Capítulo 6: Revelações


Procurou por suas roupas, pois precisava encontrar-se o mais rápido com Atena. O santuário amanheceu para o segundo dia do prazo.

Dessa vez, o olhar demorou um pouco mais no teto branco. Não levantou de imediato, deixando assim as lembranças virem na sua mente. Pelo jeito da construção e uma pequena estátua que havia num canto do quarto deduziu que seu general havia cumprido sua missão, trazendo-o até o lar de Atena. Lamentou que tal ato, custara a vida de seu último homem.

Sentou na cama, mexendo as pernas e o braço. Havia recuperado por completo seus movimentos. O homem levantou e foi até o banheiro. Com a parte de cima desnuda, pôde ver a enorme cicatriz que trazia no peito. Uma das sequelas daquele dia. Outro sinal, bem visível, era o braço direito amputado.

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A deusa não tinha ideia do que era Abisko e nem do homem misterioso que dormia desde o dia anterior. Nas primeiras horas convocou seus cavaleiros. Precisavam se preparar para a volta dos arcanjos.

Atena expunha seus planos, mas Shion parecia não ouvir. Enquanto aquele tapete não chegasse não faria nada.

- Shion! – ela teve que levantar a voz para que ele ouvisse.

- Des-culpe.

Quando ela ia retrucar, dois serviçais apareceram trazendo algo.

- Senhorita Atena, o tapete.

Shion nem esperou uma palavra dela, praticamente arrancou-o dos dois e o levou até uma parede. Usando seu poder telecinetico o abriu e o "pregou".

- Espero que agora possa me explicar. – ela disse.

Não ouviu. Limpo e livre de manchas as cores mostraram-se mais vivas e os desenhos mais lógicos. Era evidente que aquelas imagens tratavam-se de Lemuria. Seu nascimento e morte quando foi atingida pelo cataclismo. Aproximou do segundo quadrante. As cores mais vivas o fizeram ver o objeto dourado que a lemuriana carregava e a representação de um homem não lemuriano que entregava-lhe um objeto. Notou que ele tinha asas.

- Um anjo... – murmurou.

O olhar foi direto para o último quadrante. Infelizmente, a parte que mais sofreu com o tempo. Identificou porém que acima da cidade não eram três pontos e sim três pessoas com vestes diferentes.

- Shion! – dessa vez foi mais enérgica.

- Mestre, o que é esse tapete? – indagou Mu.

Os cavaleiros também fitavam com curiosidade.

- Eu achei esse tapete atrás de uma grande prateleira. – fitou-os. – Na última reforma quis mexer o menos possível nos móveis por medo de estragá-los. Nem fazia ideia que isto estava lá... Estava sujo, mas agora que vejo as cores... é uma retratação do surgimento e queda de Lemuria.

- O que?! – exclamou Dohko. – como assim?

- O primeiro quadro mostra como Lemuria surgiu. O segundo e terceiro como ela prosperou e o quarto como foi destruída. – olhou para Atena. – a senhorita vê esses três pontos? – apontou para o mar, para a bola vermelha e o risco branco. – a história que chegou a mim disse que Lemuria foi varrida primeiramente por furações, depois consumida pelo fogo e depois tragada pelas águas. Exatamente esses três pontos.

- Mas o que isso liga aos arcanjos e Abisko? – indagou Deba. – desculpe por perguntar.

- Vêem isso? – apontou para o segundo quadrante que trazia a imagem de um anjo. – o que um anjo fazia em Lemuria?

Atena e mais alguns franziram o cenho.

- Um anjo...? – murmurou Atena.

- Então... – Kanon coçou o queixo. – Shaka disse que se vocês, - apontou para Shion e Mu. – quisessem vingança contra os arcanjos...

- Eles tiveram participação na destruição da ilha? – Shura fitou os companheiros.

- Se pensarmos bem, são três homens. – Saga apontou para o desenho. – e são três arcanjos e...

O geminiano teve a visão chamada para a porta. Os demais seguiram o olhar dele.

- Bom dia, senhorita Atena.

- Bom dia. - respondeu num tom amável. - vejo que está melhor.

- Agradeço os cuidados que teve comigo. - sorriu gentilmente. - e a você também Aldebaran de Touro. Obrigado.

- Como sabe meu nome... - o brasileiro tomou a defensiva.

- Permita que me apresente adequadamente. Sou Gabrian.

O.o.O.o.O

Os olhos prateados de Revelação observavam as inscrições. Elas diziam que Abisko não demoraria a surgir.

- "Asher... será que suas ações realmente vão proteger Abisko...?"

A atenção foi chamada por uma escrita que brilhava. Achou o fato curioso, pois ela estava numa língua que não conhecia. A escrita foi mudando de forma, transformando-se no símbolo da humana das terras médias: um báculo dourado. O objeto foi envolvido por asas.

- "O que isso significa...? O que vai acontecer?"

Ficou temerosa, pois não sabia decifrar.

O.o.O.o.O

Os cavaleiros olhavam com desconfiança para o homem de pé diante deles. Gabrian era alto, negro, com os cabelos escuros e curtos. Seus olhos também eram negros. Usava um conjunto de calça e terno preto e por cima um sobretudo preto com gola alta e fechado até a cintura.

- Gabrian? - indagou Shion.

- Sim. Posso me aproximar?

- Por favor. - Atena indicou uma cadeira.

Gabrian acomodou-se. Notou os olhares curiosos. Olhou um por um, vendo que Atena não estava tão desprotegida, mas que a batalha também não seria fácil.

- Sou um dos arcanjos. Mikael, Uziel, Raphaelle e Lúcifer são meus "irmãos".

- O QUE?! - berram todos e já tomando posições de defesa.

- Se me permitem, irei explicar.

- Conte-nos tudo senhor Gabrian. - Atena acomodou-se melhor em seu trono, apesar da revelação dele ser um arcanjo, ele não tinha traços hostis.

- Nós cinco fomos os primeiros a serem criados. Eu fui o primeiro, seguido de Uziel, Mikael, Lucy e Raphaelle. Os demais anjos criados posteriormente ficaram divididos entre nós cinco. Protegemos Tenkai, que seria o céu de vocês e também o mundo dos humanos, Ninkai. - fez uma pausa. - havia um terceiro reino, Devakai, mas no princípio ele era desabitado.

- Mas isso faz parte de um credo monoteísta. - observou Kamus. - o que não é o nosso caso.

- Está correto Kamus. - a menção do nome do francês o deixou surpreso. - isso era bem visível nos primórdios, mas com o passar dos milênios, os demais panteões foram perdendo força e o nosso voltando a se fortificar. A única ainda a fazer frente a nós é a deusa das terras médias: Atena. Em um nível de comparação, Atena seria um arcanjo.

A deusa ficou surpresa.

