6 de setembro de 1935:
Saio do meu quarto e os dois continuavam brigando, enquanto caminhavam comigo ao meu lado. Eles ficaram ainda mais inseparáveis, ainda mais quando brigavam por atenção.
Afinal, quando chamava atenção de um dos dois, o outro riria, e pareciam realmente irmãos, o que me deixava feliz.
Desço a escadaria e entrei na sala de jantar com os dois. Tony correu para subir na mesa, já o Tommy, se escondeu embaixo da mesa.
Papai estava ao lado da Vinda, e ela estava sentada na cadeira da cabeceira como a dona da casa.
Mas antigamente, ela se sentava ao lado do papai e ninguém se sentava na cabeceira, mas isso mudou, hoje, especificamente.
_ Estão tão sérios, aconteceu algo? - Sentei-me no meu lugar e papai me olhou por alguns segundos, colocando em cima da mesa o meu sapato.
O sapato que tirei no baile.
Já se passaram dias e esse sapato foi aparecer justo hoje? Que lástima.
_ Por que esse sapato está manchado de sangue, Leesa? E por que tinha sangue na grama? Não muito longe desse par de sapatos.
Não muito longe? Que me lembre, joguei esse sapato em algum lugar antes de vomitar na grama.
Alguém o deixou cair de propósito no meu sangue? Por quê? Talvez fosse para preocupar o papai e a Vinda, ou era para começar uma nova guerra.
Quem sabe?
_ Bom, é um interrogatório? - Olhei para a comida no meu prato. _ Tem Veritaserum na comida ou bebida?
_ Não iríamos fazer isso com você, mon bijou. Só estamos preocupados, já se passaram dias e você nem mesmo nos disse o que aconteceu naquele dia.
Eles se lembraram que desapareci depois de dizer que iria ao banheiro e eles não paravam de me perguntar sobre duas coisas.
Sobre onde estava e aonde ia à noite.
_ Não aconteceu muita coisa, apenas passei mal e não quis preocupar vocês, o sapato e o sangue foram as consequências do meu mal-estar.
_ E você não poderia ter nos avisado? Estávamos a pouco metros de você e você só foi embora sem dizer nada? - Estava irritado, já tinha dias que estava assim. _ E se tivesse acontecido algo pior...
_ Mas não aconteceu e não acontecerá, está tudo bem. - Digo, comendo. _ O que tanto preocupa vocês?
_ O seu bem-estar. - Vinda falou por fim. _ Não está comendo normalmente já tem dias, está distraída e sempre ri sozinha. - Suspirou. _ Está apaixonada por alguém? - Engasguei-me com o suco. _ É pelo Pollux? Ele é um homem crescido e sabe dialogar com convicção de suas palavras, acho que é um bom rapaz.
Não estou comendo direito devido as poções e felizmente aquelas poções ruins acabaram ontem.
_ O Black? - Estranhou. _ Sério? Um Black? Sei que ele é o primogênito, mas ele é apenas um Black, não trará glória e reconhecimento nos livros de história.
_ Por Merlim, não estou apaixonada por ninguém. - Sequei a minha boca com o guardanapo. _ E não estou comendo muito porque estou comendo fora.
Isso era verdade, aquele garoto me entupia de comida, comida que eu levava para ele e ele não me deixava falar que não estava com fome.
_ E Pollux é apenas uma pessoa que conheci por acaso, não tenho nenhum sentimento romântico por ele. - Falei por fim.
_ Ainda bem, não quero ser sogro de um Black. - Sorri e falei brincando.
_ E de um Slytherin? - Ficaram quietos por alguns segundos. _ O que foi?
_ Um Slytherin? - Perguntaram e concordei.
_ Eles ainda existem? - Ficou surpresa.
_ A linhagem principal não, mas as suas ramificações, sim, e o herdeiro da linhagem está vivo e poderá requerer os seus direitos com 17 anos.
