Saio do escritório, um burburinho constante de fome ecoando dentro de mim, como se um porco inteiro estivesse esperando para ser devorado se fosse necessário.

Meus olhos varrem a sala em busca de qualquer sinal de alívio para minha fome voraz.

Determinada, me dirijo à mesa, onde tentadores pratos esperavam para serem devorados.

Cada aroma delicioso parece dançar no ar, estimulando meus sentidos e aumentando ainda mais minha fome.

Com mãos ávidas, começo a encher meu prato com uma variedade de iguarias, cada pedaço escolhido com precisão para satisfazer meu apetite insaciável.

_ Papai deveria ter colocado mais opção de carne. - Bufou uma garota de cabelos e olhos azuis profundos. _ Não acha? - Seu semblante era um reflexo de sua atitude esnobe e arrogante, como se o mundo inteiro devesse se curvar diante dela.

_ Não me importo muito com isso e se tem comida, isso já me deixa feliz. - Continuei colocando comida no prato.

_ Você se contenta com tão pouco. - Vivi com pouco, acho que isso não vai mudar. _ Me chamo Circe Black, e você?

_ Leesa Grindelwald. - Apenas sorri e fui pegar um copo de suco.

_ Grindelwald... - Parece que uma lâmpada se iluminou em sua cabeça. _ Você deve ser a amiga do meu irmão e a mulher que veio acompanhada por um Slytherin.

_ Você é irmã do Charis? - Concordou. _ Então você deve ser a paixonite do Marius. - Nem sei, só estou chutando.

_ Bom, não vejo desvantagem em me casar com o Marius. - Deu de ombros. _ Ainda mais por não poder cuidar da minha família. - As aparências realmente enganam.

_ Por não ser um homem?

_ Sim, poderia dizer que não ligo, mas ligo. - Parou por alguns segundos. _ Só sirvo para contratos de casamentos e procriar. - Tentou fazer uma piada, mas não deu certo.

_ Por que não conversa com o Charis? - Peguei o suco e iria para o jardim.

Meus olhos se fixaram na entrada para o jardim, uma promessa de tranquilidade e beleza além das paredes da casa.

A porta entreaberta revelava apenas um vislumbre do que estava além, observando a iluminação quente e atraente.

_ Não quero brigar com o meu irmão, papai o ensinou desde cedo o que deve ou não fazer, e chegar agora e dizer que quero o lugar dele é meio injusto por tudo que passou. - Acompanhou-me até o jardim e tinha bancos de pedra ali.

_ Você é realmente a irmã mais velha.

_ Por que diz isso?

_ Porque você está vendo a felicidade do seu irmão do que a sua. - Sentamos e deixei meu copo flutuando.

_ Você tem razão, mas não mudarei de ideia. - Sei que não vai.

Começamos a comer, e logo percebemos o aconchego do ambiente do lado de fora.

O ar fresco da noite era suavizado por um calor reconfortante, proporcionando uma atmosfera agradável enquanto saboreávamos nossa refeição.

O jardim, protegido do frio, era um refúgio acolhedor, onde podíamos desfrutar da comida e da companhia em meio à serenidade da noite.

_ O que pensa em fazer? - A perguntei.

_ Sobre a minha vida? - Concordei. _ Vou me casar com alguém, ter filhos com essa pessoa e ser igual a minha mãe. - Suspirou.

_ Marius não é um patriarca e ele é seu primo. - Bufou e colocou a mão na boca antes de falar:

_ E não ligo para isso. - Realmente parecia não ligar. _ Mas se eu tiver um teto, comida e roupas, já estou no lucro.

_ Talvez, ao invés de apenas ser uma dona de casa. - Não desmerecendo as pessoas que gostam de ser. _ Você possa ajudar nas pesquisas que ele provavelmente está fazendo. - Parou e me olhou. _ Marius é uma pessoa inteligente e acho que você também é, não é melhor ter duas cabeças pensantes do que uma?

_ O que você quer dizer? - Não sabia.