- Tenkai vivia em harmonia, até Lucy ser seduzido pelo egoísmo e ganância. Tivemos uma batalha terrível e ele e seus seguidores foram condenados a viverem em Devakai. A guerra foi tão traumática que atingiu os humanos e foi criado o "inferno".

- Então o Shaka... - murmurou Mu.

- Foi um dos que caíram. Eu mesmo tive alguns anjos que se juntaram a Lucy. - disse com pesar. - Foram a escolha deles... finda essa guerra, parecia que a harmonia voltaria a Tenkai, mas Mikael e Lucy tinham outro objetivo: conseguir Abisko.

- E o que seria isso? - indagou Dohko. - eles nos atacaram achando que isso estaria aqui.

Gabrian olhou fixamente para Atena. Ela ficou um pouco incomodada.

- A ambição deles nos levou à guerra anos depois. - voltou a atenção para o libriano. - os dois queriam o Abisko. – fez uma pausa. - No início dos tempos para a criação do universo foi necessário muita energia. Após o processo, houve o acúmulo dessa energia criadora e tornou-se necessário armazená-la. A energia foi colocada num artefato. Nos primórdios, Abisko ficava em Tenkai, mas foi transferido para um lugar chamado Aurien. Esse local fica na interseção dos três reinos e longe dos olhos dos ambiciosos. Era guardado pela Asher.

- Asher... - murmurou Shion.

- Uma lemuriana.

- Como?!

- Asher foi escolhida para ser a guardiã de Abisko. Ela era uma lemuriana muito poderosa. E quando percebeu as intenções de Mikael e Lucy sumiu no mundo dos humanos levando Abisko. Nenhum dos arcanjos conseguiu encontrá-la nem mesmo eu. Com o sumiço dela, tiveram que esperar ela morrer para que pudessem voltar com os planos.

- E eles acham que esse Abisko está aqui no santuário? - indagou Saga.

- Asher desapareceu por completo nessas terras.

- Mas ela não está morta?

- Está. – Gabrian não quis comentar suas suspeitas quanto à morte de Asher. Ainda era cedo para isso.

- E o que faz aqui? Não deveria estar com seus irmãos? E por que está nos contando sobre isso? - Atena perguntou. - onde estão os seus seguidores?

Gabrian sorriu.

- Se Abisko cair nas mãos de Mikael ou Lucy a humanidade estará condenada. Eu lutei para proteger o artefato e as consequências além da minha queda, foram essas.

O anjo mostrou as asas, o grande ferimento no peito e o braço amputado. Os cavaleiros olharam entre si. Se um arcanjo tinha a força de um deus, a luta de Gabrian deveria ter sido muito dura.

- Eu não posso falhar agora e quanto aos meus seguidores... – soltou um longo suspiro. – foram mortos na batalha em Aurien e o último morreu ontem. – fitou Deba. – sentiu a energia dele dissipar.

- Senti.

- Os arcanjos sabem que está aqui?

- Não e nem devem saber, ao menos por enquanto. Não imaginam do que eles são capazes de fazer. E diante disso, só a senhorita tem condições de pará-los.

- Senhor Gabrian... – Mu tomou a palavra. – por que só apareceu agora? Um dia atrás...

- Os ferimentos que sofri não são ferimentos comuns. Eu fiquei por milênios preso entre os três mundos e se não fosse por Cahethel e Asher estaria lá até hoje. Eles me resgataram e me trouxeram para essas terras, onde existia lemurianos. Apenas nos últimos anos é que recobrei a consciência e somente a poucos dias voltei a ter os movimentos do corpo.

- E quanto a Aiolos e Shaka? – indagou Shura.

- Eles são fiéis aos arcanjos deles e são um dos melhores generais. A vinda dos dois foi planejada por Lucy e Mikael. A intenção deles era terem homens em seu seio. – fitou a deusa.

Saga em silêncio tentava ordenar todas as informações. Apesar das explicações claras, sentia que aquele arcanjo escondia algumas coisas.

- Mas não existe uma força maior que vocês? - Indagou Giovanni. Se bem conhecia aquela fé...

O arcanjo o fitou. Já imaginava que fariam aquela pergunta. Fechou os olhos por alguns instantes.

- Nos livros antigos dizem que o mundo foi feito em seis dias e que no sétimo houve um descanso... - fez uma pausa. - o tempo corre diferente para vocês. Em comparação a nós, o tempo de vida dos humanos é efêmera. Sendo direto, estamos vivendo o sétimo dia.

- Estamos? - indagou Kamus.

- Sim, é o período do descanso. Lucy e Mikael estão agindo assim porque não há nada que possa pará-los, exceto Atena.

- Só mantermos Abisko oculto até o fim do sétimo dia... – disse Miro.

- Abisko irá aparecer a qualquer momento e quando isso acontecer os dois não medirão esforços para obtê-lo. Ainda faltam centenas de séculos para o sétimo dia terminar. Se transformá-lo nas horas humanas, num comparativo, a caída de Lucy foi ao amanhecer e a chegada dos arcanjos ao santuário está sendo às nove da manhã. A humanidade não chegará viva a uma hora da tarde. As dezoito, Lucy ou Mikael terão alcançado um poder tão grande que não consigo imaginar o depois.

As revelações de Gabrian deixaram todos ressabiados. Tinham que parar os arcanjos o mais rápido possível.

- Por que Asher deixaria Abisko aqui? Por causa de Atena? – Shion tinha ficado o tempo todo em silêncio.

- Porque...

Gabrian teve a visão chamada para o tapete. Levantou indo até ele.

- Não imaginei que isso ainda existia... – murmurou com um fino sorriso.

- Encontrei nos pertences da minha raça. – Shion parou ao lado dele. – é sobre Lemuria não é?

- Sim. O primeiro quadro é a criação. Vocês surgiram antes mesmo dos humanos comuns. Uma raça poderosa e extremamente fiel a Tenkai. Foi por isso que Abisko foi entregue a vocês. – apontou para o segundo quadro. – essa imagem é do dia que o entreguei a Asher.

- Então é você! – exclamou o grande mestre.

- Eu levei Abisko de Tenkai para Lemuria. A partir de então sua sociedade floresceu, - apontou para o terceiro quadro. – e desenvolveu. Apesar de serem poderosos, Asher temia que Lemuria sofresse por guardar o artefato e então ela o levou para Aurien.

- Shaka comentou que se eles quisessem vingança... – Kanon apontou para os arianos.

- Cuidado com os dizeres de Astaroth. – a voz saiu séria. – ele poderá usar isso contra vocês.

- Então é verdade? – Dohko logo deduziu. – Lemuria não foi destruída por um cataclismo?

