29 de agosto de 1935:

Devo ter criado algo contra o barulho, ele era irritante e me irritava, me deixando com raiva. Preferia o silêncio e acho que as pessoas que moravam comigo, perceberam.

Fiquei anos em lugares pacíficos, naquele lugar só tinha a música, na casa da titia era pacífico e em 993 era mais calmo ainda, mas quando cheguei nesse tempo, a irritabilidade se tornou rotina.

Mesmo fazendo Abaffiato, isso só protegia as pessoas de me ouvirem e não ao contrário. Pelo menos quando o papai chegou em casa, fez pouco barulho e apenas me acordou.

Porém, tive dificuldade em dormir, mas consegui pegar no sono algumas horas depois.

E quando saíram de seus quartos, escutei o clique da porta e acordei.

Acho que devo começar a beber a poção sono sem sonhos de vez em quando.

Mas isso é para outro momento, já que deveria me levantar ou continuaria brincando com os dois que estavam comigo.

Tommy lambeu os meus dedos e Tony se jogou em mim, quase me matando no processo.

_ Que abraço gostoso, Tony. - Sorri. _ Temos que nos levantar.

Fizeram uma careta fofa e foram até o travesseiro, se deitando nele... Folgados!

_ Ok, vou me arrumar primeiro, continuem o que estavam fazendo. - Sentei-me na cama e um lado do roupão estava aberto, tornando meu corpo nu exposto.

Afinal, tive preguiça de colocar um pijama ontem, já que estava cansada depois de quase morrer.

O que me fez dar algumas batidinhas no meu rosto para tirar as lembranças de ontem.

Suspirei e me levantei, indo até a minha bolsa para pegar algumas roupas, já que não estavam no closet e Penny quase brigou comigo quando viu que não tinha nada no meu closet.

Como já tinha tomado banho de madrugada, não iria tomar um banho novamente. Preguiça estava me matando e estava com fome.

Começo a colocar as roupas frescas, me lembrando de colocar um feitiço que esconderia as marcas, o que fiz sem pensar muito.

Olho para o quarto, pegando a botinha no chão e indo até o banheiro, fazendo minha magia colocar o sapato em mim, enquanto escovava os dentes e tentava fazer um coque.

E tudo isso foi simplesmente um caos, que quase me fez cair umas três vezes, mas pelo menos terminei.

Saio do banheiro e vejo os dois me olhando, vindo até mim.

_ Vamos. - Saio do quarto, esperando que os dois mimados saíssem para que fechasse a porta. _ Vocês também estão com fome, não é? - Pularam e isso era um sim.

Deveria significar isso, não é?

_ Então, vamos comer.

Pularam os degraus e pareciam mais energéticos que antes, como eles conseguem ter tanta energia de manhã? Impressionante.

Entraram na sala de jantar e entrei logo atrás, constatando os rostos do papai e da Vinda que estavam horríveis.

_ Dia. - Falei, me sentando e fazendo que os bichinhos subissem na mesa e comessem o que queriam comer.

Eles não iriam morrer por comerem comida humana, felizmente.

_ Dia? - Papai me perguntou, tomando uma sopa que provavelmente era de ressaca. _ Como você está bem?

_ Só tomei duas taças de vinho ontem e não sou uma pessoa que acha graça em coisas alcoólicas. - Dei de ombros, comendo o pão.

_ Sorte. - Vinda não falou, apenas cutucava a sopa. _ Não encontrei você, onde esteve?

_ Estava na festa. - Sorri. _ Vocês estavam tão animados que não me viram.

_ Não, acho que isso está errado, me lembro de você saindo primeiro para ir ao banheiro. - Papai tinha memória de elefante.

_ Voltei e fiquei ao seu lado. - Semicerrei os olhos. _ Acho que vou ao médico. - Já tinha tempo que não ia em um.

_ Está passando mal, mon bijou? - Estava preocupada.

_ Não, só quero fazer alguns exames e essas coisas. - Papai estalou os dedos e olhei para ele.

