_ Você deve saber a resposta, eles me chamam de aberração, me levaram em padres e disseram que expulsariam o demônio de mim. - Sorriu e seu sorriso era psicótico.
Meu coração estava batendo rapidamente no meu peito e minha mão apertou a sua.
_ Quando sair daqui poderei matá-los? - Não me fez a pergunta, ele fez a pergunta para si. _ Eles mataram a minha amiga, a única coisa que tinha, que podia dizer que era meu. - Que sensação era essa?
Era como se ele fosse eu, ele se parecia tanto comigo que era sufocante.
_ E o que você fez?
_ Você já vai embora mesmo, contar isso não fará você me temer. - Não me olhou, mas ficou brincando com os meus dedos. _ Quebrei as pernas daquelas pessoas, não foi exatamente eu...
Levanto minha mão que estava livre e faço uma pequena chama verde aparecer entre os meus dedos.
_ Isso, foi exatamente assim. - Ele me olhou. _ O que é isso?
_ Magia, existe uma população com várias pessoas que conseguem fazer isso e existe uma escola. - Se parecia tanto comigo que me fazia sufocar, me fazia odiá-lo ainda mais. _ Você receberá a sua carta de aceitação em 1937.
_ As pessoas também falam com cobras?
_ Não e elas veem maldade nisso, não fale isso para ninguém.
_ Você não vai tirar as minhas memórias? - Sorriu e bufei. _ Você é controvérsia.
_ Onde aprendeu essa palavra?
_ Está mudando de assunto, não deixarei.
_ Irritante. - Belisquei sua bochecha.
_ Já fui chamado de muitas coisas, mas irritante saindo de sua boca não fere tanto quanto dos outros. - Continuou brincando com a minha mão. _ Você vai falar?
_ Talvez eu deixe essa memória em sua cabeça, só não posso deixar que você se lembre de mim. - Não disse nada por um tempo.
_ Aprendi essa palavra na biblioteca, é a única coisa que gosto de fazer, já que é relaxante e descubro muitas coisas.
_ O que você gostaria de ganhar de aniversário?
Minha boca falou mais rápido do que os meus pensamentos, nem sei o motivo de ter falado isso.
_ Não sei, nunca ganhei nada, e você? O que gostaria de ganhar de aniversário?
_ Não sei, teve uma vez que pedi que as pessoas que estavam comigo no meu aniversário fossem para sempre a minha família.
_ E elas são sua família?
_ São, mas eles não se lembram mais. - Fiquei observando o lumos. _ Já tem algum tempo que não faço aniversário, não sei o que gostaria de ganhar.
_ Eles mataram a minha cobra de jardim, ela era a única coisa que me entendia. - Então essa era a sua amiga.
_ Você gostaria de ganhar outra? - O olhei.
O que estou pensando?
_ Não sei, ela irá me entender como a outra? - Levantou a sobrancelha.
_ Ninguém nos compreende completamente, Tom. - Suspirei. _ Mas temos nós para nos compreender.
_ Mas você parece me entender. - E você parece me entender e isso me faz ter medo.
Não quero estar ao seu lado, mas, ao mesmo tempo, quero e muito.
_ Tom. - Fiquei o encarando e ele me olhava. _ Poderei vir aqui até agosto do próximo ano...
_ Você virá aqui para me visitar? - Parecia um pouco animado.
_ Você quer? - Diga não, por favor, diga não.
_ Quero e me sinto confortável quando estou na presença do anjo. - Também, parece que somos só nós neste mundo.
_ Mas depois disso, tirarei suas memórias e você nunca mais me verá, entendeu?
_ E se eu lembrar? - Impossível.
_ Você não vai.
_ Mas e se eu lembrar? - Era insistente.
_ Você finge que nunca me viu na vida, finge que sou uma desconhecida para você, já que não devo existir para...
_ Mas você existe, você está bem na minha frente e você é quente. - Apertou a minha mão. _ Ou você é um fantasma?
_ Sou.
_ Mas é um fantasma real, que posso sentir e que fez algo que ninguém mais fez.
_ Não pense que sou sua salvadora, se não fosse por odiar sentir dor, nem estaria aqui. - Ele só estava com febre.
Mas senti como se realmente fosse morrer, isso era tão estranho. Sentia tudo ao extremo em relação a ele?
