CAPÍTULO 17: Receita para a Felicidade
Notas Iniciais
Hoje temos mais convidados especiais! O pessoal da doceria Ryokushou veio diretamente do anime Deaimon para essa participação especial.
YUKIHIRA ITSUKA – a garotinha de 10 anos que é adotada pela família dona da doceria depois de ser abandonada por seu pai. Tem cabelos castanhos-claro médio-longo e olhos da mesma cor. Ela é trabalhadora e madura para a idade. Sua diligência e iniciativa a tornam querida por todos na doceria. Todos a tratam como a irmãzinha da família.
IRINO NAGOMU – é o protagonista de Deaimon ao lado de Itsuka. Tem cabelos e olhos pretos e 1,80 metros, sendo bem alto. Atualmente, tem 30 anos. Voltou para a casa da família após 10 anos ausente devido a doença de seu pai. Adora tocar violão. Seu temperamento muito gentil e coração bondoso o tornam cativante. Ele tem um carinho extremo pelos doces japoneses, chamados Wagashi, a ponto de lamentar quando são vendidos. É muito carinhoso com Itsuka e Kanoko.
MATSUKAZE KANOKO – namorada de Nagomu, ela veio de Tóquio para encontrá-lo depois que ele voltou para casa. Tem cabelos e olhos castanhos. Inicialmente por estar ressentida com Nagomu, arruma trabalho numa outra cafeteria e não avisa que está ali. Aqui na nossa história, eles já estão casados há dois anos. Ela é uma jovem ativa e confiante, complementando a personalidade compassiva de Nagomu.
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TATSUO HARU
- Temos que aproveitar o calor enquanto podemos! – Matsusaki Keiko exclamou, ajeitando os óculos escuros e os cachos castanhos que a brisa morna balançava. A camisa branca e a bermuda bege eram sua resposta à alta temperatura.
- O clima está realmente agradável. – Ichioka Miyo concordou, vestindo um cardigã lilás sobre o vestido florido de algodão. Os longos cabelos pretos domados numa trança grossa. Caminhava entre as duas amigas, feliz pelo encontro no final de semana.
- Só vocês para me fazerem sair de casa às vésperas de um jogo tão importante. – as garotas, não aceitando a recusa por mensagem, foram à porta do apartamento de Haru, intimando-a a acompanha-las naquela tarde brilhante de sábado. – Espero que esse café valha a pena, Keiko-chan. Os meus pés ainda não estão recuperados.
- Parece que todos tiveram a ideia de sair de casa hoje. – Keiko comentou, apontando para o gramado do parque que atravessavam. O lugar estava repleto de pessoas deitadas ao sol, fazendo piqueniques, lendo, conversando ou apenas apreciando a vista. – É o último sopro quente do verão e precisamos aproveitar.
- Os seus pés estão doendo, Haru-chan? – Miyo perguntou com sua voz delicada. – Se quiser, podemos sentar um pouco. – Haru negou, sinalizando para ela não se preocupar.
- Você está tão bonita, Miyo-chan! – as duas não interagiam há muito tempo e Haru notava que a jovem ainda era tímida com ela. – Foi tudo bem na casa da sua família nas férias? – Miyo ruborizou levemente, acenando afirmativamente.
- Estão vendendo kakigori! – Keiko as puxou para a barraquinha ao lado da calçada. – As coberturas são matcha, ameixa, morango ou leite condensado. – olhou animada para as duas.
"Não há como ficar brava com Keiko." Haru emitiu um sorriso, sabendo que a amiga se esforçava por ela. "As últimas semana não foram particularmente fáceis... Não custa relaxar um pouco."
- Vou querer de ameixa com um pouco de leite condensado. – os olhos verdes de Keiko faiscaram e seu sorriso aumentou.
- Miyo-chan quer com matcha, certo? – a garota confirmou. – O meu é de ameixa e morango.
