Levantei minha cabeça e olhei para a parede, isso era tão estranho, imaginar que tinha uma versão minha que não gostava de usar Malfoy em seu sobrenome, mas, sim, Slytherin.
E essa mulher nem considerava o meu bebê como seu afilhado, mas como aquele mundo parecia tão vivo e bom de morar? Será que o Lorde era bom naquele lugar?
Não, não parecia ser o caso, mas era estranho ver um mundo tão pacífico e por Merlim, tinha criaturas mágicas estudando em Hogwarts. E sentinelas espirituais que brincavam com os alunos.
Draco vivia naquele mundo, ele não morreu. A tia Cisa e o tio Lucius também devem estar vivos e felizes...
Mas eles não eram a minha família, eram apenas pessoas iguais tanto nas características e personalidades, mas não era a minha família.
Retirei a memória da bacia e a coloquei novamente no vidrinho, indo até a minha cama e me sentando nela.
Não queria ver memórias uma atrás da outra, só queria organizar o que acabei de saber.
Cygnus e Orion Black são casados e têm um filho.
A filha da família Rosier acabou se casando com Remus Lupin, alguém que deveria estar morto há anos.
Existem curandeiros em Hogwarts e o diretor não fica muito tempo naquele lugar.
Joguei-me para trás e olhei para o teto.
Aquele lugar parecia o paraíso, o paraíso que esse mundo nunca conhecerá, não se eu ainda estiver respirando.
Esse mundo não merece paz, não merece a misericórdia, só merece a destruição e farei isso com gosto.
Mas vamos parar de pensar nisso por enquanto, preciso refazer um vira-tempo e testá-lo quando ficasse pronto.
Entretanto, não estava com cabeça para isso, só queria me deitar aqui e ficar pensando em vários nadas.
_ Accio anel. - O anel voou para a minha barriga e ficou ali, me encarando e me julgando. _ Então? O que você é? Apenas um anel comum ou é um anel com proteções mágicas?
Como se o anel fosse me responder, talvez esteja enlouquecendo e não sei a cura para isso, na verdade, não quero a cura para a minha loucura.
As torturas que sofri no ministério não me enlouqueceu, mas perder aquela pessoa para a morte, fez tudo ruir, me fez enlouquecer sem que percebesse.
Mas não ligo para isso, não mais, acho que ser louca era muito melhor que ser sã e boazinha.
Sentei-me na cama e peguei o anel antes que caísse no chão, fiquei o observando e no final, fiz aquilo que falei que não iria fazer.
O coloquei no meu dedinho e iria fazer um feitiço para ele diminuir para ficar perfeito no meu dedo, mas nem foi necessário. O anel diminuiu sozinho e mudou de forma.
Era apenas uma aliança lisa, mas continuava sendo de ouro negro. Pensei que teria algo a mais, talvez uma mensagem ou uma foto como o colar, mas não tinha nada, não aconteceu nada.
_ Não sou inteligente o suficiente para entender os seus enigmas, Dragon.
Vejo minha bolsa e talvez tivesse algo que pudesse me ajudar a desvendar esse pequeno e inútil mistério.
Peguei o bolo de cartas e tento me decidir se leria as cartas que foram escritas primeiro, ou a última.
Retirei da pilha de cartas a última carta que foi escrita e retirei o lacre, dessa vez não era um bilhete.
───※ ·❆· ※───
Mon petit,
Não sei como começar uma carta de despedida, achava isso tão estranho quando via as pessoas escrevendo e colocando todos os seus sentimentos em palavras.
Por que não podemos nos despedir com ações? Mas aí percebi que nem todas as formas de despedidas irão tirar o sentimento ruim do meu coração.
Já é a segunda vez que iremos nos despedir, isso deve significar alguma coisa, não é? Se para você tem algum significado, me diga quando me encontrar.
Bom, quer saber o motivo de concordar em te deixar naquele dia? Tenho duas razões.
A primeira razão, foi porque descobri em 2008 pelo meu pai que você tinha um juramento. Ele realmente queria saber tudo sobre você e acabou encontrando o juramento em uma das salas trancadas para o público.
Você não poderia ter fugido comigo, ter vivido comigo e ter esquecido de todas as coisas loucas que planejamos. Mesmo que eu quisesse que você fizesse isso, não queria te perder devido a um juramento.