_ Um Slytherin. - Papai sorriu. _ Ainda mais vivo? Filha, que dia podemos marcar o casamento? - Larguei o garfo e fiquei o olhando. _ O que foi? Foi você quem perguntou.
Amassei com os meus pés o Tommy que estava debaixo da mesa, o fazendo lamber meus dedos.
_ Mas nunca pensei que o senhor fosse aceitar tão rápido. - Deu de ombros.
_ Mon bijou, você pode se casar com quem você quiser que aceitaremos o seu cônjuge.
Por que sempre falamos de casamento no café da manhã?
_ Não estavam aceitando o Pollux.
_ Eu não estava aceitando e não aceito esse Black. - Papai declarou.
_ Fique tranquilo, não quero Pollux, na verdade, não quero ninguém. - Acho que se tivesse fogos de artifício, já estaria soltando.
_ Bom, você ainda é nova e não quero te levar para o altar tão rápido. - Deve ter imaginado a cena e fez uma careta. _ Na verdade, é melhor não se casar, poderá ficar ao meu lado para sempre.
Viu? Ele é contraditório.
Apenas suspirei e baguncei meus cabelos devido a essa conversa estranha, mas o único cabelo que queria bagunçar era dessa Cacatua que ficava bonito até usando roupas casuais.
Porém, Vinda não ficava para trás e parecia uma junção da beleza angelical do meu pai, com uma beleza misteriosa e atraente.
_ Você não precisa de mim para ficar ao seu lado, tem a Vinda. - Ela tossiu e pediu desculpas por isso. _ Vocês se merecem, se complementam, muito melhor que uma tal de Byella.
_ E falando nela, ela saiu segundos depois de você. - Papai comentou.
Tinha me esquecido que ela existia.
_ Espero que tenha morrido. - Volto a comer.
_ Bom, como você está bem e diz que está. - Lá vem merda. _ Eu e Vinda teremos que nos ausentar por alguns dias.
_ Por qual motivo? - Não estava esperando por isso e tentava me lembrar se alguma coisa aconteceu nessa época.
_ Dumbledore, ele está fazendo coisas que me desagradam profundamente. - Revirei os olhos.
_ Que dia ele te agradou em algo?
_ Quando fizemos o pacto. - Deu batidinhas no seu peito. _ Espero que você não dê uma festa na mansão Rosier.
_ Como se pudesse fazer isso. - Estalei a língua. _ Mas... - Olhei para Vinda. _ Penny ficará na mansão?
_ Sim, ele estará aqui para ajudar em suas necessidades diárias, por quê?
_ Quero aprender a fazer doces e biscoitos. - Estranharam e quase podia ouvir seus cérebros girando e imaginando vários cenários com esse comentário.
_ Não seria melhor apenas pedir ao Penny que faça? - Estava desconfiado. _ Ou pedir o garoto que busque biscoitos naquela loja que você gostou?
_ Quero aprender a fazer algumas coisas e acho que assar biscoitos é a forma mais fácil.
_ Por que sinto cheiro de homem saindo de sua boca? - Ri e continuei comendo.
_ Você só pensa em homens, será que você gosta de homens? - Já sabia a resposta.
_ Não negarei. - Deu de ombros. _ Bom, espero que você não coloque fogo na casa. - Não sou tão ruim assim, eu acho.
_ Tentarei o meu melhor. - Digo enquanto comia.
_ Então, quando eu voltar, quero experimentar os seus biscoitos. - Parecia insinuar alguma coisa, mas apenas fingia não entender.
_ Claro. - Continuo comendo. _ Espero que vocês não demorem, afinal, em agosto terei que ir. - Ficaram me olhando.
_ Tentaremos chegar antes que você se vá. - Concordei. _ O que quer de aniversário? - Pisquei algumas vezes, me lembrando que meu aniversário era no próximo ano.
Porém, estava longe, mas tinha tantos anos que não me lembrava sobre isso que até fiquei surpresa por ele se lembrar.
_ Nada, não envelhecerei mesmo. - Vinda ficou confusa.
_ Como assim? É uma consequência da viagem do tempo?
