Agosto de 2019:

Lá, lá, lá...

Tenho uma música na minha cabeça, ela não para de cantarolar e já pedi para parar, mas ela nunca me escuta, sempre cantando as mesmas notas musicais, cantando até que minha cabeça exploda de agonia e eu grite pedindo para parar.

Mas ninguém vem aqui para parar essa música, eles não me deixavam mais dormir.

Tenho que ver tudo passar tão lentamente que penso que nunca saí de 2007, mas sabia que havia saído, ele não estava aqui me chamando... O que ele me chamava?

Agarrei a espuma fina e um pedaço saiu em meus dedos.

Hoje parecia que ninguém viria, hoje era um dia solitário. Não teria chicotes em meu corpo, afogamento e queimaduras. Era tão sem graça.

Não tinha mais luz nesse lugar, sentia medo, sentia vontade de pegar essas correntes prendendo os meus tornozelos e me enforcar com elas.

A música continuava tocando, me fazendo tapar os ouvidos, mas não adiantou. Ela cantava ainda na minha cabeça, me impedindo de me sentir um pouco melhor.

Impedindo-me de ficar sã.

Estou enlouquecendo, não sei exatamente quem sou, não sei o motivo de estar aqui...

Não, eu sei, apenas quero esquecer, quero esquecer que minha família apenas me largou aqui e me iludiu com um falso calor.

Já estava cansada de chorar e gritar por eles, já estava cansada de fazer essa sala tremer e trincar. Estava cansada de tentar fugir e sempre ser capturada, torturada cada vez pior. Estou cansada.

Estou cansada de escutar eles me xingando e dizendo tanta merda que meus ouvidos doem.

Todos me esqueceram, menos aquelas pessoas que me torturavam, menos Harry Potter.

Não tinha mais o prazer de tomar banho e comer uma comida gostosa, já tinha algumas semanas que não sabia o que era comida e a água era uma raridade.

Não tinha mais livros para ler e não tinha mais ninguém para me abraçar, dizendo que sou sua família.

Não tinha mais uma criança correndo e me chamando de segunda mãe, não tinha mais ninguém, era tão solitário.

Quando podia sonhar, quando podia dormir, sonhava com eles, ficávamos em um lindo jardim e iríamos comer coisas gostosas.

Eles iriam rir e iria rir junto, mas sempre acordava nessa escuridão que doía os meus ossos.

Ninguém me dava a morte, nem mesmo eu...

Queria dormir para esquecer um pouco da vida, mas como faria isso se a vida e o cotidiano não queriam me deixar ir?

A porta se abriu e me preparava mentalmente para ser arrastada daqui.

_ Mon petit. - Meu coração pulou no meu peito e mordi os meus lábios quebradiços.

Vejo o lumos iluminar a sala e observo o loiro. Era Draco ou era apenas a minha imaginação me pregando peças novamente.

A pessoa se agachou no chão, próximo a mim e não me esquivei, o que iria adiantar? Estava presa.

O homem apontou sua varinha para os meus tornozelos e fez que as algemas se soltassem deles.

_ Onde está a sua bolsa? - Não respondi.

O vejo franzir a testa, mas começou a procurar a bolsa que estava atrás de mim, colocando outra bolsa nela e olhou para mim.

_ Você acha que não sou eu? Bom, provavelmente é isso que você está pensando. Mas, mon petit, você se lembra da nossa ação de juramento? - Pegou minha mão ossuda e começou a falar novamente: _ Estendi o meu dedinho e você o seu, entrelaçamos os nossos dedinhos e fiz que os nossos dedões se beijassem como uma promessa.

Não acreditava nele, talvez alguém tenha conseguido acessar as minhas memórias, ou isso era apenas uma alucinação.

_ Quando fomos separados, você me chamou de mentiroso e falei que sei contar muitas mentiras, mas nunca pude terminar a frase. - Suspirou. _ Já contei muitas mentiras, menos para você, mon petit. Scorpius sente sua falta e ele precisa da segunda mãe dele.

_ O q...

_ Ele está preso no passado e a única pessoa que sei que vai me ajudar nisso é você. - Tirou do bolso um relógio de ouro, não, era um vira-tempo. _ Nott fez mais um em 2018, só não pensava que meu filho iria ficar preso no passado, ele a puxou, não é possível.

_ Ele está bem? - Minha voz estava estranha, talvez seja porque não a usava há bastante tempo.

_ Vai estar, não sabia que a tia Bella e o Lorde tiveram uma filha, ela quer reviver o pai. - Estendeu a mão e a peguei. _ Sairemos daqui. - Levantei-me do colchão e ficamos de pé.

Era estranho estar em pé mais uma vez... Minhas pernas doíam um pouco, mas tinha que aguentar para sair.

Draco me entregou a bolsa e colocou o vira-tempo no meu pescoço.

_ Você diminuiu, depois me chama de velho.

_ Você é velho. - Segurou minha mão e saímos da minha cela.

_ Temos pouco tempo para sair daqui. - Nem olhou para trás. _ Granger, Potter e o Weasley estão me esperando em algum lugar. - Estava ansioso. _ E o ministério está vazio nesse horário, uma hora perfeita para você ir embora.

_ Por que Scorpius está no passado?

_ Contei tudo em uma carta, não tenho tempo para te dizer tudo.

_ Draco, isso não faz sentido, por que você me entregou o vira-tempo? - Sorriu de lado e chegamos no átrio do ministério.

Continuava igual alguns anos atrás, a única coisa que mudou é que não estou sendo arrastada e sim, andando como gente.

Paramos em uma das lareiras e puxo Draco para ir comigo, mas ele não deu um único passo.

_ O que foi?

_ Tenho que voltar, aquelas pessoas estão me esperando para tentarmos salvar as crianças.

_ Pensei... - Não terminei de falar.

Minhas palavras ficaram presas quando vejo Harry vindo até nós. Minhas mãos tremiam e meu coração se apertou. Estou com medo...

Draco olhou para trás e me olhou, beijando minha testa como uma despedida.

As grades das lareiras estavam se fechando rapidamente e o som era estranho para os meus ouvidos.

_ Seja onde você estiver, lembre-se que você sempre será a minha família, mon petit.

_ Draco? O quê... - Empurrou-me para a lareira e a última coisa que vejo antes das chamas verdes me engolirem, foi...

Um jato verde fazendo Draco Malfoy perecer, enquanto sorria para mim. O feitiço veio de Harry Potter, a pessoa que nunca pensei que lançaria um Crucius alguns anos atrás.

As chamas me engoliram e saio dali, carregando a memória do assassinato do meu benfeitor.