Disclaimer:

Saint Seiya pertence à Masami Kurumada

SS The Lost Canvas a Shiori Teshiori

SS Episódios G a Kurumada/Megumu Okada

SS Soul of Gold a Toei Animation


Anjos de Atena


Resumo: A luta entre o céu e o inferno remonta de tempos antigos. Um artefato pode alterar o equilíbrio de poder entre os seguidores de Mikael e os de Lúcifer, mas no meio de tudo isso existe Atena e seus supostos cavaleiros.

Obs.: a fic leva em conta, Saint Seiya TLC, Episódios G, Saga Clássica ( santuário, Asgard, Poseidon e Hades) e Soul of Gold. A narrativa se passa em 2017, o ano que comecei com o projeto.

Olá a todos.

Faz muitos anos desde a última atualização. Tinha muitas ideias para a fic, mas passar para o papel estava difícil.

Pensei inúmeras vezes eu desistir, ou ao menos fazer um capítulo único contando em forma de lembranças o desfecho da estória. Mas estou aqui e vou tentar postar ao menos uma vez por mês, mas se eu conseguir mais, postarei com mais frequência. Aconselho a ler os capítulos anteriores para se situar ( eu tive que ler tudo para resgatar as ideias para a fic.).

Eis mais um capítulo. Boa leitura.


Capítulo 5: Gabrian


Atena foi para seu quarto. Deitou num divã sentindo o corpo tenso. A aparição de um inimigo era grave, mas o que mais atordoava a deusa era o fato de dois dos seus cavaleiros serem anjos. Dois humanos que foram sagrados cavaleiros eram inimigos. Aiolos seria o Grande Mestre em poucos meses! E Shaka... o cavaleiro era forte demais! Como lidaria com ele, como inimigo?

O que faria? Não tinha a menor ideia do que poderia ser Abisko e nem teria coragem de lutar contra seus dois santos!

O clima não era diferente nas doze casas. Mesmo dispensados, os cavaleiros preferiram ficar em Peixes caso precisassem voltar imediatamente ao templo. Estavam esparramados na sala da décima segunda casa.

Mu estava num canto em silêncio. Chegara ao santuário na mesma semana que Shaka tornando-se amigos bem no início. Ele não poderia ser um inimigo.

- Está tudo bem? - Miro aproximou.

- Não... Shaka sempre teve um coração justo, ele não pode...

- E o Aiolos? - disse Dohko. - ele salvou Atena! Por diversas vezes! Não acredito que ele...

- Pois comecem a acreditar. - a voz de Saga chamou a atenção de todos. - se na guerra de Hades, a minha suposta traição mexeu conosco agora é real. Eles foram implantados no nosso meio.

- E o Buda com aquele poder... - murmurou Mask.

- São nossos companheiros. - disse Mu.

- Não são mais Mu. - a resposta do geminiano os fez olharem entre si. - Aiolos por pouco não matou Aioria que era seu irmão. Shaka mostrou total indiferença a nós. Infelizmente perdemos dois cavaleiros de ouro.

- E agora? - indagou Kamus. - estamos em desvantagem. Não sabemos o que é Abisko e eles sabem tudo sobre nós. Aiolos teve acesso aos arquivos do santuário.

A observação do aquariano os deixou preocupados.

- Mas não sobre o Abisko. - disse Saga. Ainda não acreditava que o amigo fosse um inimigo, mas precisava pensar de forma racional. - se Aiolos soubesse desse Abisko já teria entregado a Mikael. O fato é que Shion também não faz ideia do que isso seja, o que faz com que Aiolos também não saiba a localização. Assim como Shaka que não faz ideia do que seja.

- Tem outro detalhe. - Mask fitou Mu. - o cabelo de fogo ficou surpreso por ver Shion e Mu e disse que eles ainda protegem o tal do Abisko mesmo com a raça deles terem desaparecido. Talvez o que eles querem seja algo que apenas os lemurianos tenham conhecimento.

- Mas Shion não sabe o que é. - rebateu o ariano. - tão pouco eu.

- Talvez não saiba com esse nome. - concluiu. - e tem mais... Shaka falou de vingança. Que vocês poderiam se vingar do cabelo de fogo.

- Mikael pode ter feito algo contra os lemurianos no passado? - indagou Kanon.

- Mas o que? - Mu fitou o canceriano. - Lemuria foi destruída por um cataclismo.

- Sei não... - murmurou Shura. - depois de hoje, a história pode ter sido outra.

- Não encaixa... - Dite passou a andar pela sala. - Abisko, Lemurianos, arcanjos...

- E os sonhos. - disse Mu. - Aioria sonhou sendo atingido por uma espada. Concretizou.

- Você sonhou com Lemuria sendo tomada por fogo... - Saga segurou o queixo. - e Dohko sonhou com a proteção de Alédia... Alédia não pode ser outro nome para Abisko?

- Não. - respondeu o libriano. - sinto que não é.

- Não importa que nome isso tenha. - Miro levantou. - não vamos deixar que eles levem e ainda faremos Shaka e Aiolos voltarem ao normal. São nossos companheiros não vamos deixá-los nas mãos deles.

Na enfermaria, o ferimento de Aioria ainda sangrava, mas não na mesma intensidade. Estava inconsciente, e sua mente estava presa no mesmo instante: em que Aiolos feria-o. A imagem passava e repassava sem parar.

Em seu escritório, o olhar de Shion estava perdido em algum ponto. Mesmo com toda a sua sabedoria não suspeitou que o inimigo estava plantado dentro do santuário. Viu Aiolos e Shaka chegarem e eles... Somado a isso o tal Abisko. Não tinha ideia do que poderia ser.

- Estamos em desvantagem...

O.o.O.o.O

O ar não era tão agradável quanto em Ninkai, mas Shaka sentira falta daquela atmosfera. Ali tinha sido seu lar nos últimos séculos. Logo após deixar o santuário, Lucy e os seus foram direto para o castelo em Devakai.

- O bom filho à casa retorna. - disse Narahim ao ver o ex cavaleiro.

- Senti falta do seu bom humor. - deram as mãos.

- Seja bem vindo.

- Pensei que ficaria eternamente entre os humanos.

Shaka voltou o olhar para onde ouvira a voz. Gadrel o olhava friamente.

- Também fiquei com saudades. - sorriu debochado.

Gadrel caminhou até ele, parando a certa distância. Os dois fitaram-se por alguns segundos para em seguida trocarem socos.

- Está lento. - Gadrel segurava o punho dele.

- Digo o mesmo. - Shaka também segurava, com o rosto calmo.

- Duas crianças... - murmurou Kesabel.

- Deixe-os. - Lucy sorriu. - foram criados juntos.

- Qual será o próximo passo senhor? - indagou Azazel.

- A humana tem três dias. Ela precisa pensar um pouco. - voltou-se para ele. - estarei no meu quarto.

Lucy sumiu.

- Alguém pare aqueles dois! - exclamou a jovem. - antes aqui era silencioso foi só Astaroth pisar...