_ Chamarei um curandeiro para você, você não pode ficar zanzando por aí quando já informei sobre a sua identidade.

_ Pensasse nisso antes.

_ E pensei, princesinha.

_ Não vou ficar trancada nessa casa, tenho que sair de vez em quando para visitar uma pessoa. - Ficaram esperando. _ Não vou falar. - Papai revirou os olhos.

_ Vou descobrir, sempre descubro.

_ Tente, se for capaz. - Sorri, bebendo um pouco de suco. _ Mas agradeço se você chamasse o curandeiro, não quero ir até St. Mungus.

_ Ok, pedirei que o Penny o chame. - Penny era mais nosso do que da própria Vinda.

_ Obrigada. - Terminei de comer e fiquei o olhando.

_ O que a minha princesinha quer? - Ficou desconfiado.

_ Dinheiro trouxa, vou em uma loja que vende doces que vi quando visitei a família Black.

_ Pensei que você tivesse dinheiro. - Limpei a minha boca.

_ Dinheiro bruxo e não dinheiro trouxa, e não, não vou até Gringotts para trocar o dinheiro.

_ E se eu não tiver dinheiro? - Sorriu e semicerrei os olhos.

_ Eu tenho, mon bijou, você precisa de quanto? - Olhamos para ela que ficou nos olhando.

_ Vinda, não é necessário dar o seu dinheiro...

_ Mas eu quero, não posso, meu senhor? - Fez biquinho, mas acho que não percebeu e isso deixou o papai indefeso e apavorado.

_ Não foi isso que estava tentando dizer, claro que você pode dar dinheiro para a nossa princesa. - Suspirou quando viu o belo sorriso da Vinda.

Acho que alguém foi manipulado com sucesso e não percebeu...

Fiquei olhando para os dois e era esse tipo de relacionamento que queria, eles se completam e eu, um dia, queria que alguém me completasse e que me entendesse.

Mas sei que isso não aconteceria, já que nunca deixo ninguém entrar em meu coração e fazer a bagunça prevista.

Porém, queria ter tido uma infância com eles e não com aquelas pessoas, talvez não fosse desse jeito que sou.

_ Acho que estou vendo o amor florescer. - Falei alto, os fazendo me olhar.

_ Amor? - Ficou corada e nem parecia a segunda no comando.

_ Sim, amor. - Papai tossiu e não disse nada. _ Vinda, se você fosse pedida em casamento, como seria o seu anel?

_ Nunca pensei nisso. - Ficou pensativa. _ Acho que um simples, não gosto de coisas espalhafatosas e você?

_ Como chegamos nesse assunto? Só uma de vocês irá se casar... - Papai se calou.

_ Isso é verdade, meu senhor. - Olhei brava para o papai.

Sei que papai estava falando da Vinda, mas ninguém entenderia isso, ainda mais a Vinda com complexo de inferioridade devido ao seu complexo de inferioridade.

Acho que devo ajudá-la...

_ Cacatua, idiota. - Ficou surpreso. _ Vinda, não ligue para ele, ele já está caducando e respondendo a sua pergunta. Queria um anel que me lembrasse constantemente de quem me deu e poderia ser o anel feito de um caule de uma rosa que não me importaria com a modéstia.

_ Pensei que você não tivesse sentimentos. - Zombou e revirei os olhos.

_ Deixa para lá, isso é apenas um pensamento infantil.

_ Não, não é um pensamento infantil, mon bijou. É um pensamento lindo, e espero que um dia isso aconteça. - Sorriu.

E apenas acenei, não queria acabar com seu sorriso e com sua felicidade, mas papai percebeu e se levantou para ir em algum lugar.

_ Vinda, se tivesse a cura para a sua condição, o que você faria? - Mexeu na sua sopa e a bebeu.

_ Vivi com isso a vida toda e as pessoas não me aceitaram do jeito que nasci, apenas algumas. - Sorriu. _ Você e, meu senhor, são uma dessas pessoas, mas respondendo a sua pergunta, não aceitaria, estou bem assim e...

