Tento firmar os meus pés e mesmo assim, cambaleei para frente.

_ A senhorita está bem? - Concordei com a cabeça e a olhei.

_ Sempre tropeço nos meus próprios pés quando uso chave de portal.

_ Quando eu era menor, sempre vomitava nos sapatos do meu pai e ele ficava uma fera.

_ Lert, é você? - Essa voz.

Uma pessoa entrou na sala que tinha papéis de parede estranhos e móveis de madeira.

_ Ah, pensei que fosse o Lert. - A mulher baixinha com cabelos cacheados e olhos verdes apareceu.

A pessoa que me colocou no mundo, Byella Avery.

_ Senhora Avery. - Pensei que usaria seu sobrenome de casada. _ Essa é a filha do nosso senhor, Leesa Grindelwald. - A mulher ficou me observando.

_ Então é você quem quer ter Grindelwald no sobrenome. - Vinda colocou a mão na boca para rir.

_ Não sabia que a filha dele era tão crescida. - Parecia raiva.

_ Sim, ele me teve muito cedo e mamãe era jovem e imatura. - Uma vaca e dissimulada.

Largo o braço da Vinda e vou até a mulher, tinha tantos anos que não a via que percebi algo inútil, fiquei bem maior que ela e seus olhos eram a única coisa que realmente tinha dela.

_ Seu pai me ajudou muito, só quero ajudar. - Concordei.

_ Mas ele pediu a sua ajuda? - Cerrei o punho e tento me conter.

Quando precisava de ajuda, você não fez nada, então por quê? Por que você quer ajudar uma pessoa que não, quer nada com você?

Por que me fez tanto mal, enquanto era a única coisa que restava do homem que você dizia "amar"?

Era isso que queria falar, que queria perguntar, mas minha boca pela primeira vez não se abriu.

_ Mas vim do futuro e conheço...

_ Se realmente conhecesse o futuro, não iria ajudá-lo a não ser preso? - Eu era outro caso, não vim aqui para ajudá-lo, não vim aqui para falar todo o futuro para ele.

Mas ela era diferente, não era?

_ Quando contaria, já era tarde demais...

_ Mas não era só voltar no tempo, talvez, um dia antes da prisão do meu pai? - Ficou sem palavras.

_ Tem razão, talvez consiga reverter a prisão do Lert. - Concordei e a vi pegar um vira-tempo e nele tinha um número, era seis.

Dumbledore era dessa realidade, mas essa mulher não é. Ela era realmente a minha mãe? Ela é realmente a Byella que vi morrer pela Hermione? Não, acho que não.

_ Acho que não será necessário, meu pai voltará em algum dia, não gaste o pó de vira-tempo em vão. Depois... - Aproximei de seu ouvido. _ Não terá mais nada para fugir de seu futuro. - Ficou temerosa e raivosa.

_ Acho que ficarei no meu quarto e aguardarei a volta do Lert. - Saiu sem se despedir.

_ Devo levá-la para o escritório, meu senhor deixou algo para a senhorita. - Me virei e Vinda estava me observando.

_ Por favor. - Vejo Krall sair da sala e a sigo para longe daqui.

_ Não ficaremos aqui por muito tempo, mas será o suficiente até o meu senhor retornar. - Entramos em um corredor estranhamente iluminado.

_ Compreendo. - Abriu uma porta e entrou.

Entro e fecho a porta atrás de mim, ela foi até um livro na prateleira e o transformou em uma pasta, me entregando.

_ Meu senhor disse que isso era o que você pediu a ele. - Pedi a ele? Ah, sim.

_ Obrigada. - Abro a pasta e vejo em letras grandes as seguintes palavras:

"Maldição da família Malfoy."

_ Você sabia que a família Malfoy tem uma maldição? - Negou.

_ Não sou muito ligada com os Malfoy, eles são uma família purista, mas a minha família nunca foi unida com eles.

_ Você é mestiça? - Discordou.

_ Mas meus princípios não foram nublados pela supremacia de sangue e enxergo todos como um. Menos os trouxas, eles fizeram muito mal para nós, bruxos.

Pensei em suas palavras e me sentei na cadeira atrás da mesa.

_ Sou uma Malfoy já que minha mãe era uma, mas ela não tem Malfoy em seu sobrenome. Estranho, não?

_ Uma traição? - Sentou-se na cadeira disposta na minha frente.