- Estão matando a saudade. - Nara divertia-se.

- Cadê Yekun?

- Circulando por aí, Aza. - adorava falar o apelido para deixá-lo irritado.

- Não me chame assim. - a voz saiu fria. - vá procurá-lo, quero conversar com todos vocês daqui uma hora.

- Como quiser. - fez uma reverência debochada.

Azazel deixou-os.

- Sempre irritadiço.

-Você sabe como ele é. - Bel sorriu.

- Como ficou a cara de Mikael?

- No chão. Não só a dele como dos outros. Os humanos nem se fala. Ficaram surpresos por terem um de nós entre eles. As coisas vão ficar interessantes... - falou pensando em Dite.

O.o.O.o.O

Aiolos sentiu o frescor de Tenkai invadir suas narinas. Não imaginava que os ambientes fossem tão diferentes. Os olhos deliciavam-se com as paisagens verdes. Sentira falta daquele clima divino. O grupo pousou no palácio dos arcanjos.

- Descanse Raziel, mais tarde teremos uma reunião com todos. - disse Mikael.

- Perfeitamente meu senhor.

Os três arcanjos retiram-se.

- Como é está de volta Raziel?

- Gratificante. Aquela atmosfera de Ninkai é sufocante.

- Posso imaginar. - comentou Elemiah. - vá descansar.

Elemiah bateu asas e voou, assim como Jeliel que tomou outro rumo.

- Tem alguém que não ficou feliz com sua volta. - disse Maha.

- Ele sempre foi assim.

- Seja bem vindo. - Maha tocou no ombro dele. - ao seu verdadeiro lar.

- Obrigado. Enquanto vamos para nosso castelo, conte-me as novidades daqui.

Os dois seguiram para a morada dos anjos. Assim que chegaram, Sitael foi recebê-los.

- Agora sim, vestido digno como um general. - Sitael estendeu-lhe a mão. - quando te vi em Ninkai seu Elgin estava baixo.

- Era necessário. - sorriu. - vejo que cresceu. Está ficando forte.

- Eu ainda vou te ultrapassar. - sorriu confiante. - serei mais forte que você.

- Onde está Dianeirah?

- Aqui.

A jovem anjo pousou perto deles.

- Continua poderosa. - Raziel sorriu.

- E você a sua condição normal. Seja bem vindo.

- Obrigado. Quero saber mais sobre o que aconteceu na minha ausência.

- Eu começo. - Sitael levantou o braço.

Foram para um jardim e Elemiah juntou-se ao grupo tempo depois.

Em seu quarto, Jeliel remoía-se de raiva.

- "Aproveite sua estadia Raziel... ela será curta." - sorriu.

O.o.O.o.O

O estado de Aioria seguia delicado. A hemorragia tinha parado, mas o ferimento continuava aberto, fora seu estado de inconsciência. Encostado perto da janela Shura olhava os aparelhos ligados ao amigo. A perplexidade do acontecido horas antes ainda não tinha sido digerido. Shaka e Aiolos sendo na verdade anjos e somado a isso a frieza que o grego teve em ferir o irmão. Foi por muito pouco que Aioria não morreu.

- "Só pode ser um pesadelo..."

Passou a mão pelos cabelos negros. Aquilo era um pesadelo.

"Traidor". Ecoou em sua mente. Estremeceu.

O sonho, em que era sentenciado, pareceu ainda mais vivo. Se Aiolos era um anjo, ele ainda teria contas a acertar. Como seriam as coisas de agora em diante? Como Aiolos, com suas memórias de anjo mais do santuário, iria reagir? Ele seria capaz de matar Atena? Seria capaz de matar Aioria?

- Shura.

Deu um salto ao escutar o nome.

- Sa-ga?! - exclamou assustado.

- Entrei e você nem percebeu.

- Desculpe... estava pensando em tudo que aconteceu. Descobrir que os dois são inimigos me deixou sem chão.

Saga voltou a atenção para Aioria.

- Nem quando Shion nos pediu para mentir em Hades foi tão surpreendente. Eu jamais esperaria que Aiolos fosse um inimigo...

- Ele salvou Atena de nós. Esteve com ela em todos os momentos e ainda seria o grande Mestre. Como isso foi acontecer?

- Teremos uma longa batalha e podemos esperar o pior.

- Acha que Aiolos agiria até as últimas consequências? Mataria o próprio irmão?

- Sim. - o fitou. - Aioria está vivo por milagre. Aquele Aiolos bondoso que conhecemos não existe mais, aliás... acho que nunca existiu.

Shura ficou assustado com a frase, mas no fundo pressentia que aquilo era verdade. Aiolos não teria pudor em matar Aioria e nem a ele. Lembrou-se novamente do sonho. Tinha sido um alerta. Um alerta que a traição dele e de Saga não tinha sido esquecida e que a hora do acerto de contas havia chegado.

xxxxxxx

Mu sentado na porta de sua casa, olhava o sol se esconder no horizonte. Anos atrás, quando viu Saga e os demais vestindo armaduras negras não acreditou que eles tinham traído Atena. Agora estava diante da mesma situação, porém muito pior, pois a traição realmente existia.

Shaka era uma pessoa difícil de lidar, mas sempre leal e correto em seus deveres. Foi arrogante no passado, mas sua personalidade mudou após a batalha contra Loki e ele não poderia ser um inimigo. Aiolos era outro difícil de acreditar. Colocava sua missão acima da própria vida, prova que morreram em tenra idade.

Escutou um barulho perto de si e quando se virou Aldebaran sentara ao lado dele.

- Pensando nos nossos amigos?

O ariano deu um fino sorriso.

- Sempre condenamos os atos de Saga e Kanon, como na verdade os verdadeiros inimigos...

- Eles serviram fielmente Atena, isso não pode ter acabado tão rapidamente. - disse Deba. - não dessa forma.

- Quando Aioria acordar vai se sentir traído novamente e agora com razão. E se realmente entrarmos em guerra contra esses anjos, seremos só dez.

- Você nunca foi pessimista.

- E não quero ser, mas não sei mais em que acreditar. Somado a isso a fala de Shaka. Cresci ouvindo que minha terra tinha sido destruída por um evento natural e ao que parece não foi.

- Acha que Shaka sabe a verdade?

- Não duvido nada que ele tenha participação nisso. Ele e Aiolos.

Aldebaran franziu o cenho. Se aquilo fosse verdade...

xxxxxx

Giovanni bebeu uma boa golada de uísque. Estava deitado desajeitado no sofá, segurando a garrafa. Olhou o líquido amarelo. Tantas vezes Shaka o pegou daquele modo e tiveram uma briga feia.

- Aquele infeliz é um anjo... - tomou mais um pouco. - aquela pose toda de justiça, lealdade e bons modos, era só fachada... é um inimigo...

- Com uma guerra declarada e você bebendo!

- Não amola Peixes. - nem fitou a porta.

- Pare de beber! - Afrodite tomou a garrafa. - se formos atacados nem irá conseguir lutar.

