Edward

Poucas vezes me senti tão ansioso quanto quando o avião finalmente pousou em Seattle. As quase dez horas de voo já eram bem conhecidas por mim, que fiz aquele caminho muitas vezes durante a vida, mas dessa vez era diferente.

Era a primeira vez que eu estava totalmente livre. Livre para finalmente viver da forma que bem entendesse, e isso incluía ir atrás de respostas na cidade que deixei alguns anos antes. Talvez fosse um pouco ridículo um homem da minha idade se sentir assim pela primeira vez, mas as coisas são como são. Não dá para mudar o passado, mas podemos escolher nosso futuro.

— Finalmente! Já estou com a bunda quadrada — Emmett exclamou na poltrona ao meu lado quando o sinal de apertar os cintos foi desligado.

— Ah, sim. Como se você não tivesse dormido até babar no caminho todo até aqui — Rosalie, sua noiva e minha melhor amiga, reclamou do outro lado.

O que eu estava pensando quando trouxe esses dois? Eles estavam insuportáveis e nós mal tínhamos chegado nos Estados Unidos.

— Está ótimo, crianças. Da próxima vez vocês voam de econômica e eu venho na executiva sozinho.

O caminho de Seattle até Forks levava mais três horas, se nós tivéssemos sorte de não pegar trânsito. Seria um longo caminho e, por isso, eu optei por contratar um motorista que nos levaria até Port Angeles e, de lá, pegaríamos um carro alugado.

— Mais duas horinhas dormindo e você se torna uma pessoa menos amarga, Rose — provoquei quando entramos no carro, ela revirou os olhos.

Apesar de tudo, os dois eram meus melhores amigos. Desde o primeiro dia em Londres, no escritório, nós éramos um trio e cuidávamos um do outro. Não havia a menor possibilidade de deixá-los para trás quando eu pretendia ficar aqui por um tempo. E além disso, eles também trabalhavam comigo e eu era o chefe, o que significava trabalho remoto pelo tempo que nós quiséssemos - outra coisa que não seria possível se meu pai estivesse vivo, já que o velho gostava de controlar os funcionários. A tecnologia realmente era uma maravilha.

O dia começava a amanhecer na costa oeste americana mas o fuso horário não me deixou dormir, agora já devia ser meio dia em Londres. Jetlag essas horas, Edward? Ao invés disso, peguei o celular e abri o arquivo que montei dias antes como se fosse um maníaco. Nele, concentrei as poucas informações que consegui encontrar sobre Isabella Swan.

Ela havia se graduado em administração em Tacoma, na Universidade de Washington, pouco mais de seis meses após minha partida. A única foto que encontrei era da turma toda, com ela mais atrás, e pude perceber que estava usando uma beca de formatura. Linda, como sempre. Depois, nada. Estava viva, porque em um momento de desespero eu cheguei a procurar nos registros de óbito, mas era como se ela tivesse sumido.

Eu tinha também os endereços da casa do pai dela e do restaurante da madrasta, mas não sabia como seria recebido nesses lugares. Será que alguém me daria informações nessa cidade? Meus tios não falavam nada, e eu não sabia porque ou o que escondiam. Eu nem sabia se ela tinha voltado à cidade ou se mudado para o outro lado do país. À distância era mais difícil saber de alguma coisa, mas estando em Forks minhas chances aumentavam, certo?

As horas se passaram rápido enquanto eu pensava em todas as possibilidades e logo estávamos em Port Angeles, finalmente pegando o carro. O motorista era ótimo, mas ele não acelerava da forma que eu gostaria de fazer naquelas estradas.

— Cara, às vezes eu esqueço do quanto você é rico. Olha esse carro, é como se você fosse o James Bond! - Emmett falou, muito empolgado.

— É uma versão mais simples do que eu tenho em casa, Emm. Não é porque não pude trazê-lo que vou andar em qualquer coisa. Foi difícil achar um lugar que tivesse esse modelo — respondi, dando partida no Aston Martin.

