31 de dezembro de 993:

O diário não mostrou mais nenhuma página e não estava me importando muito, tinha coisas mais relevantes do que prestar atenção em um diário de pessoas mortas.

Como, por exemplo, o hoje.

Hoje era um dia especial, iria embora e deixaria todos para trás, deveria estar feliz, começaria finalmente a fazer minha vingança, mas não sentia isso.

Queria ficar, queria ficar aqui, mas não posso. Era estranho.

Encostei-me na banheira, dando um suspiro. Não queria me vestir ainda, não queria ter que colocar um vestido, acessórios, sapatos com salto médio, chapéu, luvas e outras coisas.

Queria colocar um vestido longo com uma cordinha verde na cintura, sapatos confortáveis e usar qualquer tipo de penteado nos meus cabelos, mas não posso mais.

A água balançou na banheira e fico a observando ondular.

_ Você não parece bem, o que houve? Você repensou na ideia de entregar a espada para o Godric? - A vejo flutuar na minha direção. _ Ou você está preocupada com a Debby? Ela voltará antes que você tenha se ido. - Não perguntaria como ela sabia daquilo.

_ Não quero ir, quero ficar. - Sorriu triste.

_ Se realmente quisesse ficar, o seu juramento a causaria dor. - Ela não sabia sobre o feitiço, não a contei e nem vou. _ Você só não quer ir para um lugar que você desconhece, e está tudo bem, mas lembre-se que sempre estaremos com você, Leesa.

Voou até o meu vestido que estava no balcão do banheiro, apenas me esperando para colocá-lo junto de outros acessórios.

_ Vestido preto, você gosta de preto?

_ Não, mas não consigo parar de usar.

Mesmo não aceitando os sentimentos do Dragon, vestir roupas de tonalidade escura, virou um vício, ou pode ser apenas uma mania inútil.

_ Acho que trocarei. - Estranhou. _ Os vestidos dessa época são tão estranhos.

_ Mas esse vestido não parece ser de 1935, ou 1938, ou 1940.

_ Porque não é. - Sorri. _ É de algum ano entre 1920 e 1930. - Ficou pensativa. _ Não vou para 1935 agora, tenho que resolver algumas coisas. - Planos foram mudados.

_ Entendo, você quer que eu mude o seu nome no livro? Para facilitar a sua vida. - Franzi o cenho.

_ Por que não me disse que poderia fazer isso? - Deu de ombros.

_ Pensei que seria um pouco inteligente e ligaria o fato de eu ser a magia de Hogwarts e o livro é de Hogwarts, então posso mudar coisas nele.

_ Não vou para a Corvinal devido a isso. - Murmurei. _ Bom, não precisa mudar e quero que seja assim, sofrer um pouquinho não será tão ruim.

_ Ok.

_ A única coisa que quero que você faça é que pegue esses presentes e os coloquem na cama dos meus amigos. - Suspirei. _ Não quero me despedir.

_ Nem de Salazar? Ele ficará chateado.

_ Que dia ele não ficou chateado comigo?

_ Ele nunca ficou chateado com você, não que me lembre. Mas tudo bem, farei o que me pediu. - Estalou os dedos e os presentes sumiram. _ Não use nada que não goste, estarei na sala precisa.

_ Tem algum livro de insuficiência mágica? - Ficou pensativa. _ Uma pessoa engravidou e quando deu à luz ficou fraca...

_ Ah, sim, tenho. Colocarei na sua bolsa. - Sumiu, mas logo voltou trazendo um livro com sua magia, indo até a minha bolsa que estava em cima do balcão.

Porém, foi aí que me toquei de uma coisa...

_ Não... - Tarde demais.

O livro caiu no chão, mas o fantasma voou alguns metros, me olhando assustada.

_ O que foi isso? Jurei que iria sumir.

_ Um feitiço que faz que ninguém toque nessa bolsa e acho que tenho que transfigurá-la para uma bolsinha bonita, ela já está toda destruída e feia. - Fiz uma careta.

