17 de julho de 1936:

_ Você realmente deveria estar aqui? - Little lord estava ajoelhado na cama, enquanto refazia a trança dos meus cabelos. _ Você me disse que seu pai preparou um baile para comemorar os seus vinte...

_ Complete essa frase e vou sufocá-lo com o travesseiro de novo.

_ Ok, você não tem vinte e nove, e nunca terá, que sortuda. - Ri e esfregou o meu pulso. _ O que elas significam? Você nunca me falou e não tive coragem de perguntar. - Mas agora tem?

_ Ah. - Dei de ombros. _ Foi o meu primo quem as fez, ele disse que se essas marcas ficassem negras, significava que a minha família morreu. - Falei com uma naturalidade que estranhei.

_ Mas tem uma, quem de sua família morreu? - Olhei para ela, me lembrando da dor, mas foi apenas isso, lembranças.

_ Meu primo, Draco. - Suspirei, parando de ver aquilo. _ Ele morreu me protegendo do Avada de Harry. - Não sabia o que estava pensando, mas ficou quieto por alguns minutos.

_ Devemos agradecer ao seu primo por protegê-la. - Resmunguei.

_ Mas queria falar para o verdadeiro Dragon e não para uma pessoa que se parece em tudo com ele, mas não é ele.

_ O que quer dizer?

_ Estamos em uma realidade diferente da minha e devo ser da sétima, ou sexta realidade, mas estamos na oitava.

_ Entendo. - Sentou-se ao meu lado e ficou me olhando.

_ Entende mesmo?

_ Não sei, acho que sim. - Pegou minha mão e deslizou algo pelo meu dedo anelar. _ Não, não estou a pedindo em casamento, apenas achei que isso seria um bom presente para você. - Beijou minha mão direita.

_ Se você não largar a minha mão... - Tentei puxar minha mão, mas não consegui. _ Não poderei ver o anel, little lord. - Parecia nervoso.

_ Futuramente devo comprar um melhor...

_ Não existe futuramente, little lord. - Revirou os olhos e dou um peteleco em sua testa. _ Não revire os olhos.

_ Não. - Sorriu e revirou os olhos.

Idiota.

Deixou minha mão e olhei para o bendito anel e... Uau! Era tão fofo.

Era um anel de ouro com um coelho branco agarrado no anel e se não fosse o bastante, tinha um diamante depois do coelho.

_ Isso é a coisa mais fofa que já ganhei e obrigada, little lord. - Ajeitei o anel no meu dedo.

_ Bom. - Coçou a nuca. _ Pelo menos o seu anel não está na mesma mão que esse. - Tinha razão, o anel do Dragon estava na mão esquerda.

_ Mas você sabe que essa mão aqui. - Levantei a mão. _ É de pedidos de casamento, não sabe, little lord?

_ Você está pensando demais, essa mão pode ser para pedido de namoro. - Comecei a rir. _ Você é tão estranha, e não estou pedindo em casamento ou em namoro, sua doida.

_ Me chamando de doida, olha quem fala. - Apertei sua bochecha. _ Estou apenas brincando, sei que você não faria isso. - Tombei a cabeça. _ Porém, gostei de receber esse presente, obrigada.

_ Não mereço nem um beijinho? - Revirei os olhos e dei um beijo em sua testa. _ Melhorou. - Mudei de assunto.

_ Falta pouco. - Suspirou.

_ Se me lembrar de você, devemos ter uma frase que dê para você saber. - Discordei.

Isso tudo foi fantástico, mas não devemos continuar com essa interação.

_ Não quero que você lembre.

_ Mas se eu lembrar. - Foi teimoso. _ Vou chamá-la de coelhinha.

_ Se você se lembrar, você não dirá um pio. - Não estava me levando a sério. _ Você não deve me conhecer, nunca deveria ter vindo até você em primeiro lugar.

_ Mas veio e a gente passou vários meses juntos. - Balançou as pernas. _ Sentirei saudades, coelhinha. - Também.

_ Ainda o odeio.