Uma das vantagens de ser filho do meu pai era o dinheiro. Eu não seria hipócrita de dizer que não me beneficiava disso, porque desde que tomei consciência do valor do dinheiro, usufrui de tudo que pude. Roupas, sapatos, restaurantes, bebidas, bons investimentos para fazer o patrimônio render sem depender do meu pai e, é claro, dirigir os melhores carros que eu pudesse comprar. Em Londres, eu tinha três carros: um Aston Martin Vanquish, um Volvo XC60 e uma Lamborghini Urus. Aqui, eu tinha que me contentar com o carro alugado, pelo menos por enquanto.

Rosalie foi no banco de trás, rindo. Ela era uma entusiasta de veículos, adorava acelerar na estrada, como eu. Com certeza me pediria o carro emprestado em algum momento, quando ficasse entediada. Não era como se Forks tivesse muitas opções de lazer, afinal.

Menos de uma hora depois, já estávamos no posto de gasolina da entrada da cidade. Tudo estava exatamente como eu me lembrava, inclusive o caixa da loja de conveniências e os motoristas ruins com carros enormes - o que quase me envolveu em um acidente quando um Porsche amarelo acelerou e cortou na minha frente. Ganhou apenas uma buzinada, porque eu estava com paciência.

— Era só o que faltava, você nos trouxe para um lugar onde as pessoas nem sabem dirigir! — Rose choramingou — Tomara que sua Bella esteja aqui, eu não vou aguentar mais que três meses nessa cidade. Me lembre novamente, como vocês se separaram mesmo?

Três meses era uma boa medida de tempo, mas eu esperava não precisar de tanto. E separaram não foi uma boa escolha de palavras da minha amiga advogada. Uma separação geralmente envolve algum grande fato ou pelo menos uma conversa. Eu não tive nada.

— Eu não sei exatamente. Quando voltei para Londres prometi que não era definitivo, mas um dia acordei depois de um evento do escritório e ela havia me bloqueado em tudo. Não sei o motivo, nunca mais consegui encontrá-la. Meus tios sempre desconversam, nunca podem me dar qualquer explicação. Eu gostaria de saber ao menos o que aconteceu. Se ela conheceu outra pessoa, se foi embora da cidade, se ficou doente… — deixei minha voz morrer no final da frase.

— Que história esquisita — Emmett falou do banco do passageiro, com uma Rosalie agora pendurada no meio de nós, que concordou — Que evento foi esse?

— Uma festa no escritório onde meu pai encheu meu saco e eu enchi a cara depois. Não lembro nem de como cheguei em casa, eu só estava na minha cama no dia seguinte.

Os dois se olharam de uma forma estranha, tive a impressão de que se comunicavam pelo olhar, como se guardassem um segredo.

— Aquela em que Edward Pai disse na frente de todo mundo que acabaria com a sua vida? - Rosalie disse como se tivesse feito uma grande descoberta — Meu bem, nós te levamos até a sua cama naquela noite! E pensando aqui, acho que encontramos o motivo do sumiço da Bella desaparecida. Tem as mesmas iniciais que as suas.

Oh. Eu entendi onde ela estava querendo chegar.

— Você acha possível? O que ele teria feito? — perguntei.

Tentei me concentrar na estrada, mas aquela frase começou a ecoar na minha cabeça. Diminui a velocidade. Meu pai seria capaz disso? Bem, capaz ele seria.

— Seu pai era uma das piores pessoas que já conheci, Ed. Se não fosse por você lá cuidando da administração e consertando as merdas dele, todos os funcionários já teriam ido embora. Ele tem sorte de ter morrido antes de acumular mais processos por assédio — ela respondeu.

Sim, eu tinha plena consciência de que meu pai era um péssimo ser humano. Além dos processos de ex-funcionários e ex-parceiros de trabalho, ele havia me ameaçado várias vezes, mas eu fiz o que ele queria, não teria motivos para ele tramar algo contra Bella.

— Qual motivo ele teria para fazer isso? Eu aceitei as condições dele, voltei para Londres e assumi a parte do escritório que ele queria…

— Com todo o respeito — disse Rose, e eu sabia que a partir dali nenhuma palavra seria respeitosa — Você voltou, mas havia prometido para Bella que retornaria para essa cidadezinha para viver seu conto de fadas. Ela poderia ser uma ameaça para ele? Pense no seu pai como a Rainha Má ou algo assim, alguém que represente o grandíssimo filho da puta que ele era. É muito claro que ele seria capaz de coisas horríveis para que você ficasse.