- Não. Logo que viu as intenções dos arcanjos, Asher sumiu no mundo dos humanos levando Abisko. Mikael ficou cego de ódio e determinou que Lemuria fosse destruída. Primeiro Raphaelle usou seu poder para varrer a cidade, - apontou para o risco branco. – em seguida Mikael a incendiou, - mostrou a bola vermelha. – e por último Uziel sepultou a ilha sobre as águas. – indicou as ondas. - Eu estava numa dimensão paralela e não pude fazer nada para impedir… - Gabrian tocou no objeto. - Tantas vidas foram ceifadas neste dia... posso imaginar a dor de Asher ao ver seu povo ser destruído sem motivo...quase foram extintos…

Mu e Shion se lembraram dos seus sonhos. A terra dos seus ancestrais teve um fim trágico.

- Sobraram apenas três... Kiki, Shion e eu... – murmurou o ariano mais novo.

- Quatro. – falou baixo.

- Como? – indagou Shion que pensou não ter ouvido.

- Não é nada, é apenas...

Gabrian sentiu uma forte dor no peito. Apesar dos cuidados de Cahethel e seu sacrifício em dá-lo sua energia ainda não era suficiente. Os ferimentos infligidos na batalha em Aurien foram sérios. O arcanjo foi de joelhos ao chão.

- Gabrian! – Atena foi acudi-lo. – você está bem?

O anjo fitou o rosto da deusa. Como elas eram...

- Estou bem. Obrigado.

- Vamos levá-lo para o quarto. – disse Afrodite. – precisa de repouso.

- Talvez devêssemos levar Aioria para um lugar mais afastado. Ele pode acordar e... – Shura temia que Aioria entrasse em combate com Gabrian.

O arcanjo contou os homens. Tirando Astaroth e Raziel deveria ter doze, mas havia apenas onze.

- Onde está o décimo segundo? É esse Aioria?

- Sim. – o sueco servia de apoio para o arcanjo. – Aiolos o feriu com uma espada.

- Precisam me levar até ele. Imediatamente. – a voz saiu séria. – ele corre risco.

Rapidamente o conduziram até o quarto do grego que permanecia no mesmo estado, exceto pelo sangramento que tinha voltado a correr.

- O ferimento dele não fecha. – Atena tocou carinhosamente no rosto pálido do cavaleiro. – já tentamos de tudo.

- Ele foi ferido diretamente por uma espada envergada por um general. Ainda mais sendo general de Mikael. Esse ferimento nunca irá fechar pelas vias normais.

- São tão fortes assim? – Mask indagou surpreso.

- Os ataques deles não são diferentes dos ataques de vocês que dependendo da intensidade pode causar ferimentos leves ou até a morte, mas as espadas usadas pelos arcanjos e generais têm propriedades especiais. – Gabrian abriu a roupa de Aioria, expondo o ferimento. O rasgo provocado pela espada não era muito grande, mas o sangue minava. – como se fossem as armas divinas dos seus deuses.

- Então o Seiya... – murmurou Atena, contado para Gabrian sobre a luta do cavaleiro de bronze.

- Ele não foi ferido diretamente. Em poucos dias irá despertar.

Gabrian impôs as mãos sobre o ferimento. Os cavaleiros mais Atena viram uma luz dourada saírem delas e irem até o ferimento. O sangue parecia desaparecer e segundos depois o ferimento estava fechado.

- Ele ficará bem. – fechou a roupa. – numa batalha contra os anjos e os caídos tomem cuidado com as armas. Não deixem que encostem em vocês, principalmente as dos arcanjos. Podem morrer instantaneamente.

O.o.O.o.O

Mahasiah cuidava das tropas de Tenkai. Com a descoberta que Lucy poderia ter implantado espiões, Mikael dobrou a vigilância. Os caídos não poderiam pisar naquele solo.

- Não é atoa que o senhor Mikael confia em você.

A voz do companheiro fez o anjo da Temperança olhar para trás.

- Pensei que estava treinando. Vocês dois. – Sitael estava com Raziel.

- Nós estávamos indo para a arena. – respondeu Aiolos. – amanhã será o grande dia.

- Mal posso esperar para lutar contra aqueles humanos! – Sitael exclamou empolgado. – apesar de achar que serão facilmente derrotados, será divertido.

- A humana entregará o Abisko?

- Não Maha. – Aiolos mexia com as asas. – Atena nunca entregará o Abisko sem lutar. Nem ela nem os demais cavaleiros.

- Vão desperdiçar suas vidas.

- Vão lutar até o fim. Eu os conheço.

- Foi providencial o seu relatório. Sabendo como eles agem facilitará o nosso trabalho.

- Se Shaka não fosse Astaroth teríamos trabalho com ele. O cavaleiro de Gêmeos também pode ser um empecilho. Eu o conheço bem. – a voz saiu fria.

- O que houve entre vocês? – indagou Sitael notando o tom de voz.

- Tiveram o sacrilégio de levantar a mão contra os céus. Vocês podem lutar com quem quiserem, mas ele e o cavaleiro de Capricórnio, são meus. Vou exterminá-los por tudo que me fizeram passar.

Mahasiah e Sitael trocaram olhares. O que os dois tinham feito a Raziel?

Uziel estava sentado na chamada sala proibida. Ela ficava no centro do palácio dos arcanjos e era dali que os cinco ditavam as ordens para Tenkai e Ninkai. Depois da queda de Lucy e a morte de Gabrian o local tinha sido fechado. Somente dias atrás que o arcanjo da Água entrou a procura de Mikael. Agora que, "redescobrira" a sala, gastava algumas horas mirando a grande pintura.

Quando os cinco eram jovens era tudo mais fácil e perfeito. Ele e Raphaelle gostavam de ler enquanto Mikael e Lucy não paravam de discutir. Inúmeras vezes Gabrian teve que entrar no meio para apaziguá-los. Tudo acabou quando Lucy se levantou contra eles e piorou quando Gabrian morreu. Ainda não acreditava que o maior entre os arcanjos tinha morrido em Aurien.

- Se Gabrian estivesse vivo, Abisko estaria conosco.

- Abisko estaria em Aurien. – respondeu a pessoa que acabava de entrar. – ele está morto por causa de Lucy. Se atreveu a levantar a mão contra nós novamente.

Raphaelle recolheu suas asas para poder sentar no chão ao lado do irmão.

- Você se lembra daquele dia?

- Todos os minutos. Aurien desapareceu levando-o. – fitou a pintura do arcanjo da Terra. - O que faria se Abisko fosse só seu?

A pergunta pegou o arcanjo do Vento de surpresa.

- Eu o usaria para conter Devakai. - disse Raphaelle convicto. - Lucy e os caídos não merecem misericórdia.

- Não pode matar Lúcifer. Seria marcado para sempre. – rebateu. – como explicaria a Ele que matou um dos seus arcanjos?