As três seguiram rindo e conversando, sem saber que foram detectadas da calçada do outro lado da avenida.
SUGAWARA KOUSHI
- Tem certeza de que é por aqui? – Koushi estava preocupado em não se atrasar para o trabalho. – Podemos vir em um dia mais livre. – os dois caminhavam pelo tranquilo bairro residencial, longe da agitação do centro universitário.
- Seremos rápidos. – a confiança de Kazutoyo Sota era inabalável. – Se a informação que me deram estiver correta, a construção fica na mata do parque adiante. – apontou o enorme gramado brilhando sob o sol de verão, que eles avistaram ao dobrar uma esquina.
"Como ele pretende explorar entre as árvores vestido assim?" Koushi duvidou novamente ao olhar para o traje de terno completo cor de ameixa e a camisa de mangas compridas do amigo.
- Realmente há o torii. – Koushi viu o portão vermelho se erguendo entre as copas das árvores, visível de onde eles estavam, do outro lado da avenida.
- Dizem que há uma escada que leva ao Reino Oculto, onde vivem os ayakashi. – Sota comentou, sem se preocupar com os olhares das outras pessoas que aguardavam o sinal verde para atravessar em direção ao parque. – A amiga de Hina-chan disse que viu pequenos kappas procurando pepinos aqui perto.
Koushi suspirou, lembrando-se da conversa no restaurante, há dez dias. Murakami Izumi insistira para que Sota comparecesse para que um encontro duplo se tornasse triplo, pois Hina levaria uma amiga também solteira. Assim, Koushi e Himeno, Izumi e Hina e Sota e a amiga terminaram a noite em um restaurante. Havia uma clara afinidade entre os recém-conhecidos, pois passaram a noite falando de mitos e construções históricas, embora no final os dois tivessem ido embora sozinhos, para desapontamento de Izumi.
- Nós não iríamos apenas fotografar o templo para um post seu? – Koushi indagou, tentando focar a mente muito fértil do amigo. Em resposta, Sota ergueu as sobrancelhas.
- Olha quem está ali! – ele sorriu, ajeitando o terno e passando a mão nos cabelos para deixá-los despenteados. – Keiko-chan!
Os cabelos da nuca de Koushi se arrepiaram e ele engoliu em seco. Tinha conseguido evitar encontrá-la fora da universidade. Quando era estritamente necessário, certificava-se de chegar por último e sair primeiro para não ter que ficar a sós com ela. Ele sabia que precisava consertar esse comportamento horrível, mas não estava preparado.
"De todos os lugares de Sendai, por que ela está justo aqui?"
TATSUO HARU
Haru sentiu o sangue desaparecendo de suas mãos e pés ao ver o homem de calça jeans escura, camiseta salmão e bolsa carteiro de couro se aproximando rapidamente. Não sabia para onde olhar.
"O que eles estão fazendo tão longe?" Lembrou-se da última tentativa de esclarecer tudo com ele e de como ele simplesmente passou por ela como se ela fosse invisível.
- Nem acreditei quando vi vocês! – Sota exclamou, cumprimentando-as antes de se aproximar de Keiko como um garotinho feliz. – Também vieram visitar o templo? – Keiko negou, subitamente mais animada ainda, se isso era possível.
"É sempre assim quando ela está perto do Sota."
- Viemos conhecer uma doceria que faz doces tradicionais. – Keiko informou. – Miyo-chan disse que são os melhores de Sendai e que fazem receitas da região de Kyoto.
Koushi as saudou, escolhendo ficar ao lado de Miyo.
- Você não trabalha hoje, Koushi-kun? – Miyo sorriu levemente para ele. "Então ela usa o primeiro nome dele?... Claro que os dois são próximos. Estiveram no mesmo grupo."
- Peguei o último turno. – a voz dele soou grave. "Ele não quer nem olhar para mim." – É melhor vir agora, antes dos seminários começarem. Vocês estão num passeio só de garotas, não queremos atrapalhar. – anunciou, puxando Sota para seguirem seu caminho.
