A cela é fria, com paredes grossas de pedra que ecoam cada som. A Luz das tochas é fraca e lança sombras oscilantes ao redor. Tauriel, sentada contra a parede, ergue o olhar quando uma sombra diferente se aproxima, é Thranduil em mais uma visita, sua postura é altiva em todo seu esplendor, mas seus olhos revelam um interesse intrigado misturado com desaprovação, e a tensão é palpável entre eles.
Ele se aproxima da cela e ela se levanta lentamente, observando cada movimento dele, deixa-o se aproximar pois vê pendurado em seu peito a chance de escapar ou pelo menos morrer tentando. Ela é uma lutadora, não uma párea.
Ele acompanha seu olhar intrigado e logo uma luz de compreensão passa por seu rosto forçando-o a abrir um sorriso malicioso.
"Vejo que o seu tempo aqui não temperou teu espírito de fogo, Tauriel. Suponho que o confinamento não amenizou teus impulsos rebeldes?" – Ele arqueia uma sobrancelha irônico tamborilando em sua mão a chave que está pendurada em seu peito como um amuleto de algo precioso.
"Hunff, uma cela pode conter meu corpo, Thranduil, mas nunca meu espírito. Alguma vez pensaste que teu confinamento poderia quebrar quem sou?" – Diz ela em tom calmo, mas desafiador.
Inclinando-se contra a parede de forma casual Thranduil a encara debochado – "Talvez não te quebre, mas serve como um lembrete de onde a insubordinação te levou. Preferias estar lá fora, vagueando sem rumo, ou teria feito algo diferente nesta floresta que tanto desprezas agora?"
Sem hesitar um só momento Tauriel o encara de volta – "Não desprezo nossa terra, mas, sim, suas correntes. Talvez façam parte de ti mais do que do reino que clamas proteger."
Como um grande felino contrariado e perigoso, Thranduil se aproxima das grades em um piscar de olhos agarrando Tauriel pelos cotovelos e pressionando ela contra as grades frias. Seu hálito quente a centímetros do rosto dela, fazendo cócegas em seu rosto e pescoço, causando arrepios na nuca da Elleth.
"Cuidado com a língua, pequena elfa." – Ele provoca sorrindo como um predador em tom provocativo – "Não estás em posição de desafiar-me, contudo, admito que tua voz continua a ressoar com obstinação... e certo desafio."
Thranduil se pega fascinado e intrigado, Tauriel nunca o deixa de surpreender.
Ela para de tentar recuar e o olha fixamente – "Se buscas submeter-me por palavras, fracassarás. Nunca te desejei mal, Thranduil, este é um jogo que preferias não ter começado."
Ele a puxa mais próximo então, sua boca muito próxima de seu rosto, ela franze a testa e sem querer ou poder, não tira os olhos da boca dele. Então Thranduil ri suavemente, mas com um toque de seriedade – "Não começo jogos que não posso vencer, Tauriel. Apenas algo para considerares durante teu tempo na sombra..."
E com essas palavras, Thranduil se afasta, sua capa vermelha como sangue com fios dourados ondulando atrás dele, deixando Tauriel na penumbra da cela, uma chama de determinação ainda brilhando em seus olhos enquanto observa sua silhueta desaparecer na escuridão.
Mais tarde...
Tauriel está sentada em sua cela, um pequeno feixe de luz entra por uma estreita passagem. Ela ouve um barulho baixo e sente um cheiro de cedro, musgo, ervas e uvas (vinho?), um cheiro característico que está cravado em seu subconsciente, causando arrepios e um calor em seu estômago que ela não sabe bem como isso surge, mas que evoca memórias de uma pessoa específica, dele, somente ele... Ela começa a distinguir em meio às sombras olhos azuis gelados e profundos seguindo cada movimento.
Seus olhos verdes começam a se acostumar à penumbra daquele canto e pode agora observá-lo encostado casualmente na parede, um pé apoiando e uma taça de Dorwinion na mão, a garrafa a seus pés. Então ele se aproxima, seu rosto impassível, mas os olhos revelam um turbilhão de emoções. Quanto tempo ele a esteve observando?
"Vais me manter aqui indefinidamente, meu senhor?" – Ela ergue o olhar desafiadoramente.
Ele desencosta da parede e segue na direção dela, seu olhar exalando frieza – "Desobedeceste às minhas ordens e pões em risco o nosso povo. O que esperava?"
Ela o encara com amargura em seu tom – "Fiz o que achei certo! Enquanto você se escondia atrás dos muros do Reino da Floresta, outros sofriam e morriam."
"Imprudência não é a mesma coisa que coragem, Tauriel." – Ele endurece o tom – "Teu ato não trouxe mais do que dor para ti mesma. E esqueces que foste eu quem te acolheu, quem te treinou." – Havia amargura em sua voz – "Esta traição não é apenas contra meu reino, mas contra mim."
