Capítulo 4: O despertar dos anjos
No cair da noite, Mu, Kanon, Dohko a Afrodite reuniram-se na porta do templo. O libriano repassou o plano.
- Mu e Afrodite ficarão aqui fora. Apenas rondem o templo e não se distanciem muito. Eu ficarei no primeiro andar e Kanon na porta dos aposentos de Atena. Qualquer sombra de perigo dêem o alerta.
- Entendido. - Dite disse por todos.
Depois de certificar que Kamus e Miro estavam bem, Atena recolheu-se.
- Boa noite Kanon.
- Boa noite senhorita.
Entrou. Estava cansada e angustiada. Três cavaleiros tinham se ferido numa batalha contra um inimigo oculto. Deixou o corpo descansar num divã próximo a janela. A lua brilhava.
- Quem é o nosso inimigo... - murmurou.
Seu coração de deusa indicava que uma terrível batalha se aproximava e que novamente seus cavaleiros estariam na linha de frente. Felizmente Seiya e os demais seriam levados para o Japão o que lhe dava um pouco de tranquilidade, já que, se algo desse errado, ainda os teria para proteger a Terra.
- Que Niké nos guie.
Passou a mão pela testa sentindo uma forte ardência. Foi até o espelho que tinha no quarto, fitando-se. Não havia nada.
- Que estranho...
Balançou a cabeça indo se deitar. O dia seguinte seria cheio.
No primeiro andar, Shion e Dohko estavam na sala de reuniões debruçados sobre os mapas.
- Mestre. - era Shiryu acompanhado por Ikki.
- Já prepararam tudo? - indagou Shion. - Atena quer que vocês partam logo pela manhã.
- Na iminência de uma guerra e Atena quer nos mandar para o Japão. - reclamou Ikki. - seríamos mais úteis aqui.
- Ela quer preservá-los. - disse Dohko. - e precisamos de um ponto de apoio. Não sabemos o que estamos enfrentando.
- Não desconfiam de ninguém?
- Não Shiryu. Enquanto um deles não despertar não saberemos quem nos atacou.
- Seiya continua do mesmo jeito. - o cavaleiro de Fênix cruzou os braços sobre o peito. - os médicos disseram que ele pode demorar acordar.
- É difícil de acreditar que alguém derrotou o Seiya com um único ataque. - o ariano afrouxou um pouco sua túnica. Estava cansado.
- Vá descansar Shion. - disse Dohko. - amanhã precisará está inteiro.
- Ele está certo senhor Shion. - Shiryu o fitou. - nós ficaremos aqui para ajudar.
Shion relutou um pouco, mas realmente estava cansado. Rendeu-se aos apelos dos outros e recolheu-se.
- Vou ajudar Afrodite e o Mu. - Ikki saiu do recinto.
Ao se verem sozinhos...
- Realmente não imagina quem seja, mestre?
- Não. O Olimpo é o primeiro lugar a se pensar, mas depois do surgimento de Loki... pode ser qualquer deus.
- Nós iremos vencer. Como sempre vencemos.
- Sábias palavras. - Dohko tocou no ombro do discípulo. - eu te diria para dormir, mas sei que não vai me obedecer, então pode ficar no andar de Shion. Ele também é muito importante para nós.
- Claro.
- Obrigado.
O libriano recolheu os mapas e os guardou no armário do lemuriano. O brilho da lua o fez fitar o céu.
- Os ataques foram só o começo...
Colocou o elmo da armadura e foi assumir seu posto.
Depois da suspensão da vigília, por Shion, alguns cavaleiros descansavam. Cavaleiros sem uma boa noite de sono poderiam prejudicar no momento da batalha.
Mas não era isso que estava acontecendo em algumas casas. Aioria, novamente, sonhava com o ferimento no peito por uma espada.
Shion, teve praticamente o mesmo sonho de Mu, mas ao contrário do ariano mais novo, viu Lemuria, sendo tomada por água.
O único sonho que parecia diferente era o de Shura. O cavaleiro revirava na cama, com o corpo coberto de suor...
Estava numa sala escura e no centro dela.
- Que lugar é esse...?
- Assassino...
- Quem está aí? - olhou para os lados.
Ele passou a ver três cadeiras que pareciam tronos num canto da sala. Havia outras cadeiras, mas menos imponentes que as três. Viu que todas estavam ocupadas por pessoas as quais não tinham forma definida e nem rosto.
- O que são vocês?
- É um traidor... traidor...
- Eu não fiz nada! - gritou assustado. - do que me acusam?
- Será duramente punido. - uma das pessoas que estavam no trono estava de pé.
- O que eu fiz? - Shura sentia uma energia hostil vinda dele.
- Será punido por matar um enviado do céu. Um protetor de uma figura divina...
- Eu?! Mas...
Quando ia retrucar, Shura lembrou-se da conversa tida com Aiolos. Era da morte dele que aquelas pessoas o acusavam. De certo eram os deuses.
- Ele me perdoou... - sentiu medo.
- Não perdoou, assim como nós.
- Morra humano.
O cavaleiro sentiu uma grande quantidade de energia vindo na direção dele.
- Não!
Shura deu um salto da cama. Olhou para o corpo vendo que não estava ferido.
- O que... - a respiração estava acelerada. - um sonho? - passou a mão de forma nervosa pelo cabelo.
Levantou e foi até a cozinha beber um copo de água para se acalmar, o que não adiantou muito. Sem se preocupar, abriu o armário e colocou uma pequena dose de uísque, virando o copo de uma vez.
- Foi só um sonho.
Disse para si mesmo, mas não muito convicto. A bebida ajudou a relaxar, mas ainda demorou um bom tempo para voltar a dormir.
Ao contrário do dia anterior, Athenas amanheceu encoberta. O céu estava escuro indicando que uma tempestade se aproximava. Muitos já estavam de pé desde as primeiras horas da manhã. Antes de partir para o Japão, Hyoga foi ver como seu mestre estava. O jatinho da fundação partiu uma hora depois levando Seiya e os demais para o oriente. Shion havia pedido que Saga, Aldebaran, Aioria e Aiolos substituíssem os cavaleiros do turno da noite para que eles pudessem descansar. Em seu escritório conversava com Kiki, pelo telefone, para informar que os cavaleiros de bronze já se dirigiam para o Japão.
- Está me ouvindo Kiki?! – quase gritou no telefone, pois o pequeno parecia dormir do outro lado.
- Sim Mestre...
- Você passou a noite acordado?
- Eu tive pesadelos... não dormi bem.
- Que pesadelos...? – interessou-se.
Kiki começou a narrar os sonhos para ele e a medida que escutava o rosto ficava mais tenso. Era evidente que aquele sonho tinha um significado.