- Sempre consegui fazer as coisas mesmo bebendo. - sentou no sofá. - o que quer?

- Atena pediu para buscar algumas coisas do Aioria. E como meu faro não mente, supus que estava bebendo.

- Já veio fazer o que devia. Pode ir. Temos problemas demais do que uma simples garrafa.

- Eu jamais esperava uma traição daqueles dois. - disse sem dá-lo ouvidos. - chegamos aqui ouvindo histórias da lealdade de Aiolos. Ele foi nosso mentor por muito tempo... eu pelo menos o via como um objetivo a ser alcançado e agora...

- O mundo dá voltas. Hoje amigo, amanhã inimigo.

- Como pode ser tão frio!? Está certo que nós dois nunca fomos exemplos, mas... Aiolos é um anjo.

- Da mesma forma que o Shaka. - levantou. - era só pose. E se prepare, ele vai ficar ainda mais forte. Aposto que nem uma Exclamação vai detê-lo.

- O que está acontecendo, Giovanni? – o fitou incrédulo. - Nem parece chocado com tudo que aconteceu.

- Eu sou realista. E sempre espero o pior das pessoas. - a voz saiu baixa. - a decepção deveria ser uma constante.

Afrodite ficou surpreso com as palavras. Está certo que Mask nunca foi muito próximo a Aiolos e a Shaka, mas nos últimos anos, uma amizade inusitada surgiu entre o canceriano e o virginiano.

- Está decepcionado com o Shaka?

- Não. - respondeu seco. - agora sai. Eu preciso de um banho. Cai fora.

- Está bem.

Dite não rendeu mais. Giovanni nunca foi de palavras, mas era visível que a traição de Shaka mexera com ele.

O.o.O.o.O

Raziel estava deitado num divã perto de uma ampla janela. Dali tinha uma bela vista do céu. Voltar a sua condição original havia deixado-o cansado. Somado a isso sua mente. As memórias como anjo e humano ainda estavam misturadas e levaria certo tempo até separá-las, mas o principal é que sabia tudo sobre a humana e como funcionava o local de sua moradia. Horários, lugares, moradores e os segredos. Star Hill poderia ser o local onde Abisko estava escondido.

- Talvez como anjo eu não tenha mais acesso... a montanha poderá me repelir...

Não pensaria nisso agora, sua mente precisava de descanso para poder voltar ao normal e se tinha algo que o fazia esvaziar a mente era treinar. Achou curioso que um ato humano poderia se incorporar de tal maneira em seu ser. Levantou e dirigiu-se para o local de treino dos generais.

A Arena estava vazia. Pegando um arco e flecha mirou num ponto. Estava tão focado que não viu os demais generais chegarem que ficaram surpresos ao vê-lo.

- Não deveria estar descansando? - indagou Dianeirah.

- Não consigo.

Com graciosidade Aiolos disparou a flecha, acertando em cheio.

- Sabe atirar? - indagou Mahasiah aproximando-se.

- Teve um lado bom em morar com os humanos. Posso usar isso.

- Para qualquer distância?

- Creio que sim.

- Então vamos testar. - Jeliel que escutava a conversa aproximou. - vamos ver o quão bom está o general de Mikael. - tirou uma pena da asa. Queria desmoralizar Raziel perante os demais generais.

- Como quiser. - Aiolos não se abateu.

Jeliel voou, indo para além da arena numa distância considerável. Sitael levantou voo.

- Não consigo vê-lo! - gritou. - ele fez de propósito! Vou atrás dele. – partiu na direção que Jeliel tinha ido.

- Não tem que provar nada Raziel. - disse Elemiah. - Jeliel só quer aparecer.

- Eu sei. Como também sei que dessa distância eu não vou acertar. Nem estou vendo-o, mas vamos ver o quanto eu aprendi.

- Raziel... - murmurou Dianeirah.

Aiolos pegou a flecha e preparou-se. Realmente não tinha noção de onde Jeliel poderia está e nunca tinha atirado numa distância tão grande. Liberou todo o ar do pulmão, fixando o olhar num ponto, estranhamente suspeitava que o general estava lá. Ele não se deu conta, mas seu elgin queimava de uma forma diferente, fazendo os demais generais olharem entre si.

- "Que elgin é esse?" - Mahasiah o fitava surpreso.

- " O elgin está muito misturado com a que ele tinha em Ninkai..." - murmurou Elemiah. - "isso é efeito dos anos entre os humanos?"

Quando o cosmo de Aiolos atingiu determinado patamar ele atirou. Jeliel estava com o braço erguido segurando a pena pela ponta. Trazia um sorriso de satisfação pois tinha certeza que Raziel não acertaria. Sitael, que estava ao lado dele, pensou a mesma coisa. Ele não tinha tanta destreza como tinha com a espada.

A flecha voou com grande velocidade e Sitael e Jeliel viram um ponto dourado vindo em suas direções. Os olhos de ambos arregalaram quando a flecha passou pela pena partindo em duas.

- Não é possível... - murmurou Jeliel.

- Incrível! - comemorou Sitael pegando a pena. - Raziel foi incrível!

O jovem general voou para perto dos amigos, ignorando a expressão de perplexidade de Jeliel.

- Você conseguiu! - pousou perto deles. - olha! - mostrou a pena partida.

- Achei que não fosse acertar. - ficou acanhado.

- Sua mira se aperfeiçoou. - disse Maha. - e em tão pouco tempo. Os humanos te ensinaram algo que preste.

- É o que parece. - sorriu.

Elemiah e Dianeirah olharam-se. A ação tinha sido no escuro e numa grande distância, além disso a energia diferente. O que tinha acontecido no período que ele passara com os humanos?

O.o.O.o.O

Os olhos azuis fitavam as terras inférteis de Devakai. Estava mais quieto tentando acostumar com a sua forma original. Se como humano tinha um grande poder, agora como ex anjo tudo estava potencializado.

- Viver com os humanos deve ter sido difícil. - Azazel entrou sem bater. - você está quieto.

- Falta de costume. - o fitou. - mas em breve estarei bem.

- Os humanos ficaram chocados quando descobriram sobre você. Era algum líder?

- Não. Tínhamos a mesma hierarquia, com exceção de Raziel. Ele sim estava sendo preparado para ser o líder de todos.

- Mikael tem um ponto a favor.

- Tem.

- Você era amigo dos lemurianos?

- Tínhamos uma boa convivência, - começou a balançar a cauda. - talvez isso nos ajude. Eles não sabem o que realmente aconteceu a Lemúria e isso é um ponto a favor nosso.

- Ótimo. Em breve o senhor irá querer vê-lo.

- É só chamar.

Azazel saiu. Shaka pensou em Mu e no sonho que ele tinha tido. Será que era sinal de alguma coisa?

- Pode entrar Kesabel.

A jovem ficou surpresa.

- Como sabia que era eu?

- Eu senti sua presença de alguma forma, assim como senti de Azazel. Aqueles humanos conseguem sentir os elgins um dos outros, eu aprendi.