_ Deveria ter me avisado que tinha um feitiço na sua bolsa. - Revirou os olhos. _ Vou embora. - E realmente foi.

Contudo, me fez lembrar que não confio na Melissa, não muito. Então não sei se o feitiço está funcionando e nunca pediria isso ao Salazar, não sei se confio ou desconfio dele.

Acho que desde daquele dia que discutimos parei de ir atrás dele, até mesmo parei de chamá-lo de Sly...

Vamos lá, Leesa. Você precisa colocar a roupa e colocar o anel em seu dedinho, já que o feitiço já foi colocado no anel e o pó de vira-tempo também.

Está tudo pronto, tudo pronto para que eu fosse embora.

Levantei-me da banheira e a água do meu corpo começou a deslizar para baixo. Saio da banheira e estalo os meus dedos, fazendo que o meu corpo ficasse seco.

Em vez de usar roupas íntimas daquela época, usaria as de minha época, muito mais confortáveis e mesmo sentindo um pouco de vergonha por ter calcinha e sutiã comprados por Dragon.

Não poderia parar de usá-las, já que desde o começo só usava elas e só porque descobri que ele me amava, não vou parar de usar.

Apenas não posso pensar no Malfoy indo até uma loja de lingerie e comprando essas coisas enquanto pensava em mim.

Ah, que vergonha!

Abanei meu rosto, tentando não me sentir quente pela vergonha que sentia. Tudo bem, já passou.

Coloco a lingerie que não era preta e nem azul, felizmente, mas era vinho. Pego a cinta-liga da mesma cor e fico observando o vestido.

Ele não era lindo de morrer, era simples. Mas para aquela época seria magnífico, só que deveria ver que dia iria para aquele tempo, imagina, ir para um tempo que está frio? Vou morrer congelada.

Então coloco na bolsa novamente o vestido e o chapéu, não usarei chapéu, me recuso.

Retiro da bolsa uma blusa de frio branca, mas tinha uma listra marrom dos ombros até o pulso e a manga era frisada na cor marrom.

Pelo menos a blusa não era transparente, ou deveria trocar de lingerie e não estava com paciência para isso.

Retiro da bolsa um vestido cinza que batia nos meus joelhos, o vestido tinha um decote em V na frente e era um pouco frisado na cintura, mas para não mostrar esses frisados, retiro da bolsa um cinto branco.

Coloco a roupa e fico me observando, estava estranho? Espero que não.

Saio do banheiro para colocar a meia, não queria molhá-la com a água que caiu no chão.

Sento-me na cama e coloco a meia, prendendo nos ganchinhos da cinta-liga. Apenas faltava o cabelo, luvas e o sapato...

Não sabia o que deveria fazer no meu cabelo, ele não estava mais batendo nos meus ombros, batia alguns centímetros abaixo dos ombros. Talvez só devesse deixá-los soltos. Isso, não me daria trabalho.

Agora o sapato... Não tenho.

Tudo bem, posso transfigurar um. Procuro a minha botinha que ganhei da titia e quando a acho, a transfiguro para uma botinha marrom de cano médio, seu salto não era grande, era médio.

Afinal, tinha que me acostumar a andar de salto.

Coloco o sapato no pé e me sinto um pouquinho maior, então era assim que pessoas de 1,72 enxergavam? Nossa, mudou nada.

Olhei em volta e me lembrei que não sei a data de nascimento daquela pessoa... Ou acabei esquecendo.

Vou até minha mesa e pego o meu diário, virando as páginas para encontrar a data, até que encontro. Era novembro, um mês frio, mas não chuvoso e era perfeito para me vestir assim.

Volto para a minha cama e coloco a luva de renda, poderia ser algo mais quente. Mas é só fazer um feitiço de aquecimento. Simples.

Estalo os meus dedos e minhas coisas voaram para a bolsa. Sejam pastas, papéis, diário, roupas, alguns livros.

Tive que aumentar o feitiço de expansão ou essas coisas nunca entrariam nela.

Bom, já tinha escovado os meus dentes antes de tomar banho, então só faltava transfigurar essa bolsa feia em algo bonito.