- Não se preocupe Kiki, foi só um pesadelo. Descanse então.
Nem precisou Shion repetir, rapidamente Kiki o despachou. O grande Mestre não se importou.
- Por que desses sonhos...?
- Shion. – Dohko abriu a porta. – Atena quer uma reunião.
Na enfermaria...
Miro acordou sentindo o corpo todo doer. Com dificuldades sentou na cama, olhando para si. Estava usando apenas uma calça pois o tronco estava coberto por ataduras. Havia faixas nos braços e na testa.
- Parece que um trator passou por cima de mim.
Olhou para a cama ao lado.
- Kamus?
Foi até o amigo.
- Kamus.
O aquariano abriu os olhos lentamente. Não estava melhor que Miro.
- Tudo dói. - comentou sentando.
- Eu não me sentia assim desde que enfrentei Radamanthys. Aquelas coisas são fortes.
- Precisamos contar a Atena.
- Contar que seres com asas nos atacaram? - Miro o fitou incrédulo. - vão achar que estamos doidos por causa da pancada.
- Achando ou não foi isso que aconteceu. Vamos.
Atena tinha começado a reunião a pouco tempo. Os que tiveram sonhos na noite não contaram nada, principalmente Shura que olhava discretamente para Aiolos.
Ao sentirem dois cosmos conhecidos, olharam para a porta.
- Não deveriam ter levantado. - Atena foi ao encontro deles.
- Ainda podemos lutar Atena. - disse Miro. - estamos bem.
- Vê-los de pé tira um peso das minhas costas. - falou Shion. - pensei que ficariam como Seiya.
- Felizmente não estávamos tão relaxados como Seiya estava. Agora sabemos que ele não teve chance de reação.
- Sentem e conte-nos o que aconteceu.
Depois de serem cumprimentados pelos amigos, Kamus e Miro sentaram onde tinham a visão de todos.
- Estávamos na floresta, quando sentimentos uma presença hostil, - iniciou o francês. - primeiro apareceu um homem e depois de atacar Miro apareceu outro. Jeliel foi o primeiro a aparecer e foi ele quem atacou o Seiya. O outro se chama Elemiah.
- Como eles entraram? - indagou Saga.
- Eles podem transpassar nossa barreira e criar outra. - Kamus continuou. - esse tal de Elemiah criou uma ao nosso redor o que impediu que vocês sentissem nossos cosmos.
- Em momento algum conseguimos sentir o cosmos deles, apenas presenças. - Miro falou. - é como se não tivessem, mas são muito fortes. Eu atingi um deles com as minhas agulhas. Elas atravessaram o corpo dele pois trajava uma roupa comum e ele se regenerou na minha frente! Era como se eu nem tivesse acertado-o.
- E o que eles querem?
- Não nos disseram.
- Eu nunca ouvi deuses com nomes assim... - murmurou Atena pensativa.
Kamus e Miro trocaram olhares, o que não passou despercebido a Shaka.
- O que eles são na verdade? - indagou.
- Atena, Mestre Shion... - Miro fez uma pausa. - eles tinham asas.
- O QUE?! - bradou todos.
- A pancada na cabeça foi forte. - brincou Deba. - asas?
- Eu vi muito bem Aldebaran. - a voz de Kamus saiu fria. - eles tinham asas.
- E portavam espadas. - concluiu Miro.
O salão ficou em silêncio. Subitamente Mu lembrou-se do sonho de Lemuria.
- Asas... - a voz de Atena perdeu-se no ambiente. Não conhecia nada que tivesse asas, exceto Pegaso, Niké e Hermes. - seguidores de Hermes...? - murmurou. - Não faz muito sentido...
- Sonhei novamente com o golpe de espada. - Aioria não sabia se era prudente e pertinente citar o sonho, mas...
A deusa franziu o cenho, eram sonhos recorrentes, então eles queriam mostrar alguma coisa. Shion ficou por um tempo calado.
- E eu tive o mesmo sonho que o Mu.
O ariano mais novo o fitou.
- A diferença foi que ao invés de fogo, o local foi invadido por água e também... conversei a pouco com o Kiki. Ele sonhou exatamente a mesma coisa só que com um furação.
- Até o Kiki?
- Sim Atena. Três sonhos idênticos.
- Alguém mais sonhou com algo? - indagou Atena.
Shura manteve-se em silêncio. Preferiu não contar sobre o julgamento que teve.
-Isso tudo pode estar interligado, Atena? - perguntou Afrodite. - e quem está por trás dos ataques pode ser o deus Hermes?
- Talvez Gustavv... Kanon, - fitou o marina. - sei que deve está cansado, mas poderia ir até Poseidon. Ele pode saber de algo.
- Vou agora mesmo.
- Possivelmente sendo o deus Hermes, - iniciou Shion. - saberemos com quem estamos lidando.
- Mestre, - Giovanni levantou a mão. - todos os inimigos que já enfrentamos usavam armaduras, por que esses não tem? Miro atingiu um deles a queima roupa.
A observação do canceriano fez todos entreolharem-se.
- Verdade... - murmurou o escorpião. - o tal de Jeliel usava um quimono e o outro parecia um roqueiro.
Atena silenciou. Todos os deuses dos Olimpo tinham seguidores que usavam proteções, Hermes seria exceção?
- Kanon parta agora, quero uma opinião de Poseidon antes de agir.
- Eu te levo. - Mu ofereceu-se. - será mais rápido.
Os dois partiram.
- Enquanto isso vamos manter o santuário em alerta. - disse Atena. - Miro e Kamus quero que descansem. Eu irei a Rodorio.
Escoltada por Afrodite, Atena foi até o vilarejo deixar os moradores a par do que estava acontecendo. Explicou a situação sem dar muitos detalhes e depois pediu uma conversa particular com o representante da vila. Foram para casa dele.
- É uma honra recebê-la aqui, Atena. - o senhor de setenta anos fez uma mesura.
- Gostaria de ter vindo num momento melhor.
- Como devemos proceder? Ela será nos moldes das batalhas anteriores?
- Infelizmente não sei senhor Hector. - disse com pesar. - e por isso que preciso que todos os moradores limitem a sair do vilarejo somente se for necessário e ao menor sinal de perigo irem para os abrigos. Deixarei um cavaleiro aqui para protegê-los e guiá-los.
- Espero que esses tempos difíceis passem logo.
- Eu também espero.
A porta abrindo interrompeu a conversa. Um homem de aproximadamente quarenta anos, não tinha prestado atenção que havia pessoas, colocando um saco pesado sobre uma mesa.
- Argus. - disse Hector.
O homem ergueu o rosto, ficando surpreso ao ver um cavaleiro, mas sua atenção foi totalmente tomada pela jovem de vestes simples entre eles. Era uma jovem muito bonita. Estava preso ao rosto dela que nem escutou Hector chamá-lo novamente.