_ Podemos colocar dessa forma, nunca terei 29 ou 40 anos. - Limpei minha boca. _ Mas se for calcular, tenho uns mil anos.
_ Mas quero comemorar o seu aniversário, será o primeiro de muitos que virão. - Sorri para ele.
_ Claro, ficarei aguardando os meus presentes. - Por que não? Pode ser divertido ter um pequeno aniversário de novo.
_ Não será apenas o meu que receberá. - Acho que pensei cedo demais. _ Receberá de vários, já que informarei os meus seguidores sobre o seu aniversário e eles irão adorar ver a princesa deles novamente. - Revirei os olhos.
_ Não acha podemos fazer algo pequeno, meu senhor? - Vinda perguntou e concordei com ela. _ Leesa desaparecerá e algumas pessoas irão se perguntar se ela aparecer por mais vezes, ainda mais aquele ministro.
_ Concordo.
_ Bobagem, temos que comemorar. - Dai-me paciência.
_ Tudo bem, faça o que você quiser, mas não prometo estar até o final da festa. - Levantei-me, e Tony e Tommy me olharam atentos.
_ Aonde você iria? - Sorri.
_ Papai, sinto muito, mas não sou uma adolescente que precisa dizer para os pais o que vai fazer e que horas chegarei em casa. - Iria discordar. _ Não sei se você se lembra, mas sou uma adulta. - Pisquei para ele e saio da sala de jantar.
Vamos aprender a fazer biscoito, não deve ser tão difícil, afinal, são biscoitos.
Fui até a cozinha e ela estava vazia, o que me fez procurar o elfo, mas ninguém apareceu.
Sentei-me no balcão da cozinha e Tommy voou até o meu colo, arranhando o meu braço com sua pata e me dizendo com suas ações que queria carinho.
Será que o little lord já teve um pouco de carinho?
O que estou pensando? Não o odeio? Sim, o odeio muito, mas ele é interessante, intrigante e irritante.
Eu o odeio por me fazer sentir curiosa com suas ações, o odeio por estar presa com ele para sempre, mas sinto instigada a estar em sua presença.
_ O que devo fazer, Tommy? - O peguei e coloquei perto do meu rosto. _ Prometi que iria vê-lo até agosto e isso pode ser perigoso, não acha?
_ "Miau".
_ Sim, tem razão. - O coloquei no meu colo novamente. _ Alguns meses na presença dele não vai mudar nada, ele continuará irritante e apenas saciarei a minha curiosidade, e quando estiver em Hogwarts, seguirei com o meu plano, você é tão inteligente. - Acariciei ele.
Olhei ao redor e não vi o Tony, onde aquele bichinho fofo se meteu? Queria a opinião dele também.
_ Você não comeu o seu irmão, não é?
_ "Miau". - Ri e concordei como se entendesse tudo que estava dizendo.
_ Você é superinteligente e as pessoas morrerão de inveja quando mostrar você a elas. - O suspendi no ar e o balancei. _ Olha como meu gatinho é superlegal. - Queria o esmagar, ele era tão fofo!
_ "Miau". - Coisa fofa.
Beijei sua cabeça e continuei acariciando-o.
_ Penny se atrasou, Penny pede desculpas a princesa. - Um elfo afobado entrou na cozinha e começaria a se bater.
_ Não se preocupe, não demorou tanto. - Dou de ombros e ficou estático por alguns segundos. _ Poderia me ajudar a assar biscoitos?
_ Penny ajudará a princesa, Penny fará o melhor que puder. - Sorri e coloquei o gatinho no balcão e saio dele.
_ Não sei que tipo de biscoito que ele gosta, mas sei que ele gosta de chocolate amargo, temos isso? E podemos fazer outros sabores, o que acha?
_ A cozinha da madame tem muitos ingredientes, principalmente chocolate amargo e a princesa pode fazer quantos biscoitos quiser. - Foi contido.
