31 de dezembro de 1935:
_ Você não pode sair assim. - Mamãe me parou antes de sair para o Beco Diagonal. _ Está ventando e está nevando, coloque algo mais quente. - Neguei.
_ Ficarei parecendo um pinguim.
_ Mas não terá uma hipotermia, agora, vai se trocar. - Apenas estalei meus dedos. _ Ou você pode apenas colocar um feitiço de aquecimento. - Suspirou. _ Você estará hoje para comemorarmos o Ano Novo?
_ Que estranho, pensei que já estivéssemos comemorando o Yule, e olha que a gente até comemorou o Boxing Day.
_ Seu pai quer comemorar o Ano Novo. - Disse, enquanto tirava alguns fiapos do meu sobretudo. _ Gostei da trança, você fica bem de trança.
_ Falarei para a pessoa que você gostou. - Bebeu um pouco de chá e ficou me olhando.
_ Mon bijou, você está apaixonada e isso é lindo de se ver. - Fiquei assustada. _ Você sempre era emburrada para essas coisas e agora... - Sorriu. _ Não para mais em casa, me diga, como ele é? - Um porre.
_ Não estou apaixonada por ninguém e apenas encontrei um amigo. - Olhei para os meus pés. _ Um homem... - Um menino. _ E uma mulher não precisa necessariamente estar em um relacionamento romântico para se sentir confortável.
_ Bom, se você está dizendo, não vou ficar teimando. - Pelo menos ela não igual ao papai. _ Quando você se sentir confortável de apresentar esse seu amigo para nós, me avise antes, ok? - Beijou minha testa.
_ Ok. - Sorri. _ Você pode pedir ao Penny para fazer um pouco de comida comemorativa e comprar um champanhe sem álcool?
_ Claro, e é para colocar numa cesta de piquenique? - Ela me entendia tão bem.
_ Sim. - Bati as mãos.
_ Pedirei a ele. - Foi em direção da cozinha. _ Apenas não deixe o seu pai saber de sua escapulida de hoje, ele não vai gostar.
_ Ele não está gostando disso há bastante tempo.
_ Verdade. - Gritou antes de sumir.
Alisei a ponta da trança e sorri por algo idiota que a minha mente pensou. Saio de casa e realmente estava frio e nevando, mas isso não me impediria de comprar um presente para o little lord.
Entretanto, dessa vez não estava com bolsa, não iria comprar muita coisa, então só vim com um saquinho no meu sobretudo.
Enquanto caminhava, a neve fazia barulhos estranhos, era fofo, mas apenas enfiei minhas mãos nos bolsos, tentando escapar de um frio que não existia no meu corpo.
_ Boa tarde. - Uma senhora me cumprimentou, tirando a neve de sua calçada.
_ Boa. - Continuei andando e pensando em coisas que não deveria pensar, mas que pensei.
Como, por exemplo, como Scorpius estaria passando o seu Ano Novo? Será que está bem? Esperava que sim.
Soltei um suspiro e o ar quente dos meus pulmões fez uma fumaça branca aparecer, nublando meus pensamentos desnecessários.
Observei ao redor e saio dali, aparecendo no Beco que estava vazio comparado àquele mês que odiava.
Mas esse era um dos motivos que todos queriam vender tudo que tinha para sair daqui o mais rápido possível, para se aquecer em algum sofá aconchegante em frente de uma lareira que nunca apagaria.
_ Último estoque! - Gritou o vendedor de alguma coisa. _ Venha, venha conferir a liquidação do ano.
Continuo caminhando e vejo a placa da loja que queria ir.
Animais Mágicos.
Entro na loja que estava vazia, talvez o clima tivesse espantado os clientes ou não estava favorável para comprar animais.
_ Boa tarde. - Uma senhora de cabelos grisalhos saiu de trás do balcão. _ Temos algumas corujas...
_ Ah, não, não vim atrás de coruja. - Observei todos os animais que me olhavam com tamanha atenção. _ Você teria alguma cobra para vender? Pode ser uma que está hibernando...