_ Não penso em você como a minha salvadora, mas como a única pessoa que veio aqui e me visitou. - Apertei sua bochecha novamente. _ O que falei de errado?
_ Se não fosse por sentir que no minuto seguinte estaria morta, não teria vindo aqui.
_ Não me importo com as circunstâncias que a levaram até aqui, no final, você veio por mim, não foi? - Suspiro por fim.
_ Sim, tudo que fiz até aqui, foi por você. Minha vida se resume a você.
_ Então posso fazer a minha vida resumir a você? - Fique quieto, coração, você não pode tirar essas teias de aranha nem que precise matá-lo!
_ Não, estude e seja alguém na vida, farei exatamente isso e não coloque uma pessoa no pedestal que você deveria estar. - Ficou me olhando. _ Seja egoísta e narcisista e, apenas veja você.
_ E se eu não quiser?
_ Não seja burro, ninguém fica para sempre, Tom. Não se prenda a uma única pessoa que ofereceu ajuda, podem existir outras. - Sentei-me na cama. _ Mas lembre-se, você é melhor que todos, bom, menos a mim, sou a melhor.
_ Não podemos ser melhores juntos? - Ajoelhou-se na cama e continuou segurando a minha mão. _ Podemos conquistar tudo que queremos, mas, juntos. Não acha isso melhor do que fazer tudo sozinha?
_ O quê? - Fico surpresa demais para raciocinar.
_ Se me lembrar de você, mesmo você apagando as minhas memórias, vou ajudá-la, vou estar ao seu lado mesmo que você não perceba e... - Parecia empolgado. _ Farei um acordo com você, darei o que você tanto deseja, mas em troca...
Seu sorriso cresceu em seu rosto e parecia tanto um Lorde tentando manipular a minha mente e coração, algo que está conseguindo.
_ O quê? Pare de enrolação e diga.
_ Vou querer o mundo. - Ri e ele não parecia estar brincando. _ Então, o nosso contrato de benefício será eterno. - Paro de rir. _ Não franze a testa, ficará velha. - Colocou a mão na minha testa e fez movimentos circulares.
_ Não farei um contrato eterno com você.
_ Por que não? Magia não pode fazer a pessoa nunca morrer? - Piscou sem entender.
_ Pessoas e bruxos morrem, não existe ninguém imortal. - Menos o Flamel.
_ Posso ser, podemos ser, e então, o acordo será eterno até que nossos desejos sejam realizados.
_ O meu desejo consigo fazê-lo sozinha, mas o seu necessita de pessoas ao seu lado e você precisa ser alguém...
_ Não me importo, conseguirei. Afinal, terei o anjo ao meu lado.
_ Não aceitei. - Retiro minha mão de sua posse e me levantei. _ E não estarei ao seu lado, Tom. Nunca!
_ Sua promessa é meio fajuta, você meio que está ao meu lado. - Irritante!
_ Você quer morrer? - Digo irritada.
_ Você quer me matar? - Zombou.
_ Quero.
_ Que pena que não acredito. - Sorriu de lado e parecia estar brincando comigo e com a minha mente. _ Você mente muito mal, aprendeu com quem?
_ Não precisamos de pessoas para aprender a mentir.
_ Aprendi com a igreja, eles falam muitas mentiras que acabam acreditando e isso se torna a verdade para eles, mas apenas aquela verdade existe, as outras não.
_ Você não é novo demais para dizer isso?
_ É novo demais para entender o mundo em que vivemos? - Tombou a cabeça.
_ Não, mas você deveria estar pensando em que tipo de livro que você quer ler amanhã e não...
_ Cada pessoa é diferente. - Sentou-se em suas pernas. _ Querer o mundo me torna um pouco diferente dos outros, não?
_ Sim e brigaremos. - Ficou confuso.
_ Por quê?
_ Porque quero destruir o mundo. - Ficou surpreso e riu.
_ Ok, podemos destruir e depois reconstruir o mundo, juntos. - Cruzei os braços.
_ Não, apenas eu. Sou uma pessoa individualista. - Concordou.
_ Também, mas você parece ser forte e capaz de fazer grandes coisas, não quero pessoas idiotas ao meu lado.
_ Também não, ainda mais um pirralho que quase morreu por uma febre.