Sota o parou.
- Que tal se vocês vierem conosco ao templo e depois vamos com vocês à casa de doces? – Haru arregalou os olhos. Abriu a boca para negar educadamente, mas foi interrompida.
- Excelente ideia, Sota-kun! – Keiko até bateu palmas de felicidade. – Eu sempre quis ver como você faz as fotos e os vídeos! – ela se virou ansiosa para as duas amigas.
- Nós não vamos atrapalhar? – Miyo questionou, franzindo as sobrancelhas, indecisa. – Não podemos caminhar muito tempo e nem ficar em pé para preservar a Haru-chan.
- O que houve? – Koushi a encarou com preocupação na voz, fazendo Haru corar.
- Ela machucou por causa das guetas. – Miyo respondeu após o silêncio de Haru se estender incomodamente.
"Por que eu estou agindo como uma tola?"
SUGAWARA KOUSHI
- As eliminatórias. – Koushi comentou sobre os jogos que ocorreriam em dois dias. – Você vai jogar?
Sentia seu peito se agitar ao imaginar Haru pulando com os pés cheios de bolhas. À medida que se aproximaram para encontrá-las, seus olhos foram atraídos para o largo vestido rosa-claro que ela combinara com um colar de pérolas e tênis brancos. Os cabelos pretos curtinhos a faziam parecer uma coelhinha e quando ele se viu fantasiando isso, decidiu manter a distância segura que estabelecera em sala de aula. Seu estratagema foi por água abaixo quando, preocupado, ele deu um passo para perto da garota. Se mostrou um erro pois dali ele sentia o suave perfume floral dela.
- Não precisam se preocupar. – Haru se apressou a dizer, se afastando dele e se virando para tirá-lo do seu campo de visão. – Eu estou bem. Os tênis são macios. Se vocês quiserem subir ao templo, posso esperar aqui embaixo. – apontou para os bancos que ficavam próximos ao torii. – Deve ser divertido e a vista deve ser bonita. Tirem fotos e me mostrem depois. – ela disse tudo muito rápido, num tom ansioso.
"Faça alguma coisa!" Koushi olhou carrancudo para Sota.
- Peço desculpas, Haru-chan. – Sota se curvou. - Eu a coloquei numa situação difícil sem querer. Vocês têm seus próprios planos e será complicado mudá-los. – Koushi semi-cerrou os olhos para o amigo. – Haverá outras oportunidades para irmos junt... Nã... Não haverá? – ele gaguejou, confuso com Koushi negando com a cabeça. – Haverá outras chances para passearmos... Nã... Não?... Sim? – ele não entendia as expressões de Koushi, ora negando, ora comprimindo os lábios, ora concordando.
- Calma, garotos! – Keiko interrompeu, rindo deles. – Tenho uma sugestão melhor.
TATSUO HARU
"Nunca fui tão humilhada na minha vida... Como aceitei essa situação?... Isso é absurdo! Não consigo nem aproveitar um passeio em paz! A Keiko está me devendo sorvete até a formatura!"
- Quase no topo. – Keiko informou, olhando para os degraus abaixo e o trio que seguia logo atrás.
- Pelo menos a escada não parece abandonada. – Miyo comentou porque as pedras estavam limpas e livres de musgo e ervas daninhas. – Talvez só não seja muito popular atualmente. Sota-kun vai conseguir boas imagens.
Ele desabotoara o colete e os primeiros botões da camisa para conseguir se abaixar e esticar, procurando os melhores ângulos para fotos. Keiko o acompanhava, escutando as histórias que Sota pesquisara sobre o local.
- Se você não relaxar, nós vamos tombar para trás. – a voz de Koushi soou baixa, contendo a raiva.
- Estou tentando não encostar em você para não desencadear você-sabe-o-quê! – Haru sussurrou entredentes.