- Nós não temos isso tão forte. Acho que só o senhor Lucy e os arcanjos conseguem.

- É algo que os humanos descobriram sozinhos, pelo menos os que vivem sob a guarda de Atena. Felizmente eles não conseguem sentir nosso Elgin, mas pressentem o perigo.

- Na minha ida a Ninkai, eu encontrei um deles.

- Gadrel me disse sobre isso. Qual deles?

- Gustavv.

- É o cavaleiro de Peixes. No passado teve um comportamento duvidoso, mas agora parece que se arrependeu. - Shaka contou algumas coisas sobre o passado de Dite.

- Então nem todos os seguidores da humana foram corretos.

- Humanos são criaturas defeituosas. Existem só para infestar o mundo. Desculpe por sua mãe.

- Minha mãe apesar de humana foi vítima da própria espécie, não tem porque se desculpar.

Ela ficou em silêncio, não pensando na mãe e sim em Gustavv. Ele parecia ter uma personalidade singular. Ficou interessada.

Shaka sempre foi um bom observador e passando vários anos com os humanos aprendeu ainda mais sobre os sentimentos.

- Está perguntando pelo cavaleiro por qual motivo?

- Nenhum específico. Apenas curiosidade.

- Tome cuidado com seu outro lado.

- Eu deixei de ter humanidade quando vim para cá. - a voz saiu séria. - não tem com que se preocupar.

- Assim espero.

- Lucy está chamando. - Narahim apareceu na porta. - todos na sala do trono.

Os seis generais de Lucy estavam diante dele.

- Mais uma vez seja bem vindo Astaroth.

- Obrigado.

- Abisko. - falou logo de cara.

- Realmente a humana não faz ideia do que seja. Talvez não com esse nome. Em todos esses anos no santuário apenas ouvi falar de objetos usados contra os humanos da terra média. Nem mesmo os lemurianos sabem o que é. Eles nem sabem o fim verdadeiro de Lemuria.

- Entendo.

- Houve guerras entre ela e os seres da terra média. Participei delas, inclusive perdi a vida. Atena passou por muitos percalços até conseguir a paz. Ela tem seguidores fortes, não fazem frente a nós, mas eles já realizaram feitos. Iremos vencer, mas não será de mão beijada.

- Jeliel derrubou dois deles. - disse Gadrel. - são fracos. Elemiah foi só de enfeite.

- Mesmo assim. - fitou o amigo. - cinco deles não entrarão em guerra, restando apenas dez cavaleiros mais o mestre do santuário. Shion não irá lutar, mas o grande problema é Raziel.

- Eles ficaram bastante surpresos ao descobrirem sua verdadeira identidade.

- Raziel estava sendo treinado para ser o sucessor de Shion. Ele teve acesso a todos os segredos da humana.

- Uma possível invasão?

- Atena irá fortalecer a barreira, talvez teremos dificuldade em entrar.

- Mikael também terá... - murmurou Lucy. - acha que ela entregará o Abisko?

- Não.

- E se entregasse, para qual lado?

- Ela considera ambos os lados inimigos, de primeira a ninguém, mas Shion traçaria uma estratégia. O lado que seria mais fácil de liquidar.

- Nenhum. - brincou Yekun.

- Vamos esperar os três dias. Mikael também não irá atacar antes disso. Vamos aguardar.

O.o.O.o.O

Mikael dava vazão a sua raiva, destruindo tudo que via pela frente. Raphaelle e Uziel apenas observavam o ataque de fúria.

- Aquele desgraçado! Ousou lutar contra nós! Ousou roubar o Abisko de nós e agora implanta um dos seus no solo da humana?! Miserável! Eu deveria tê-lo matado!

- Você não pode fazer isso. - disse Uziel. - vai contra nossa essência!

- Ficaria com a marca para sempre. - completou Rapha.

- E daí?! - berrou. - para conseguir a vitória eu pago qualquer preço! Enxotar aquele infeliz foi pouco. Eu deveria ter feito como... - calou-se.

- Acalma-se Mikael. - pediu o arcanjo da Água. - já está feito.

- E tudo culpa daquela bruxa! - bradou. - aposto que Revelação sabia disso!

- Acredito que não, o dom da revelação dela não é perfeito. Apresenta falhas. Apenas o líder tinha.

- Raziel!

Berrou o arcanjo do Fogo. Um segundo depois Aiolos estava diante dele.

- Comece a falar.

- Atena e nem o grande Mestre sabem sobre Abisko. Ele me passou todos os segredos do santuário, mas nenhum relacionado ao artefato. Se estiver mesmo com eles, é algo que nem eles sabem o que é.

- Os lemurianos?

- Também não.

- Algum daqueles seguidores? - perguntou Uziel. - Astaroth por exemplo?

- Nenhum. Astaroth tinha uma posição de destaque no séquito dela. É muito respeitado e forte.

- Acha que a humana entregaria a ele?

- Atena não irá entregar a ninguém. - disse convicto. - eu a conheço. Teremos que guerrear para conseguir.

- Nós vamos passar por cima dela. - Mikael o fitou. - dela e daqueles caídos. Informe tudo que sabe sobre os seguidores aos demais generais. Em três dias iremos invadir o santuário. Ela nos dará por bem ou por mal.

O.o.O.o.O

Logo no cair da noite, Shion solicitou a presença dos cavaleiros no templo. Precisavam entender o que tinha acontecido e as consequências. Os rostos estavam tensos e um clima pesado imperava no ar. Atena chegou em silêncio e sentou-se no seu trono de igual forma. Por alguns minutos nada foi dito.

- Atena. - o grande Mestre quebrou o silêncio.

- Aioria? - indagou.

- Continua desacordado senhorita. - respondeu Dohko. - a hemorragia foi controlada.

- Nossos médicos não conseguiram estancar o ferimento?

- Infelizmente. Parou de sangrar mas o ferimento não fechou.

- Achamos que o ferimento quando feito por um anjo tenha alguma consequência. - disse Dite. - como se ferido por uma arma divina.

Atena abaixou o rosto. Tudo estava contra ela.

- Aiolos quando chegou aqui apresentava algo estranho...?

- Ele sempre foi um bom menino. - disse Shion. - Com uma extrema dedicação a Aioria.

- Nada do comportamento dele levava que ele fosse um anjo. - arrematou Shura.

- E Shaka?

- Idem. - disse Saga.

- Shaka sempre foi tranquilo. - Mu completou.

- É isso que eu não entendo. - Deba tomou a palavra. - ele foi criado num templo budista. Dizia ouvir a voz de Buda. Como ele pode ser um anjo?

- Não sei se notaram... - a voz de Kamus saiu baixa e calma. - ao final das transformações os cosmos deles começaram a vibrar diferente. Até mesmo o corpo físico mudou. Os olhos e a pele ficaram mais brilhantes. Mas somente os próprios podem dizer o que realmente aconteceu.

- Tem outro detalhe. - Kanon teve a atenção para si. - aparentemente os arcanjos não conheciam Atena, porque ficaram tão impressionados com ela?