_ Cobra? - Ficou confusa e concordei. _ A senhorita é a única que vejo entrar aqui procurando uma cobra. - Arrumou os óculos.
_ Cada doido tem sua mania. - Riu.
_ Mas para a sua sorte.
Chamou-me enquanto passava pela porta lateral e o pequeno corredor estreito tinha mais animais, alguns dormiam e outros tentavam fugir.
_ Tenho uma cobra e ela já está aqui já tem algumas semanas, mas ainda não hibernou ao algo parecido. - Estávamos adentrando uma área que nunca pensei em visitar. _ Como cobras preferem lugares aconchegantes e quentes, não poderia colocar ela com os outros, ou perderia dinheiro
Apertei a minha mão por ver a escuridão tomando conta do ambiente, por que não podia ter luz aqui?
_ Bom, é aqui. - Acendeu a luz e tento não prestar atenção nessas pequenas coisas.
Não sentia tanto pavor do escuro, mas era desconfortável, porém, pelo menos não corri ou travei.
_ Ela não tem nome, mas o tamanho dela que assusta e tivemos que aumentar o terrário ou não caberia. - Suspirou. _ A pegamos na Albânia. - Albânia?
Observei a cobra que sentia o ar com a língua, mas sua aparência me lembrava tanto a cobra que o Lorde teve. Acho que se estivesse com a bolsa, poderia pegar a pasta do little lord e comparar a foto com essa cobra.
Mas não pode ser ela, ou pode?
_ Ela é meio temperamental, mas se você conseguir convencê-la de ir com você, posso fazer um bom preço. - Ela me deixou a sós com a cobra.
_ Nagini? - Parecia dar o bote a qualquer momento.
_ Como sabe o meu nome? Como consegue falar comigo? Você é uma Slytherin?
_ Bom, ainda é difícil explicar o motivo de conversar com você. - Mesmo já entendendo o básico. _ Bom, sei o seu nome devido algumas circunstâncias e não, não sou uma Slytherin. - Sorri. _ Você quer sair daqui? - Por favor, diz que sim.
_ E ficar presa em mais um terrário? Não, obrigada, ainda sou bem alimentada aqui. - Virou o rosto.
_ Você seria animal de estimação de um garoto de nove anos e ele é o futuro Lorde das Trevas. - Tentei convencê-la. _ Ou você quer ficar na mesma mansão que Grindelwald.
Mostrou sua língua e o veneno pingou na terra, como me fazendo dar alguns passos pelas suas ações.
_ Percebo que você o odeia, tudo bem, entendo.
_ Ele quase me matou, não gosto de gente como ele e não gosto de bruxos como ele!
_ Então é por isso que você não quer sair daqui? - Concordou. _ Mas o little lord não é como ele. - É pior que ele. _ Ele é apenas um garoto com falta de carinho.
_ Não gosto de crianças.
_ Olha, também não. - Tento me convencer disso. _ Mas estou aqui, tentando convencer você para ser o presente de aniversário de uma criança. - Deu mais uma vez a língua. _ Vamos, Nagini, colabore um pouco.
_ Não, vou ficar aqui.
Bom, se não fosse essa cobra, já teria desistido, mas ela é a cobra daquele garoto e mais, se não fosse por mim, ela passaria por muitas adversidades.
_ Ok, tudo bem. - A faço diminuir, a transformando em um serzinho do tamanho da minha mão. _ E agora? Você vai? - Zombei, a vendo bater seu corpo no vidro.
_ Você! - Ela realmente gritou. _ Me traz ao normal, ou vou matá-la.
_ Só aceito uma única pessoa a fazer isso e não é você. - Não é exatamente aceitar, era obrigada. _ Agora, podemos ir?
_ Você me trará ao normal?
_ Daqui há uns 10 anos, quem sabe? - A tirei do terrário. _ E não quero ser mordida.