- Desculpe… - aproximou sem graça.
O sueco estranhou o encantamento por parte do recém chegado, mas não disse nada. Atena também notou, mas não ficou incomodada, ao contrário, sentiu algo diferente.
- Senhorita Atena este é… - iniciou o ancião.
- Atena!? - Argus arregalou os olhos e já foi ajoelhando. - perdoe-me. Eu retornei poucos dias para cá e não a conhecia.
- Tudo bem senhor Argus. - sorriu.
- Não é daqui? - indagou Gustavv. Queria mais informações, pois algo lhe incomodava.
- Minha família e eu somos daqui, mas ainda na época que Shion era mestre, nós mudamos para o norte do país. Como meus pais faleceram e eu não tenho família, resolvi retornar. E quantas mudanças. - disse voltando a atenção para Atena. - o pequeno Aiolos se tornará o Mestre.
- Muita coisa aconteceu. - completou Hector.
Afrodite não fez mais perguntas. Por ter citado Shion e Aiolos, deu para perceber que ele era realmente de Rodorio.
Atena estava satisfeita, apesar dos momentos incertos que o santuário vivia, era gratificante ver seus moradores retornarem.
- Seja bem-vindo, senhor Argus.
- Obrigado senhorita, mas pode me chamar apenas pelo nome. Acho que não sou tão velho assim... - sorriu.
- Como quiser. - respondeu sorrindo. E realmente ele tinha expressão jovem e o que mais destacava eram os olhos verdes.
Atena deu mais detalhes da situação e depois retirou-se.
- Meus pais sempre me contaram sobre Atena. - disse o homem olhando para a porta. - e eu sempre ficava imaginando como ela seria. Ela é tão jovem e frágil.
- Mas já enfrentou muitos desafios. - tocou no ombro dele. - estamos protegidos. Vou reunir os demais.
Hector o deixou. Argus ainda ficou por algum tempo olhando a porta. Ele levou a mão por dentro da blusa, pegando um pequeno pingente em formato de espiral. Fora um presente da mãe.
- Finalmente estamos em casa mãe.
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Mu e Kanon aparecerem no cabo Shounion. O ariano pensou que o deus do mar estaria em seus domínios o que explicaria pararem naquele lugar deserto, mas achou estranho quando o marina tomou outro rumo. Entraram por uma mata que ficava atrás do templo em ruínas.
- Pensei que o caminho fosse outro. - comentou.
- Poseidon não está no templo submarino. Está na sua casa de verão. Nós só paramos lá por que é a única forma de alguém que possui cosmo chegar a Poseidon. Apenas humanos comuns podem entrar pela porta da frente da casa.
Andaram por mais cinco minutos até que o ariano deslumbrou uma imponente construção. Ela era protegida pela mata e pela praia.
- Não esperava uma visita tão cedo.
Os dois fitaram para onde provinha a voz.
- Era necessário Sorento.
- O senhor Poseidon os aguarda.
Sorento guiou-os por fora da mansão, levando-os até um pequeno bangalô que ficava na praia. O deus dos mares, estava sentado lendo algo.
- Senhor Poseidon. - Kanon fez uma reverência, assim como Mu.
- Sentem-se. - a voz saiu firme e grossa, indicando que era o deus que estava diante deles. - para virem até aqui, imagino que Atena esteja com problemas.
- Sim. - Kanon contou dos ataques. - ela desconfia se tratar de Hermes.
- Atena não pode ficar muito tempo sem guerra. - sorriu. - Ela perde a sagacidade. Não é Hermes.
- Não? - exclamou Mu. - desculpe.
- Não se preocupe cavaleiro de Áries. - sorriu. - Hermes não tem capacidade para liderar uma guerra contra Atena. Nem é de sua natureza. Ele é pacífico demais para isso.
- Pelas suas palavras desconfia quem seja. - observou Kanon.
- Desconfio, mas não afirmo que seja isso. Tirando Asgard e nós, não temos movimentos de outros panteões. A maioria dos cultos se perderam ao longo do tempo. Entre os próprios athenienses a crença em deuses está quase nula. Mas há um que cresce a cada dia.
Kanon, Mu e Sorento, que participava da conversa, fitaram-se.
- Há uma divindade que surgiu antes mesmo do Caos, mas ela nunca interferiu nas demais divindades que surgiram posteriormente, até por que ela está reclusa, desde o início dos tempos.
Os três ouviam atentamente.
- Mas mesmo estando reclusa, ela tem... - fez uma pausa, procurando as melhores palavras. - numa explicação simplista, cavaleiros. Eles têm tomado conta de tudo enquanto essa divindade está ausente. E a principal característica desse "cavaleiros" é possuírem asas.
- Mas senhor Poseidon... - iniciou Sorento. - alguém superior ao Caos? Ele não é o princípio de tudo?
- Princípio do nosso mundo grego. Assim como Brahma é o princípio do mundo Indu. Essa divindade é superior a isso. Nós, viemos depois.
- De quem se trata senhor Poseidon? - indagou Mu.
- Eu realmente espero que esteja errado... - murmurou fitando o mar. - mostrem esse livro para Atena. - entregou a Kanon. - ela saberá interpretar.
Kanon arqueou a sobrancelha ao olhar para capa, assim como Mu e Sorento.
- E rezem para que eu esteja totalmente errado, pois se for isso mesmo, nada vai pará-los.
Ainda sem entenderem muito, os dois cavaleiros agradeceram a ajuda. De volta ao cabo Shounion retornaram para o santuário.
O.o.O.o.O
A mata fechada conferia ao doente, um clima agradável e reconfortante. Estava no leito e apenas o rosto que dava movimento a aquele corpo. Os olhos negros fitavam o teto em ruínas.
A cerca de dois quilômetros de Rodorio, havia algumas casas, abandonadas pelos antigos moradores. Aquelas terras ainda pertenciam ao santuário, mas ninguém ia até elas. Aproveitando desse isolamento, duas pessoas desfrutavam do abrigo da pequena choupana no meio da mata.
O ranger da porta, chamou a atenção do doente que apenas virou os olhos.
- Desculpe a demora.
- Não demorou Cahethel. - a pessoa deitada sorriu.
- Trouxe água limpa.
- Os meus pressentimentos se comprovaram?
- Sim. Ambos rondam essas terras.
A pessoa fechou os olhos. Suas premonições estavam se confirmando. Em breve os três reinos entrariam em guerra.
O.o.O.o.O
Enquanto Kanon estava fora, Shura preferiu esperar do lado de fora do templo. O espanhol sentou nos degraus da entrada, escondendo a cabeça entre os joelhos. O sonho ainda o perseguia.