- Pelo cosmo. - respondeu Miro.

- Não foi pelo cosmo, foi pela aparência dela.

- Agora que você mencionou... - Dite levou a mão ao queixo. - inclusive Lucy ficou surpreso em descobrir quem era Atena.

- A grande questão é Abisko. - disse Dohko. - Se eles se deram o trabalho de implantar um dos seus ao nosso redor é porque isso é muito importante.

- Mas eu nunca li isso em algum texto sagrado. - Deba falou. - não há menção de algo tão poderoso criado por algo mais poderoso.

- Nem há algo parecido no mundo grego... - murmurou Atena. - estamos completamente no escuro.

- Mas não totalmente em desvantagem. - lembrou Saga. - se Shion não sabe o que é, certamente Aiolos também não.

- Ele esteve em Star Hill, Saga. - disse Shion. - sabe de muitas outras coisas que podem apontar para Abisko.

- E viu os nossos mapas secretos. - a voz do libriano saiu fria. - ele esteve na minha casa e sem querer viu os mapas das passagens.

- Ele viu? - o grande Mestre arregalou os olhos.

- Eu jamais iria imaginar que ele fosse um inimigo! E ele estava sendo treinado para ser seu sucessor, mais cedo ou mais tarde teria acesso a esse mapa.

- Tem mais um mistério nessa história, - iniciou Miro. – Aiolos foi morto com treze anos, depois no muro em Hades e por último em Asgard. Como o imperador do submundo não percebeu a natureza dele? Assim como a de Shaka?

Atena soltou um suspiro desanimado. Dois dos seus melhores cavaleiros eram inimigos, um deles se tornaria grande Mestre e Abisko continuava uma incógnita, fora os outros mistérios. Os olhos verdes pousaram em Giovanni. O canceriano estava num canto e não disse nada durante a conversa.

- Algum problema, Giovanni?

As atenções foram para ele e que não respondeu de imediato. Não estava distraído, ao contrário ouvia muito bem a palestra.

- É uma batalha perdida.

A fala surpreendeu a todos.

- Como assim Gio? - indagou Dite. - nem tudo está esclarecido, mas...

- Nós já entramos nela derrotados e nem é por conta desse tal Abisko. É por conta dos dois. Aioria jamais levantará a mão contra Aiolos. Saga e Shura também não. - fitou os dois que ficaram surpresos. - não depois de tudo que aconteceu.

- Mas nós... - iniciou Miro.

- Você mal levantou o punho contra Kamus em Asgard. Em Hades foi difícil e por pouco o plano de Shion não falhou. E agora que eles realmente são nossos inimigos? Você vai lutar contra o Shaka? - ele fitou o ariano mais novo.

- Eu... - Mu não sabia a resposta.

- A senhorita terá coragem de matar os dois? - fitou a deusa. - vai ter coragem de matar Aiolos?

Apenas a voz do canceriano era ouvida. Por mais doloroso que fosse, sabiam que ele tinha razão. Contra os demais anjos não teriam problemas, mas e quando o combate chegasse aos ex companheiros?

- O velho Máscara da Morte passaria por cima dos dois sem pensar, - voltou a falar. - mas hoje não. Eu não conseguiria erguer minha mão contra eles, por mais que fosse necessário. Eu não tenho mais esse sangue frio.

Atena deu um leve sorriso. Pelo menos no meio desse turbilhão, seu cavaleiro tinha mudado para melhor. Pensava nos outros como companheiros.

- Já perdemos essa luta.

Disse, tomando a direção da porta. Nem mesmo Shion ousou pará-lo. Em certa parte ele tinha razão. Afrodite soltou um suspiro desanimado.

- Eu não imaginava que ele via Shaka realmente como um amigo.

- Ele está muito decepcionado. - disse Atena.

- De certa forma ele o via como modelo e o admirava. São aquelas amizades que desafiam o senso comum.

- Estão todos dispensados e tratem de ter uma boa noite de sono. - disse Shion. - teremos muito o que fazer e pensar amanhã.

Todos concordaram e em seus leitos pensavam nas palavras de Mask.

Shura olhava para o teto. Estava sem sono e a imagem de Aiolos com asas passava e repassava em sua mente. Não teria coragem de lutar contra o amigo.

- Estamos perdidos...

Nas primeiras horas da manhã o santuário estava de pé. Aioria continuava inconsciente assim como Seiya. Estado repassado por Shun. Para não preocupar os cavaleiros de bronze, Atena achou melhor mantê-los na ignorância, pelo menos até acharem uma solução.

Hilda e Lifia tinham entrado em contato, mas Shion omitiu a verdade, dizendo que os irmãos estavam em uma missão.

Saga, Kamus, Dohko e Mu foram convocados para ajudarem Shion a encontrar pistas sobre Abisko. Outros dourados ficaram em suas casas e Aldebaran, para espairecer, resolveu fazer uma ronda pelos domínios do santuário.

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Suas forças estavam esvaindo. Estava debilitado e fraco. Era um milagre estar voando e carregando seu senhor nos braços. Mas estava no limite, até mesmo para um anjo poderoso. O ser alado perdeu as forças muitas vezes e quase caiu. Forçou a visão vendo no alto de uma montanha um pequeno templo.

- Estamos perto meu senhor. - fitou o homem que trazia desacordado nos braços.

Forçou suas asas, entretanto não suportou. Os dois caíram às margens de um riacho. Levou alguns minutos para o ser alado acordar. Caminhou até o seu senhor que continuava desacordado.

Desde que se tornou seu seguidor jurou protegê-lo contra tudo e não falharia agora. Mesmo com sua energia dissipando ainda precisava ajudá-lo. Se tinha alguém que poderia salvar os três mundos era ele.

- Fui fiel na rebelião, fui fiel na luta do Abisko e serei agora.

Cahethel impôs suas mãos na testa do seu senhor. Delas saiam uma energia dourada e, à medida que fluía, deixava a pele do anjo mais opaca. O corpo de Cahethel brilhou e começou a se desfazer em pontos luminosos. Sua energia vital voltava para o cosmo.

- Alédia, conto com você... - fitou seu mestre.

Os pontos dourados sumiram.

Deba que patrulhava as redondezas sentiu seu cosmo vibrar.

- "Que sensação é essa... ? Como se um cosmo se extinguisse."

Guiado pela sensação, Deba dirigiu-se para o local. Parou perto do riacho, mas não viu nada de imediato até ver algo nas margens.

- Ei, acorde.

Era um homem. Aldebaran não pensou duas vezes, levando-o para o santuário.

Pensou em deixá-lo em Touro mas quando notou, que ele não tinha um dos braços achou melhor levá-lo diretamente para o templo. Era um risco, porém não sentia traços de hostilidade, ao contrário, sentia que ele era uma pessoa confiável.

- Atena. - entrou no salão do templo.

- Aldebaran?

- Quem é esse? - Shion indagou logo de cara.

- Ele precisa de cuidados.