- Estamos no início do sétimo dia, Uziel. Quando a hora chegar e Ele perceber tudo que aconteceu não iria nos condenar. Tudo que fizemos foi para manter o equilíbrio. Lucy que é o maior culpado. Não apenas se rebelou, como sua ambição levou a aniquilação de Gabrian e de todos os seus anjos.

Uziel ficou em silêncio pensando nos dizeres.

- Gabrian pode ser trago a vida?

Rapha franziu o cenho.

- É contra as leis naturais, mas talvez no final do sétimo dia...e com uma intervenção maior que...

- Isso é impossível.

Tanto Rapha quanto Uziel olharam para o lado. Mikael estava parado na porta.

- Um arcanjo uma vez morto não pode voltar à vida.

- Nem mesmo no final do sétimo…?

- Nem assim. – cortou-o. – o próprio Gabrian me afirmou isso. Uma vez perdido sua essência ela volta para o cosmo. Não há chances disso acontecer, mesmo que ele seja um arcanjo.

Os dois arcanjos se olharam. Infelizmente...

- Não fiquem presos ao passado. Quando Abisko estiver em nossas mãos iremos subjugar Lucy e sua corja. Gabrian será vingado.

- Vamos nos preparar então. - Uziel levantou. Raphaelle o acompanhou. Mikael ficou. A passos lentos caminhou até onde, minutos antes, seus irmãos estavam sentados. Os olhos vermelhos fitaram a figura altiva do arcanjo da Terra.

- Não existe a possibilidade de você voltar...

O.o.O.o.O

Shaka estava recolhido em seu quarto. Depois da luta contra Yekun, o anjo das Trevas queria meditar. Com tantos anos realizando essa prática, sentia falta. Na posição em lótus, deixou a mente serena e em branco. Seu cosmo queimava ao redor.

Estava tão compenetrado que não percebeu a porta sendo aberta. Lúcifer, havia sentido seu general diferente desde o desperte e querendo sanar sua curiosidade dirigiu-se para o aposento, ficando surpreso. O poder de Astaroth era inferior ao de Azazel e Narahim, mas estava muito mais forte de quando ele deixou Devakai. O treinamento com a humana havia fortificado seu elgin?

Aproximou, querendo tocar a barreira translúcida que se formou ao redor do ex cavaleiro. Quando a tocou, levou um choque. Shaka abriu os olhos na hora.

- Senhor. – levantou.

- A cada dia me surpreende mais Astaroth. – olhava para os dedos. – criou uma barreira em torno de si para protegê-lo.

- É uma prática que aprendi no santuário.

- Interessante. Os demais podem fazer isso?

- Não.

- E isso pode repelir qualquer coisa?

- Consigo aguentar até certo nível. O que o meu cosmo, melhor, meu elgin percebe como ameaça ao meu corpo, ele o repele.

- Ótimo. – sorriu. – continue com sua meditação. Quero que esteja com seu poder ainda maior quando formos amanhã a Ninkai.

- Certamente. – Shaka fez uma leve mesura.

Lucy deixou o recinto. O rosto outrora risonho ficou sério.

- "Por que o elgin dele me repeliu se ele é meu servo?"

Pensaria naquilo depois, precisa arquitetar um plano para roubar Abisko antes de Mikael. Pouco tempo depois da visita de Lucy, foi a vez de Gadrel ir ao quarto de Shaka. Estava entediado, pois a ação só viria no dia seguinte e precisava falar com alguém. Nara estava dormindo, Yekun brigava com algum anjo de patente menor, Kesabel estava treinando e Azazel estava recluso em seu quarto. Só restava o amigo.

- O que é isso? – indagou assim que abriu a porta.

- O que você quer Gadrel? – o nível de concentração não estava tão alto.

- Esse tempo que passou com os sujos te mudou mesmo. – sentou no chão a frente dele. – está fazendo essas coisas...

- É uma barreira de elgin. Me protege enquanto medito.

- Meditação?! – arregalou os olhos. – você nunca fez isso.

- Mas agora faço. – apesar de terem a mesma idade, Gadrel parecia ser uma criança.

- Para quem lutou ferozmente na batalha de Aurien e agora está fazendo meditação...

- Não tem nada para você fazer? – abriu os olhos. – deveria se preparar pois amanhã lutaremos.

- Os humanos são fracos. Não tenho porque me preocupar.

Shaka soltou um suspiro desanimado.

- As vezes me pergunto o que Gabrian viu em você.

A expressão de Gadrel ficou séria.

- Também não. – disse seco. – se ele não fosse tão certinho eu não teria lutado contra ele.

- É uma pena que perdeu seus poderes de revelação.

- Foi uma escolha minha. – não gostava daquele assunto. – e graças a perda dela estou vivo. Gabrian e todos os seus anjos estão mortos.

- Foi uma grande surpresa. – disse Shaka. – não imaginava que arcanjos poderiam morrer.

- Nem eu. – levantou. – queria um lugar para me divertir, mas já que está com esses assuntos vou importunar Yekun.

- Você se importava com Gabrian? Mesmo ele fazendo isso conosco? – apontou para o chifre e para as marcas nos olhos.

- Que diferença isso faz, Astaroth?

Saiu sem esperar uma resposta. Shaka franziu o cenho. Mesmo com tantos anos, Gadrel havia ficado impressionado com a morte de seu antigo senhor.

O.o.O.o.O

Giovanni estava sentado no salão de Virgem. Trazia um cigarro nas mãos enquanto soltava lentamente a fumaça diante da estátua de Buda.

Como Shaka não estava ali, não tinha ninguém para repreendê-lo. O olhar estava no rosto da estátua.

- Vocês nem se parecem. – disse. – ele te enganou também? Ou já sabia que o homem mais próximo de deus é na verdade um demônio? Claro que sabia, você estava nos pensamentos dele.

- O que está fazendo?

Mask soltou um resmungo entediado.

- Não está vendo? – mostrou o cigarro.

- Na casa de Virgem?

- E estamos onde carneiro? – respondeu seco. – Shaka nunca me deixou fumar aqui, estou aproveitando a ausência.

Sem dizer nada, Mu sentou ao lado.

- Amanhã, ele ficará contra nós?

- Sim. – a voz saiu fria. – é a essência dele. – tragou.

- Ainda é meio difícil de imaginar Shaka como nosso inimigo.

- Alguém imaginava Aiolos como nosso inimigo? Ele salvou Atena de Saga.

- Você não lutará contra eles? – Mu o fitou.

- Eu não sei, Mu! – gritou, jogando o cigarro na estátua. – não faço idéia do que fazer!

O ariano silenciou. Giovanni realmente estava decepcionado com a traição de Shaka.

- Vou para minha casa. – Mu levantou. – vá para a sua, não sabemos o que pode acontecer.

Giovanni não respondeu. Volveu o olhar para a estátua.