_ Acho que sim, ou pode ter sido outra coisa. - Abro a pasta e fico rígida pelas palavras.

───※ ·❆· ※───

A maldição não é uma maldição, é um feitiço feito pelos membros da família para não reproduzirem em demasiado.

Para não terem brigas por herança entre seus irmãos, mas o feitiço só pode ser cancelado por seu pai/Malfoy.

───※ ·❆· ※───

Isso quer dizer que foi colocado um feitiço no Abraxas quando completou dez anos, e só o pai teria acesso ao contrafeitiço e esse contrafeitiço muda sempre que o patriarca da família morre.

Fazendo que o filho nunca soubesse o feitiço da sua maldição.

Faremos uma colinha.

O meu bisavô sabe o contrafeitiço da maldição do seu filho, mas não sabe o contrafeitiço de sua maldição. O meu avô sabe o contrafeitiço da maldição do tio Lucius, mas não sabe a sua.

E tio Lucius sabe o contrafeitiço da maldição do Dragon, mas não sabe a sua... Será que Dragon também fez esse feitiço com o Scorpius?

Porém, isso significa que tio Lucius contou o contrafeitiço para Dragon e Abraxas também deu o contrafeitiço para o tio Lucius, já que no ministério estavam falando de traição.

O que tudo isso indica que, ou o meu bisavô falou o contrafeitiço para o Abraxas, ou existe algo que pode burlar esse feitiço.

E eu e a Byella não temos esse feitiço pelo simples motivo que a família Malfoy não sabia sobre nós.

Mas, como a minha avó soube desse feitiço? Como ela soube sobre a maldição dos Malfoy? E como a família Black descobriu sobre essa maldição? Será que foi devido aos casamentos arranjados?

Contudo, o mais importante, por que eu e a minha mãe somos mulheres? A família Malfoy só gera homens.

Viro a página e poderia só ter feito isso, ao invés de ficar criando teorias, mas não queria saber que minha vó estuprou o meu avô.

───※ ·❆· ※───

"Poção Amortentia."

A única coisa que consegue burlar a "maldição" é a poção Amortentia, já que o feitiço vai parar de existir no corpo do Malfoy.

Mas qual é o motivo dessa poção fazer isso?

A maldição dos Malfoy faz com que o seu corpo e mente, apenas aceite uma única pessoa. Como se você apenas pudesse amar uma única pessoa.

Mas, e se você esquecesse que você ama aquela pessoa? O seu cérebro não iria pensar que você nunca amou?

Você passaria amar a pessoa que o drogou por algumas horas e a maldição não surtiria efeito, até que a poção Amortentia perdesse seu efeito.

Mas lembre-se, a maldição dos Malfoy é apenas para gerar filhos, nada os impede de amar outra pessoa, apenas precisa se divorciar do seu cônjuge.

Porém, não terá filhos com a segunda esposa, apenas se o patriarca atual da família deixar.

Obs.: princesinha, descobri algo sobre o nascimento de sua mãe, uma "traição" vinda de um Malfoy sempre nascerá uma menina e a menina terá filhos do mesmo sexo.

Mas existe um feitiço para não acontecer isso.

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A caligrafia do meu pai é muito bonita... Volta para o mundo, Leesa.

E pensar que a Leesa da segunda vida conseguiu pegar esse feitiço, será que ela pediu ao Grindelwald daquela realidade para pesquisar?

Ela poderia ter escrito no diário, ou escreveu, e ele não vai me mostrar até estar no ano específico?

Olho para cima e vejo Vinda observando com um certo carinho uma foto. Porém, ela não percebeu meu olhar.

Agora sei o motivo da Laverne ter feito a poção de crescimento, não tem como o sêmen do meu avô ser tão potente que, na primeira vez deles, ela tenha engravidado.

E, segundo a pasta, o ato sexual sem ser com a sua esposa, teria sérias consequências para o Malfoy.

───※ ·❆· ※───

1 – Ele irá se lembrar que fez sexo com alguém, mas não se lembrará com quem.

2 – Quando a poção Amortentia perder o efeito completamente, o corpo da pessoa terá convulsões e febre, mas no dia seguinte, irá vomitar, como se a maldição estivesse o limpando.

3 – E se o ato for mais de uma vez, a consequência será a morte.