A deusa atendeu de prontidão. Perguntas seriam feitas depois. O colocaram num dos quartos, onde ele recebeu os primeiros cuidados. Constataram que ele não estava ferido e que o ferimento no braço era antigo.

No salão do templo Shion reuniu os dourados para que todos escutassem de uma vez só a explicação do brasileiro.

- Eu estava nos limites do santuário e não havia nada de anormal. Foi quando senti como se um cosmo desaparecesse.

- Seria desse homem? - indagou Kamus.

- Talvez. O encontrei perto do riacho. Sei que foi imprudência da minha parte trazê-lo logo para o templo, mas é que não senti energia hostil.

- Aiolos e Shaka também não as tinham. - disse Dohko. - e são anjos. - a fala saiu sem crença.

- Perdoe-me Atena.

- Não se preocupe Deba. Até ele acordar ficará aqui. Afrodite ficará para vigiar.

- Claro Atena.

No andar de cima, o homem estava acomodado. As vestes negras foram substituídas por um roupão branco. Parecia adormecido, mas de repente abriu os olhos. Ficou confuso, pois não sabia onde estava.

- Cahethel...

Forçou o corpo, conseguindo mover as pernas. Apoiando-se nos móveis, o homem saiu do quarto. Rumou para onde ouvia vozes. Parou no corredor vendo alguns homens, mas o que chamou sua atenção foi a jovem sentada no trono.

- Como chegou até aqui? - Mu foi o primeiro a vê-lo.

Alguns dourados cercaram Atena. O homem deu um passo, mas parou ao sentir uma forte dor no peito. Deixando todos pasmos, surgiu atrás dele asas brancas, mas apenas do lado direito.

- Um anjo...? - murmurou Shion.

O homem deu um passo, mas foi de joelhos ao chão. Antes de cair, vislumbrou a imagem de Atena.

- Asher...

Foi a última coisa que disse.

- Ele é um anjo?! - Kanon estava assustado.

- Ele precisa de ajuda. - o ariano mais jovem foi socorrê-lo.

- Leve-o novamente para o quarto.

O homem parecia dormir. No salão, estavam surpresos por ele ser um anjo.

- Não bastasse os dois, ainda tem esse homem... - Saga estava preocupado.

- Será que faz parte do grupo daqueles dois?

- Pode ser qualquer um. - disse Shion. - de toda forma temos que esperá-lo acordar. Kanon fique na porta. Os demais voltem para suas casas e fiquem de prontidão.

Atena foi para seu escritório, deixando o corpo cair de forma pesada na cadeira. Usando sua telecinese entrou em contato com Poseidon, deixando-o a par sobre o homem misterioso. O deus dos mares pediu cautela e cuidado já que poderia ser obra dos arcanjos.

- Atena.

A jovem ergueu o olhar. Era Shion.

- Irei agora mesmo para Jamir. Talvez encontre algo nos escritos do meu mestre.

- Tem o meu consentimento. E boa sorte.

- Voltarei em breve.

O grande mestre sumiu. Atena voltou o olhar para o céu azul, o tempo estava contra ela.

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Fazia muitos meses que não pisava naquele local, mas sentia que na antiga terra dos seus ancestrais poderia ter as respostas que tanto precisava. Adentrou no castelo indo diretamente para a pequena biblioteca. Alguns livros tinham sido levados para o santuário, mas Shion queria que o recinto que pertenceu a Sage e Hakurei continuasse o mais próximo possível do que era a duzentos anos atrás. Estava praticamente intocável.

Folheou vários livros não encontrando nada que levasse à destruição de Lemuria ou Abisko. Passou algumas horas completamente infrutíferas.

- Não há nada aqui... - murmurou.

Estava quase desistindo, quando pegou um livro. Foliou-o, porém não havia nada. Quando o recolocaria no lugar notou algo na parede que ficava atrás da estante.

Começou a tirar alguns livros, ficando intrigado por ver algo. Tocou o objeto. Era macio, mas continha muito pó.

- O que será isso...?

Afastou alguns passos e usando sua telecinese arrancou a estante do lugar. Os olhos arregalaram.

- Por Atena …o que é isso...?

Afastou ainda mais para enxergar melhor. Encoberto pela grande estante de madeira, havia um tapete. A julgar pelas cores apagadas e a cobertura de poeira, aquele objeto estava ali há muitos anos.

- Não me lembro disso… Nem Mu nunca mencionou...

Observou o ornamento. À primeira vista parecia ser um tapete comum, mas os olhos experimentados começaram a enxergar desenhos. Como o tapete ocupava quase que a parede toda, recuou ainda mais para ter uma visão ampla.

Shion percebeu que o tapete estava dividido em quatro sessões. No primeiro quadrante, à esquerda e no alto, viu o desenho do que parecia uma ilha em formato circular. A ilha era cercada por muitos círculos e as cores alternavam entre marrom e azul, apesar do azul estar bastante apagado. Ao lado do desenho dessa ilha, estavam desenhados homens segurando instrumentos na mão. Parecia que estavam construindo ou fazendo algo.

- Uma cidade...? - Shion aproximou e bateu em cima do desenho para a poeira dissipar. Estando mais de perto viu no alto da cidade um símbolo praticamente apagado pelo tempo. - esse símbolo... me é familiar... - disse tocando o desenho de um círculo com três aneis dentro.

O mestre recuou para observar o segundo quadrante. Dessa vez trazia a imagem de um grupo de pessoas, claramente percebidas como lemurianos. A frente desse grupo, havia uma mulher que trazia algo nas mãos. Um objeto. O olhar de Shion elevou-se um pouco notando que havia outra pessoa acima da mulher. Parecia que ele entregava algo a ela.

- O que essa imagem tem a ver com a primeira?

Olhou para o terceiro quadrante. Era muito similar com o primeiro, mas nele estava reunido os círculos e mais as pessoas. No entorno deles haviam espécies de embarcações e animais como cavalos, bois e animais domésticos.

Fitou o último quadrante. Era quase uma cópia do terceiro, porém as pessoas estavam assustadas. O azul daquele lado não estava tão apagado levando-o a perceber que era a representação de água. Um mar revolto, pois via-se o desenho de ondas. No alto da cidade, três esferas ligeiramente amarelas. Da esfera que estava no meio saia uma bola avermelhada, a esfera da direita havia o desenho de uma onda e o da esquerda, uma linha que ligava-o ao círculo.

- Se parece... - arregalou os olhos ao se lembrar do sonho. - é a destruição de Lemuria?! - notou as ondas e a bola vermelha. - Mu sonhou com fogo e eu com água... Será que...

Com todo o cuidado tirou o tapete da parede. Temia que ele esfarelasse ao simples contato. Embrulhando cuidadosamente voltou ao santuário.

- Atena! - Shion abriu a porta do escritório da deusa no rompante.

- Shion? O que houve? - fitou o grande rolo que ele trazia nas mãos.

- Eu preciso que leve isso para lavar. É um tapete e o menor erro pode desmanchá-lo.

- Um tapete Shion? - indagou sem acreditar.

