Abraçou-me e retribuo o abraço sem pensar duas vezes.
_ Você foi a coisa mais significativa da minha vida e se você não puder voltar, espero que em outra vida eu possa ter a oportunidade de tê-la e fazê-la feliz, já que nesses meses que passamos juntos você me fez.
_ Sly. - Funguei, o fazendo rir.
Distanciou-se de mim e ficou me olhando, mas não se foi, apenas secou minhas lágrimas e beijou minhas bochechas mais uma vez.
_ Seja feliz, pequena rata. - Sussurrou perto da minha bochecha. _ Torcerei por você. - Olhou-me mais uma vez e saiu do quarto.
_ Terceira vez. - Cerrei os punhos. _ Terceira vez que deixo as pessoas que gosto para trás. - Olhei para o anel e o ativei novamente.
A data apareceu e deslizo os dias, os meses, anos e às horas, mas a última coisa que faço é colocar a dimensão e a realidade.
_ Debby? - A chamei, mas ninguém apareceu. _ Fique bem. - Olho para o nada e falo: _ Meli, espero que me receba em 1936 com muita felicidade. - Sorri triste.
Adeus, 993 e...
Fecho meus olhos, escutando buzinas e o cheiro de poluição pelo ar, não sentia saudades disso.
Abro meus olhos e estava em um beco qualquer da Inglaterra. Não sabia o nome da rua ou o bairro, mas posso ver isso se eu andar mais um pouco.
Porém, vejo se tudo estava bem e estava, meu coração ainda não estava doendo por saudades, minha cabeça não estava vacilando. Ela ainda não compreendeu que não estou mais lá.
Então no final está tudo perfeito.
Arrumo meus cabelos e saio do beco, vendo as roupas das pessoas que passavam por mim, não estava tão diferente assim e ainda bem que coloquei algo quente, estava frio.
_ Os Anos Loucos chegaram! - Um garoto balançava o jornal enquanto sua sacola de pano ainda estava cheia.
_ Que grande tragédia, as mulheres e crianças estão perdidas. - Bebericou o café. _ Olha essas roupas. - Ridículo.
_ Agora elas têm o direito de votar em alguns países. - Fechou o jornal. _ Grande perda para nós. - Se eu revirar os olhos é bem capaz de ficar vesga.
Continuo andando e observando os lugares, precisava achar a casa daquelas pessoas e não sabia onde eles moravam, isso não estava na pasta, infelizmente.
A única localização que estava na pasta era sobre A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black. Mas fazendo as contas, quem morava naquele lugar com o Monstro, era Phineas Black, pai de Cygnus II.
Bom, será que consigo chamar o Nôitibus sem varinha? Bom, posso tentar.
Continuo andando fazendo algumas mulheres me olharem e cochicharem, mas não ligava para isso. Apenas queria chegar o mais rápido na família Black.
Claro, poderia muito bem-fazer aquele feitiço de localização, mas talvez ele não me levasse para a pessoa que queria e não queria vomitar de novo.
Vamos para o jeito mais difícil.
Entro em alguns becos, atravesso ruas e vielas, saindo em uma rua que estava deserta, ótimo.
Levanto o meu braço e torço para dar certo e deu. Viva!
O ônibus louco parou na minha frente e a porta se abriu.
_ Bom dia, senhorita. - Retirou o chapéu e seus olhos castanhos ficaram visível.
_ Bom dia. - Entro no ônibus e me sento em um dos lugares vagos.
_ Para onde? - A porta se fechou e começou a corrida, mas só tive que me segurar antes que voasse para frente.
_ Família Black. - Franziu a testa.
_ Qual delas? - Certo, essa família era imensa.
_ Aquela que tem Cygnus Black II e Violetta Black. - Fez um "A" com a boca.
_ Não podemos passar naquela rua, mas, podemos te deixar na rua de baixo.
_ Tudo bem. - Gritou o meu destino e a cabeça falante começou a alfinetar a família Black.
_ Bando de idiotas puristas, tomara que morram todos.