_ E ainda gosto de você. - Deitamo-nos na cama.

Segurou minha mão e continuamos olhando para as sombras do teto.

_ Nunca mais virei aqui. - Parece que está surgindo um buraco no meu peito e não sei o tamanho dessa coisa asquerosa.

_ Mesmo não vindo, ainda vou deixar duas velas acesas todas as noites. - Olhou-me e não quis olhá-lo.

_ Posso tirar isso de sua memória.

_ Tente. - Apertou minha mão. _ Espero descobrir mais cosias sobre você. - Meu nariz pinicava e tudo parecia uma despedida.

_ Não quero.

_ No final vou descobrir. - Sempre descobre.

_ Não sei como. - Ouvimos um pop no quarto e olhamos para o barulho, mas ainda estávamos deitados.

_ Minha princesa, o senhor está desesperado atrás de você. - Penny estava agitado.

_ Fale para ele que morri e não vou para aquele lugar cheio, que a maioria daquelas pessoas só querem saber se sou aceitável para me casar com seus filhos ou filhas. - Sinto o little lord apertar minha mão.

_ Mas, minha princesa...

_ Não vou e falei que não ficaria a noite toda naquele lugar.

_ Mas você me disse que não passou nem meia hora naquele lugar. - Little lord sussurrou

_ Não precisa me dedurar. - Chutei sua perna.

_ Não fiz por mal. - Revirei os olhos. _ Deixe-a aqui, gosto da presença dela, senhor. - O elfo ficou surpreso e abaixou as orelhas por vergonha.

_ Penny dirá que não conseguiu achar a princesa e Penny ajudará a princesa a ficar com o seu amado. - Espera, o quê?

_ Não, Pe... - Sumiu antes que pudesse falar que não queria ser tachada como pedófila. _ Olha o que você fez! - Falei irritada.

_ O que fiz? - Me olhou com aqueles olhos grandes e angelicais. _ Só disse que gosto da presença e não menti.

_ Mas agora ele pensa que somos algo e... Nojento. - Finjo vomitar.

_ Não direi nada, sua imaginação é muito fértil, e ele disse amado e isso pode significar vários conceitos e significados. - Isso me lembrou do papai. _ Você que pensa em apenas uma via, enquanto existem várias.

_ Pensar em outras vias dói a cabeça e não gosto de pensar. - Fechei os olhos em desgosto.

_ Mas gosto de pensar em outras vias e isso facilita se algo der errado. - Tão trabalhoso.

_ Pessimista.

_ Realista. - Lembrei do Salazar e do Godric. _ Devemos sempre ter um plano B.

_ Certo, isso você tem razão, mas se ficar pensando demais, você não sairá do lugar. - Dei um peteleco em sua testa. _ Primeiro, você pensa e depois faz, e se der errado, você...

_ Você pensa e faz, somos diferentes nesse quesito. - Pela primeira vez. _ Eu penso, repenso e faço, mas pensarei em todos os prós e contras. - Já me cansou apenas em ouvir.

_ Só penso o que pode me beneficiar.

_ Concordo, mas somos o oposto de como resolvemos os nossos problemas e podemos ser complementares. - E lá vamos nós de novo.

_ Pensaremos juntos e quem faz o trabalho sujo sou eu?

_ Não, podemos mandar pessoas para fazer o trabalho sujo. - Esqueci que estava na presença de um Lorde. _ Muito prático, não concorda?

_ Não, gosto de fazer as coisas sozinha e acho que se eu não fizer, o trabalho não será perfeito.

_ Ou você tem medo das críticas? - Franzi a testa. _ Tudo para você tem que ser perfeito, mas se algo sair dos trilhos, você irá parar para pensar e irá se enrolar em uma bola.

_ Não me enrolei em uma bola em todas as ocasiões que precisei parar. - Fiquei emburrada.

_ Mas você não se culpou? Aposto que você se culpou, a chamando de idiota, ou de burra. - Ele tem que parar com isso.

_ Mas resolvi.

_ Você tem que parar de se culpar por algo não sair perfeito. - Tocou meu nariz. _ A vida não é perfeita, nem mesmo os planos que você faz.