_ Muitas pessoas morrem devido à febre alta, e não me importo de você me chamar de pirralho, isso não é um xingamento.
_ Você tem tudo na ponta da língua, que coisa irritante. - Acho que vou ter dor de cabeça.
_ Acho que você gosta disso, faz você se sentir menos deslocada no mundo, não é? Todos dependem de você e você parece ser a santa que veio para os ajudar, mas ninguém te ajuda. - Sinto meu corpo esfriar e tudo que queria era calar a sua boca.
_ Pare de me analisar com esses olhos. - Dou um peteleco em sua testa.
_ Estou certo, não é? Você não quer a minha ajuda? - Estava ansioso e seus olhos eram tão atrativos...
_ Não, não preciso de um garoto que nem saiu das fraldas para me ajudar.
_ Vou crescer e já saí das fraldas.
_ Não, não vai, ficará pequeno para sempre.
_ Percebeu que está zombando de uma criança indefesa? - Bufei. _ As pessoas devem odiá-la.
_ Não sou muito melhor que você.
_ Isso é verdade, será melhor eu começar a odiar? Isso fará você se sentir um pouco melhor?
_ Isso, me odeie. - Concordei rapidamente.
_ Você quer isso por que está com medo de se sentir bem e lembrar que você tem sentimentos, mas que é apenas uma pessoa comum que só quer um pouco de carinho? - Ah, que pessoa irritante!
Peguei as suas bochechas e as puxei, até que ficassem avermelhadas e doloridas.
_ Estou certo mais uma vez. - Disse com a voz estranha. _ Você é muito fácil de analisar.
_ Pare com isso, não gosto disso.
_ Não gosta que eu saiba de seus segredos que você tenta guardá-los em sua alma? A deixa exposta e com medo? - Aperto ainda mais suas bochechas. _ É assim que me sinto. - Pisquei algumas vezes e paro de puxar suas bochechas.
_ Você se sente assim na minha presença? - Concordou e comecei a fazer carinho em suas bochechas. _ É muito desconfortável, não é?
_ Sim, mas acho que se for você, não me importo tanto, gosto da sua presença e ela é confortável, você é confortável.
_ Você precisa se importar e odiar isso, não sou uma pessoa confortável.
_ Para que você se sinta um pouco melhor para se esconder em sua casca mais uma vez?
_ Sim, não gosto das pessoas sabendo dos meus sentimentos.
_ Também não, mas não é melhor que eu saiba sobre você e você sobre mim, ao invés de uma pessoa desconhecida?
_ Mas sou uma pessoa desconhecida para você.
_ Não, não é mais, você é a coisa mais reconhecível que já tive depois da minha cobra. - Merda...
_ Então você me reconhece? - Diga não, diga não.
_ Sim, e você? - Fui derrotada. _ Você me reconhece?
_ Infelizmente. - Sorriu. _ Não se lembre de mim, ok? Não quero ser reconhecida por você naquele lugar, no lugar que terá tantas pessoas para me destruir.
_ Não posso estar ao seu lado para destruir essas pessoas com você?
_ Você é apenas uma criança que...
_ Não serei para sempre uma criança e não se esqueça que crescerei, e posso ajudar.
_ Pare de complicar a minha vida. - Respirei fundo.
_ Posso ser a pessoa que pode descomplicar ela.
_ Não, você é a pessoa que está complicando. - Retirei minhas mãos de seu rosto e me distanciei dele. _ Não sei que dia virei.
_ Tudo bem, ter um pouco de ansiedade é normal, só não posso extrapolar. - Essa criança era sensata demais.
_ Quer que eu traga algo?
_ Não. - Arrumou-se na cama e se deitou. _ E não verei você como uma mãe, você é nova demais para isso. - Que papo é esse?
_ Devo aceitar esse elogio?
_ Não, não foi um. - Irritante. _ E você deve melhorar o xingamento, irritante não é um.
_ Cobrinha? - Discordou.
_ Apenas me chame de Tom, esse nome já é um xingamento. - Discordei.
_ Não acho. Tom é um nome bonito e você deve gostar do seu nome. - É o nome do meu gato, tenha respeito.
_ Mas é tão comum.
_ E o que tem? Ter nome comum é mais rápido e fácil de ser lembrado.