- Seu discípulo é um idiota.

X.x.X.x.X

Em sua casa, Afrodite observa seu jardim. O prazo estava terminando e quando os arcanjos voltassem o caos estaria instalado no santuário. Shaka e Aiolos serem anjos era um agravante a mais. Nem um dos amigos teria coragem de levantar a mão contra eles. E a vinda de Gabrian era a cereja do bolo. Achava que ele escondia muitos segredos.

Os pensamentos foram para uma jovem de cabelos brancos. Ainda não se perdoava por tê-la levado a Rodorio e mais ainda por continuar pensando nela.

- Droga...

X.x.X.x.X

Completamente recuperado, Aioria estava em Sagitário. Tudo que tinha acontecido ao irmão ainda era fantasioso. Ele sempre fora um honrado cavaleiro, não poderia ser Raziel o anjo da Luz. O grego fechou a porta da parte íntima da nona casa e dirigiu-se para o salão onde aconteciam as batalhas. O olhar foi direto para a inscrição que havia na parede.

Aos jovens que aqui chegarem, confio Atena aos seus cuidados.

- Seu grande idiota!

Aioria deu um soco ao lado dos dizeres. Os olhos marejaram.

- Você devotou sua vida a ela! Como pôde traí-la?

Shura que passava pela casa presenciou o soco e os dizeres. Fazia-se a mesma pergunta. A passos lentos aproximou do grego.

- Eu esperaria essa atitude de mim, de Saga, de Giovanni e Afrodite, mas jamais imaginaria que Aiolos fosse nosso inimigo.

- Ele não é nosso inimigo. – o fitou, com os olhos rasos. – é o meu irmão e nosso companheiro. Mikael só está controlando-o.

- No fundo sabe que não Aioria. – Shura tocou na parede. – Ele escreveu isso antes de partir com Atena. Acreditava que valorosos cavaleiros iriam surgir e protegê-la.

- Então tudo era mentira?! – exclamou revoltado. – tudo que ele me ensinou não passou de mentiras? Tudo que ele fez para ajudar Seiya e os demais não passou de enganação? Nossa batalha em Asgard foi um truque? Tudo que aconteceu na vida dele e o que passamos juntos, é tudo mentira?

Shura não respondeu.

- No final das contas Aiolos não passa de uma farsa? Foi apenas um personagem criado para satisfazer aquele cara? Amanhã quando nos encontrarmos estarei diante de Raziel? Ele levantará a mão contra Atena?

- Antes disso tudo acontecer, - Shura ignorou os questionamentos. – eu tive um sonho. Estava numa sala e vozes me acusavam de traição e assassinato. Eu não sabia quem eram mas entendia perfeitamente porque diziam aquilo. – fitou o grego. – eu matei seu irmão, Aioria. Eu e Saga fomos responsáveis pela morte de Raziel.

- Meu irmão perdoou vocês.

O espanhol balançou a cabeça negativamente.

- Aiolos pode ter perdoado, mas Raziel não.

- Ele nunca se vingaria de vocês.

- Ele por pouco não te matou e você é "irmão" dele.

Aioria recuou assustado.

- Queria acreditar que não, mas a personalidade Aiolos é apenas uma faceta de Raziel, criada para um fim determinado. Gabrian foi bem explicito em suas palavras.

- Eu não lutarei contra ele.

O leonino saiu correndo, nem esperando os próximos dizeres de Shura. O espanhol volveu o olhar para a escrita.

- Palavras tão importantes e agora sem significado algum...

O.o.o.o.o

Atena olhava distraidamente pela janela. As revelações de Gabrian mudaram o jogo. Amanhã nesse horário os arcanjos estariam no santuário e ainda não tinha ideia do que poderia ser Abisko. Em todos os seus anos de deusa da sabedoria, nunca ouviu falar sobre isso.

- Atena.

O chamado de Shion a fez voltar a realidade.

- Desculpe Shion.

- Quais serão os nossos passos Atena?

- Eu ainda não sei Shion. – levantou. – Mais a noite, quero reunir todos no templo com a presença de Gabrian e traçar uma estratégia. Shaka e Aiolos também é algo a ser levado em conta.

- Concordo.

O.o.O.o.O

Depois de algumas horas de repouso, Gabrian olhava distraidamente pela janela. Mesmo com todo o esforço de Cahethel, em poucos dias perderia seus poderes. Parar Mikael era um dos seus objetivos, mas não poderia se esquecer de Lucy e dos dois anjos implantados no santuário. Certamente os cavaleiros de Atena não levantariam seus punhos contra os antigos companheiros.

- Asher, espero sinceramente que saiba o que está fazendo.

Saiu de seu quarto e foi até o pátio da estátua. Ao se ver em ar livre abriu suas asas, deixando-as receber o calor do sol e a suavidade do vento.

Volveu o olhar para o mármore gasto pelo tempo. Aquele objeto testemunhou tantas guerras, será que sobreviveria a mais uma?

- Senhor Gabrian.

- O que os assola, meus jovens? – indagou sem se virar.

Shion e Dohko ficaram em silêncio. Não eram de se intimidar, mas a figura do arcanjo impunha tal sentimento. Era como se estivessem diante de alguma divindade grega, ainda mais com as asas envergadas.

- Gostaria de perguntar-lhe algo.

- Pergunte. – virou-se para eles.

- Tive alguns sonhos... – iniciou Dohko. - nele via Atena, porém mais velha. E ela sempre me pedia para proteger Alédia.

Gabrian permaneceu em silêncio.

- Não consegui interligar os fatos, mas agora que temos noção sobre a existência dos anjos e demônios, comecei a pensar que o sonho talvez tenha algum significado.

- Com Abisko próximo a surgir e a movimentação de Tenkai e Devakai, - abaixou o olhar. - as memórias ancestrais dos lemurianos despertaram. Não foram sonhos proféticos e sim memórias de algo que aconteceu. – fitou Shion. - Ao contrário do que aconteceu ao irmão de Raziel que sonhou sendo ferido por ele.

- Então o meu sonho quer dizer algo?

- Sim Dohko. – voltou a atenção para a estátua. – Atena é a peça fundamental dessa trama. Ela é a ponte entre Asher, Abisko e os dias de hoje. A única que pode pará-los.

Os dois cavaleiros ouviram tentando fazer uma analogia entre as palavras e o sonho.

- E o que seria Alédia? É um objeto, uma pessoa? – indagou Shion.

O arcanjo o fitou. Parte da interpretação dependia das memórias do ariano.

- Há sonhos que não devem ser decifrados antes do tempo. No momento certo ele fará sentido para vocês, só ressalvo algo, - os encarou. – devem proteger Alédia a todo custo. O destino da humanidade depende disso.