_ Você tem que parar com isso.

_ De dizer a verdade? Não, obrigado, mas isso me lembrou de algo, você preparou tudo para 1935, os seus planos deram errado, ou deram certo?

_ já tinha que ter virado uma criança, mas não fiz isso.

_ E nesse ano? - Zombou. _ Você está conseguindo seguir o que planejou? - Apertei a sua mão e neguei.

_ Desde daquele dia meus planos estão indo para o ralo. - Tudo culpa dele. _ Então, estou tentando viver um dia de cada vez.

_ E isso está a matando, não é? Você não tem controle e isso assusta. - Prendi a respiração. _ Você está com medo de errar e perder tudo que você conquistou.

_ Posso salvar todos...

_ Tem certeza? - Mordi meus lábios. _ Você acha que pode, mas na hora pode perceber que não. - Neguei, tentando não chorar. _ Coelhinha, você pode achar que está forte, mas sei que se sente fraca e que não tem certeza se poderá salvar os seus amigos e aliados.

_ Tom! - Gritei, o fazendo parar de me apunhalar no coração e dizer tudo que tento não pensar.

_ Desculpa, exagerei. - Funguei, tentando não chorar.

Não sou fraca, sou forte e posso salvar todo mundo, menos a mim... Esse deveria ser meu mantra, mas não consigo raciocinar agora.

Odeio quando ele começa a me analisar e descobre tudo que tento esconder, me sinto vulnerável.

Mas me sinto menos um robô e mais humana.

_ Coelhinha, se você estiver com medo ou estiver com vontade de desabafar com alguém...

_ Desabafar com você? - Queria socá-lo. _ Passo.

_ Tudo bem, mas saiba que mesmo se você realmente conseguir retirar as minhas memórias, saberei que você precisa de mim. Você só precisa vir até mim, afinal, não posso sair daqui.

_ Nunca acontecerá. - Dei as costas para ele, deixando as lagrimas deslizarem pelo meu rosto.

_ Espero que isso seja realmente verdade. - Ajoelhou-se na cama e me virou novamente. _ Você sabe chorar. - Piscou surpreso. _ Mas odeio ser a pessoa que a fez chorar. - Alisou meu rosto.

_ Tom... - Abraçou-me, me deixando chorar tudo que tento abafar em meu coração.

_ Desculpa.

Não sabia mais sobre o porquê de estar chorando, se era por me sentir fraca ou pela nossa despedida, mas sabia de uma coisa.

_ Obrigada por me dizer algo que tentava negar. - Esse seria o primeiro passo para ser uma nova Leesa, apenas não sabia se isso seria bom ou não.

───※ ·❆· ※───

1 de agosto de 1936:

_ Então, o dia que você tanto esperou finalmente chegou. - Tom não estava sorrindo, estava sério e fechou o livro que estava lendo. _ Está feliz?

_ Muito. - Sorri e cruzei os dedos atrás do meu corpo.

_ Me mostre suas mãos. - Merda. _ Você não está feliz, coelhinha. - Olhei para baixo. _ Por que mente?

_ Talvez a mentira se torne verdade se eu acreditar bastante. - Não acredito nisso.

_ Claro, se você acreditar muito em uma mentira e fazer que essa mentira se espalhe, não quer dizer que as outras pessoas irão aceitar isso como verdade. - Ele sempre tinha uma frase perfeita para qualquer ocasião.

_ Você precisa parar com isso. - Cruzei os braços.

_ Não posso parar de falar a verdade, coelhinha. Não consigo mais falar mentiras e aceitar meias verdades. - Virou poeta.

_ Mas você não falará mentiras para a população? - Até eu falarei.

_ Coelhinha, sou apenas uma criança e segundo as pessoas, não devo saber de nada. - Às vezes me beliscava para saber se ele não era um homem disfarçado de criança.

_ Um dia você vai me responder? - Vejo Nagini subir em sua perna e se deitar em sua barriga.