_ Vai acabar sendo partido no meio se eles te pegarem falando assim da família deles. - Gritou o homem para a cabeça.
_ Que partam, assim poderei gritar umas verdades para eles. - Riu alto. _ Caldeirão Furado! Grita aí, otário.
_ Caldeirão Furado. - O ônibus freou e quase bati o meu rosto no vidro.
_ Obrigado. - Disse um senhor e ele me olhou. _ Nos vemos mais tarde, senhorita Leesa. - O quê?
Desceu do ônibus e fiquei o olhando, que mais uma vez acenou a cabeça para mim. O que acabou de acontecer?
Santo Merlim, estou em livros de histórias e essas coisas? Vou ser presa? Vou ser partida ao meio? Como ele me conhece? E se... Grindelwald? Ele ainda tinha o crânio dele e estava aumentando os seus seguidores para começar a guerra.
Bom, vamos esperar. Pressa é inimiga da perfeição.
_ Taca o pau, doido! - O Nôitibus começou a se movimentar e estava mais rápido que a primeira vez. _ E aí, pra que tu quer ir à casa daqueles esquisitos? - A cabeça me perguntou.
_ Sou uma amiga da senhora Black e acabei de saber que ela está esperando o quarto filho. Então, queria ir lá, dar os meus parabéns. - Sorri enquanto me segurava.
_ Grande merda. - Gritou a cabeça.
_ Vocês vão em todos os lugares? - Pergunto.
_ Qual lugar que você quer ir? - Tirou um cigarro do bolso e o girou entre os dedos.
_ Orfanato Wool. - O homem ficou pensativo.
_ Um lugar trouxa, bom, vamos, sim, é só chamar.
_ Obrigada.
_ Próxima parada, rua abaixo da casa do Satanás. - Santo Merlim, não posso rir.
Deixo o Nôitibus parar e me levanto, agradecendo as duas pessoas e a cabeça.
_ Até mais. - O homem deu tchau e o Nôitibus sumiu da minha vista.
Vamos lá, arrumo minha bolsa no meu corpo e começo a andar em direção do final da rua, queria saber o motivo deles não poderem ir à rua da casa Black.
Bom, um dia descubro.
Continuo arrumando minhas roupas que estavam um pouco amassadas pela condução estranha, mas muito rápida.
_ Fiquei sabendo que vai esfriar ainda mais esse ano. - Uma senhora disse enquanto passeava com seu cachorro e sua neta. _ Bom dia. - Cumprimentou-me.
_ Dia. - Falo para as duas e continuaria a minha caminhada, mas a mulher ao lado da senhora fez uma pergunta.
_ Onde comprou essa roupa? É tão bonita. - Sorriu, fazendo suas covinhas aparentes.
_ Eu fiz, não comprei. - Que mentira. _ E obrigada, achei que as pessoas iriam me repreender.
_ Bobagem, esses homens com pensamentos primitivos que não gostam que nós, mulheres, evoluam. - A senhora sorriu. _ Prefiro esse vestido a usar espartilhos, odiava aquilo na minha juventude.
_ Desconfortável. - Nunca usei. _ Como vocês ficaram na guerra? - Perguntei, já que estávamos quase nesse assunto.
_ A guerra foi assustadora, pelo menos estamos bem, e... - A neta olhou para sua avó. _ Espero que nada de ruim aconteça novamente.
_ Não vamos falar de guerra e homens com cérebros pequenos demais para entender que podem dialogar ao invés de causar uma guerra...
_ Talvez eles tenham dialogado, mas não conseguiram ser ouvidos e entendidos, compreendidos por seus iguais e devido a isso, eles usaram a guerra como o meio de oprimir e se rebelar. - As olhei. _ Não se preocupe, não é como se tivesse nascido há muito tempo um homem que começaria a uma grande guerra. - Coitados.
_ Você está certa. - Não estou. _ Bom, não vamos prendê-la em uma conversa, mas a sua roupa é linda, parabéns. - Agradeci e continuei a minha caminhada.
