulando em um pé só até o banco de pedra próximo. James se jogou ao meu lado e eu olhei em volta, tensa. - Espero que isso não nos cause uma detenção.
- Está com medo de detenções? - James perguntou, divertido. Eu franzi o nariz:
- Não sei. Acho que tenho medo de quem talvez irá cobrá-las. Quer dizer, não há nenhum comensal ativo lecionando, o que me deixa mais tranquila, mas se for um monitor… - eu olhei o Potter, que acenou com a cabeça, os olhos passeando pelos corredores com cautela:
- Entendi. - James respondeu, a voz infinitamente mais tranquila do que os olhos. - Quantos dias ela te deu mesmo?
- Hoje será a segunda dose da poção e amanhã devo retornar para que ela veja meu tornozelo de novo. - eu suspirei. - Tenho sorte de não tê-lo quebrado.
- Tem mesmo. - ele acenou com a cabeça e ficou de pé. - Vamos, suba. Precisamos voltar para o Salão Comunal.
- Conseguiram algo? - Cygnus me ajudou a descer das costas de James. Eu manquei até a mesinha mais próxima, arremessando minha mochila, que fez um barulho preocupante. - O que diabos você tem aí?
- Livros. - eu suspirei, puxando uma cadeira e me joguei sobre a mesma. - Até agora não conseguimos absolutamente nada. Dumbledore vai pensar que somos incompetentes.
- Não somos incompetentes, a tarefa que ele deu é que é impossível. - James reclamou, sentando de frente comigo. - Els, são dez horas da noite. Já passamos horas procurando alguma coisa. Você precisa descansar.
- E você?
- Eu estou bem. - ele apontou para si mesmo, sorrindo. - Posso estudar mais um pouco.
- Eu também. - eu revirei os olhos.
- Seu tornozelo está imobilizado. E para se recuperar, precisa dormir. - James me impediu de abrir mais um livro. - Vá dormir, Els. Você precisa. Amanhã retomaremos o trabalho.
- Esses são nossa última esperança na biblioteca pública. - eu olhei o Potter. - Se não acharmos nada ou se não houver informações suficientes…
- Precisaremos de acesso à Seção Restrita. - os olhos dele brilharam com expectativa. - Pince só vai liberar um livro por vez. - ele sacudiu a cabeça.
- Não se eu puder convencer McGonagall. - eu ponderei. - Ou talvez o próprio Dumbledore. Será que ele pode me dar acesso total à biblioteca?
- Claro que pode. - James esfregou o rosto e bocejou em seguida. - Quer saber? - ele enfiou o livro de volta na minha bolsa. - Nós dois deveríamos ir dormir.
- Deveriam. Estão com uma cara péssima. - Lily disse, o nariz enfiado em um livro de Poções. Eu fiz careta, mas Alvo riu:
- Ela tem razão. Terminem de ver esses livros amanhã. - ele sugeriu e James me ajudou a ficar de pé:
- Amanhã, durante nossos intervalos, vamos rever isso. - James definiu, me ajudando a mancar até a escadaria do dormitório, depois de nos despedirmos dos outros. - Boa noite, Els. - ele deu um beijinho na minha bochecha e me deixou subir.
James ficou no pé da escadaria até que eu fechasse a porta de acesso aos dormitórios.
Os dias passaram com mais rapidez do que antes. Parecia que agora que Evan, Regulus e Aric sabiam sobre nós e que o basilisco tinha sido morto, as coisas aconteciam com mais frequência. Voldemort tinha adiantado o ataque ao orfanato trouxa - diferente do que os garotos tinham nos passado e nós tínhamos repassado a Dumbledore.
O lado bom era que com os três sabendo sobre a nossa existência e sobre o que estava em jogo agora, nós tínhamos mais três pessoas para nos ajudar a treinar. Sem contar que sendo Black, Rosier e Nott, eles tinham acesso e contato com magia negra de forma mais frequente que a maioria dos bruxos - isso nos ajudava a nos preparar para nossa invasão à Mansão Black no final do ano.
O aniversário de James chegou e passou, assim como o meu. Nós comemoramos com um pequeno bolo, na Sala Precisa. Evan tinha feito questão de me dar um colar com um pingente de rosa feito com pedras preciosas.
- Foi criado como um presente para toda mulher Rosier quando completa dezoito anos e se torna elegível para casamento, para se lembrar de que sempre será uma Rosier. - ele explicou, me ajudando a pendurar a coisa no pescoço. - Você não tem o nome Rosier, mas tem o sangue. - ele disse, por fim. - É o suficiente para mim.