_ Você deve ter um gosto horrível. - Deslizou pelo meu corpo até chegar na curvatura do meu pescoço. _ Quente, você é quente. - Aninhou-se ali.
_ O seu dono me diz o mesmo. - Volto para o início da loja. _ Senhora, voltei.
_ Ela não quis vir com você, não é? Ela é meio chata... - Nagini apareceu e deu a língua para ela. _ Retiro o que falei.
_ Quanto tenho que pagar? - Semicerrou os olhos, se aproximando.
_ Você a diminuiu? - Olhou de perto, quase levando um bote dessa coisinha, mas fui mais rápida.
_ Sim, seria desconfortável ter uma cobra gigante enrolada no meu corpo. - Deu alguns passos para trás, ficando mais pálida que o céu ao lado de fora.
_ Cem, 100 galeões. - Peguei o saquinho e tirei os galeões, agradecendo-a. _ Eu que agradeço e volte sempre. - Despedi dela e saio da loja, pensando que ela se livrou de algo bem problemático.
Coloco o dinheiro no bolso e vou andando, enquanto pensava em algo que não sabia ainda.
_ Você não hiberna? - Bufou, observando tudo que passava ao nosso redor.
_ Sou uma cobra magica, um ser humano com uma maldição, não sou como as cobras verdadeiras. - Era uma ótima cobra. _ Até mesmo posso ver, ouvir e sentir cheiros, coisas que elas não conseguem. - Não parecia feliz com isso. _ Porém, um dia não terei mais a minha mentalidade e serei completamente uma cobra.
Talvez isso não acontecesse, já que estaria ao lado do little lord mais cedo e ele pode inventar um feitiço que retire a maldição, ou a deixe com sua mentalidade.
_ Bom, você sabe que comerá rato a partir de hoje, não sabe?
_ Já estava comendo, não ligo muito, mas terei que caçar eles?
_ Sim. - Desaparato dali e apareço na rua da mansão.
_ É aqui que mora o meu dono? É bem bonita, parece um castelo.
_ Não, aqui quem mora são os meus pais e estou ficando aqui por um tempo. - Entro na casa que estava quente e confortável. _ Colocarei você no andar de cima, meu pai não pode saber de você e você não pode saber dele.
_ Por quê? - Ainda não quero ver um massacre.
_ Ele não gosta de cobras. - Dou de ombros.
Subo a escadaria lateral e entro no meu quarto, vendo os meus pestinhas.
_ Oi, meus amores. - Agachei-me e faço carinho neles, que me deram boas-vindas. _ Trouxe uma amiguinha para vocês, ela ficará por pouco tempo, então nada de se apegar. - Retirei a Nagini do meu pescoço e a coloquei no chão.
_ Um gato e um Chupacabra, você está criando um zoológico? - Ri e discordei. _ Pensei.
_ Nagini, por favor, não mate eles, ok? Vou descer e quando estiver indo para o seu "mestre", voltarei para levá-la, ok?
_ Ok.
Ela era menor que os dois... Bom, agora era e se fosse alguns minutos atrás, ela poderia me devorar, não, talvez esteja... Não, não estou exagerando.
Saio do quarto, pulando os degraus com pressa, mas que consegui descer sem quebrar nenhum osso.
Vou em direção do corredor que tinha pavor, ainda mais que aquela porta no final dele me levaria para o jardim.
Contudo, deveria bater à porta do escritório, talvez meu pai esteja fazendo saliências com a mamãe, mas eles não fariam isso logo cedo, mesmo não sendo tão cedo.
Abro uma fresta e vejo que papai estava na poltrona, lendo um livro, ou algo para fazê-lo estar tão concentrado.
Entro no escritório e fico atrás de sua poltrona, vendo que estava olhando um álbum de fotos e na foto tinha duas pessoas, o papai e Dumbledore.
Papai estava sério e mais jovem, mas Dumbledore sorria e parecia um raio de sol. Ele era tão diferente, nem parece que virou enrugado e velho.