_ Você se aceitou. - Queria me aceitar do jeito que eu era, mas usava máscaras e feitiços para me esconder.

Talvez fosse um processo doloroso...

_ Não poderia esperar uma pessoa fazer isso por mim. - Terminou de beber a sua sopa e limpou a boca. _ Pegarei o dinheiro, já volto.

_ Mas... - Já tinha se ido e fiquei na sala apenas com os meus bichinhos. _ Vocês estão cheios? - Deitaram-se na mesa e fecharam os olhos. _ Vocês não querem aproveitar o sol da manhã? Parece estar agradável. - Levantaram-se e saíram da mesa. _ Não brinquem, vocês estão cheios e acabarão passando mal.

Olharam-me e pareciam concordar, indo até o jardim, um lugar que ainda não fui e talvez um dia eu vá. Não gostava de sentir o sol me queimando, ainda mais por saber como a minha pele ficava quando pegava sol demais.

Levantei-me da cadeira e iria subir para o segundo andar, mas Penny me chamou e disse que papai estava me esperando no escritório, um lugar que aparentemente pegou para si.

Agradeci o elfo e desci a escadaria, indo para o corredor de cores neutras que sempre passava reto, já que não tinha nada para fazer ali.

_ Mandou me chamar? - Abri a porta e além do meu pai, tinha um homem de cabelos grisalhos e de aparência luxuosa.

_ Princesinha, esse é o Victor, ele estudou comigo e é um grande amigo, mas pode chamá-lo de tio Victor. - Entrei no escritório que era diferente da mansão e fechei a porta.

_ Prazer em conhecê-lo, tio Victor. - Estendi minha mão e ele apertou.

_ Prazer em conhecê-la, minha princesa. - Deixou minha mão e continuei analisando o ambiente estranho.

Cores em azul e verde-escuro, moveis de madeira, cortinas pesadas e uma janela ampla... Tão diferente do branco ao lado de fora que até parecia outro universo.

_ Victor é um ótimo curandeiro e confiaria a ele a minha vida, se precisasse. - O outro riu. _ Deixo-a em suas mãos.

_ Deixe comigo. - Saiu e me sentei no sofá de couro. _ Qual foi o motivo de procurar um curandeiro? - Olhei para cima.

_ Queria saber se está tudo bem comigo, apenas um check-up. - Entendeu e apontou sua varinha para mim.

_ Planeja engravidar? - Pisquei algumas vezes. _ É por isso?

_ Ah, não, não pretendo.

_ Mas quer saber se pode? - Iria discordar. _ Se caso aconteça algo para você se prevenir. - Um pergaminho apareceu, me fazendo franzir o cenho.

_ Ok. - Não sabia o motivo de ter concordado.

_ Bom, você precisa de algumas vitaminas e de sol. - Faço careta, quase correndo daqui.

_ Não gosto de pegar sol, ele queima. - Riu. _ Não gosto dessa sensação.

_ O sol da manhã é bom e não queima.

_ Para mim, é tudo o mesmo sol e queima do mesmo jeito.

_ Você parece uma criança não querendo comer os vegetais do prato, isso é interessante.

_ Aceitarei isso como um elogio. - Concordou. _ É só isso?

_ Sim, seus ossos estão bons e não tem nada de grave com você, você está ótima. - Suspirei. _ Você já teve acompanhamento com outro curandeiro?

_ Sim, por longos anos. - Lambi meus lábios. _ Tinha anemia e alguns ossos estavam quebrados. - Falei de algumas coisas que ainda me lembrava.

_ Bom, ele é um ótimo curandeiro. - Pegou algo de sua bolsa e concordei com ele.

Dragon realmente era ótimo.

_ Aqui, você só precisa tomar essas poções antes de tomar o café da manhã. - Eram de cores estranhas.

