Acordei sentindo um carinho bom em meus cabelos e tento me aproximar da mão da pessoa para ter mais contato.
_ Ratinha, você precisa se trocar. - Não queria e finjo que estou dormindo ainda. _ Sei que você acordou.
_ Você está vendo coisas. - Digo me virando para o outro lado e me cobrindo até a cabeça.
_ Agora uma pessoa dormindo conversa?
_ Sou sonâmbula.
_ Você perderá o café da manhã? - Antes que falasse algo, alguém bateu à porta.
_ Salazar? Está acordado?
_ Estou, Helga. O que houve? - Abaixei o cobertor e fico observando a porta.
_ A Morgana está aqui. - O vejo revirar os olhos. _ Você sabe onde está a Leesa? - Salazar me olhou e sorriu de lado.
_ Não, não a vi hoje, já procurou no bairro?
_ Não, ainda não e se apronte, ela não parece muito amigável.
_ E que dia ela foi amigável? - Salazar perguntou.
_ Você tem razão. - A escutei sair da porta.
_ Onde a Leesa deve estar... - Dei de ombros.
_ Na sua cama que não está, sou apenas um fantasma. - Sentei-me na cama e ele já estava impecável.
_ Que fantasma mais bonito, nunca vi um desse... - Parou de falar e coçou a bochecha. _ Melhor você ir. - O que ele iria falar?
_ Obrigada pela noite, dormi muito bem. - Levantei-me da cama, colocando os meus sapatos e vou até a porta. _ Ah, se você não gosta da Morgana, encontre outra, não fique com alguém que você não gosta. - Iria falar algo, mas se calou. _ Te encontro no andar de baixo.
_ Ok. - Observou a janela.
Saio do seu quarto, olhando para os lados e não tinha ninguém no corredor.
Entrei no meu quarto, fechando a porta e vou até o meu armário que tinha vários vestidos. As meninas compraram em algum lugar, não fui com elas, mas elas me trouxeram de várias cores.
Peguei um vestido azul-escuro e simples, bom, para essa época era simples. Eu acho.
Tirei minha camisola e fico me observando, meu corpo é tão estranho, cheio de cicatrizes e uma marca horrível nas costas, não acho que quero usar vestidos quando for para 1935.
Talvez use calças, sim, acho que seria mais confortável e iria... Mas serei uma criança...
Depois penso nisso.
Coloquei o vestido e amarrei a cordinha que vinha com ele. Faço que meus cabelos se arrumassem sozinhos em um coque com duas tranças laterais e vou até a minha bolsa, nessa época eles não tinham pasta e escova de dentes.
E por anos não tive a oportunidade de fazer a minha higiene todos os dias, mas como estou livre, não posso ficar com bafo.
Peguei a escova e a pasta, e começo a escovar os dentes enquanto ia para a bacia de água que tinha no quarto.
Limpei minha boca e o meu rosto, trocando de sapato enquanto observava a vela que havia derretido na madrugada. Tinha me esquecido de apagá-la, mas também não sabia que não iria dormir aqui.
Saio do quarto e alisei o colar no meu pescoço, sentia falta deles...
Desço a escadaria e vou até a sala, vendo a mulher que deveria se casar com Salazar.
A mulher usava um vestido longo e negro, sem nenhum tipo de detalhes, mas as mangas eram longas e escondia as mãos pálidas da mulher, era o vestido perfeito para essa época.
Parecia uma pessoa de boa índole... Apenas parecia.
Morgana estava falando algo com Salazar, mas quando me viu, ela se calou.
_ Quem é ela? - Pensei que todos me conhecessem, bom, esse bairro me conhece.
_ Prazer em conhecê-la, me chamo Leesa. - Estendi minha mão e as cinco pessoas ficaram a olhando. _ Bom. - Abaixei minha mão. _ Estou com fome.
_ Isso é ótimo, acabei de fazer o café da manhã. - Godric me levou até a mesa que estava repleta de comida. _ Não gosto dela. - Sussurrou.