_ Você sente saudades dele? - Sussurrei e ele não percebeu que não era a sua consciência falando e sim, sua filha.
_ Sinto, tínhamos um sonho em comum e tínhamos que continuar com esse sonho, mas... - Sorriu, alisando a foto. _ Apenas um de nós continuou em busca desse sonho.
_ Você sente raiva dele? - Parecia um capetinha.
_ Sim, mas não tenho coragem de matá-lo.
_ Você deixaria a sua filha matá-lo? - Sorri com isso.
_ Sim, deixaria. - Suspirou e fechou o álbum. _ Sinto saudades do tempo em que não existia uma guerra em minha cabeça.
_ Você não quer parar essa guerra e deixar que ela continue com sua filha? - Perguntei com a mesma voz calma e neutra. _ Afinal, ela pode entrar em uma guerra contra você.
_ Se eu achar que o garoto que ela ama adequado para ser o Lorde desse mundo, talvez entregue o meu posto e todos os meus seguidores para ela. - Fiquei irritada, mas não falei.
_ Meu senhor... Ah, Leesa. - Mamãe!
Papai olhou para trás e ficou me olhando, mas apenas sorri e corri até a mamãe, a abraçando.
_ Ele quer me matar, bate nele. - Falei dengosa, amava esses teatrinhos.
_ Mon bijou, mamãe protege você. - Beijou minha cabeça. _ Mas quando você chegou?
_ Alguns minutos. - Continuei abraçada nela.
_ Não farei isso, princesinha. Apenas pensei em algo. - Levantou-se e colocou o álbum no lugar.
_ O quê?
_ Precisamos tirar uma foto para colocar no nosso álbum de família. - Não tínhamos isso. _ Não concorda?
_ Concordo. - Pegou a câmera fotográfica. _ Mas agora?
_ Sim, agora. - Fez que a câmera flutuasse e puxei a mamãe. _ Como somos os seus pais, temos que ficar atrás de você para mostrar uma postura intimidadora.
_ Ou vocês podem se sentar que ficarei atrás de vocês. - Discordaram e me colocaram sentada na poltrona onde o papai estava. _ Depois me perguntam de quem puxei na teimosia.
_ De mim que não foi. - Vinda sorriu e colocou sua mão no meu ombro.
_ Antes de tirarmos a foto, tire esse sobretudo molhado ou vai estragar a foto. - Papai era muito chato.
_ E olha que nem passei tanto tempo lá fora.
Vinda tirou a mão do meu ombro e tirei o sobretudo, fazendo uma blusa de frio preta aparecer.
_ Você está de luto? - Neguei e coloquei o sobretudo no meu colo. _ Mas parece, só usa preto, já pensou em usar verde ou vinho?
_ Me dê dinheiro para comprar mais roupas. - Colocaram as mãos em meus ombros.
_ Devo dar uma mesada?
_ Não acharia ruim. - Sorri para a câmera. _ O que devemos falar enquanto tiramos a foto?
_ Grindelwald? - Perguntou.
_ Muito extenso.
_ Então, vamos falar coelhinho. - Olhei para cima e estavam concordando.
_ Coelhinho. - Dissemos.
_ Ótimo, essa foto ficará emoldurada em um quadro. - Exagerado.
_ Sabe o que você pode fazer agora, papai? - Levantei e fiquei o observando, enquanto pegava a câmera.
_ O quê?
_ Se casar, pedir alguém em casamento. - Uni as mãos.
Ficaram quietos e faço um feitiço para ver as horas, já era sete da noite e bom, não era tão tarde, mas já deu a minha hora.
_ Bom, fiquem à vontade para comemorar o Ano Novo, mas que pena que não vou, beijo. - Antes que me virasse para sair, papai me parou.
_ Onde você pensa que vai?
_ Encontrar com o meu futuro marido que não é. - Zombei. _ Vamos lá, papai. Não seja ranzinza, tenho um compromisso e não posso faltar.
_ Nome? Endereço?
_ Isso você não precisa saber.