Porém, não tenho muito tempo para detalhes, vamos fazer uma bolsa redonda com uma cor que combine com tudo. Preto.

Dragon tinha razão, preto combina com tudo, tudo mesmo. Coloco a bolsa atravessada no meu corpo e vejo se estava esquecendo algo.

E sim, estava esquecendo algo, meus vira-tempos. Vou até a mesa, pegando o meu anel e o colocando no meu dedinho.

Mas o vira-tempo de ouro, bom, não sabia qual forma poderia dá-lo. Então apenas o peguei em cima da mesa e o coloco na bolsa.

Fecho a bolsa e olho em volta, vendo que tudo estava no lugar. Acho que a Melissa estava errada, Debby não virá. Acho que ela está aproveitando a vida, já que tem tanto tempo que não a vejo.

Bom, tudo bem, fico feliz por ela... Ok, vamos lá.

Ativo o feitiço de data, hora e realidade do meu anel, antes que colocasse a data e a realidade, a porta foi aberta com uma agressividade que levei um susto.

Olho para trás e ali estava a pessoa que não queria ver. Salazar.

Ele estava ofegante e descabelado, mas me olhava com raiva. O homem veio até mim, segurando meus ombros e os sacudiu.

_ Você iria embora sem se despedir? Você iria embora sem falar nada? - O barítono de sua voz me fez tremer e tentar recuar.

_ Salazar, eu...

_ Você é tão egoísta que não quer nem mesmo se despedir de nós? - Egoísta? Eu? Estou tentando ser uma, mas...

_ Não sou egoísta, só não queria me despedir de vocês, não queria chorar. - Digo irritada.

_ Egoísta. - Ficou ainda mais irritado. _ Egoísta e egoísta.

_ Não me chame de egoísta, seu idiota, eu não sou! - Bato em seu peito, mas suas mãos prenderam as minhas. _ Me solte.

_ Se não fosse pela Melissa, nunca mais a veria, nunca mais escutaria ou implicaria com você. Sabe como me sentiria? - Apertou minhas mãos.

_ E você sabe como vou me sentir me despedindo de vocês? - Não quero chorar. _ Quando me for, vocês já estarão mortos...

_ Mas estaremos lá para você, como fantasmas, como quadros ou como você quiser. Porque queremos estar com você...

_ Está falando que não quero estar com vocês?

_ Não, só estou tentando dizer que você pode se despedir de nós, a gente irá se ver novamente. - Ele se acalmou. _ Mas nunca mais iremos te ver por pelo menos mil anos. - Suspirou. _ Merecíamos pelo menos um abraço de despedida.

_ Por isso que me chamou de egoísta?

_ Sim. - Respirou fundo. _ Estaremos lá, Leesa. Mas você não vai estar aqui, não estará aqui para me irritar e te amar como se fosse a primeira vez que ofereci minha mão para a mulher mais linda que já tinha visto.

_ Salazar...

_ Não, não deixarei você falar.

_ Você faz isso muitas vezes.

_ Porque se eu deixar, você sempre irá se perguntar o porquê de eu te amar. - Sorriu. _ Seus cabelos que me chamaram atenção, sabia que na luz do sol eles ficam azulados? Eles são perfeitos e sedosos. - Alisou meus cabelos, mas soltou minha mão. _ Sua pele fica rosada quando está contente e você sempre parece estar contente.

_ E você é um rabugento. - Murmurei.

_ Sim, sou. Seus pés são fofos e seu dedinho é torto. - Bufei.

_ Não é.

_ Seu nariz é arrebitad segunda coisa mais fofa que já vi.

_ Qual é a primeira? - Pergunto em dúvida.

_ Seu pé. - Ri com isso. _ Seus olhos são belíssimos e sempre me perco neles, sua risada é assustadoramente contagiante, sabia que tem covinhas? São lindas e gosto quando você teima comigo, gosto quando é petulante e quando tudo tem que ser do seu jeito.

_ Isso são elogios?