Poderia matar Hitler, mas não quero e não quero mudar o mundo trouxa, estou pouco me fodendo. Mesmo ele sendo essencial para o mundo bruxo.
Paro de andar e vejo o motivo que Nôitibus não vinha nessa rua, era uma barreira e uma bem forte. Mais forte que a barreira dos duendes, mas perdia para a barreira que criei para Hogwarts.
Que pena, consigo entrar.
A toquei e me concentro em abrir uma abertura sem alarmar os Black. Não era tão difícil, poderia estar fazendo polichinelo enquanto abria a barreira.
A barreira começou a se abrir e em poucos segundos já estava passando pela abertura, indo em direção da mansão Black. Era apenas uma rua inteira para aquela família... Ricos.
Mas era bonito, não era uma rua qualquer, era uma rua com árvores nos lados que formavam a rua. As folhas que caíram das árvores estavam no chão e faziam um barulho engraçado quando eram arrastadas pelo vento.
Olho para trás e a barreira ficou normal, sem buracos. Perfeito. Não ligava muito pela ideia de estar presa na mansão Black, tenho o meu vira-tempo e apenas posso matar todo mundo, bem simples.
Apenas que o vento frio passava por mim e fazia minhas roupas e cabelos balançarem, quase me fazendo tremer por frio... Queria chocolate quente.
Porém, também quero dormir e esquecer que nessa época não existia um rabugento chamado Salazar.
Saudades mata...
Paro no portão de ferro e observo a parede de pedra que o segurava. Bom, até que é bem bonito.
Dou pequenas batidinhas na fechadura e o portão se abriu. Ah, magia era uma coisa linda.
A mansão era feita de tijolinhos vermelhos, não era esplendorosa, mas era bonita, com muitas janelas e nenhum grito, apenas paz. O que era conceito hoje em dia.
Porém, o jardim precisava de cuidados, talvez eu diga isso aos anfitriões ou apenas fique quieta.
Subo as três escadinhas e paro na porta negra, batendo bato à porta. Ainda sou educada e não gosto de invadir lugares alheios.
A porta se abriu e olho para baixo, observando um elfo maltrapilho e que me olhava com raiva.
_ Não podemos aceitar visitas, saia antes que a chute. - Que amor, e pensar que matei uma pessoa para libertar elfos como ele.
_ Não me importo, e com licença. - Empurro a porta e o elfo começou a gritar comigo enquanto entrava na casa.
Bom, se não fizesse isso, era bem capaz dele fechar a porta no meu rosto, o que me deixaria com raiva.
Contudo, não posso ser condescendente com todos os elfos, tenho que ser uma vadia do mal. Infelizmente.
Porém, não tive que vasculhar a casa para encontrar pessoas ou os cômodos, já que uma sala espaçosa ficava à direita.
Dou alguns passos e vejo um garoto sentado no sofá, parando de ler para me observar.
Ele tinha olhos tão negros quanto piche, seus cabelos estavam escovados para trás como um adulto, porém, não parecia um garoto normal.
_ Você deve ser o Pollux, o mais velho. - Franziu a testa e antes que falasse, um homem apareceu no corredor.
Seus cabelos eram negros ondulados, seus olhos negros e a pele de porcelana com algumas sardas era tendência nessa época. Eu acho.
_ Quem seria você? - Adoro que não preciso usar cordialidades.
_ Leesa, e vim salvar a sua esposa, se hoje não for dia 14 de novembro de 1920. - Levantou a sobrancelha e uma mulher saiu de outro corredor, me fazendo ver sua barriga enorme.
Seus cabelos loiros como o ouro eram lindos, mas seus olhos azuis me lembravam da Nelly.
_ Como? - Apertou seu vestido. _ Como assim?
_ A senhora deve ser Violetta Black. - A pessoa que falei que não iria salvar, mas aqui estou. _ E na sua barriga deve estar a Dorea Black.