"Já é surpreendente nenhuma lembrança pornográfica ter surgido numa situação como essa."
SUGAWARA KOUSHI
Koushi suspirou, sem paciência para convencê-la. Apenas ajeitou as mãos e a impulsionou para o alto e a frente, fazendo-a se apoiar em suas costas. Haru soltou um gritinho, apertando mais os braços ao redor do seu pescoço.
"Se até agora não veio nada, duvido que vá acontecer dessa vez." Com o centro de gravidade equilibrado, foi mais fácil terminar a subida. "Ela é leve."
- Miyo-chan, ouvi que vocês do Clube de Atividades ao Ar Livre vão acampar no próximo final de semana. – "Sinto a respiração dela na minha nuca... A voz no meu ouvido me deixa atordoado." Ele mantinha a concentração nos sons dos solados na escada de pedra e o canto dos pássaros na mata ao redor para sua mente não mergulhar em imagens sonoras e arrepios. – Vi dois integrantes com um mapa rodoviário na biblioteca ontem.
- Vamos ao Drone Camp enquanto ainda não temos muitos compromissos na faculdade. Todos os membros irão dessa vez, o que é bem raro. – Miyo observava a mata ao redor do caminho, analisando a vegetação e os pequenos macaquinhos saltando de um galho ao outro. – Eles começaram a aparecer na metade mais alta.
- Sota-kun disse que o Kami daqui os usa como seus olhos. Eles impedem a aproximação de qualquer um que não seja do Seu agrado. – Koushi também os viu, ponderando que a quantidade dos animados habitantes aumentava à medida que se aproximavam do topo. – Ele até trouxe comida para oferecer a eles.
"Sinto o corpo dela... É tão quente... Os seios dela estão nas minhas costas!" Koushi tentou se distrair, adivinhando mentalmente para onde os macaquinhos pulariam, mas suas costas o lembravam o tempo todo da temperatura de Haru. "Como o corpo de uma garota pode ser tão suave e macio?" Sua mente traidora não parava de registrar os contornos que ele sentia pelo tato, ameaçando mergulhar num morno mar de nuvens fofas. "Devo pensar em Sumi... Sumi... O perfume de Sumi... Sumi treinando... Sumi rindo... Sumi falando..."
- Não acredito que vocês ainda estão aí embaixo! – a voz de Sota zombou, tirando-o da ilusão.
TATSUO HARU
"Não entendo como as tais lembranças funcionam." Haru pensava, vendo os dois rapazes tirando fotos e comentando sobre o prédio simples e limpo do templo. "Não que eu esteja reclamando... Assim é claramente mais eficiente." Ela sentiu a pele dos braços que tocaram Koushi sem desencadear qualquer imagem erótica. "O calor dele demorou a sumir... Eu não precisava ficar tão tensa."
- É um local bastante calmo. – Miyo comentou, esticando os braços e respirando fundo. – O ar é revigorante.
- A fonte de água também está limpa e fresca. – Keiko deixava a concha de bambu para escorrer, depois de beber bastante.
As três viam os dois pequenos prédios de madeiras antigas, vendo o pátio varrido e o jardim bem-cuidado.
- Provavelmente, quem cuida daqui são as miko de Tenjin-sama. – Sota apontou para uma placa de pedra onde estava uma parte do famoso poema de Sugawara-no-Michizane. – Mas, como não é movimentado, não precisam residir no local.
Foi quando Haru se deu conta das duas ameixeiras que ladeavam a entrada do templo.
- "Ao soprar o vento leste, Exalem seu perfume, Oh, flores da ameixeira! Mesmo longe de seu mestre, Não se esqueçam da primavera."... Você veio aqui pedir ajuda por que não consegue parar de jogar? – Koushi provocou ao terminar de ler a inscrição em voz alta.