- Shaka e Aiolos sabem sobre Alédia? – o grande Mestre ficou preocupado.

- Sabem o tanto quanto vocês sabem. Quando vocês humanos entenderem o que é Alédia farão de tudo para proteger, enquanto os dois farão de tudo para destruir.

- Eles realmente ficarão contra nós?

- Vinte e poucos anos na vida humana não apagam milênios, Dohko. Eles são anjos e essa essência tende a prevalecer. Sei que deve ser difícil encarar uma traição e ter que levantar a mão contra antigos aliados, mas será necessário pulso firme. Como disse, o futuro da humanidade dependerá disso.

Assim que a noite caiu, Atena e seus santos estavam reunidos no salão do templo. Gabrian também estava presente.

- Os moradores já foram levados para um local seguro. – disse Shion dando maiores explicações sobre a evacuação.

- Há necessidade? – indagou o ariano mais jovem. – eles...

- Mikael despreza os humanos. – Gabrian respondeu. – vivos ou mortos não fazem diferença para ele.

- E eu que pensava que anjos fossem protetores. – falou Giovanni. – tudo que aprendemos...

- Nos primórdios era assim cavaleiro. Mas a ganância também chegou aos céus... infelizmente. Mas sem as pessoas da vila, vocês não terão distrações. Vocês devem proteger Atena, a todo custo.

- Atena e Abisko. – observou Kanon.

- Protegendo Atena, Abisko estará protegido. Acontecendo um confronto, não devem deixar que as espadas deles encostem em vocês. Em hipótese alguma.

- E o anjo caído? – indagou Saga. – com certeza ele virá.

- Lúcifer agirá pelas sombras. – disse convicto. – ele fará que Mikael faça o serviço e só depois entrará em combate. Ele sempre agiu assim.

- Conseguiremos derrotá-los? – não era apenas a pergunta de Shura, mas de todos ali.

- Seus feitos provaram do que são capazes, santos de Atena, mas não será fácil.

Aioria e Mask mantinham-se em silêncio. O momento de reverem Aiolos e Shaka estava chegando e não estavam preparados para tal.

- Senhor Gabrian, - a voz de Dite interrompeu os pensamentos. – e se Abisko não aparecer? E se realmente ele não estiver aqui?

Todos os olhares foram para o arcanjo, que fechou os olhos por alguns segundos.

- Antes de entregá-lo a Asher eu fui incubido de proteger Abisko e isso me deu a capacidade de senti-lo quando estamos próximos. – fitou um ponto. – além do mais, é só olhar para a deusa Atena para perceber que Asher passou por aqui.

A própria franziu o cenho. Em séculos reencarnando naquele lugar, nunca tinha conhecido alguém com aquele nome, ou Abisko, mas Gabrian tinha uma certeza inabalável quanto a localização exata do artefato. Saga pensava a mesma coisa, assim como Shion. O que realmente Gabrian escondia?

- O senhor irá lutar? – indagou Miro.

- Ainda não posso. Só terei poder para agir uma única vez e preciso guardá-lo para isso. Se possível gostaria de permanecer naquela montanha sagrada. Ali, nenhum dos meus irmãos irá me sentir.

Gabrian levantou e foi até o tapete.

- Não pensem que estou me acovardando numa situação tão difícil. Esquivando-me de lutar, - os fitou. – só estou esperando o momento certo para colocar um ponto final em tudo.

- Não pensamos isso, arcanjo. – disse Saga. – sabemos que às vezes precisamos recuar, para dar dois passos à frente no futuro.

- Obrigado.

O arcanjo explicou sobre o funcionamento de Tenkai, mas com milênios afastado do seu lugar de nascimento talvez algumas informações estivessem defasadas. Duas horas depois a reunião acabou.

Aioria pediu licença indo para o pátio da estátua. Queria pensar... As costas encostaram na parede fria do mármore enquanto olhava para a estátua. Quantas vezes, quando era um menino, Aiolos o levara ali e contava sobre as batalhas de Atena e seu desejo em se tornar um cavaleiro. Ele próprio seguiu esse caminho, pois queria seguir os passos do irmão.

- Aiolos seu estúpido.

- É compreensível sua revolta.

A voz de Gabrian o assustou.

- Nós seres dos alto não irradiamos cosmos. São poucos que conseguem sentir de forma plena, como vocês, o cosmo, ou Elgin, como chamamos, um do outro. – o fitou. – desculpe se o assustei.

- Eu que estava distraído. – voltou o olhar para a estátua. – como era o meu irmão? Antes dele...

- Não muito diferente do que ele se mostrou para vocês. – sentou ao lado dele. – Raziel, sempre foi muito correto e justo. Possui um enorme poder, não é a toa que se tornou general de um arcanjo. É muito admirado pelos outros, principalmente por Mahasiah.

- Ele realmente é irmão dele? – indagou.

- Não temos essa concepção de irmãos como vocês, mas pode se dizer que sim. Os dois foram criados juntos e desde então construíram uma relação de fraternidade. Inúmeras vezes um ajudou o outro. E os dois se tornaram generais de Mikael.

Aioria abaixou o rosto. Então todos os gestos de carinho e proteção de Aiolos foram falsos? Eles realmente não significaram nada?

- Então... tem grandes chances dele querer me matar...

Gabrian ficou em silêncio. Conhecendo o caráter de Raziel, não tinha dúvidas que faria tal gesto.

- Não te darei falsas esperanças. E é do mesmo jeito com Astaroth. Ele seguirá Lucy até o final mesmo que tenha que levantar a mão contra vocês. Se ele tivesse algum laço afetivo mais forte, como o seu e Raziel, talvez pudesse influenciar, mas poucos anos na terra não são nada perante milênios. A essência deles falarão mais alto.

Distante alguns metros, Giovanni ouvia a conversa. Tinha saído para espairecer quando notou a presença dos dois. Como o assunto era sobre Aiolos, achou por bem não interromper e escutar.

- Então não há nada que possamos fazer?

- Infelizmente. Raziel seguiu o caminho trilhado por Mikael, assim como Astaroth segue o de Lucy, mesmo tendo virado um caído. Eu realmente sinto muito.

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Saga estava trancado na biblioteca. O silêncio de Gabrian em determinados assuntos o deixou no mínimo curioso. Tinha que descobrir a relação entre Asher, Alédia, Atena e Abisko. Não poderia ser apenas as iniciais "A".

Pegou todos os livros mais antigos do santuário e pôs se a pesquisar. Se tal artefato chegara ao santuário teria ao menos uma mínima menção. A informação não estaria as claras, indicado pelo fato de Shion desconhecer tal objeto, mas estava lá. Em algum lugar.

A porta fechando o assustou. Não queria que os outros soubessem de sua pequena investigação.

- Saga.

Era a voz de Kamus. O geminiano ponderou se contava a ele ou não suas dúvidas, mas sabia que o francês era discreto.