_ Não gostamos. - Helga e Rowena falaram baixinho.
Sentei-me e começo a comer, mas Salazar continuava falando com a sua noiva e não parecia que iria comer tão cedo.
_ Ela sempre vem aqui quando algumas informações acabam chegando nela. - Helga falou enquanto partia o pão. _ Não sei o motivo dessa vez.
_ Ela é insuportável. - Rowena falou baixinho e vimos os dois chegando. _ Venham, comam conosco. - Sorriu educada.
_ Não posso, tenho que ver o vestido do meu casamento. - Falou me olhando, mulher estranha. _ Salazar quer se casar o mais rápido...
_ Ou é você? - Perguntei. _ Que eu saiba, Salazar não parece querer se casar o mais rápido com você.
_ Como ousa?
_ Ousando. - Não olhei para ninguém e continuei comendo.
Rowena tossiu e a Helga colocou a mão na boca, mas Godric não foi nada discreto e começou a rir. Visão periférica era ótima, às vezes.
_ Acho que não sou bem-vinda aqui. - Ela se foi sem se despedir.
_ Ela percebeu isso agora? - Helga perguntou para nós. _ Salazar, você merece alguém melhor.
Salazar me olhou e se sentou na cabeceira, comendo sem falar nada.
_ Desculpe-me, não queria ter sido rude com a sua noiva, posso...
_ Não, você está certa. - E só foi isso que falou, mas Helga mudou o assunto.
_ Leesa, você irá precisar comprar coisas para... - Insinuou alguma coisa com os olhos.
_ O quê? - Perguntei a olhando.
_ Para aqueles dias. - Rowena me ajudou.
_ Ah! Não, não menstruo. Já que sangue amaldiçoado tem os seus benefícios. - Ficara com as bochechas coradas. _ Desculpe-me. - Esqueci que nessa época essas coisas eram como tabu ou vergonhosas.
_ Estou pensando em ir ao mercado, vocês quererem alguma coisa? - Salazar os olhou.
_ Me traga uma galinha, quero fazer ensopado hoje. - Godric era um ótimo cozinheiro. _ Leesa, estava pensando em te levar para...
_ Eu a levo, prometi mostrá-la alguns lugares.
_ E que lugar seria esse? - Perguntei terminando de comer.
_ Hollow. - Responderam os dois.
_ Ah, onde você mora, não é? - Godric confirmou. _ Quero comprar um terreno e fazer uma casa lá, tem como...
_ Eu te ajudo. - Salazar me interrompeu.
Franzi a testa e pisquei algumas vezes, mas concordei. Rowena e Helga olharam para nós e sorriram, mas não disseram nada.
_ O dia está muito bonito hoje, acho que podemos ir para algum lugar e fazer uma fogueira e ver as estrelas, o que acham? - Rowena perguntou sorrindo.
_ Acho essa ideia perfeita, Rowe. - Helga estava empolgada. _ Não acham?
_ Claro. - Dissemos.
_ Vocês são estraga prazeres, cadê a animação?
_ Helga, você que é muito animada, não temos esse pique todo. - Godric se levantou falando. _ Vocês conseguiram dormir? - Olhou para mim e para Salazar.
_ O que quer dizer? - Salazar ergueu a sobrancelha.
_ Acabei dormindo no sofá de novo, mas queria uma cama dessa vez e vi que vocês estavam acordados. Mas o mais interessante é que vocês estavam acordados, mas Rowena não.
_ Estava muito cansada. - A mulher respondeu.
_ Não gosto de dormir no escuro, então acendo a vela para conseguir dormir. - Godric compreendeu e olhou Salazar.
_ Estava lendo, era um livro muito interessante de um rato que entra no quarto de uma pessoa para beber sua bebida e acaba ficando bêbado. Devo te emprestar esse livro, Godric?
_ Parece ser chato e nada interessante.
_ Mas eu aceito. - Rowena sorriu. _ Parece interessante.