_ Quantos dias devo tomar? - Peguei as poções e foi até a mesa, escrevendo algo em um pergaminho.

_ Por uma semana, sua falta de vitamina não é grave. - Entregou-me o pergaminho e era os nomes das poções. _ Ou você sente vontade de comer algo estranho? Por exemplo, geso, terra etc.

_ Não. - Aproximou-se e apontou sua varinha para a minha barriga.

_ Vermelho quer dizer que seu útero é seco e não dá para engravidar sem ajuda de poções. - Concordei. _ Roxo quer dizer que precisa de líquido e isso resolvemos com poções e é um pouco mais rápido. - Acenei. _ E verde, é que está tudo bem.

_ Ok.

_ Você pode sentir um pouco desconfortável. - Deve dar vermelho devido ao meu sangue.

Ainda mais por não menstruar, isso deve ter feito algo com o meu útero, mas se aquela Leesa engravidou, isso não quer dizer que é roxo?

_ Verde. - Fui tirada dos meus pensamentos e olhei para a ponta da varinha. _ Parabéns, está tudo bem para uma possível gravidez.

_ Isso é... - Não sabia como reagir.

_ Maravilhoso? Sim. - Não diria uma palavra tão animadora para uma ocasião tão chocante.

_ Obrigada. - Arrumou suas coisas. _ Se eu fosse...

_ Esperarei o seu pai me chamar enquanto perde os cabelos pelo surto ou felicidade. - Não era isso que queria ouvir. _ Você tem medo de alguma coisa?

_ Tem certeza de que meu corpo não tem nada? Algo relacionado a velhice? - Se eu contar, já tenho mais de mil anos.

Mesmo que minha fisionomia não mude, pensei que meus órgãos seriam diferentes.

_ Não, você está ótima e em perfeitas condições, e você não está velha, está nova.

_ Se o senhor diz. - Sorri e me levantei. _ O papai deve querer conversar com o senhor. - Fui até a porta, carregando quatro vidrinhos de poções e mais um pergaminho.

Abri a porta e papai e Vinda estavam encostados na parede bege.

_ E aí? - Olharam para as minhas mãos.

_ Você está doente? - Vinda veio até mim, alisando meu rosto.

_ Não, só preciso tomar essas poções para repor vitaminas.

_ E pegar sol. - Revirei os olhos.

_ Infelizmente tenho que pegar sol. - Vinda suspirou.

_ O jardim é ótimo para isso. - Estalei a língua. _ colocarei essas coisas no seu quarto e você vai para o jardim. - Pegou as poções e os pergaminhos.

_ Mas...

_ Ah! - Se lembrou de algo. _ Pedi um dos garotos que confio para buscar os doces que você queria.

_ Mas não falei o endereço.

_ Eu sabia. - Papai levantou a mão culpado. _ Só existe três lojas naquela rua e as três são de doces. - Cruzei os braços. _ E a gente comeu em uma delas.

_ Ele comprará doces nas duas...

_ Não, pedi que comprasse nas três. - A mulher pontuou, saindo do corredor, apenas ficando nós três.

_ Ricos. - Riram.

_ Até parece que você não é, princesinha. Agora vá para o jardim e pegue sol. - Papai me empurrou em direção do final do corredor, onde estava o odioso jardim.

_ Não, não me obrigue a fazer algo tenebroso. - Agarrei a porta, vendo Victor rir da minha desgraça.

_ Você não é um vampiro para se esconder da luz. - Agarrou minha cintura e começou a me puxar.

_ Não! Vou morrer! - Meus dedos ficaram brancos e se soltaram da porta, me fazendo ficar agarrada no corpo desse homem que chamo de pai.

Porém, essa posição de saco de batata não ficou para sempre, já que me colocou naquele estilo princesa e me levou até a porcaria do jardim repleto de sol.

_ Você está matando a sua filha! - Fechei meus olhos e tentei esconder meu rosto em seu peito.

_ A salvarei de uma possível anemia e depressão. - Parei de fazer birra e me colocou no chão. _ Boa menina, agora se sente e aprecie o sol.