- Nos fundos.

Kamus caminhou até lá ficando surpreso pela quantidade de livros sobre a mesa.

- Pode ir direto ao ponto. – disse com sua frieza costumeira.

- É melhor se sentar.

Saga esperou o companheiro acomodar-se para iniciar.

- Gabrian sabe onde Abisko está e a relação dele com Atena.

- Também percebi isso. – cruzou os braços sobre o peito. – como sabe de outras coisas.

- Por algum motivo ele quer manter isso em segredo. Creio que seja por conta de Mikael.

- E o que procura nesses livros?

- Pistas sobre Abisko. Se isso está no santuário deve existir qualquer informação.

- Entendi. Vamos procurar então.

Passados duas horas...

- Não há nada. – Saga deixou o corpo relaxar na cadeira. – nem mesmo nas anotações de Sage.

- Talvez o único que possa esclarecer seja o arcanjo.

- E ele não vai falar, não por enquanto. – o geminiano esfregou o rosto com as mãos. – é melhor irmos dormir, amanhã o dia será difícil.

Kamus concordou. Os dois saíram sem perceber que alguém acompanhava a investigação deles. Gabrian deu um sorriso antes de ir para seu quarto.

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Os generais de Lucy começavam a se preparar para a invasão ao santuário. Shaka em seu quarto meditava.

- Não acredito. – Gadrel rolou os olhos. – vamos batalhar e você medita? De novo?

- É uma forma de preparação. – respondeu sem abrir os olhos. – o senhor Lucy nos convocou?

- Ainda não.

Mal acabou de falar, a imagem do senhor de Devakai apareceu convocando-os.

Em questão de segundos, todos estavam perante Lucy. Ele fitou seus servos, sorrindo.

- É chegada a hora. – levantou. – Mikael invadirá o santuário e quando for o momento iremos roubar Abisko dele. Apesar de vocês estarem esperando por um combate, espero sinceramente que não tenha.

- Como assim? – indagou Yekun. – não vamos exterminar aqueles humanos?

- Nossa maior pedra são os da luz. É neles que temos que nos preocupar. Ficaremos nas sombras e só façam alguma coisa se eu mandar. Sei que Raziel passará todas as informações para Mikael então não temos com que nos preocupar.

- Faremos como deseja senhor.- disse Azazel.

- Astaroth.

Shaka o fitou.

- Sei que as emoções são as fraquezas dos humanos e espero que não tenha se contaminado.

- Até parece que não me conhece.

Lúcifer deu um grande sorriso.

- Era só uma brincadeira. Estejam preparados. Partiremos assim que Mikael pisar naquele lugar.

O arcanjo os deixou.

- Até o senhor Lucy está preocupado com você. – Yekun fitou Shaka. – será que ele teme uma traição?

- Posso começar por você. – o indiano respondeu friamente.

- Sem troca de ameaças. – Azazel entrou no meio. – estejam em vigília.

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Mikael em seu quarto limpava sua espada. O momento do seu triunfo aproximava. Esperou por milênios que mal podia conter a ansiedade. Quando colocasse as mãos em Abisko tudo ficaria sobre o comando de Tenkai.

- Entre. – disse quando escutou alguém a porta.

- Estou pronto. – era Raphaelle. – devo convocar nossos generais?

- Sim. Quero os no salão.

Os seis generais de Tenkai estavam dispostos lado a lado.

- Nosso dia chegou, meus generais, - Mikael caminhava para seu trono. – desde que Abisko se perdeu em Ninkai estamos esperando esse dia. – sentou. – com ou sem a resistência de Atena iremos triunfar.

- E como será a invasão, senhor? – indagou Maha.

O arcanjo do Fogo fitou o seu outro general.

- Os cavaleiros ficarão em suas casas e Atena erguerá sua barreira. – iniciou Aiolos.

- Melhor assim. – disse Mikael. – iremos subir as famosas casas, a moda antiga. Vamos prolongar o sofrimento de Atena.

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Antes do sol nascer, o santuário já estava de pé. Os cavaleiros de ouro estavam preparados e Gabrian tinha se retirado para Star Hill. Atena e Shion estavam parados na porta do templo, olhavam para o céu à espera deles.

- Atena.

A elite dourada surgiu no final das escadarias, devidamente trajados com suas armaduras.

- Está tudo pronto. – disse Dohko.

- Ótimo. Infelizmente Shaka e Aiolos devem ter repassado informações sobre nós.

Aioria abaixou o rosto.

- Saga, Aioria e Shura serão a primeira defesa de Atena. Dohko e Miro quero que fiquem nos arredores. Os demais me acompanhem, eles não devem demorar a chegar.

Os cavaleiros se dividiram. Atena entrou em seu templo, olhando discretamente para seu grande Mestre.

- "Quero poupar Aioria, Shura e Saga de um possível encontro com Aiolos." – Shion disse telepaticamente a ela, notando o olhar.

- Entendo.

Nos arredores do santuário...

Os três arcanjos estavam parados a frente enquanto seus generais estavam atrás. Os olhares estavam no conjunto de templos que terminava com o principal, o templo de Atena. Aiolos fitava a paisagem sem emoção alguma.

- Raziel. – chamou o arcanjo do Fogo.

Aiolos deu um passo à frente. Os olhos verdes miraram as doze casas.

- A maioria está no templo e três estão nas casas. Posso sentir os elgins deles. Gêmeos, Leão e Capricórnio.

- Vamos fazer Atena sofrer. – disse Mikael. – Elemiah cuide de Gêmeos. Deseja confrontar seu irmão bastardo? – fitou o anjo.

- Eu irei lutar com ele se o senhor permitir. – Mahasiah se adiantou.

- Por mim. – respondeu Aiolos. – meu desejo é o Capricórnio.

- Façam como quiserem.

No templo e nas doze casas sentiram o cosmo de Aiolos.

- Eles chegaram. – disse Atena.

O grupo apareceu diante da casa de Gêmeos. Saga que havia sentido o cosmo do amigo surgiu na porta. Fitou rapidamente o grupo, mas o olhar parou no grego.

Saga estava acostumado a vê-lo com a armadura ou com sua roupa de treino e não com aqueles trajes e asas imponente. Seu cosmo estava mais fortificado e seu olhar mais frio. Ele não era mais o gentil cavaleiro de Sagitário.

- Deixe nos passar servo de Atena. – disse Uziel.

O geminiano sequer deu atenção para o arcanjo, o olhar estava pousado em Aiolos.

- Como ousar ignorar um ser divino? – Jeliel empunhou sua espada.

- E você era o mais honrado dos cavaleiros de Atena. – Saga disse para Aiolos.

O grego sorriu.

- As coisas mudaram Saga de Gêmeos. Infelizmente não serei seu adversário.