- Obrigada. - eu abracei o garoto, que me abraçou com força. - Mas será que não irão saber sobre mim se virem isso no meu pescoço?
- É uma tradição familiar e acontece com muita pompa. - ele encolheu os ombros. - Consegui desviar uns galeões para isso. Mas um pingente Rosier, de fato, com toda a pompa, custa muitos galeões a mais, incluindo uma rubi específica e ouro trazido da França pela nossa família. Não fiz uso de nada disso e seu pingente é ligeiramente menor do que um feito com esse intuito seria.
- Você mandou fazer? - Sirius perguntou, curioso. Evan acenou que sim:
- Disse que tinha planos de dar de presente para uma garota e paguei pelo segredo. - ele disse, vagamente. - Não menti.
- Esperto. - Sirius elogiou.
O dia do meu aniversário se passou rapidamente e, depois das comemorações, nós voltamos a treinar incessantemente. Primeiro Evan nos dava uma explicação básica sobre magia das trevas mais comuns, com interrupções dos demais puro-sangues para adicionar informações, depois nos instruía em feitiços marciais com ajuda de James. No dia seguinte, era o dia de transfiguração, no qual eu assumia o controle das aulas extras - eles estavam indo muito bem e já estávamos chegando ao final do conteúdo essencial do sexto ano, já que muitos feitiços eram parecidos e eu sempre emendava pelo menos dois feitiços por aula. No terceiro dia, era dia de discussão e treinamento de feitiços de proteção extensos, nos quais Anabelle e Lily se sobressaíam mais do que a maioria, mas ainda era dominado por Evan, James e eu - os únicos setimanistas de todo o grupo. Depois disso, Alvo nos ajudava com poções rápidas, especialmente aquelas que talvez precisássemos em campo, quando saíssemos para caçar horcruxes.
O restante dos dias nós tínhamos reservado para nossas tarefas de escola, com exceção dos domingos. Os domingos eram os dias em que planejávamos a queda de Voldemort: a situação das horcruxes, por qual começar, quais prováveis feitiços de proteção com base nas informações que James tinha arrancado do pai.
Nós estávamos exaustos.
Tão exaustos que Minerva nos puxou para um canto e pediu para desacelerarmos um pouco. Slughorn parecia quase alarmado, mas Dumbledore não disse uma palavra. Bem, ele disse, apenas liberando James e eu para termos acesso completo à Seção Reservada da Biblioteca de Hogwarts e nos liberando para ficarmos até além do toque de recolher.
Portanto, agora, por volta da meia-noite, James e eu estávamos sozinhos na biblioteca, ignorando a batida da porta do escritório de Pince quando ela decidiu ir dormir.
O livro que eu lia, Alquimia Baseada em Runas Antigas, em francês, finalmente parecia me levar a algum lugar: Runas Antigas são consideradas uma forma de magia ancestral, a mesma que rege as regras básicas da magia que temos conhecimento hoje. A magia ancestral rege o tempo-espaço, controlando passado, presente e futuro, todos interligados de forma intrínseca e sem possibilidade de separação. Passado, presente e futuro acontecem simultaneamente, de modo que ao alterar um acontecimento, mesmo que pequeno, este terá consequências imensas no futuro. Runas Antigas, são, portanto, essenciais para o conhecimento bruxo e os autores acreditam que todo bruxo de respeito deve estar atento aos seus ensinamentos.
Eu me ajeitei na cadeira, puxando a pequena lamparina para perto. James permaneceu absorto no próprio livro, mas eu podia ver um traço de decepção e irritação no rosto bonito.
Runas são a forma mais antiga de magia, sendo criadas inicialmente para proteção daqueles que as escreviam. Mais tarde, foram incorporadas nos feitiços usando varinhas mágicas, sendo as runas usadas como base para os movimentos das varinhas para a realização dos feitiços. Veja bem, o feitiço Protego, que tem como função criar um escudo contra feitiços temporários apontados ao seu conjurador, tem seu movimento de varinha semelhante à runa Algiz, que conjura proteção e defesa àquele que a desenha.
As runas podem ser combinadas entre si, criando um código, assim como podem ser usadas como base para a criação de algo novo - muito utilizado por bruxos da Antiguidade durante sua exploração da magia ancestral. O Mago Merlim foi um bruxo que fez uso deste tipo de magia - o mesmo foi responsável pela criação de diversos feitiços e novas runas, que estão presentes no atual dicionário de Runas Antigas. Este livro seguirá seus ensinamentos, orientando os estudantes sobre a combinação de runas para a criação de algo novo - podendo, assim, retomar as pesquisas com magia ancestral.