_ Quando terminar de lê-lo, eu o empresto, Rowe. - Sorriu feliz.
Agora sou um livro, que interessante. Terminamos de comer e Salazar estendeu sua mão para mim e aceitei.
_ Bom passeio. - Disseram enquanto saímos da casa.
_ Onde fica esse mercado?
_ Não fica longe, mas também não fica perto. - Adiantou muita coisa. _ Teremos que andar um pouco, se importa?
_ Não. - Largou minha mão. _ Agora virei um livro? - Riu.
_ Pensei que você não quisesse que ninguém soubesse que você invadiu o meu quarto.
Caminhávamos em uma estrada de chão que continha casas nos dois lados, mas eram de madeira.
Algumas pessoas estavam conversando perto de suas portas, mas a maioria estava limpando a casa.
_ Não invadi o seu quarto, só tinha algo para perguntar.
_ E ficou no meu quarto.
_ Estava bêbada.
_ Duvido muito que você realmente estivesse. - Ele tinha razão, não estava bêbada. _ Você fica bem com essa cor. - Coçou a bochecha.
_ Obrigada. - Sorri para ele. _ Esse mercado tem varinhas? Preciso de uma, uma pessoa quebrou a minha e a fez evaporar.
_ Não fiz por mal, só não queria que aquela varinha a assassinasse. E sim, tem varinhas, mas não acho que elas irão satisfazer a sua magia.
_ Então preciso de ingredientes para fazer uma varinha.
_ Você vai pedir alguém para fabricá-la?
_ Não, sei fazer varinhas. - Ficou impressionado. _ Não é tão difícil, tive que consertar e fazer muitas vezes as varinhas dos meus pais, mas nunca consegui fazer uma para mim.
_ Podemos ver isso. - Concordei. _ Você acha estranho?
_ O quê?
_ Ficar aqui, você acha estranho?
_ Sou de uma época diferente, então acho estranho, mas é legal viver em um lugar que só li em livros.
_ O que eles diziam sobre mim? - Vi ao longe várias barracas, ali deve ser o mercado.
_ Que você odiava tudo que não era puro, que acabou tendo uma discussão com os outros três fundadores e viveu em algum lugar.
_ Eles me retrataram tão obsessivo. - Tinha razão. _ Mas também não posso julgá-los, matei os meus pais. - Parei de andar e fiquei o olhando. _ O que foi?
_ Isso de matar os pais é genético? - Franziu a testa. _ Seu descendente também matou a família. - Dou de ombros.
_ Não acha estranho?
_ Só acharei estranho se você tiver preservado os corpos dos seus pais no terceiro andar. - Começou a rir sem parar.
_ Não, não fiz isso, mas as suas cinzas estão no subsolo com os meus avós, bisavós e assim por diante.
_ Tão macabro. - Fiz a barra do meu vestido diminuir como sempre faço, mas dessa vez Salazar percebeu.
_ As pessoas irão estranhar.
_ Que estranhem, o que eles irão fazer? Me prender na fogueira e tacar fogo? - Não riu. _ Foi mal, sempre me esqueço que isso realmente aconteceu e às vezes concordo com a ideologia de Grindelwald.
_ E qual era a ideologia dele?
_ Bom, ele disse que os trouxas não são inúteis e tem sua própria função nesse mundo, mas eles deveriam se submeter a nós, e devíamos parar de fugir e nos esconder.
_ Mas não seríamos atacados? Mais do que já somos?
_ Aí que entra a questão, iríamos matá-los, como eles nos matam.
_ Acho que concordo com ele e ele parece ser uma pessoa inteligente.
_ Mas fez muitas coisas e acabou sendo preso e morto.
_ Acho que se ele tivesse tido ajuda, talvez o que ele planejou pudesse ter sido concluído. - Chegamos no mercado. _ Não me deixe esquecer da galinha ou terei bafo de cerveja por uma semana sempre que acordar.
_ Por quê? Godric vai dormir com você por uma semana? - Zombei.