───※ ·❆· ※───

Isso é desumano, como uma pessoa pode ser capaz de fazer isso? Respira, Leesa, você não pode tirar conclusões precipitadas, mas tudo indica isso, que minha avó estuprou o meu avô.

Santo Merlim, posso matá-la?

_ O que houve? A senhorita parece preocupada. - Ela não olhava mais para a foto.

_ Se você descobrisse que um parente estuprou uma pessoa, o que você faria?

_ Bom, tem como reverter isso? - Suspirou. _ Não acho que ninguém mereça ser estuprado. - Discordou de suas palavras. _ Não, estou mentindo. - Ficou séria. _ Os estupradores podem ser estuprados, afinal, se eles gostam tanto não seria ruim, não é? - Ela sabe das coisas.

_ Sim, você tem razão e eles não merecem misericórdia. - Não foi isso que fiz com aquele homem? Não preciso pensar, só preciso agir. _ Obrigada.

_ Não precisa agradecer, sou a conselheira do seu pai, e é meu dever ajudar o quanto puder. - A fiquei observando.

_ Me chame de Leesa, acho que não precisamos de formalidades. - Estendo minha mão para ela que a olhou.

_ Então, por favor, me chame de Vinda. - Apertou a minha mão.

Mesmo de luva, conseguia sentir a maciez de sua mão.

_ Você quer descansar antes do jantar? - Perguntou-me enquanto separava as nossas mãos.

_ Sim, estou um pouco cansada. - Levantei-me da cadeira e pego a pasta.

_ Mostrarei o seu quarto. - Levantou-se e a segui para fora do escritório, voltando para o corredor horroroso.

_ Vocês estão procurando o Credence? - Olhou-me de esguelha e discordou.

_ Credence morreu tentando salvar o mestre. - Então isso mudou. _ Meu senhor ficou bastante chateado e irritado. Foi por isso que ele foi capturado por aquelas pessoas. - Abriu a porta do quarto e me pediu que entrasse.

_ Não se preocupe, papai retornará são e salvo. - Observei o quarto e ele era comum.

_ Suas palavras aquecem o meu coração. - Era uma boa pessoa, não sei o motivo de sentir isso, mas sentia. _ Irei deixá-la à vontade, qualquer coisa é só me chamar. - Iria fazer uma mesura, mas a parei.

_ Não precisa disso, não sou o meu pai e ele que é o seu senhor, sou apenas a filha dele e não mereço esse tanto de respeito que estou recebendo de você.

_ Não me importo de me curvar para você, Leesa. - Tinha verdade em suas palavras. _ Meu senhor me contou sobre as coisas que você fez durante esses anos, você é incrível. - Era estranho receber elogios.

_ Obrigada.

_ Descanse. - Concordei.

_ Amanhã podemos fazer compras? - Sorriu.

_ Claro, respirar um pouco de ar fresco e não ver a cara daquela mulher será muito bom. - Ri com isso. _ E calce sapatos confortáveis amanhã, iremos em muitas lojas.

_ Com toda a certeza.

Sorriu mais uma vez e fechou a porta do quarto, me deixando a sós com os meus pensamentos.

Vou até a cama e me sento nela, abrindo a bolsa e retiro de lá o montinho de cartas, as cartas do Dragon.

_ Me perdoe, Dragon. Mas não posso fazer aquilo que você me pediu tantas vezes em cartas. - Fechei os olhos. _ Não posso fazer que a minha mãe nasça para que eu nasça... - Meus dedos apertaram as cartas. _ Posso ser tudo, mas não posso fazer que aconteça um estupro apenas para poder nascer.

Abraço as cartas e tento guardá-las na minha alma.

_ Mas não se preocupe, não sumirei quando matar Byella e Laverne, ainda existirei... - Sorri para o nada. _ Já que não existo e sou apenas um fantasma. - Ri pelas minhas palavras. _ Alguns planos deverão ser mudados, principalmente o plano de usar a pequena Leesa como isca.

Joguei-me para trás e a cama amorteceu o impacto, pelo menos era macia.

_ Não ligo muito sobre mudar essa parte do plano, já estava pensando em me matar mesmo. - Matar a pequena Leesa e não a mim. _ Mas o que devo fazer? Esperar alguns dias para ver se vejo o meu pai, ou ir embora depois de fazer compras?

Destino, por favor, não fode comigo.