Eu nunca havia pensado por aquela ótica. Será que meu pai era o grande responsável? O que ele teria feito, então? Carlisle e Esme estariam envolvidos? Era a hora de descobrir, pensei, ao avistar a enorme casa em que os dois moravam, quase na outra ponta da cidade.

— Edward! Ah, que saudades, meu amor — Esme me pegou em um abraço no instante em que subi o último degrau da entrada — Está muito magro, precisa se alimentar melhor, vamos resolver isso já! Venham, entrem.

Nos acomodamos nos quartos - o meu ainda estava igual há três anos - e descemos para o almoço. Notei uma porta fechada no corredor, no quarto onde costumava ser um escritório de Esme, mas fui distraído pelo cheiro inconfundível da sopa de tomate lá embaixo. Meu estômago roncou quando vi a panela no meio da mesa, uma das minhas comidas preferidas.

— Eu fiz sanduíches de queijo para acompanhar a sopa, estão aquecendo no forno agora. Espero que gostem do almoço, costumava ser o favorito do Edward nos dias frios — Esme me deu um beijo no cabelo e eu sorri.

Eu amava aquela casa, especialmente porque tinha lembranças muito boas com os dois e com a minha mãe aqui - e nenhuma delas tinha meu pai, ele sempre estava muito ocupado trabalhando. Brincar na piscina aquecida, correr pelo gramado, fazer piqueniques debaixo da sombra das árvores, assistir filmes no sofá enorme num dia frio ou só dormir na cama de casal, que parecia muito grande naquela época, com a minha mãe.

Minha sensação agora era a de quem finalmente volta para onde pertence, depois de uma longa viagem. Eu estava em casa, mesmo. Era ali que eu pertencia. Naquela casa, naquela cidade. E, muito em breve, com todas as pessoas que amava reunidas.

Carlisle chegou do trabalho algumas horas depois, pouco antes do final da tarde. Ele tinha uma expressão cansada, me abraçou e perguntou sobre a viagem e meu trabalho em Londres. Expliquei que planejava ficar por um tempo, tinha coisas a resolver.

Nós nos demos as condolências, mas era uma situação estranha. Eu perdi o pai, que nunca de fato fez esse papel, e ele perdeu o irmão, que há muito havia decidido não manter essa relação. Eu queria que tudo fosse diferente e ele fosse meu pai, não meu tio. Eu adoraria ter vindo de uma família com duas mães e um pai, se esse pai fosse Carlisle.

— Eu estive pensando em todo o caminho até aqui… Vocês sabem algo sobre Bella? — finalmente pude perguntar, quando ficamos os três sozinhos na varanda.

Meus tios se olharam em silêncio por um momento, tensos. Eu sabia que havia algo aqui, mas não conseguia entender ainda.

— Não acho que cabe a nós contarmos, essa é a história dela. O que podemos dizer é que agora ela está bem — foi Esme quem respondeu.

— Agora? O que aconteceu antes? — eu estava bem curioso.

Percebi que os dois estavam pensando muito antes de falar. Era alguma coisa séria, e todos os pensamentos de mais cedo voltaram para a minha mente. Ela tinha adoecido?

— Edward, você realmente não sabe? — ela devolveu com outra pergunta.

Neguei com a cabeça. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. O que eu deveria saber?

— Meu Deus do céu! — a expressão de Esme passou de calma para puro choque e ela se levantou, caminhando de um lado para o outro com as mãos na cabeça — Acho que eu preciso de uma água. Carlisle, venha comigo. Você, fique aqui e não se mova — apontou para mim.

As coisas aconteceram muito rápido. Em um segundo os dois passaram pela porta e eu fiquei sozinho na varanda. Eu conseguia ouvir as vozes dentro da casa, mas não entendia o que eles estavam falando. A ansiedade de mais cedo estava querendo voltar e eu tentei empurrá-la de volta.

Milhões de possibilidades passavam na minha cabeça enquanto os dois não voltavam, mas nenhuma parecia fazer sentido. O que poderia ser tão grave que causou aquela reação?