- Está cometendo um erro Aiolos.

- Raziel. – a voz saiu fria. – meu nome é Raziel.

Mikael vibrava. Havia sido um golpe de mestre enviar Raziel para junto dos humanos. E agora faltava pouco para ter o poder para Tenkai.

- Elemiah. – ordenou Raphaelle. – cuide dele.- Vai nos deixar passar Saga? – indagou Aiolos.

Ele não respondeu. Achou estranho, seres como eles passarem pelas doze casas a pé já que tinham poder suficiente para chegar ao templo. O que estariam tramando?

Aiolos tomou a frente, sendo seguido pelos demais.

Saga esperou eles sumirem para voltar a atenção para o anjo.

- Sou Elemiah, o anjo da Restauração, general de Raphaelle.

- Saga.

O cavaleiro o examinou. Ao contrário dos outros anjos, a vestimenta dele não lembrava a condição dele. Usava um sobretudo vermelho marsala. Se não fosse pelas asas, e pela auréola acima dos cabelos brancos, passaria por um roqueiro.

- Acho esse combate desnecessário, mas cumpro ordens.

- Digo o mesmo. – disse Saga.

- Sejamos rápidos então.

Nos arredores do santuário, Miro e Dohko, separados, sentiram a entrada dos seres dos céus. Estavam apostos se algo acontecesse. Na quinta casa, Aioria sentia cada vez mais perto o cosmo do irmão.

No décimo terceiro templo, Atena estava nervosa. O Abisko não estava com ela, tão pouco poderia contar com a ajuda de Gabrian.

Em Gêmeos...

Os combatentes se analisavam. Saga sabia que aquele anjo de expressão despreocupada deveria ter um enorme poder. Deveria tomar muito cuidado.

- Vamos começar. – Elemiah sorriu.

Quando Saga percebeu o anjo estava perto dele e foi por pouco que não conteve um soco. Rapidamente Elemiah girou, usando a perna para derrubá-lo. Saga bloqueou o ataque e contra atacou, mas o ser alado o conteve.

- Você é muito bom garoto.

- Agradeço o garoto, - Elemiah recuou. – apesar de eu ser milhares de anos mais velho que você. E em agradecimento... – começou a elevar seu cosmo. – vou te dar uma amostra do meu poder.

Shion e Giovanni na porta do templo acompanhavam a subida do grupo.

- Eles se movem muito rápido. – o italiano colocou seu elmo.

- Mesmo passando pelas escadas em poucos minutos estarão aqui.

O diálogo foi interrompido por um forte estrondo. Em todo santuário sentiram o choque dos cosmos de Saga e Elemiah.

- Mestre...

O ariano não disse nada, quem fosse o adversário de Saga possuía um enorme poder.

Rapidamente o grupo chegou a Leão. Aioria tinha saído ao sentir a explosão das casas abaixo, mas logo deixou essa impressão de lado para ficar atordoado. Viu Aiolos.

- Irmão...

Vê-lo naquelas roupas o deixou ressabiado.

- Aiolos...

Dianeirah observava atentamente o cavaleiro. Apesar de serem de essências distintas, fisicamente eles eram bem parecidos. Como se fossem verdadeiros irmãos.

- Sua família foi muito útil, humano. – disse Mikael. – cuidou muito bem do meu general.

- Maldito... – cerrou o punho. – o que quer que tenha feito a ele, desfaça agora! Aiolos não é um anjo e sim um cavaleiro.

- Ele ainda não entendeu? – Sitael rolou os olhos.

- As emoções humanas são muito fortes Sitael. – respondeu Uziel. – foi por isso que Lucy caiu. Se com um arcanjo é capaz de alterar sua essência, quiçá um mísero humano.

Aioria ignorou totalmente os outros e partiu para cima de Aiolos, segurando-o pelo colarinho.

Os generais iriam intervir, mas os arcanjos fizeram sinal que não.

- Isso não pode ser verdade.

- Que parte ainda não entendeu Aioria? – Aiolos o fitou friamente. – minha essência é divina, não me rebaixe aos capachos da humana.

Ao escutar, Aioria o soltou. Seu irmão jamais falaria desse modo.

- Entenda de uma vez o seu lugar, cavaleiro de Leão.

Raziel usou uma rajada de cosmo para afastar Aioria.

- Não percam mais tempo, meus senhores. – Mahasiah deu um passo à frente empunhando sua espada. – eu cuido dele. Pode ir Raziel, dou um jeito aqui.

- Obrigado. – sorriu.

Vê a cumplicidade dos dois, deixou Aioria desolado. Ficou tão desnorteado que não mostrou resistência quando o grupo começou a caminhar em direção a casa de Leão. Aiolos passou por ele e dois passos depois parou.

- Esqueça aqueles tempos garoto. – disse continuando o trajeto.

Aioria sentiu os olhos marejarem.

- Minhas ordens infelizmente não são para matá-lo. – o anjo ergueu sua espada. – mas será castigado por Mahasiah, o anjo da Temperança, por se atrever a chamar Raziel de irmão.

Atônico pelas palavras, Aioria não se mexeu quando um redemoinho de chamas azuladas foi ao seu encontro.

Em Star Hill, Gabrian estava recluso. Queria saber como as coisas estavam indo, mas se manifestasse seu Elgin, por menor que fosse, Mikael descobriria que ele estava vivo e não poderia arriscar sua missão. Torcia para que os cavaleiros permanecessem fortes, mesmo com o que estava por vir.

Sete presenças observam a movimentação no santuário. Por conta da magia de Kesabel, o cosmo de Astaroth estava oculto para Raziel e Atena.

- Não sente falta? – Gadrel alfinetou Shaka.

- Não. – respondeu seco. – Elemiah e Mahasiah estão lutando nas doze casas, senhor Lucy. Mikael e os da luz seguem pelas casas. Atena está no topo da montanha protegida por sete cavaleiros. Dois estão nos arredores.

- Perfeito. Yekun e Azazel cuidem deles, mas só agem quando eu mandar. Quero esperar Mikael ficar frente a frente com a humana.

Os dois ex anjos sumiram.

Assim como no caso de Saga, Atena e os demais sentiram a explosão de cosmo vindo de Leão. Contudo a intensidade tinha sido mais forte.

- Não acredito que Aiolos teve coragem de ferir Aioria! – exclamou Deba.

- Não é o cosmo dele. – respondeu Kanon. – apesar de está vibrando diferente, conseguimos sentir a energia de Aiolos.

- Mantenham-se em alerta. – disse Kamus. – a última barreira será Shura.

E por falar nele, estava parado diante de sua casa. As explosões de cosmo, em Gêmeos e Leão o deixou preocupado. Quando os arcanjos descobrissem que Abisko não estava ali, o pior poderia acontecer.