- Shura.
O cavaleiro ergueu o rosto imediatamente deparando com Saga, parado ao seu lado.
- Atena está chamando?
- Não. - sentou ao lado. - até Kanon voltar, não temos muito o que fazer. O que está acontecendo? - indagou logo de cara. - e não minta, eu te conheço.
Shura ficou em silêncio por alguns segundos, mas depois contou tudo a Saga.
- Foi tão real Saga...
- Foi apenas um sonho. - respondeu. - as vezes tenho pesadelos como esses. Não só com Aiolos mas também com Atena e Shion.
- No sonho disseram que ele não me perdoou. - fitou o geminiano. - e eu senti isso.
- Aiolos e Aioria não têm magoa sua.
- Será mesmo? Será que no fundo ainda não estão ressentidos e nem perceberam que ainda exista um resquício? Em Asgard, Aioria achava que não tinha, mas...
Saga silenciou. Às vezes tinha essa dúvida. Não por parte de Atena, mas pelos demais.
- O vaso depois de quebrado nunca mais é o mesmo. - disse. - se eles ainda guardam alguma coisa, mesmo que inconscientemente só podemos aceitar. - apertou o ombro dele. - e se tivermos alguma punição, aceitar de cabeça erguida.
Shura sorriu.
Minutos depois sentiram os cosmos de Kanon e Mu.
Mesmo com o pedido para descansarem Miro e Kamus quiseram participar da reunião.
- Então Kanon? - indagou Aiolos.
O marina caminhou até Atena, que estava sentada em seu trono.
- Poseidon pediu para entregar isso. - mostrou o objeto. - disse que entenderia.
A deusa pegou o livro, olhando para o marina sem compreender. Os demais cavaleiros também estranharam. Atena virou o livro, arregalando os olhos ao ler o título. Algumas coisas agora faziam sentido. Mas por que eles? E o que queriam?
- Atena. - Shion a chamou diante da palidez do rosto dela.
- O que mais que Poseidon disse? - fitou Kanon.
- Disse que se for isso, teremos problemas.
Era o que ela temia. Mas o que sabia, era que essa força estava reclusa e era deveras pacifista não interferindo em outros panteões.
- Poseidon sabe quem é o inimigo? - Miro estava impaciente diante do silêncio.
- Desconfia. - respondeu Kanon. - ele não tem certeza mas desconfia quem seja.
- Poseidon teve um bom palpite. - Atena levantou. - mas ainda é cedo para afirmar.
- Hermes? - perguntou Mask.
- Não. - ela desceu o degrau e entregou o livro a Shion. - indica que é eles.
Shion pegou o livro não acreditando muito quando leu o título. Aldebaran que estava perto arqueou a sobrancelha ao ler.
- Poseidon tem um livro desse? - Deba estranhou. - espera... - fitou Miro e Kamus. - eles tinham asas?
- Sim... - murmurou o francês notando o espanto do amigo.
- Anjos!? - Deba fitou Atena.
- Sim Aldebaran.
- Como assim Atena? - Aioria entrou no meio. - foram anjos que nos atacaram? Mas eles não existem!
- Está querendo dizer que foram anjos? - Mask fitava-os. - mas é absurdo.
- Não é. - disse Atena. - eles existem e se encaixam na descrição.
- Mas se forem eles mesmos o que querem? - indagou Saga.
- Não dá para saber ainda. - respondeu Atena. - são suposições e também não podemos descartar as outras hipóteses.
- E o que devemos fazer?
- Vamos seguir com o plano original, Afrodite. Mesmo não sendo os anjos, temos que ficar atentos. Shion e Aiolos venham comigo. Kamus e Miro descansem, seus ferimentos são graves e os demais dispensados. Quero vigilância máxima.
Os três foram para o escritório.
Atena deixou o corpo cair na cadeira. Os olhos verdes estavam perdidos no livro de capa marrom. Sabia muito pouco sobre eles: apenas que eram muitos e subordinados a uma única pessoa.
Aiolos sentado de frente a ela, também olhava fixamente para o livro sagrado. Era inevitável não se lembrar dos pais. Mesmo morando nos arredores de Rodorio, eles professavam o conteúdo daquele livro em detrimento a fé dos primeiros athenienses.
- O que sabemos sobre eles, Shion? - a voz de Atena quebrou o silêncio.
- Muito pouco Atena. - a voz do grande Mestre saiu pesada. - por não participarem de outros panteões e nunca se manifestarem abertamente, não temos muitas informações. Vou precisar investigar.
- Faça isso. Vamos reunir o maior número de informações antes de tomarmos qualquer decisão.
- E se forem eles mesmos Atena?
- Torcer para que tudo seja um grande mal entendido, Aiolos.
O restante dos dourados estavam na porta do templo.
- Poseidon deve está caducando. - disse Mask. - essa coisa de anjo não existe!
- Então os caras que atacaram Miro e Kamus estavam de cosplay? - Dite o fitou com sarcasmo.
- É absurdo. - completou.
- Mas faz sentido. - disse Shura. - nunca vimos algum protetor de deuses com asas.
- Mas o que eles querem? - a voz de Mu preencheu o ambiente.
- Nos atacaram por duas vezes. - Dohko falou. - boas intenções é que não é.
- É um inimigo o qual não conhecemos. - disse Shaka, falando pela primeira vez. - eu pelo menos nunca ouvi falar deles. Pelo menos nessa concepção.
Aioria notou o silêncio de Aldebaran. O taurino estava calado há muito tempo.
- O que foi Deba?
- O grande problema que estamos nos metendo.
- Como assim? - indagou Saga.
- É algo completamente diferente do que estamos acostumados. - fitou a todos. - entraram sem despertar suspeitas e são fortes a ponto de preocupar Poseidon. Não será um inimigo comum.
A observação do taurino preocupou a todos.
O.o.O.o.O
Já tinha algumas horas que Mikael estava recluso num cômodo. Fazia séculos que não entrava ali. Os olhos vermelhos fitavam a grande pintura que cobria a parede da sala. Nela estava representado os cinco arcanjos quando eram jovens. Uziel e Raphaelle estavam a esquerda e com o fundo representando as cores azul e branca. A direita estavam Mikael e Lucy com o fundo vermelho e amarelo e ao centro Gabrian com a cor verde.
O arcanjo do Fogo mirou o retrato de Gabrian. O primeiro anjo a ser criado e o mais forte de todos, morto na batalha em Aurien.
- Era seu destino... - a voz saiu baixa. - morrer por um bem maior...
A porta em madeira branca abriu lentamente. A passos lentos Uziel parou ao lado do irmão.
- Há séculos que não entrava aqui.
- Às vezes o passado nos persegue. - disse sem se virar. - lembra de quando foi pintada?