_ Não fique na sombra dos homens, fique ao lado deles e seja brilhante. - Pisquei. _ E não se esqueça de uma coisa.

_ O quê? - Perguntou confusa.

_ Para se fazer sombra, precisa do sol. - Voltei a comer.

_ Obrigada.

_ Não precisa me agradecer. - Sua família é toda minha.

_ Pensei que você fosse diferente. - Também, mas não vou falar.

_ As pessoas não são aquilo que pensamos, precisamos ter uma conversa para saber se é aquilo ou não. - Sim, sou hipócrita, mas ela não lê pensamentos.

_ Você concorda com a ideologia das trevas? - Isso era uma conversa interessante, já que tudo que acreditei está mudando muito rápido.

_ Não, mas preciso dela e então me calo nesse quesito. - Little lord fez exatamente isso, já que é mestiço. _ Quero destruir tudo, mas acho que devo repensar nisso.

_ Você quer destruir a luz e as trevas?

_ Sim. - Espero não mudar de ideia. _ Acho que não precisamos de um lado e podemos ser unidos, ao invés de divididos, já que somos bruxos e temos sangue mágico.

_ Acho que agora entendi o motivo deles gostarem tanto de você. - Charis falava muito de mim? _ Você tem pensamentos fora da caixinha, mas são esses pensamentos que me fez repensar o que quero para mim.

_ Acho que sempre mudamos de opinião sobre isso, só não podemos desistir de algo que queremos apenas por meia dúzias de palavras de uma única pessoa. Elas não dizem quem você é, apenas você diz.

_ Obrigada. - Levantou-se. _ Vou atrás do Marius, talvez ele precise realmente de ajuda em suas pesquisas. - Riu feliz. _ Já pensou? Eu, uma pocionista de primeira?

_ Nada é impossível, Circe. - Estalou a língua.

_ Devo levar isso para o meu coração, até mais. - Dei tchau e fiquei pensando nas minhas palavras.

Aquelas duas fizeram o little lord ficar na sombra, se diminuindo, até que seu sol apagou. E eu? Falei tantas coisas e disse tantas vezes que não teria nada com ele.

Mas agora estou aqui, esperando o little lord, esperando que ele me beije como me beijou nesses dias e que me abrace todas as noites, que me conforte com sua magia.

Que me diga com todas as formas que sou especial para ele, que cada pedacinho meu é apreciado por ele.

Sempre digo que não tenho pressa e que pressa é inimigo da perfeição, mas dessa vez não estou ligando para a perfeição.

Quero que seja imperfeito, mas seja perfeito para mim, para nós, para os meus sentimentos confusos e nada sugestivos.

Sentimentos são confusos, acho que é por isso que odeio tanto eles, mas sem eles, não sou nada. Voldemort é a prova viva e não quero seguir aqueles pensamentos.

Eu o amo ou amo tê-lo ao meu lado?

Esses tipos de sentimentos poderiam vir com manual de instrução, seria tão mais fácil aceitar que eu o amo e amo ter ele ao meu lado, amo ter suas carícias e ter suas falas sugestivas.

Eu o amo, mas não está na hora de dizer isso para ele. Mas não irei me fazer de rogada estando ao seu lado, vou querer tudo, tudo que ele me oferecer.

Quero ele e ele me quer, não é uma troca justa?

_ Pensei que não fosse te encontrar, Leesa. - Olhei para trás e vejo os Black...

Merda, estava tendo uns pensamentos bonitos aqui e a praga logo aparece para me derrubar do penhasco.

_ Cygnus. - Tinha que aparecer justo agora? _ O que você quer falar comigo? - Continuei comendo.

Observei os outros e não me lembrava de seus nomes, são apenas patriarcas das ramificações. Claro, algum deles deve se o irmão mais velho dele, mas o que isso importa se ele não é nada sem o Cygnus?

_ Por que está fazendo tudo isso? - Tudo o quê?

_ Sobre as ameaças? Minha amizade com Dorea e Charis? - Concordou. _ Terá uma guerra, Cygnus. - Olharam-se. _ Não quero que os bruxos pereçam pela luz.