"A traição, senhor, foi virar as costas ao mundo exterior por medo de novas perdas. Vi a dor em teus olhos pelas tuas próprias cicatrizes, mas não permitirei que o medo dite minha vida." – Ela diz ferida, mas sincera com olhos marejados de saudade e determinação.
Ele se aproxima mais, seu olhar cru, de um jeito que ela nunca viu antes. O rei por alguns momentos baixou suas barreiras, mostrando seu Fëa a ela de uma forma que nunca fez antes. Isso desarmou totalmente a Elleth. Ela nunca antes havia visto Thranduil descer totalmente de sua majestade como agora, de forma até mesmo... vulnerável. Ela o olhou incrédula e sem ação.
Ele ergue a mão através das grades roçando de leve o dedo indicador na bochecha dela, um toque inesperado por ela e que envia eletricidade em seu corpo. Thranduil sempre evitara toques e desde que a prendeu, de repente ele já havia tocado nela duas vezes. Isso era tão inesperado, 600 anos pra finalmente sentir isso dentro de uma cela fria e escura...
"Não fale do que não sabe." – A raiva dá lugar a uma sombra de tristeza – "A perda é um fardo que se carrega sozinho. É fácil julgar quando não carregas sua dor na própria pele."
"Não julgo tua dor, Thranduil." – Ela suaviza, mas convicta – "Apenas não quero repetir os mesmos erros. Precisamos estar presentes, precisamos lutar, não apenas para nós mesmos, mas por todos. E esqueces que tenho minhas próprias perdas e que estes últimos tempos só serviram para abrir velhas feridas e criar uma nova. Não foi só Kili, esqueceste por que me acolheu em tua Corte?"
"Não, não me esqueci." – Ele baixa o olhar com as lembranças – "E apesar de tudo não me arrependo de nada. Foste uma boa aprendiz, uma ótima Capitã, uma boa amiga para meu filho e por muitas vezes fez meu coração se lembrar de como bater."
Essa última declaração deixou Tauriel um pouco confusa e sem jeito. Pois o rei, há séculos, quando a resgatou e a acalentou em sua Corte quando ainda era uma pequena Elleth, não foi o mesmo nos anos seguintes quando terminou seu treino depois que ela pedira para entrar na guarda, inspirada a não deixar mais ninguém passar pelo que ela passou quando era apenas uma jovem criança. Após seus anos de treinamento privado, Thranduil a afastou e começou a acompanhar sua carreira à distância. E apesar de ele ainda a favorecer como se faria a alguém por quem se importa, ele evitou qualquer contato próximo novamente. Apenas o necessário e isso a confundiu na época, mas com o tempo ambos tinham suas armaduras como algo comum e rotineiro. Mesmo que ainda suas interações fossem um pouco incomuns para um rei e uma "mera" capitã.
Por isso, saber que ele ainda se importava com ela era no mínimo inesperado, apesar de ser visível para quem visse de fora. Embora agora ele a punia tirando sua liberdade.
A mão dele ainda serpenteava pela bochecha dela parando em seu queixo enquanto ele agarrava a barra fria com a outra, como se quisesse segurar algum impulso.
"Porque voltaste? Poderia ter continuado longe." – Diz suavemente olhando azuis nos verdes mel.
"Porque a ameaça que vi nos olhos dos inimigos não terminou naquela batalha. E... porque este é meu lar, apesar de tudo." – Ela diz calma.
Com um calor no olhar Thranduil continua segurando o rosto dela, e ela, sem entender o porquê, não sente vontade de se livrar de seu toque. – "Sempre foste intransigente. Mas há verdade em tuas palavras, uma verdade que relutei em aceitar."
Tauriel se aproxima dele agora também segurando as barras, próxima o bastante para que ele sinta seu cheiro de flores silvestres, musgo e madeira nova, com um cheiro que era só dela, um misto de natureza indomada e beleza feroz. – "Eu nunca quis ser tua inimiga. A dor da perda nos une mais do que gostaria de admitir."
Ele fecha ainda mais o espaço entre eles, então a mão dele sobrepõe a dela por cima da barra de metal, sem controlar seu corpo e sem saber exatamente o que esperar, Tauriel fecha os olhos, sua respiração acelerando. Ela pode sentir a respiração dele acelerar também e seu hálito de Dorwinion permeia o ar entre eles. O que está havendo? Isso é certo? Por que não me afasto? São alguns dos pensamentos que rodam na cabeça dela naqueles segundos.
Mas então a respiração dele se esvai somente para ela abrir os olhos e vê-lo se afastar sem uma palavra. Thranduil depois de tanto tempo ainda não cederia, o controle sempre foi e ainda deveria ser dele. Isso era para ser uma punição, e não a prova que no fundo, quem tinha o controle era ela. Sempre foi ela.
Ele some escadaria acima para as alas mais altas do reino deixando uma Tauriel confusa e desconcertada para trás.
Notas:
Olá! Espero que gostem de mais esse capítulo, como prometi, é mais comprido rsrs
As coisas estão tensas... coisas ditas e não ditas... e o pobre Tauriel ainda presa.
Aguardando ansiosamente a opção de vocês