_ Você não vai tirar as minhas memórias? - Zombou e revirei os olhos. _ Sim, direi.

_ Você sabe que sou a pessoa que será chamada de cruel, não sabe? Você sabe que sou a pessoa que vai usá-lo para destruir esse mundo, não sabe? - Alisou a Nagini.

_ Sim, sei. - Seu sorriso estava perfeito. _ Um dia vou falar algo para você, mas até lá, me use com sabedoria. - Piscou.

_ Tentarei o meu melhor. - Estendi minha mão e ele ficou a olhando. _ Nossa trégua acabou, mas foram ótimos meses.

_ Coelhinha, podemos nos beneficiar ainda. - Franzi o cenho. _ Você vai descobrir que somos perfeitos juntos do que separados. - Deixe-me acreditar nisso, por favor! _ Mas antes de você ir, você se sente comum? - Mudou de assunto tão rápido que meu pulmão doeu.

Mas o que ele queria dizer com isso?

_ Antigamente pensava que sim, mas agora, só me acho, não sei. - Dei de ombros. _ O que você acha que sou? - Minha mão caiu ao meu lado.

_ Você não deveria saber disso? - Você sabe mais sobre mim do que eu, mas respondi:

_ Little lord, estou perdida no meio da minha mente, porém, me reconheço, mas não sei quem sou, não sei se sou só a garota que gosta de brincar com os meus pais, se sou a garota que gosta de zombar de você, que o odeia. - Suspirei. _ Se sou a garota que sente falta do passado, se sou a garota que quer esquecer o passado, ou se sou a garota que pensa que é forte, mas não é!

Agarrei meus cabelos, desabafando tudo que deixei plantado no meu coração.

_ Ou sou a garota que quer destruir esse mundo.

_ Você sabe que pode ser todas elas, não sabe?

_ Será? Realmente posso ter todas essas personalidades e continuar sã? - Ele me puxou e me sentei ao seu lado.

_ Quantos anos você está vivendo assim e está do mesmo jeito? Com sua mente perfeitamente sã? Você pode ter sua recaída, pode amar mutilar e matar as pessoas, mas isso é apenas você. - Alisou os meus dedos. _ Não é loucura, é sua personalidade.

_ Mas, little lord, sei que pertenço aqui, nessa época, mas até quando? Até quando pertencerei essa realidade, essa dimensão e nesse ano? - Sorriu.

_ Até quando eu estiver respirando. - Apertou minha mão e disse: _ Você pode ficar fria futuramente, ou continuar sendo a mesma mulher com os pensamentos de uma garota, mas para mim, tanto faz, gosto de você de qualquer jeito.

_ Tom...

_ Nossa trégua acabou e a partir de hoje, eu odeio tanto você que dói o meu peito. - Respirei e concordei.

_ Igualmente. - Sorri, apertando sua mão.

_ Apenas não se esqueça que... - Beijou minha mão. _ Suas asas são lindas e eu as amo. - Sorriu. _ Não fique se desmerecendo devido alguns erros que você não conseguiu prever, mesmo sabendo o futuro, você é apenas um humano e não um robô sem sentimentos.

_ Obrigada, mas antes de ir, você quer saber sobre os seus pais? - Sorriu e falou:

_ Não. - Deixou minha mão, me fazendo sentir fria com o meu próprio coração, parecia um pecado não estar ao seu lado.

_ Então, adeus, Tom. - E estou cometendo o maior pecado da minha vida neste momento, mas sem olhar para trás.

_ Até breve, coelhinha. - Quando falei aquele feitiço, algo dentro de mim se partiu.

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Espero que tenham entendido que o Tom é um adulto, mas que está no corpo de uma criança. Juntando as duas vidas ele tem mais de 150 anos.

Mas se não entenderam, é bem simples: ele morreu, renasceu e está crescendo, mas diferente da Leesa, ele se lembra de suas vidas.

E se ele quiser ser um ADULTO, ele pode, afinal, ele é um, apenas está preso em um corpo de criança, ainda mais que a mentalidade dele é de um adulto e não de uma criança.