_ Pareço um cachorro. - Falei, me sentando no banco de pedra e suspirando pela minha derrota.

_ Um nada dócil. - Gritou, enquanto saia do jardim bem cuidado e com várias flores, porém, não tinha rosas...

Deitei-me no banco que estava quentinho, mas, ao mesmo tempo, frio. Escutei os bichinhos brincando no amplo jardim e apenas suspirei para me conter de fugir do sol que me queimava.

Fechei os meus olhos e lembrei de uma das minhas conversas com o Dragon, ele disse que um dia estaríamos sentados no jardim da mansão Malfoy, isso nunca aconteceria.

Bocejei e me perdi nos meus próprios pensamentos, dormindo em seguida, porém, hoje iria revê-lo. Será que gostava de doces?

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Cocei meus olhos e vi que o quarto estava escuro, apenas o abajur estava aceso. Estranho, não estava no jardim?

Contudo, parei de quebrar a cabeça para algo irrelevante e faço um Tempus, vendo que já era meia-noite, merda! Estou atrasada, será que ele já dormiu?

Espero que não.

Entretanto, como consegui dormir por um dia? Estava tão cansada assim? Provavelmente, mas não tenho tempo para analisar isso.

Saio da cama como um furacão e começo a procurar a minha botinha, que deveria estar no meu pé e não ao lado da penteadeira.

A coloco rapidamente e vou ao banheiro, escovar os dentes, passar uma água no rosto e refazer o coque.

Espero que não se importe com um pequeno atraso... Espera! Saio do banheiro e fiquei olhando para os bichinhos que dormiam na cama.

Ele não sabe que horas que iria visitá-lo, não preciso me desesperar.

Peguei a bolsa e saio do quarto, enquanto a arrumava a alça no meu corpo, fechando a porta atrás de mim e vendo que as luzes estavam todas acesas, agradecendo por isso.

Desço a escadaria, tomando cuidado para não fazer barulho e vou até a cozinha, vendo que era bem equipada e moderna para a época.

Entretanto, apenas vejo onde estaria as caixas, abrindo os armários, forno e até mesmo algo que se parecia uma geladeira e que era uma.

E ali estavam eles, minhas três caixas de doces e que as levaria comigo, apenas deveria diminuir para ser mais fácil de transportar.

Fecho a geladeira com o quadril e saio da cozinha, indo até a porta que me levaria para fora da casa, a abrindo.

O vento noturno me lembrou que era diferente de dia, era frio, mas não tanto que me fizesse tremer.

Era apenas um vento gelado que me fazia arrepiar por estar desprevenida, porém, era só fazer um feitiço.

Aparato para a rua do orfanato e mesmo sabendo que ele não saberia que horas viria, ou até mesmo que dia, meu corpo não entendia e meus pés começaram a andar rapidamente.

Esse corpo é tão traidor.

Abro o portão de ferro e o deixei aberto, não estava com paciência para fechá-lo, queria comer os doces dessa caixa.

Mas algo me impediu de girar a maçaneta, o escuro que teria ali dentro... Respirei fundo e tentei contar até 100, mas não adiantou muita coisa e mesmo sabendo que não poderia viver para sempre com isso, era uma tortura.

Uma tortura que apenas me fazia pensar em correr e sair correndo, mas a porta foi aberta e fiquei surpresa demais para fugir, ou de obliviar a pessoa.

_ Está atrasada, cinco minutos. - Tom falou baixinho e ainda estava estática. _ Não fique aqui fora, pegará um resfriado. - Pegou minha mão que não estava ocupada e me puxou para dentro.

A escuridão me fez arrepiar e queria fugir ou fazer um lumos, mas minhas mãos estavam ocupadas para fazer isso.

_ Vamos. - Fechou a porta e me levou para cima, me fazendo segurar ainda mais forte a sua mão.

Acho que posso ter um ataque cardíaco, mas se eu fugisse...