- Você quase incendiou a sala. - abafou o sorriso.
- Por que Lucy teve que estragar tudo? Por que, por causa da sua ambição, Gabrian teve que morrer?
Uziel ficou surpreso com as palavras.
- Era o destino dele. Gabrian sempre quis manter Abisko longe de Lucy. E por falar nele, não acha que está muito quieto?
- Lucy não tem força para lutar contra nós. - a voz saiu fria. - e ele sabe qual o lugar dele. Tentar interferir nos nossos planos é descer ainda mais baixo.
- Podemos ficar despreocupados?
- Sim. Prepare nossos generais. - fitou o retrato de Gabrian. - Está na hora da humana temer os arcanjos.
O.o.O.o.O
Sentado em seu trono, Lucy viu as peças douradas do xadrez se mexerem. Sorriu.
- Azazel.
- Sim.
- Chame Gadrel e Kesabel. Iremos a Ninkai.
Azazel acenou positivamente e sumiu. Lucy voltou a atenção para o tabuleiro de xadrez, as peças douradas moviam-se em direção as peças marrons.
- Que comece a guerra.
O.o.O.o.O
Os generais de Tenkai estavam na arena quando receberam o chamado de Raphaelle. Rapidamente apresentaram-se diante dos três Grandes.
- Espero que estejam preparados, pois a hora chegou. - disse Mikael. - vamos mostrar a aqueles humanos que não podem fazer nada contra a vontade divina. Está na hora também de Raziel voltar ao nosso convívio.
- Iremos dizimar o santuário? - indagou Jeliel.
- Ainda não. Vamos apenas nos apresentar de forma cortez. Preparem os portões, vamos descer a Ninkai.
Os generais foram se preparar.
- Finalmente! - Sitael brincava com sua espada. - pensei que viveria eternamente sem lutar.
- Acalma-se Sit. - disse Maha. - será apenas uma demonstração de força.
- Confesse que está tão animado quanto o pirralho. - falou Elemiah. - está morrendo de saudades de Raziel
- É o meu companheiro de batalhas e vê-lo andando em meio aos humanos é humilhante.
- Em breve o sofrimento dele vai acabar Maha. - Dianeirah tocou no ombro dele. - Raziel voltará para nós.
Jeliel apenas ouvia a conversa. Mataria todos os humanos e se Raziel estivesse no meio não iria se importar.
O.o.O.o.O
Revelação olhava as inscrições abaixo de si brilharem. O momento que os três reinos entrariam em guerra estava próximo. Por conta da ambição, Mikael levaria destruição a todos.
- Gabrian... você era o único que poderia detê-los, mas... - abaixou o rosto. - que os cavaleiros de Atena tenham sorte...
O.o.O.o.O
Shion e Aiolos estavam debruçados sobre os livros. Toda informação que conseguissem seria vital. O sagitariano folheava um livro, mas não prestava atenção. Desde que Kanon mostrara aquele livro não parava de pensar nos pais.
- Aiolos!
O grego levou um susto.
- Desculpe Mestre... estava distraído.
- Percebi. - o olhou fixamente. - descobriu alguma coisa?
- Não...e também não consigo achar uma razão para eles nos atacarem.
O grande Mestre fechou seu livro. Se fosse um deus grego poderia deduzir que eles queriam a Terra ou algo que ajudasse na conquista, mas de um panteão desconhecido poderiam querer qualquer coisa.
- Talvez o único que possa nos ajudar é o Aldebaran, ou qualquer um que tenha nascido num país com essa crença.
- Tem razão. - Shion levantou. - Miro e Kamus ainda estão se recuperando, então peça a todos que nos encontre no quarto deles. Irei chamar Atena.
Por cosmo Aiolos chamou os companheiros. Os que moravam no começo da montanha estavam em Leão quando receberam o chamado. Shion apenas esperou Atena acomodar-se num pequeno sofá para começar.
- Vou direto ao ponto. Aldebaran antes de vir para nós você professava esse culto? O que pode nos dizer?
Aldebaran pensou por alguns instantes antes de falar:
- Anjos fazem a ponte entre os humanos e os céus. São incumbidos de trazer mensagens divinas a nós. São seres divinos, que podem assumir aparência feminina ou masculina mas sem sexo definido. São seres puros que desejam o bem da humanidade e a protegem.
- Acreditava na existência deles? - indagou Aiolos.
- Não na concepção pura, com asas e tudo mais, mas depois de ontem... nas primeiras tradições diziam que eram seres alados e cada um tinha uma função e uma hierarquia.
- Antes de vir para o santuário eu não acreditava que existiam deuses gregos. - Kamus comentou. - só neles.
- E estão aqui a mando de... - Shura nem terminou a frase. Escutou na mente a voz da mãe dizendo "sacrilégio".
- É isso que não encaixa. - disse Atena. - se são portadores de mensagens divinas e de alma pura por que nos atacariam?
- Podem nos considerar hereges. - disse Shura. - no passado a crença em outros deuses, para eles, era considerada heresia.
- Tudo ainda está muito nebuloso... - murmurou Shion. - e... devemos esperar um novo confronto. Enquanto eles não se mostrarem efetivamente não temos como deduzir nada.
- E vamos esperá-los nos atacarem?
- É o que nos resta. Shaka, Mask e Aiolos fiquem no templo. Os demais sigam para suas casas e mantêm a vigilância.
Como medida de segurança, Shion achou melhor que um cavaleiro fosse para Rodoria, caso algo acontecesse. Afrodite foi escalado para a missão.
Atena em seu trono trazia o semblante fechado, pois sua intuição dizia que algo aconteceria em breve. Para resguardar a vida dos feridos, Mask ficaria no quarto, enquanto Shaka e Aiolos ficariam do lado de fora do templo.
O grego estava sentado nas escadas, fitando o céu.
- Minha mãe contava histórias sobre anjos e eu sempre gostava de escutá-las. Quando ela morreu uma parte disso foi com ela.
- Eu também ouvia essas histórias, mas nunca acreditei nelas. - disse Shaka. - Não condizem com o budismo. Acreditava neles?
- Gostava mais de vê-la contar do que propriamente acreditar nas histórias. Sempre achei que esses contos eram superficiais e que existia mais coisa por trás.
- Se sua mãe ouvisse você falar assim ficaria assustada. - sorriu.
- Ela ficava, quando às vezes eu dizia que não queria ser um anjo. - gargalhou.
- Fatos passados senhor grande Mestre.
- Não me chame assim. - ralhou. - eu ainda não o sou. Ainda sou o cavaleiro de Sagitário.
- Será um bom Mestre, Rambo. - apontou para a faixa.
Aiolos ficou surpreso com a referência. Shaka não era de fazer piada.