_ Então serei lembrado por você? - Parecia esperançoso.
_ Não se mate, ok? Não quero sentir dor. - Só de lembrar tenho calafrios.
_ Se você se machucar, também sinto? - Uma boa pergunta.
_ Quer que eu tente? - Discordou.
_ Não quero ver você se machucando apenas para provar uma teoria.
_ Já fiz muito isso. - Olhei para os lados. _ Você tem um quarto apenas para você. - Que privilégio.
_ As outras crianças não queriam dormir com aberração.
_ E você sabe que não é, não sabe? - O olhei. _ Você é melhor que elas, melhor que muitas pessoas nesse mundo.
_ Eu sei, um dia estarei ao seu lado, apenas espere e veja. - Disse convicto.
_ Você vai me usar como meta? - Fiz careta.
_ Sim.
_ Não se esqueça que você vai me esquecer.
_ Tudo bem, minha cabeça pode se esquecer, mas meu corpo pode se lembrar das minhas palavras.
_ Você é estranho.
_ E você acha isso irritante. - Ri e discordei.
_ Não, acho intrigante, e você é a única pessoa que acho intrigante, se sinta bem com isso. - Que eu me lembre.
_ Mereço um beijinho de boa noite? Afinal, sou uma criança. - Comecei a rir e balancei a cabeça. _ Você fica bem rindo.
_ Você não merece um beijinho. - Ficou emburrado. _ Você não é mais criança para...
_ Para isso não sou criança, você é meio hipócrita. - Vou até ele e beijo sua testa. _ Doeu?
_ Não, mas acho que vou vomitar.
_ Vomite na cama do Phill, ele que matou a minha cobra.
_ Pode deixar. - Arrumei minha postura e falei: _ Não se mate, não quero passar por isso de novo.
_ Acha que tentei me matar? Não tenho culpa que meu corpo quis ficar doente e me presenteou com uma febre de mais de 39 graus. - Exagerado.
_ Você precisa se cuidar mais.
_ E você precisa parar de chamar as pessoas de irritante.
_ Tentarei o meu melhor, irritante.
_ E tentarei o meu melhor para não morrer, anjo. - Sorri e faço o lumos sumir.
_ Até algum dia, Tom.
_ Até, anjo. - Saio do quarto dele e meus olhos se acostumaram com a escuridão, mas saio do orfanato o mais rápido possível.
Pensando em apenas uma coisa... Sobrevivi!
Viva! Não morri, estou bem e viva.
Olho para o céu e começo a rir.
_ Estou bem, não morri e estou bem. - Meu coração batia tão rápido que eu podia escutar o barulho em meus ouvidos, mas poderia aguentar isso até chegar em casa.
Desaparato dali.
Não voltei para o baile, meu vestido estava detonado e só queria tomar um banho para dormir até amanhã.
Abro a porta da casa e parecia que ninguém estava em casa, acho que o baile iria até de madrugada.
Fecho a porta com o pé e subo a escadaria lateral, que me levaria até o meu quarto.
Meu pé estava imundo, mas nada que um banho não resolva.
Abro a porta do quarto e a luz se acendeu automaticamente, me fazendo fechar a porta e a trancar.
_ Voltei. - Sorri para os bichinhos que dormiam um em cima do outro.
Retiro o meu vestido e sinto uma coceira em minhas costas, mas logo uma ardência me fez gemer.
Vou até o banheiro e a luz se acendeu.
Virei de costas e vejo o meu juramento se mexendo, mas a única cobra-de-duas-cabeças que deveria existir nas minhas costas tinha companhia.
A cauda da segunda cobra estava enrolada e apertava a cobra-de-duas-cabeças no meio.
Essa segunda cobra, não tinha uma segunda cabeça, era única e não protegia o vira-tempo, estava com sua cabeça na minha cintura e seu corpo se mexia na lateral do meu corpo.
Aliso a cabeça da cobra, a vendo se mexer com o meu toque.
Queria que o diário me falasse o que isso significava, mas já tinha uma ideia. Realizei o meu juramento e essa cobra era a confirmação disso.
Deveria estar aliviada, mas não estou.
Isso não significava que poderia ficar longe daquele garoto, isso só significava que não morreria pelo meu juramento, mas poderia morrer devido ao feitiço.
_ Destino, você continua brincando comigo...