Mas sabia o que eles faziam com você e tentei, juro que tentei pedir algum inominável para te dar comida e água, para te dar um pouco de paz.
Porém, ninguém me ouviu ou acatou as minhas ordens, sou um imprestável ainda, me perdoe.
Mas essa foi a primeira razão que fiz aquilo, a segunda foi porque eles ameaçaram Scorpius. O seu bebê iria morrer se não me distanciasse de você.
É estranho, não? A família Malfoy sendo ameaçada... Mamãe sentia que um dia isso iria acontecer, mas sempre pensamos positivo, você deve se lembrar quando você fez 17 anos, que ela tentou falar sobre sermos ameaçados, mas papai a impediu de continuar.
Já sabíamos que alguma coisa poderia acontecer se continuássemos com você, mas não queríamos te abandonar, queríamos continuar vendo você...
Não queria perder a minha primeira razão de viver, mas também não queria perder a minha segunda... Queria ter sido egoísta e ter escolhido os dois, mas você iria me bater e dizer que não poderia ser assim.
Se o ministro não tivesse sido trocado, nada disso teria acontecido, mas nada do que escrevi aqui vai tirar a dor e os traumas que você provavelmente adquiriu.
E mesmo assim, peço que me perdoe. Mas se não quiser, não tem problema, não sou mais um mimado e egoísta que não entende os sentimentos das pessoas em minha volta.
Felizmente, sei como se sentiria lendo isso aqui, você está chorando e rindo, ao mesmo tempo? Queria ver isso, me perdoe por não estar aí.
Espero que o passado esteja sendo confortável para você, mas você pode se sentir um pouco solitária...
Se estiver, veja as minhas memórias, tem até a memória que ganhei um soco no meu terceiro ano, fiz isso para te alegrar, pelo menos um pouco.
Scorpius sentiu muita falta de você nesses anos, ele acordava gritando por você. Você era e é muito especial para nós, mon petit.
Acho que sei escrever uma carta de despedida, só não queria fazer uma.
Saiba que todos esses anos que tive o prazer de conviver com você; de conhecer você e de ouvir suas ideias loucas e insanas, me fez amar você e de admirá-la.
Você é especial, Leesa, e sou muito sortudo por ter tido a oportunidade de conhecê-la; de escutar sua risada estranha e de ver como seus olhos são lindos e fatais.
Você é tudo, você é maravilhosa e se quer destruir o mundo, faça, não irei impedi-la, você tem motivos o suficiente para fazer isso.
Saiba que mesmo não sabendo quem você é no meu passado, sentirei que você é especial para mim.
Porque você é. Sem despedidas, apenas fique bem.
───※ ·❆· ※───
Lágrimas caiam no papel e tentava segurar os meus soluços, mas era impossível, pensei que estava preparada para tudo, tudo mesmo.
Mas era só aparecer uma carta que tudo voltava, principalmente a memória em que ele morria.
Alisei as letras perfeitas que estava no papel e senti o meu peito doer, mas não era muito ruim. Era só saudades. Saudades de alguém que nunca mais verei...
Tinha uma convicção, não poderia chorar já que isso não iria me ajudar nos meus problemas.
Mas percebi que isso era apenas algo que dizia para mim, para que ninguém pudesse me ver chorando, para que ninguém me chantageasse com os meus sentimentos.
Um ser humano precisa chorar, precisa desabafar.
E se não colocar os sentimentos ruins para fora, eles acabam trazendo sérios riscos a sua saúde e corpo. Então chorarei, porque não sou feita de ferro, não sou incapacitada de sentir emoções.
Mas tudo isso irá me dar forças para continuar no meu caminho, na minha vingança contra a luz.
Guardei a carta e sequei minhas lágrimas, observando a mesa que já estava toda arrumada e vou até ela.
Peguei o vira-tempo e mexi em seus arcos de metal, um dia iria fazer um vira-tempo de ouro, mas até lá. O de metal estava de bom tamanho.
Fico o observando e algo veio na minha cabeça
Pessoas mudam e evoluem com o tempo, ou retrocedem com ele. Mas sou diferente, não ando conforme ele dita, eu o mudo, faço o meu próprio tempo. Não porque preciso, mas porque posso.
Falei uma vez que sempre iria seguir o fluxo do destino, posso me dar um tapa por isso, já que agora faço o fluxo me seguir e não ao contrário.