- Mesmo com o passar do tempo isso não fica velho e nem desbota. - tirou a faixa vermelha da testa. - meu pai me deu quando eu era uma crianç minha recordação dele.
- Aioria não ficou com ciúme?
- Não. Nunca importou. Nunca tivemos ciúmes um do outro.
- Diferente de outros irmãos. Vivem em pé de guerra até hoje.
- Verdade.
Sorriram.
A barreira que protegia o santuário emitiu um brilho fraco, praticamente imperceptível aos olhares, contudo o brilho ficou mais intenso e de repente sobre o relógio de fogo apareceu um círculo dourado. Todo o santuario sentiu.
- Estão aqui. - disse Atena segurando seu báculo.
Shaka olhava incrédulo para o local, enquanto Aiolos olhava para o círculo dourado. Seus olhos brilharam em dourados por alguns segundos.
- Aiolos, Shaka! - gritou Mask, aparecendo na porta. - precisamos proteger Atena.
- Vamos entrar. - disse o indiano com a expressão fechada. - eles virão até aqui. Vamos Aiolos.
O grego teve que ser chamado várias vezes antes de seguir com eles. Das dozes casas, os cavaleiros olhavam para o círculo, assim como Afrodite, na vila.
- Vão para o abrigo! - gritou para os moradores. - seremos atacados.
- "Atenção todos os cavaleiros.- Shion, da sala do trono comunicava-se por telepatia. - venham imediatamente para o templo."
O grande Mestre desconfiava que eles não perderiam tempo em subir as doze casas, já que não conseguia sentir o cosmo deles, apenas a presença.
Os primeiros a saírem do círculo foram três generais, em seguida os três arcanjos.
- Então é aqui que vive a humana. - Mikael sorriu. - não é tão ruim quanto pensei.
- Estão reunidos na construção principal. - disse Uziel.
- Vamos. E sem batalhas. - disse aos generais. - nosso intuito é apenas nos apresentar.
Da janela do templo, Miro e Kamus olhavam o objeto.
- Sentem o cosmo deles? - indagou o grego.
- Não. Apenas a presença... vamos nos unir aos outros.
Kanon e Shion estavam na guarda pessoal de Atena enquanto os demais estavam na porta do templo, trajados com suas armaduras.
- Já perceberam que são muitos, mas que não sentimos o cosmo deles, - disse Dohko. - tomem muito cuidado.
Concordaram.
Segundos depois que o círculo apareceu, uma luz dourada materializou no pátio do templo. A luz foi tomando forma e os cavaleiros puderam ver seis pessoas. Não sentiam cosmo vindo delas, mas só a presença era intimidadora.
Não usavam armaduras, tendo a maioria, o corpo coberto por vestes normais.
Mesmo aparentando delicadeza, os santos de Atena ficaram impressionados, não seriam inimigos comuns. Bom observador, Saga percebeu que os três que tinham mais asas deveriam ser os de maior poder.
- Foram eles que nos atacaram. - Miro apontou para Elemiah e Jeliel.
- Que curioso... estão vivos. - brincou Jeliel. - suas vestimentas douradas servem para alguma coisa.
- Quem são vocês? - a voz de Dohko cortou-os.
- Seres superiores a vocês. - respondeu Mikael. - não passam de simples capachos da humana.
- O que? - Aioria cerrou o punho.
- Não temos tempo a perder. - disse Uziel. - onde está Atena?
- Terá que nos derrotar primeiro. - Shura deu um passo a frente.
- Temos um insolente... - sorriu Raphaelle. - Jeliel.
Shura e os demais nem viram o movimento do anjo. Quando o espanhol percebeu estava caído na porta do templo.
- Shura! - Mu correu até ele. - está bem?
- Foi tão rápido... - sentia dores no corpo.
Aiolos olhava fixamente para o grupo. Havia algo neles.
- Queremos evitar derramamento de sangue. - Mikael disse sem paciência. - ou Atena prefere que seus homens morram?
- Estou aqui.
Os cavaleiros olharam para trás enquanto os generais ficaram surpresos ao vê-la. Apesar de sua aparência frágil sentiam um grande poder vindo dela. Raphaelle e Uziel trocaram olhares assustados, mas não pelo mesmo motivo que seus generais. Certamente ela era... Já Mikael abriu um grande sorriso.
- Isso torna as coisas mais fácies. - passou pelos generais. - então você é Atena.
- E você?
- Sou Mikael, o arcanjo do Fogo. Serei sucinto na visita. Me entregue o Abisko.
- E o que seria isso?
- Não se faça de tola. - disse Rapha. - entregue já.
Atena voltou o olhar para Mikael. O arcanjo a encarou por alguns segundos.
- Inacreditável! - exclamou. - como os humanos podem ser tão tolos?Ela guarda Abisko mas não sabe o que é.
- Como assim? - indagou Uziel. - Abisko não está com ela?
- Está. Só não imagina o que isso seja.
- Realmente não sei do que está falando. A mando de quem estão nos atacando e o que querem realmente?
- Só precisa saber que seu reinado acabou e que usaremos Abisko para fazer o mundo voltar ao que era.
- Ao que era? - indagou Shion.
- Ao tempo que nós éramos os únicos donos. - Mikael o fitou. - pensei que sua raça estava extinta mas parece que alguns ratos sobreviveram. Não só sobreviveram como ainda continuam proteger Abisko. Inacreditável... - a última palavra saiu com cinismo.
- O que sabe sobre nossa raça? - as palavras de Mikael perturbaram o grande Mestre.
- Descubra. Jeliel, elimine alguns, quem sabe Atena resolve colaborar.
O anjo empunhou sua espada.
- Cavaleiros!
Rapidamente alguns circundaram a deusa.
- Realmente não sei do que se trata, mas se quer algo por motivos egoístas, jamais entregarei.
Vocês deveriam proteger a humanidade e não destruí-la.
- Poupe-nos do seu discurso pacifista. É uma criança querendo discutir com um adulto. Como sou misericordioso te darei uma chance. Em três dias voltarei e quero que me entregue Abisko ou seus cavaleiros e os humanos que habitam a parte baixa serão as primeiras vítimas.
- Como ousa falar assim com ela? - Miro cerrou o punho. - eu não me importo quem você seja, será destruído por nós.
- Cuidado com as palavras cavaleiro. - disse Mahasiah, passando a frente de seu senhor.
Aiolos fitou o anjo, aquele homem...seus olhos começaram a brilhar.
- Por que acham que esse Abisko está aqui? - indagou Saga, o que seria aquilo para despertar o interesse deles? - Como sabem sobre nós?
- Sabemos muito sobre vocês. Sabemos tanto que há um de nós em seu meio. - o sorriso de Mikael foi cínico. - três dias Atena. - deu as costas.