_ Já estamos em guerra. - Falou o pai do Charis.

_ Mas existirá outra e não quero ver ninguém morrendo. - Apenas os meus inimigos. _ Compreendem?

_ Por isso que precisa de nós. - Pollux afirmou, surgindo repentinamente no jardim. _ Por isso que ajudou e fez o contrato. - Ele sempre foi o melhor dessas pessoas.

_ Preciso de pessoas, preciso de famílias que são fortes nesse mundo mágico e preciso de vocês, mas ainda é pouco. - Pouco para tudo que vou fazer.

_ Você quer mais? - Olhei para o pai da Aris e concordei. _ Por isso que tem a família Slytherin aos seus pés? - Família de uma pessoa.

_ Usará o matrimônio para prender ele a você? - Cygnus era tão inconveniente.

_ Você não faz isso também? - Não precisava saber que não vou me casar.

Olhei para a minha comida e fiquei pensativa, devo repensar nos meus planos?

Meu pai é um Lorde e tem vários seguidores, e mesmo que ele fale que passará o cargo para o little lord, isso pode não acontecer.

Papai quer subjugar os trouxas e o mundo, mas o little lord que fazer isso com todos. Todos devem respeitá-lo, ele é um tirano, um ditador... E estou ao seu lado para que isso possa acontecer.

Devo repensar tudo, as coisas mudaram e eu mudei.

Afinal, não tinha little lord nos meus planos amorosos, não tinha Grindelwald como meu pai e Vinda Rosier como minha mãe.

Não tinha família Black como meus amigos e aliados.

Mas a única coisa que sei, é que a luz deve cair e as trevas também.

_ Cuidado com a sua saúde, Cygnus. - Mexi na comida. _ 1943 está logo aí. - Olhei para ele.

_ Marcarei um médico, não se preocupe. - Não estava preocupada, ainda mais que Pollux era meu aliado.

_ Que ano que vai acontecer a guerra? - Pollux perguntou.

_ Em algum ano depois de 1990. - Dei de ombros, os fazendo estranhar e suspirar em descrença.

_ Por isso que fez o contrato dizendo que queria os meus bisnetos. - Ele vai falar isso mesmo? Na frente dessas pessoas?

_ Sim, vejo que continua inteligente. - Bom, se ele não se importa, tudo bem, pelo menos tenho toda a sua família.

_ O que você quer que façamos? - Tão simples? Cygnus, você melhorou então pouco tempo e ficou menos idiota.

_ Verei com o meu noivo. - Que noivo? _ Então, farei uma reunião e direi o que quero de vocês, pode ser assim?

_ Você nos deu alguma opção alguma vez? - Não. _ Se não concordamos, seremos massacrados por você. - Realmente ficou mais inteligente. _ Obrigado pela conversa esclarecedora.

_ Não vi a sua esposa, mas, mande um oi para ela. - Se foi e apenas acenei para os outros que saiam do jardim.

Olhei para Pollux e ele fez uma mesura discreta antes de partir

Sempre enxerguei as pessoas ao meu redor como peças em um tabuleiro, peças que poderia mover e descartar conforme meu desejo.

Embora essa percepção não tenha mudado, às vezes sinto a fadiga que vem com a manutenção desse jogo constante de poder e influência.

São como peças cansativas, cujas vontades e ambições exigem atenção constante, mesmo que eu mantenha o controle sobre elas.

_ Um beijo por seus pensamentos. - Colocou seu sobretudo nos meus ombros e se sentou ao meu lado. _ O que tanto pensa? - Beijou meu pescoço.

_ Em algumas coisas. - Tinha que mudar de assunto. _ Você sabia que os Malfoy têm uma maldição? - Franziu a testa.

_ Abraxas poderia ser meu melhor amigo, mas ele cresceu com o Alucard. - Isso não sabia, bom, não sei de muitas coisas. _ Ele deve saber melhor sobre isso. - Não queria contar agora que já sabia sobre isso.