_ Não, são os motivos que me fez amar você. Leesa... - Soltou minha mão e se distanciou. _ Me conceda a nossa última dança? - Estendeu a mão e a peguei, seria a última vez que a pegaria e a aceitaria.

_ Não temos música.

_ Temos. - Estalou os dedos e um piano começou a tocar. _ Viu?

Ele me puxou para mais perto de si e ficamos nos olhando por alguns minutos. Até que o violino que parecia triste começou a tocar e começamos a dançar no quarto espaçoso.

Mas por que fiquei com vontade de chorar? Não podia chorar...

Giramos no quarto e a música era calma, mas trazia tantos sentimentos dentro do meu peito.

_ Queria ficar. - Digo perto de si. _ Quero ficar. - Meu rosto deve estar lamentável, já que soltou a minha mão e alisou minha bochecha.

_ Você não pode, minha pequena rata. - Meu coração doeu. _ Sempre será minha, ok? Minha pequena e idiota rata.

_ Quadro velho. - Meus lábios tremiam. _ Sentirei tantas saudades de você e dos outros.

_ Sentirei mais. - Beijou minha testa. _ Sempre sentirei sua falta, porque você sempre e para sempre, será o meu grande amor. - Apertei sua mão e continuamos dançando. _ Espero que encontre o seu.

_ Não quero. - Riu e me distanciou de si, me girando e me puxando novamente. _ Não quero sofrer, amor dói, machuca e olha o que estou fazendo com você.

_ Você pode não ter me amado como eu queria, mas me amou como ninguém. Você foi gentil, atenciosa e ótima com as palavras, você é a coisa mais bela e estranha que já conheci.

_ Por que estranha? - Meus pés não paravam de dançar e não queria parar.

_ Porque você cuidou do meu coração tão perfeitamente...

_ Sou estranha por cuidar dos meus amigos? Quero ser tratada daquele modo, Salazar.

_ Não me chame de Salazar, por favor. - Suplicou. _ Só dessa vez, esqueça aquele dia e me chame do apelido mais tosco que você já me deu, ou me chame...

_ Sly. - Sorriu triste e concordou.

_ Você é a coisa mais perfeita que existiu na minha vida, e queria guardar você para sempre, mas aí, você não seria mais perfeita.

_ Não sou perfeita, sou quebrada, minhas asas estão deformadas e...

_ E aí que está, isso tudo a deixa mais humana, mais perfeita, Leesa. Você não fez nada para que me apaixonasse por você, mas foi esse nada, que me fez apaixonar por você, que me fez amá-la.

_ Tão confuso.

_ Sim, essa confusão é o meu amor, e é como me sinto na sua presença. - Beijou minha bochecha. _ Quero colocá-la num pedestal, quero falar seu nome por anos e escutar sua voz por gerações. - Franziu o cenho. _ Mas fico confuso e as palavras não saem perfeitamente como penso.

_ Tudo bem. - Alisei seu rosto. _ Entendo, mesmo sendo confuso.

Paramos de dançar e o vejo encostar sua testa na minha. Observei seus olhos e me perdi neles, eles eram tão belos e únicos.

_ Leesa, você me disse que tem várias outras realidades e isso me deixou um pouco confuso. - Ficou agitado. _ Mas, quando você terminar de fazer tudo que você tem que fazer e se quiser...

_ Respira. - Concordou.

_ Se você não tiver se casado ou se apaixonado por ninguém e... - Fechou os olhos. _ E quiser voltar, por favor, volte, ok? Irei lhe esperar por um dia, não, um dia é muito pouco. Espero você por uma semana, talvez um mês ou um ano...

_ E a Morgana?

_ Não ligo, por você vale a pena esperar. - Pegou minha mão e a beijou. _ Seus dedos são lindos, você é linda, e queria tanto beijá-la. - Riu choroso. _ Queria saber se seus lábios têm gosto daquele morango que você comeu no café da manhã de ontem, queria tanto despi-la para ver a perfeição que você esconde debaixo dessas roupas estranhas. Mas estou bem apenas com isso. - Beijou minha testa mais uma vez. _ A amo, minha pequena rata.