- Não vai escapar!
Dohko gritou elevando seu cosmo. Mesmo Shion tentando impedi-lo, o cavaleiro disparou seu ataque. Mikael não se mexeu e deixando todos perplexos o golpe do libriano sumiu antes mesmo de acertá-lo.
- Como ousa levantar a mão contra mim. - a voz saiu gélida e olhos brilharam em vermelho.
- Ousando. - disseram Shura e Aioria.
Os dois cavaleiros combinaram seus ataques. Mahasiah estava pronto para intervir, mas parou... os ataques pararam no meio do caminho, como estivessem suspensos. Mas não foi isso que deixou os santos de Atena apreensivos. O cosmo de um cavaleiro começou a elevar, porém queimava de forma diferente.
- Aiolos...? - murmurou Dite.
O sagitariano estava agachado, com os braços cruzados sobre o peito e uma expressão de dor.
- Dói...dói...
- Aiolos! - Aioria foi até ele. - Aiolos! O que fizeram com ele?
- Ele só está despertando. - Mikael sorriu.
Atena olhava apreensiva para seu cavaleiro. Estava com uma sensação ruim.
- Despertando...? - o leonino voltou a atenção para o irmão. - Aiolos...
Surpreendendo a todos, o sagitariano levantou e caminhou até Mikael apesar dos protestos do grego.
- Aiolos!
Aiolos parou na frente de Mikael e com um movimento das mãos fez com que os ataques de Shura e Aioria sumissem.
- Aio-los...? - Saga o fitava incrédulo.
- Vamos Raziel, já passou muito tempo como um reles humano.
O cosmo de Aiolos elevou-se de uma vez. Dezenas de raios surgiram ao redor dele e no entorno, obrigando Shion e Mu a erguerem a muralha de cristal.
- Aiolos! - gritou Aioria.
- AAAHHHH! - o sagitariano gritava de dor.
A energia dourada expandiu-se, chegando ao céu.
- Aiolos... - murmurou a deusa. - ...não é possível... - chocou-se.
Os raios aumentaram provocando destruição no solo e nas paredes do templo.
- Shaka faz alguma coisa! - pediu Mask, pois era o único que poderia intervir.
- Raziel desperte. - disse Mikael.
Os raios cessaram, mas a luz aumentou de tamanho e de intensidade. Sobre o cavaleiro surgiu um círculo dourado com inscrições. O corpo dele começou a levitar.
- Aiolos... - Shion temia pelo que poderia vir.
Aldebaran assistia a tudo com a expressão fechada.
A armadura de Sagitário abandonou seu dono, aparecendo montada ao lado de Atena. O corpo do grego foi envolvido por raios azuis e dourados e depois foi coberto por uma espécie de armadura, mas que envolvia apenas as pernas, peito e ombros. Os cabelos castanhos ficaram mais claros e os olhos mais verdes. A pele tornou-se brilhante. Dois pares de asas surgiram deixando os cavaleiros pasmos.
- Anjo... - murmurou Kamus. - Aiolos é um... anjo?
As luzes e raios desapareceram. Aiolos pousou, mas sem abrir os olhos. Diante dele surgiu uma espada de cabo dourado. Quando a empunhou abriu os olhos.
- Ir-mão... - Aioria gaguejou.
- Raziel. - o arcanjo do Fogo sorriu. - meu nobre general.
- General...? - indagou Shion.
- Raziel é o meu general. É o anjo da Luz. O fiz descer a Terra para que aprendesse tudo sobre você Atena. - deu um sorriso vil.
Os cavaleiros olhavam assustados para o companheiro. Fisicamente era o amigo, mas a expressão dele estava mais fria.
- Não pode ser. - Aioria deu alguns passos. - ele não pode ser um anjo. Ele é...
- Seu irmão? - respondeu o próprio. - eu sou um ser divino Leão. Apenas fui criado por uma família humana. Fui encontrado por seu pai ainda bebê.
- É mentira. - cerrou o punho. - o que fez a ele Mikael?
Deu um passo, mas parou ao ter uma espada apontada para si.
- O irmão legítimo de Raziel sou eu. - disse Mahasiah. - fomos criados ao mesmo tempo. Você não passou de um companheiro de jornada.
Shion ouvia preocupado. Se tudo aquilo era verdade, Mikael havia implantado um dos seus em meio a elite de Atena. Aquilo era grave.
- É mentira! - gritou o leonino. - nós somos irmãos. - fitou Aiolos. - nós somos...
- Não são. - respondeu Mikael pelo outro. - o nascimento dele nessas terras foi programada por mim. Fiz tudo para que no momento certo, Raziel se tornasse um servo de Atena. Retirei dele suas memórias e só despertaria no momento certo.
- Só não contava com um detalhe.
Uma voz imponente ecoou pelo local. A barreira emitiu uma luz dourada e segundos depois um círculo negro surgiu do lado direito dos cavaleiros e anjos. Atena e os santos sentiram presenças hostis, enquanto Mikael estreitou o olhar.
- Apareça.
De dentro do círculo surgiram três pessoas. Afrodite arregalou os olhos ao reconhecer a garota da estrada.
- "Ela também é um anjo...? - fitou as asas. - ... negras?"
Kesabel também ficou surpresa por ver Gustavv. Desconfiava que ele servia a humana, mas não imaginava que fosse companheiro de Raziel.
- "Demônios?!" - Saga olhou as asas negras dos três.
- O que faz aqui Lucy?! - bradou Raphaelle.
Atena ficou tensa. Apesar do novo intruso possuir asas negras era notável que ele tinha o mesmo poder que Mikael.
- Também é um arcanjo?
- Não nos compare sua imunda! - bradou Raphaelle. - seu porco... - murmurou cerrando o punho. - o que veio fazer aqui?
- Assim me deixa triste, irmão. - sorriu. - Se Mikael veio buscar seu general eu vim buscar o meu. - sorriu. - Muito prazer deusa Atena, sou Lúcifer, Lucy para os íntimos. Num passado remoto fui um arcanjo. - fez uma reverência. - agradeço por ter cuidado tão bem de Abisko e de Astaroth.
- O que?! - exclamou Uziel. - Astaroth?
O arcanjo fitou o grupo, passando a olhar um por um, quando viu...
- Não pode ser... - sussurrou incrédulo.
Os generais também estavam surpresos. O que Astaroth fazia ali?
- O que está planejando Lucy? - a voz de Mikael saiu raivosa.
- O mesmo que você só que com mais esperteza. Também coloquei um dos meus ao lado da deusa e sem você imaginar.
Os cavaleiros olhavam entre si chocados. Havia um demônio entre eles?
Shaka sentiu um aperto no peito.