Tentei regularizar a respiração e não pensar no que a minha mente estava criando, estava bem e segura, mas a minha cabeça não entendia isso, ela nunca entendia.

O que me fazia doente e desligar tudo ao meu redor, até as pessoas.

Entramos no quarto e respirei fundo quando vi uma vela na mesa de cabeceira, me fazendo largar a mão do garoto.

Sentei-me na cama e faço um lumos, enquanto tentava não transparecer o meu medo, o que não deu certo.

Fechou a porta e se sentou ao meu lado.

_ O que houve? - Abri a minha boca, mas nada saiu. _ Tem medo do escuro?

_ Um pouco, não é nada sério. - Sorri e entreguei os doces para mudar de assunto. _ Espero que você goste.

Fiz as caixas voltarem ao normal e o vejo observar a caixa que logo abriu.

_ Gosto de chocolate amargo, será que tem algum? - Perguntou contente e não me contive em sorrir.

_ Deve ter. - Faço o Abaffiato, pegando um doce verde. _ Vamos comer até achar.

_ Ok. - Pegou um de cobertura leitosa. _ Poderia me contar mais do mundo onde as pessoas fazem magia?

_ Bom, temos o Beco Diagonal e ele você encontra tudo. - Expliquei onde ficava o Beco e o que tinha nele.

_ E como que faz para entrar? - Tirei minha bota enquanto explicava.

_ Mas você precisa de varinha para fazer a combinação ou algo que possa expulsar a sua magia de suas mãos. - Ou dedos.

_ E você tem varinha? - Neguei. _ Então como você faz?

_ Aparato para lá, mas você é novo demais para aparatação, então se você for para o Beco em algum momento, peça ao dono do bar ou alguém que estiver entrando no Beco para te ajudar.

_ E como é a escola? Você disse que tinha uma escola. - Ajoelhou-se na cama e estava empolgado demais, será que é pelo doce?

_ Hogwarts, e nunca estudei nela. - Seus olhos ficaram turvados por alguns segundos, mas talvez seja apenas a luz do lumos fazendo isso. _ Mas a construí e ela é perfeita. - Sorri, me lembrando do castelo.

_ Construiu? - Concordei. _ Como?

_ Essa é uma história bem longa. - Bufou.

_ Temos tempo para isso. - Largou as caixas na cama e desprendeu os meus cabelos.

Minha visão ficou comprometida por alguns segundos, mas logo arrumou meus cabelos e pude ver seu semblante satisfeito consigo mesmo.

_ Prefiro você assim.

_ Você é um pirralho atrevido. - Sorriu, como se fosse um elogio.

_ Poderia tirar o feitiço que esconde você? - Franzi os lábios e queria negar. _ Você fica mais bonita sem. - Revirei os olhos e retirei. _ Doeu?

_ Sim. - Peguei mais um doce.

_ Então aprenderemos a não fazer doer mais. - Ele parecia uma criança angelical. _ Juntos.

_ Não...

_ Juntos. - Repetiu e apenas concordei para acabar com isso, mudando de assunto logo em seguida.

Não aguentaria mais nenhuma palavra sobre as imperfeições do meu corpo que ele achava perfeitas.

_ Antes de começar a falar, como sabia que eu estava na porta? - Sentou-se mais confortável.

_ Desci para beber água e escutei alguém na frente da porta, e logo pensei que era você.

_ Poderia ser um assassino.

_ Poderia barganhar com ele para matar todas as pessoas que moram aqui, seria tão divertido. - Riu e não pude discordar, ou não rir.

_ Mas ele o mataria.

_ Ou eu iria matá-lo. - Deu de ombros e suspirei e falei:

_ Bom, você quer saber sobre o quê? - Piscou algumas vezes e todo seu ser se iluminou, igual a um anjo.

_ Tudo sobre você. - Concordei, seria bom desabafar com alguém que não se lembraria de mim.

_ Sou uma viajante do tempo e tudo começou...