_ Entendo, terei que esperar alguns anos para descobrir sobre tudo que quero.

_ Talvez não demore tanto. - Vai demorar.

_ Você sentiu quando me transformei em criança em agosto? - Ficou pensativo.

_ Você não estava em perigo, então não senti nada, mas naquele dia senti que você precisava de mim e por isso que esperei.

_ Por quê? - Observou o céu noturno.

_ Porque ainda não havia feito a poção para me trazer de volta ao meu corpo original e deveria ter feito. - Ele se culpava demais. _ Mas não pensei que você precisaria de mim. - Suspirou e me olhou. _ Você é forte e nunca precisou de mim.

_ Sempre precisarei de você, mesmo sendo melhor que você. - Riu e coloquei o prato no chão, limpando minha boca com magia.

_ Somos melhores juntos e não separados.

_ Eu sei. - Bebi o suco e deixei o copo flutuar novamente. _ Aprendi isso na marra.

_ Gostei quando você tomou as rédeas da situação. - Lambi meus lábios, mas o sabor do batom havia desaparecido, sugerindo que ele havia provavelmente saído.

Notei o olhar atento de Little Lord sobre meus lábios e aguardei sua resposta com uma mistura de expectativa e curiosidade.

_ Queria ter tirado você de lá e a beijado.

_ Por isso que você me apertou. - Riu e me aconcheguei mais no seu sobretudo. _ Acho que você está meio enferrujado para essas coisas.

_ Devo estar. - Semicerrou os olhos.

_ E devo desculpas. - Ficou sem entender. _ Não tenho nada para te dar em seu aniversário e Ano Novo. - O presente seria eu, mas isso mudou.

_ Então devo pedir desculpas também. - Rimos. _ Acho que não precisamos de algo tão grandioso como da última vez.

_ Mas não pensei em nada.

_ Aceito um beijo como presente e você? - Aproximou seu rosto.

_ Aceito uma rosa. - Puxei sua gravata e o beijei.

Não podíamos ser tão ousados como antes, não podíamos nos beijar como se quiséssemos esquecer as pessoas do outro lado.

Não tinha árvores que pudessem nos ajudar nisso, infelizmente.

Tínhamos que sentir os nossos lábios sedentos por algo a mais e deveria sentir as mãos quentes tentando colar nossos corpos ainda mais.

Queria me debruçar em cima dele e sentir meus seios sendo esmagados por seu peito, queria sentir suas mãos na minha pele e a fazendo arrepiar como da última vez.

O queria e não odiava isso, não mais.

_ Acho que nesse jardim tem um labirinto, devemos ir lá? - Falou rente a minha boca.

_ Não. - Mordeu meus lábios. _ Devemos com toda a certeza ir lá. - Levantou-se me puxando pela mão. _ Continua me devendo uma rosa.

_ A dou todas que você quiser. - Começamos a correr e segurei a barra do meu vestido para que não se prendesse em algo.

_ Não quero todas, apenas quero uma.

Entramos no labirinto luminoso, onde cada parede irradiava uma luz etérea, criando um ambiente surreal ao nosso redor.

Continuamos correndo, nossos passos ecoando pelas passagens sinuosas enquanto nos perdíamos na imensidão do labirinto.

O brilho intenso das paredes refletia em nossos rostos, criando sombras dançantes que pareciam nos seguir a cada movimento.

À medida que avançávamos, a sensação de desorientação aumentava, cada esquina nos levando a uma nova reviravolta em nossa jornada.

Então, finalmente, chegamos a um ponto onde as paredes se fechavam diante de nós, revelando um beco.

O ar estava impregnado de eletricidade, nossa respiração ofegante ecoando no silêncio do labirinto enquanto nos deparávamos com a impossibilidade de continuar avançando.

_ Você tem algum fetiche em labirintos? - Fez que outra parede surgisse e nos prendeu naquele pequeno lugar, mas ninguém poderia nos ver aqui.

_ Acho que tenho um em você. - Agarrou a minha cintura e voltou a me beijar.