- Você sabia... - murmurou Mikael.
- Claro irmãozinho. - riu. - acha que não sei dos seus planos? Que Abisko foi entregue a ela? - apontou para Atena. - eu sei de tudo. Vamos Astaroth, desperte.
O cosmo de um dos cavaleiros de ouro expandiu-se porém na cor negra. Atena arregalou os olhos.
- Sha-ka...?! - se não bastasse Aiolos...
A energia negra expandiu-se e assim como Aiolos sentiu muita dor. A luz negra circundou a todos e também subiu aos céus. O corpo do indiano foi tomado pela cor vermelha o que expeliu a armadura de Virgem. A primeira coisa a surgir foram as asas negras, depois o chifre, cauda e a marca abaixo do olho. Uma espécie de armadura negra cobriu seu corpo.
- Shaka... - Mu estava perplexo.
Os olhos azuis tornaram-se frios. Com uma luz negra saindo de seu corpo, o cavaleiro de virgem caminhou até Lucy ajoelhando diante dele.
- Meu senhor.
- Ótimo trabalho.
Mikael os fitava com ódio. Achava que Lucy não teria a petulância de lutar contra ele novamente, mas estava enganado. A guerra por Abisko estava apenas dormente.
Raziel/Aiolos fitou Shaka/Astaroth.
- E pensar que fomos companheiros... - o grego sorriu.
- As coisas estão certas agora.
- Estão erradas! - gritou Aioria. - vocês são cavaleiros de Atena! - fitou os dois. - são os mais fiéis a ela!
- Está errado Aioria. - Shaka o olhou. - sou um servo de Lucy.
- E eu de Mikael.
- Não são...- cerrou o punho. - Mikael seu maldito!
O leão ergueu seu cosmo e disparou contra o arcanjo do Fogo, contudo o ataque foi contido por Aiolos que também apontou a espada para o peito de Aioria.
- Ai-olos...?! - sussurrou assustado.
- Atreva-se e morrerá. - disse frio.
- É seu irmão Aioria! - gritou Kanon.
- Eu não tenho irmão.
A frase chocou Aioria, que sentiu os olhos marejarem. Aquilo só poderia ser uma ilusão criada por Mikael. Aiolos era seu irmão. Vieram da mesma família. Aiolos sempre cuidou dele...
- Afaste-se cavaleiro de Atena. - pressionou um pouco a espada contra o peito do grego.
Atena estava sem chão. Não bastasse uma nova guerra, dois de seus cavaleiros eram inimigos.
- Vamos embora Raziel. - disse Mikael. - tem três dias Atena. - fitou a deusa e depois Lucy.
- Não vai levar meu irmão!
O que aconteceu a seguir, deixou os santos de Atena e a própria chocados. Aiolos acertou Aioria com a espada na altura do peito. O leonino arregalou os olhos e por conta do ferimento foi de joelhos ao chão.
- Aioria! - gritou a deusa.
- Aiolos... - um filete de sangue saiu pela boca do grego. - por que...
- Quem levanta a mão contra um arcanjo merece a morte. - retirou a espada.
- Por que... - a recordação dos sonhos. Alguém o acertava com a espada, alguém com asas, só não imaginava que fosse o próprio irmão. - Aio... - as lágrimas vieram.
Aioria esticou a mão na tentativa de segurá-lo, mas foi ao chão.
- Aioria! - Shura correu até ele. - Aioria! Como pôde? - fitou o sagitariano.
- Você será o próximo, traidor.
A frase deixou Shura estarrecido. Lembrou-se do sonho.
Aiolos deu as costas e partiu junto com os demais seres de luz.
- Aiolos! - gritou Saga.
- Raziel sempre foi frio. - disse Lucy de forma despreocupada. - Atena, ou devo dizer... - sorriu, não imaginava que a guardiã do Abisko teria aquele rosto. - aquela vadia foi inteligente... - riu. O destino era irônico. - não preciso dizer que será mais inteligente da sua parte entregar Abisko a mim.
- Ora seu... - Dohko deu um passo.
Azazel apontou a espada para o chinês.
- Contenha se Libra. - disse Shaka. - Ou terá o mesmo fim que o Leão.
Os cavaleiros fitavam aquela figura. O indiano tinha por natureza uma aura divina e que não condizia com a negritude das asas. A mancha abaixo dos olhos e o chifre deixava-o ainda mais maculado.
- Shaka. - chamou Mu. - você...
- Eu sinto muito pela sua raça lemuriano. - a voz saiu seca. - e se quiser vingança, convença-a, - apontou para Atena. - para que entregue o Abisko a nós.
Antes de sumirem, Kesabel e Afrodite trocaram olhares.
O silêncio foi sepulcral, interrompido apenas pelos chamados insistentes de Shura. Rapidamente Aioria foi levado para dentro. Enquanto Shion supervisionava os tratamentos, os cavaleiros mais Atena esperavam em silêncio na sala do trono.
O grande Mestre olhava o sangue sair mesmo com as compressas. Se o sangue não fosse retido a vida de Aioria...
Em silêncio ele rumou para o salão.
- E o Aioria? - indagou Kanon.
- Vai ficar bem... - não queria preocupá-los.
Atena ouvia tudo desolada. Seiya em coma, Kamus e Miro feridos, Aiolos e Shaka inimigos e Aioria correndo risco de vida.
- Que desastre... - fitava as armaduras de Virgem e Sagitário.
- Jamais imaginei que existissem anjos... - murmurou Mask. - ainda mais aqueles dois... convivemos todos esses anos com o inimigo.
- Isso está errado. - disse Mu. - Aiolos salvou Atena no passado e Shaka... como sendo inimigos fizeram isso? De certo Mikael e Lucy fizeram alguma coisa! Está tudo errado!
- Estamos no escuro. - respondeu Kamus. - não sabemos como isso ocorreu tão pouco o que é Abisko.
- Realmente não imagina o que seja Atena? - indagou Saga.
- Não... - a voz saiu baixa. - nunca ouvi falar...
Dite estava calado. A traição de Aiolos e Shaka era chocante, contudo o que o perturbava mais era o fato que um anjo esteve no santuário dias antes. Ela chegou a entrar em Rodorio.
- "Por Atena..."
- E agora? - Miro fitou os companheiros que por sua vez fitaram Atena e Shion.
- Nós precisamos pensar. - o grande Mestre respondeu pelos dois, já que a deusa estava em choque. - Aioria será tratado e iremos descobrir sobre esse Abisko. Eles voltaram em três dias, teremos tempo para nos preparar, até lá dispensados.
- Não é melhor ficarmos aqui? - perguntou Dohko.
- Eles não voltarão antes de três dias. Dispensados.
Desculpem a demora em postar.