Vale lembrar ao estudante, também, que a magia ancestral é ilimitada e complexa e quando combinada com Alquimia, conforme este livro tem como objetivo, pode trazer grandes riscos àqueles que a conjuram.
- James.
A minha voz devia tremer tanto quanto as minhas mãos, porque James ergueu a cabeça imediatamente:
- Está tudo bem? - ele pareceu alarmado. Eu engoli em seco:
- Acho que podemos ter uma solução. - eu disse, fazendo o garoto arregalar os olhos. - Mas teremos que fazer tudo do zero.
- Você achou alguma coisa? - ele perguntou, a voz séria. Eu acenei que sim:
- Alquimia Baseada em Runas Antigas. - eu traduzi o nome do livro. - De 1128.
- Como você conseguiu colocar as mãos em um livro tão velho? - James arregalou os olhos. Eu encolhi os ombros:
- Parecia promissor. E está com muitos feitiços de proteção. Não sei nem se conseguimos tirá-lo da biblioteca. - eu suspirei. - Foi escrito por um Rosier. - eu ri sem humor.
Um Rosier havia nos trazido para cá. E um Rosier nos ajudaria a voltar. Isso me fazia pensar mais ainda na frase do livro: Passado, presente e futuro acontecem simultaneamente, de modo que ao alterar um acontecimento, mesmo que pequeno, este terá consequências imensas no futuro.
Um ancestral escrevera um livro que, muitos séculos depois, ajudaria seus descendentes a retornarem para seu tempo, usando seus ensinamentos para sobreviverem ao risco iminente de brincar com magia do tempo.
- Mas o que diz? - James se levantou, dando a volta na mesa, e sentou à minha direita, descansando o braço sobre o encosto da minha cadeira. Eu olhei o texto em francês antigo e pigarreei:
- Diz que Runas Antigas são a base da Magia Ancestral e, com o uso simultâneo de várias delas, podemos criar uma linha de um código ou então nos basear nela para criar algo novo. E, quando utilizadas junto com Alquimia - eu respirei fundo, voltando a olhar o Potter. - nos dará acesso a magia ilimitada.
- Podemos simplesmente criar algo. - ele disse, baixinho, o rosto se aproximando do meu, curioso.
- Sim. - eu deixei o livro de lado e virei meu corpo para de frente com o dele. James manteve o braço descansando no encosto da minha cadeira. - Runas Antigas são a base da Magia Ancestral, James. E Magia Ancestral é completamente ligada ao espaço-tempo, como lhe expliquei em casa. - eu juntei as mãos no colo, ansiosa. James acenou com a cabeça, concordando. - Mexer com o espaço-tempo é complexo e arriscado, mas se tivermos controle sobre Magia Ancestral usando as Runas e também alguns conceitos da Alquimia, podemos criar algo que nos permita voltar para casa.
James piscou e eu continuei:
- O próprio Merlim utilizou desses conceitos. - eu empurrei um cacho para longe do rosto. - Ele criou novas runas e novos feitiços com base nisso.
- E você pretende criar uma nova runa. - James disse, por fim. - Um novo feitiço.
- Sim. Se forem as Runas que estou acostumada, podemos utilizar também a Aritmancia… - eu comecei, mas fui interrompida por um beijo.
Um beijo.
James Sirius Potter estava me beijando e a única reação que meu corpo tinha conseguido ter era colocar as mãos nos ombros dele e deixar que ele continuasse me beijando.
James se afastou em seguida e eu pisquei, soltando os ombros dele. Ele pigarreou e eu desviei o olhar.
- Ah… Bem… Eu… - eu gaguejei.
- Você estava falando sobre Aritmancia? - James perguntou,a voz rouca. Eu acenei que sim:
- Eu… Podemos misturar Aritmancia. Números são mágicos. - eu disse, como a tonta que era. - Quer dizer… Números podem potencializar as Runas.
- Claro. Faz sentido. - ele desviou os olhos, as bochechas coradas. - Anote o nome deste, duvido que Pince nos deixe retirá-lo da biblioteca.
- Eu também duvido. Acho que nem Dumbledore teria permissão. - eu ponderei, ainda sentindo os lábios de James nos meus.
Por Merlim, aquilo atormentaria todo e qualquer pensamento que eu tivesse pelo resto da minha vida.
- E vamos dormir. - James passou a mão pelo rosto. - Já passa da uma da manhã. - ele disse, delicadamente. Eu acenei com a cabeça, anotando o nome e a página do livro em um pedaço de pergaminho, minha letra saindo menos elegante do que costumava ser.
James e eu retornamos para a Torre em um silêncio pensativo.