- Sim. A resposta de uma das perguntas está aqui.

A deusa não ficou muito convencida, mas acatou. O tapete seria levado para ser higienizado e uma equipe especializada analisaria a peça.

- Providenciei tudo Shion.

- E quando ficará pronto?

- Amanhã de manhã.

- Não há como ser hoje? - estava nervoso. Eles não tinham esse tempo.

- Shion, o que está acontecendo? Voltou estranho de Jamir. Encontrou algo que aponte sobre Abisko?

- Sim e não. Não quero levantar falsas expectativas por isso quero aguardar o retorno do tapete. Não há como ser mais rápido?

- Como você mesmo disse qualquer erro e ele pode se desfazer. É um tapete antigo. Confie nas equipes. Amanhã cedo ele estará aqui.

Shion teve que concordar. Só restava esperar.

O.o.O.o.O

No palácio dos anjos, Dianeirah realizava exercícios com sua espada. A jovem era conhecida por suas habilidades no uso dela. Há alguns minutos Aiolos olhava-a se exercitar. A cada ano ela se tornava melhor.

- Tenho medo da pessoa que receber um ataque seu.

Dianeirah cessou os movimentos.

- Está me espionando?

- Digamos que estou aprendendo a me defender caso queira brigar comigo. – caminhou até ela.

- Eu teria motivos? – o fitou divertida.

- Nunca sei o que se passa na cabeça de uma mulher. – parou bem próximo.

- Não me compare as mulheres de Ninkai.

Gentilmente tocou no rosto dela, tirando alguns fios rosados. Raziel fitou os lábios rosados. Conhecia a general desde que foi criado e sempre teve muito carinho por ela, mas nunca se aproximou mais intimamente porque os anjos não têm esse tipo de comportamento.

Nasciam sem sexo definido e apenas com o tempo é que escolhiam o lado mais tendencioso. O máximo que acontecia era uma grande amizade quando tinham essências afins. Contudo, desde que voltou de Ninkai, começou a sentir algo diferente por Dianeirah. Não fazia ideia do que era, mas era algo constante.

- Raziel...?

O ex cavaleiro aproximou tocando os lábios dela. Dianeirah arregalou os olhos, mas deixou-se levar. Nunca tinha sido tocada daquela forma. Sabia dessa prática entre os humanos e jamais pensou que passaria por isso.

- Estou no meio de um treinamento. – afastou-se um pouco, mas sem deixar de sorrir.

- Eu sei. – o grego fez aparecer sua espada. – vamos praticar.

- Eu vou destroçar você.

Tomaram distância. A luta deu início com a jovem partindo para cima de Aiolos que defendia-se como podia. Dianeirah era muito rápida.

- Desse jeito vai me matar! – fazia força para repelir a lâmina inimiga.

- O que não te mata, te fortalece.

Pegando-o de surpresa, ela aplicou mais força. O tilintar das espadas ficou mais forte e Aiolos apenas se defendia.

- "Sou doido por lutar contra ela."

Quase levou um golpe por se distrair. Saltou para trás, mas não contava com o próximo passo dela. Dianeirah surgiu por trás colocando a espada no pescoço dele.

- Xeque mate. – disse.

- Eu me rendo! – Aiolos levantou as mãos. – não me mate, anjo prodígio.

- Estúpido. - Ela afastou-se, sumindo com sua espada. – não lutou tão mal, seus reflexos melhoraram.

- Obrigado.

- Sua estadia no meio deles teve resultados. Ficou mais forte.

- Ainda não estou no seu nível e creio que nunca chegarei. – sentou no chão. – a diferença entre nós é gritante. – tirou a faixa vermelha.

Dianeirah o analisava. Mesmo Raziel achando que não, ele estava mais forte.

- Você é um general de Mikael, se fosse fraco não tinha chegado a esse posto. Não se menospreze.

- Aioria vivia dizendo isso. – disse sorrindo sem perceber.

- Quem é Aioria?

A pergunta o pegou de surpresa.

- O humano da família que me adotou. Em termos terrestres, sou seu irmão mais velho.

- Então foi ele que foi ferido. – lembrou-se que Elemiah havia lhe dito sobre o ataque.

- Se não morreu, está quase. – a voz saiu sem emoção alguma. – é um fraco.

Nos primeiros segundos a mulher não disse nada. Aquilo era estranho. Instantes antes ele falara do suposto irmão com uma voz branda agora...

- Como está a sua mente? Suas lembranças de anjo e humano estão juntas?

- Como minha volta está recente, ainda estão misturadas, mas com o tempo conseguirei separá-las. Por quê?

- Quando formos a Ninkai recuperar Abisko e descobrir que ele morreu não fará nada?

- Ele escolheu esse caminho quando ousou levantar a mão contra o senhor Mikael.

- Não faça perguntas difíceis Dianeirah.

Os dois olharam para o lado e quando viram a figura de Mikael rapidamente ajoelharam.

- Eu não queria interromper a conversa, mas foi inevitável. – parou a certa distância. – levantem-se.

- Precisa de algo senhor?

- Não Raziel. Só estou matando o tempo. – começou a andar pela sala. – deveria ter dado a humana apenas um dia, evitaria meu tédio.

- Eles não teriam tempo de descobrir sobre Abisko. – respondeu, fazendo os dois o fitarem imediatamente. – desculpe.

- Não precisa se desculpar. – Mikael deu um sorriso amável. – como permaneceu muitos anos com eles, sabe perfeitamente o que se passa lá. Sua justificativa tem fundamentos.

- Senhor e se eles não quiserem entregar Abisko? – indagou Dianeirah.

- Se eles se atreverem a isso, terão o mesmo fim que o povo de Asher.

Aiolos e Dianeirah trocaram olhares. Lembravam-se muito bem do dia que eles desapareceram. O grego pensou no santuário, ele não teria chance.

O.o.O.o.O

Lucy em seu trono trazia a expressão fechada. Mesmo com um passo à frente de Mikael sabia da esperteza do arcanjo. O líder de Tenkai não deixaria a afronta passar em branco.

- Preciso me preparar...

O asas negras fitou seu tabuleiro, as peças estavam completas, com a humana tendo duas a menos.

- "Se eu pudesse ter acesso a Revelação..."

Num canto da sala, Azazel e Kesabel observavam seu senhor.

- O senhor Lucy nunca foi de muitas palavras, mas ele está silencioso demais. – disse a jovem.

- Está pensando nos próximos passos dos da luz. Se lembro bem de Mikael ele não irá facilitar as coisas. Não vamos incomodá-lo.

Os dois saíram indo para uma pequena arena que havia dentro do castelo. Naquele lugar sempre ocorria combates entre os caídos, muitas das vezes insuflados por Lucy. E era o que estava acontecendo naquele momento. A arena estava lotada de anjos, pois os generais de Lucy estavam lutando. De um lado Yekun, o anjo da Destruição e do outro Astaroth, o anjo das Trevas.

- Não sei se Yekun é muito corajoso ou muito burro por enfrentar Astaroth. – Kesabel parou ao lado dos demais companheiros.