_ Por Magic, Leesa. Ele sempre entrará no meu quarto para soltar aquele hálito horroroso que ele tem.
_ Que coisa horrível. - Parei perto de uma tenda e fiquei abismada com que vi.
_ Elfos são vendidos assim, presos em gaiolas e levados à exaustão. Gostou de algum? - Franzi a testa e fiquei observando aqueles elfos que só usavam panos sujos.
_ Salazar, isso é pior que escravidão. - Cerrei os punhos. _ Eles têm magia, não deveriam ser bem-tratados? Sei como é ficar em uma gaiola e ser vista como nada, é um sentimento horrível e só quero proporcionar isso para certas pessoas. - Todas as pessoas que forem contra mim.
_ No futuro, eles...
_ Eles são bem-tratados, existe até uma lei para eles. - Não conseguia parar de observar.
Pareciam animais e estavam em uma situação horrorosa e o mau cheiro era incomodo. Paro de olhar e saio andando para parar de ver aquilo.
_ Não quer...
_ Depois. - Tento não voltar para matar aquele homem. _ Depois escolho um. - Infelizmente não poderia tirar todos aqueles elfos dali.
_ Leesa. - Segurou meu braço e isso me fez parar. _ Você quer salvá-los?
_ Não posso matar aquele homem na frente de toda essa gente.
_ Não estou falando de assassinar aquele homem...
_ Mas eu quero. - Riu. _ Não ria de mim.
_ Ok, perdoe-me, mas você quer salvar aquelas criaturas?
_ Mas é claro que sim. - Espera. _ O que você está pensando em fazer?
_ Sei onde ele mora e sei que em sua casa existem mais elfos na mesma situação.
_ Você está insinuando invadirmos uma casa e matar aquele homem?
_ Eu só estou dizendo que podemos tirar os elfos daquela situação.
_ E depois podemos matar aquele homem?
_ Santa Magic, Leesa. Nem sou tão sanguinário assim.
_ Só estou perguntando algo essencial para essa missão.
_ Primeiro temos que saber se os elfos estão presos em contratos, se estiver, temos que insinuar que eles foram livres e eles irão embora...
_ E onde eles irão ficar? Olha para eles, Sly. Acho que não conseguem nem andar.
_ Eles podem ficar em Hogwarts, a cozinha já está pronta e ter mais mão de obra será de bom tamanho, todos os meus elfos estão lá. - Por isso que não vi nenhum até agora. _ O que acha?
_ E depois posso matá-lo? - Salazar suspirou e me fez voltar a andar.
_ Claro, libere a sua sede de sangue e mate-o do jeito que você quiser.
_ Obrigada, gostei muito desse nosso plano.
_ Só espero que dê certo.
_ Acho que vai dar.
_ Você não tem uma varinha para se defender.
_ E quem disse que preciso de uma varinha para fazer magia? Salazar, fiquei anos sem uma varinha, acha que não aprendi canalizar minha magia pelas minhas mãos? Algo tão fácil.
_ Você sempre me impressiona. - Sorri e começamos a ver as coisas. _ Concordo com o que você me disse antes de sair do quarto.
_ E por que você não fez o que falei?
_ Porque a pessoa que gosto vai embora e não quero ser egoísta de privá-la de fazer o que ela deseja.
_ Talvez se você contar sobre os seus sentimentos, ela fique.
_ Duvido muito, mas só a aprecio e não acho que possa evoluir para o amor.
_ E se evoluir? Você sofrerá, não é melhor dizer o que você sente de uma vez? - Fui até uma barraca de livros. _ E você não sendo egoísta é novo.
_ Sou ambicioso e não egoísta. - Concordei lendo alguns títulos. _ Ela é a coisa mais bela e adorável que já vi e conheci em toda a minha vida, mas não quero prendê-la.
_ Você é bom demais, se fosse eu, teria a sequestrado e a trancado em algum lugar. - O homem da barraca me olhou assustado. _ Estou brincando, senhor.