_ Não podemos exagerar, três ou cinco fornadas de biscoitos diferentes será o suficiente. - Com os tabuleiros pequenos terá uma quantidade adequada, já que não caberiam tantos biscoitos.
_ Penny pegará as coisas.
_ Obrigada. - Sorri e ele ficou me olhando surpreso. _ Prometo não incendiar a casa. - Riu e colocou suas mãos na boca, como se fosse errado fazer aquilo. _ Tudo bem, é engraçado.
_ Minha princesa. - Ficou choroso e limpou seus olhos grandes no pano em que usava. _ Penny não merece tanto respeito. - Foi até o armário enquanto chorava.
Elfos são estranhos, mas os compreendia. Eles são carentes de carinho e atenção, mas quando uma pessoa demonstrava isso a eles, ficavam surpresos e faziam de tudo para ajudar a pessoa que demostrou aquilo para eles.
Eles me faziam lembrar da Leesa de 15 anos, aquela rabugenta e com falta de afeto, a Leesa que se agarrou a família Malfoy como se fossem o único porto seguro que teria na vida.
Queria ir até ela e dizer que ela teria vários, mas ela teria um porto seguro que ela nunca se arrependeria de confiar, que era em confiar si mesma.
Mas tinha vezes que ela deveria confiar nos outros e devo aprender isso, ou acabarei me machucando.
Retiro esses pensamentos da cabeça e ajudo Penny a colocar as coisas no balcão, e quando tudo estava ali, o elfo começou a dizer o que deveria fazer e a sujeira que estava fazendo era impressionante.
Espero não explodir a casa, ou que esses biscoitos não ficassem ruins.
Entretanto, cortar os morangos me fez perceber que era ótima em fatiar pessoas, mas péssima em fatiar morangos.
Cortei meus dedos umas quinze vezes e o sangue carmesim era um pouco impressionante, já que sempre o vi preto.
Contudo, todas às vezes que me cortava, Penny tentava se matar entrando no forno
Tommy e Tony – sim, ele apareceu–, riam da nossa desgraça e quase pensei em cozinhá-los, mas eles eram fofos demais e seria incapaz de fazer isso com os pobres bichinhos.
Mas com os humanos já era outra coisa...
Penny insistiu em colocar band-aid nos meus dedos, mesmo dizendo para ele que meus dedos se curariam em poucos segundos.
E já poderia ser chamada de mulher com a mão enfaixada, porque minha mão estava quase virando uma. Bom, quase uma, já que minha mão não estava enfaixada de fato.
Mas poderia me fantasiar de múmia no Halloween, se Penny continuasse com isso.
Porém, acho que os meus cortes estão cicatrizando mais rápido e isso era surpreendente. Antigamente, os meus cortes demoravam e precisavam ser tratados pelo Dragon.
Depois que fui para 993, os cortes se curavam em menos de dez segundos e agora, eles se curavam em menos de dois segundos.
Será que isso tem a ver em estar no mesmo ano que o little lord? Isso seria interessante.
Paro de pensar e começo a cortar a barra de chocolate, que foi mais difícil que cortar os morangos. Pelo menos os morangos eram macios...
Era bem capaz dessa faca sair voando da minha mão como aconteceu com a Helga. Mas diferente dela, a faca que irá preferir ficar longe de mim.
_ Você é um desastre. - Olhei para o lado e papai estava todo pomposo. _ Isso é morango no seu rosto? - Passei a mão no meu rosto e realmente era. _ Acho melhor você pedir ao Penny para terminar isso, ou você colocará fogo na cozinha, ou acabará se matando. - Observou toda a bagunça com nojo.
_ Pare de me diminuir, conseguirei assar esses malditos biscoitos, ou não me chamo Francesca Francisca. - Riu.
_ Com certeza você não se chama assim. - Pegou um pedaço do chocolate que estava cortando e o colocou na boca. _ Delícia, isso é chocolate amargo suíço?
_ Não sei, talvez seja. - Dou de ombros e coloco os pedaços de chocolate na panela, tinha que derreter.