- Burrice mesmo. – disse Narahim. – ele está a fim de apanhar.

- Que Asta quebre-o então. – Gadrel não tirou o olhar da arena.

- Ele não pode fazer isso. – a voz de Azazel saiu fria. – o senhor Lucy irá precisar de todos em boa forma.

- Yekun apanhar um pouco não fará mal. – Nara adorava essas lutas. – vamos apostar quantas vezes ele vai cair? Eu acho que será dez vezes.

- Sete. – respondeu Gadrel de prontidão.

- Cinco. – Kesabel não gostava, mas resolveu participar.

- Duas.

O palpite de Azazel surpreendeu a todos.

- Só duas? – Gadrel o fitou.

- Astaroth não terá paciência de lutar com alguém mais fraco do que ele. No segundo golpe que ele der, Yekun não levantará.

Os anjos, surpresos com os dizeres, voltaram o olhar para a arena. Shaka estava de pé com os olhos fechados enquanto Yekun dava passos lentos e provocando o caído.

- Ficar de olhos vendados é uma tática ou o tempo que passou com os humanos afetou sua cabeça?

- Não temos tempo para ficar lutando Yekun.

- Está com medo? – sorriu cinicamente. – o grande Astaroth está com medo?

Shaka não respondeu.

A plateia começava a gritar impaciente. Queriam sangue.

- Já que está com medo... eu atacarei primeiro.

Yekun liberou seu elgin. Os olhos amarelos brilharam e bolas de fogo surgiram ao redor dele.

- Vou chamuscar o seu cabelo. – sorriu.

As bolas se juntaram formando um redemoinho. A temperatura da arena aumentou drasticamente e os que estavam sentados mais próximos tiveram que sair por causa da onda de calor. A expressão do indiano não se alterou.

- Chamas infernais!

O redemoinho partiu em direção a Shaka.

- Kahn.

O ataque de Yekun bateu na barreira criada por Shaka, o anjo de madeixas vermelhas não se deu por vencido e partiu para cima do ex cavaleiro. Quando a parede de fogo se desfez, o punho de Yekun chocou-se contra a barreira de energia do indiano. A pressão exercida pela barreira repeliu violentamente o caído.

- A primeira queda. – disse Azazel, não impressionado pelo poder de Astaroth, mas sim pela barreira que ele criara. Ele nunca tinha feito aquilo e seu elgin vibrava diferente.

Yekun levantou, cuspindo sangue.

- Aprendeu um truque novo... – sorriu desdenhoso. – mas ainda é pouco para me derrubar.

- Chega de combates inúteis, Yekun. – disse Shaka. – guarde suas energias para o propósito do senhor Lucy.

- Eu tenho de sobra. – estralou os dedos. – foram séculos sem fazer nada. – elevou sua energia. – e nada que estreiar numa batalha contra um anjo que serviu dois arcanjos. Ou devo dizer dois arcanjos e uma humana?

Yekun partiu para cima dele, desferindo socos e chutes, mas que não surtiram efeito por conta da barreira. Depois de uma investida, o jovem saltou para trás.

- Vou destruir essa barreira. Chamas infernais!

Foi o mesmo golpe, mas com intensidade duas vezes maior. O redemoinho de fogo chegou até ao teto da arena e alguns anjos desavisados tiveram suas asas chamuscadas. O golpe partiu para cima de Shaka que parecia não ligar.

- Yekun não desiste. – disse Gadrel. – Nunca derrotará Astaroth.

- Astaroth sempre foi muito forte. – Kesabel o fitou. - reza a lenda que fica atrás apenas de Nara e Azazel. – olhou divertida para os dois anjos.

- Ele não está mais atrás. – Azazel olhava atentamente para Shaka. O general das Trevas tinha aumentado seus poderes.

Nara balançou a cabeça concordando, o que deixou os demais surpresos.

Querendo pôr um fim naquela batalha, Shaka abriu os olhos. Seu elgin cresceu rapidamente.

- Rendição divina. - disse ainda usando se golpe de cavaleiro.

O ataque atravessou o golpe de Yekun indo até ele. O caído ainda tentou segurá-lo, mas a potência foi maior do que supôs. Foi acertado. Alguns anjos também foram alvejados. A arena brilhou intensamente a ponto de fazer todos cobrirem os olhos.

Quando a visão voltou, viram Yekun no chão.

- Yekun! – chamou Kesabel impressionada com o poder de Astaroth.

- Leve-o para a sala, - Azazel deu as costas rumo à porta. – os ferimentos dele podem atrapalhar numa batalha. – saiu.

Narahim e Kesabel foram ajudar o anjo enquanto Gadrel aproximou-se do amigo.

- Estou impressionado. – sorriu. – a cada dia está mais forte.

- Isso não foi nada. – respondeu, caminhando até o outro lado da arena. – espero que fique sossegado agora.

- Isso não foi nada! – Yekun livrou-se da ajuda de Narahim. – eu consigo ficar de pé.

- Já que insiste...

- Não preciso de babá, sei o caminho.

Yekun deu as costas, saindo cambaleante.

- Ele não toma jeito. – Nara deu nos ombros. – mesmo quebrado, a língua continua afiada.

- Yekun sempre foi um idiota. – Kesabel o via sair. – golpe novo? Assim como a barreira. Aprendeu com os humanos?

- Fazia parte do meu treinamento como cavaleiro. – disse sem se dar conta das palavras.

- É uma técnica interessante senhor cavaleiro. – brincou Nara. – os anos em Ninkai foram de valia. Estou ansioso para ver seu poder na totalidade. Sei que esconde o jogo.

Os dois fitaram-se.

- Um elogio vindo de um dos anjos primários me deixa lisonjeado.

- A verdade tem que ser dita. – sorriu. – vou indo pois quero dormir um pouco. Até.

- Não sei como o senhor Lucy o conserva como general. É um poço de preguiça. Ele nem treina! – disse Gadrel.

- Ele não precisa. – a voz de Shaka saiu calma. – se ele usar todo seu poder pode nos matar facilmente. Não se esqueça que Azazel e ele fazem parte dos primários.

- Até eu que nasci depois sei disso seu idiota. – Kesabel deu um pedala em Gadrel. – eu gostaria te ter visto eles em ação na batalha da descida.

- Foi um grande duelo dos dois contra os dois primários de Tenkai. – Shaka fitou os amigos. - Azazel, Narahim, Elemiah e Dianeirah têm poderes semelhantes aos arcanjos.

- E quanto aos humanos? – indagou Gadrel lembrando-se daqueles eventos.

- Todos são abaixo de mim, tem alguns no mesmo nível ou abaixo de Yekun. Atena não terá chance.

- Inclusive aquele humano?

Shaka arqueou a sobrancelha com a indagação de Kesabel.

- Inclusive. Se os acertarmos com nossas espadas, não resistirão por dois dias.

A jovem ficou em silêncio. Gostaria de lutar contra o cavaleiro de Peixes para ver seu poder.