Preciso que eles saibam que vim do futuro, se não, eles me acharão uma louca. Então, vamos parar de teatro e vamos falar de coisas essenciais.
_ Vim do futuro. - Passado. _ Para ajudar a família Black, já que ela é muito importante para mim. - Apenas uma pessoa.
_ Não estou entendendo. - A mulher foi até o seu marido, abraçando seu braço. _ Querido, o que ela está tentando dizer?
_ Que você morre amanhã. - Sorri enquanto todos me olhavam assustados. Fui muito abrupta.
_ Tire essa mulher daqui! - Gritou o Black.
_ Por Merlim. - Alisei meus cabelos para trás. _ Vamos lá, tenho provas concretas sobre isso que acabei de dizer. O que você quer? Quer que eu diga quem vencerá a Segunda Guerra Mundial? Quem irá vencer a guerra que Grindelwald está fazendo? Qual ano Dumbledore vai morrer? Que seu filho Marius virará um aborto em 1925 e tenho a cura para isso? Vamos, me digam?
_ Marius? - Será que bati na casa errada? Será que estou no ano errado mais uma vez?
_ Espera, que ano estamos?
_ 13 de novembro de 1920. - Pollux respondeu enquanto me observava.
_ Isso, obrigada. Consegui acertar pelo menos isso. - Olhei para o casal. _ Vocês são Cygnus e Violetta, não são?
_ Segundo, Cygnus segundo. - Que se dane.
_ Então estou na casa certa, vamos conversar com calma?
Olharam-se e caminharam para a sala, que a única coisa que separava a sala do hall era uma porta imensa de madeira com vários vidrinhos quadrados.
Passo pela porta e me sento no sofá vazio, mas confortável. Contudo, um jogo de chá apareceu a minha frente e o elfo, que não havia ido embora, começou a prepará-lo para mim.
Mesmo estando incomodada com essa situação, não posso falar nada. Tenho que ser uma vaca purista, e isso faço muito bem.
_ Aqui, madame. - O elfo me entregou a minha xícara e bebo um pouco do líquido que não sabia o nome.
_ Podemos voltar ao motivo de sua visita? - Cygnus falou.
_ Vim para salvar Violetta Black, mas tenho minhas condições. - Olho para Pollux e ele se levantou, dando adeus aos seus pais. _ Ele é um garoto inteligente.
_ Sim, ele é. - Violetta sorriu.
Que pena que não foi tão inteligente para se safar da prisão. Bom, vamos lá.
_ Por que minha esposa vai morrer?
_ Devido à terceira gravidez que ela teve em 1918.
_ Foi uma gravidez complicada, mas por quê? - Violetta me perguntou.
_ Insuficiência mágica, o bebê roubou mais do que devia de você e você não conseguiu repor isso antes de engravidar novamente. - Vejo os dois apertarem suas mãos. Pensei que os Black não conhecessem a palavra amor.
_ Mas insuficiência mágica não tem cura e... - A mulher começou a chorar.
_ Tem cura e estou aqui para isso, mas...
_ Qual é a sua condição?
_ Que todos os seus filhos, netos, bisnetos e assim por diante. Fiquem e lutem comigo na guerra que surgirá. - Não vou dizer o ano.
_ Isso... - Olharam-se.
_ Não pegarei essas crianças e mandarei para uma guerra, vou perguntar antes se eles querem aquilo, mas nem os pais ou algo do tipo irão induzir essas pessoas a lutar ao meu lado. - Acho que nem todas as minhas memórias foram forjadas, então ainda me lembro o terror de estar em uma guerra que não queria.
Ainda consigo sentir todo o caos... O caos que falei antes de ser sequestrada que não queria mais vivenciar, o caos que queria me distanciar.
Mas olha onde estou, estou fazendo a minha guerra. Sou uma pessoa hipócrita e contraditória.
Mas afinal, as pessoas mudam com o passar dos anos e não teria mais os mesmos pensamentos quando tinha 15 anos, bom posso ter alguns, mas nem todos.