- Não, vim para ver se você faz jus ao seu sobrenome. – os olhos de Sota brilharam de malícia ao se virar de relance para o amigo, que segurava a corda do sino. Koushi apenas revirou os olhos e o deixou fotografá-lo.
Haru desviou o olhar, tentando não fixar o tom baixo e reflexivo de Koushi ao ler o famoso poema, que ligava estranhamente os dois pelas flores de ameixeira na primavera.
- Será que ainda existem humanos que são transformados em Kami, como Sugawara-no-Michizane? – Keiko questionava distraída enquanto caminhava pelo jardim perto da fonte, recebendo um risinho de Miyo em resposta.
- De qualquer forma, ter vocês três aqui é uma novidade que vai ficar bem no meu vídeo. – Sota apontou a câmera para elas também. – Apenas ajam naturalmente.
SUGAWARA KOUSHI
Sota sinalizou com o queixo onde ela fora. Em seguida, passou o mesmo polegar na garganta, claramente ameaçando arrancar sua cabeça se ele não agisse. Koushi respirou fundo, pedindo para ele não deixar ninguém se aproximar.
A visão de Haru em meio às árvores fez sua mente nublar. Ela estava encantada com os passarinhos de várias cores que pousavam nos galhos mais baixos, sem medo da aproximação dela. Os raios do sol pontilhavam o rosto e o corpo dela, fazendo-a parecer uma kami da primavera em meio à natureza silenciosa. "Não pode ser efeito daquelas malditas lembranças."
Ele quebrou a atmosfera ao pisar em folhas secas. Haru se virou, sorrindo, mas estremeceu e recolheu a mão estendida para um pássaro amarelo quando o viu, abaixando imediatamente o rosto. Koushi engoliu em seco.
- Eles se acostumaram com a presença humana por causa das miko. – sua voz vacilou enquanto ele apontava para os diversos comedouros e bebedouros na borda entre o gramado do templo e o bosque. Haru piscou os olhos voltados para chão. – É um templo pequeno, mas muito acolhedor, não acha? – ela franziu o cenho, suspirando audivelmente.
- Não precisa fingir, Sugawara-san. – ele precisou se esforçar para ouvir porque ela mal abriu a boca. - Eles não estão por perto. E é melhor que não vejam que estivemos sozinhos aqui. – ela ergueu o rosto, fixando o olhar num ponto além dele e marchou rápido, com a intenção de sair dali o quanto antes.
- Tatsu... Não! Haru! – ele se interpôs. Ao ouvir o tom grave e autoritário, ela o encarou e ele viu, nos olhos castanhos-claro, como ela estava magoada e furiosa.
TATSUO HARU
- Voltei a ser Haru? – ela ergueu o queixo, respirando rápido. "Droga, por que aqui e agora? Não tenho um minuto de paz?... E esse cheiro que me entorpece? Por que o perfume dele é tão bom?... Yumi estava certa... Tem uma tempestade dentro de mim... E uma escuridão profunda nele." – Por que? Decidiu que não quer mais brincar para ver quem consegue desprezar mais?
- Sim, eu demorei a perceber que fui egoísta e lerdo. – a voz dele tremeu um pouco. – Pode me bater e me xingar, eu mereço. Só, por favor, me perdoe pelo meu comportamento irresponsável. – ela franziu os lábios com força, a respiração ruidosa. – Jamais vou repetir algo assim, prometo.
Ela pisou firme e deu um sonoro tapa no rosto dele.
- Você pensa que eu sou descartável? – outro tapa. – Essas foram as piores semanas desde que eu mudei para cá! Você me traiu! Eu confiava em você! – outro tapa. – Eu tenho sentimentos, sabia? Nunca mais faça isso! Nunca mais! – ela começou a dar tapas no peito dele. Koushi não a impediu. – Eu só quero ficar perto de você! Quero que sejamos amigos! Você não pode sair decidindo as coisas sozinho! Você me ignorou como se eu fosse feita de ar! – "Não vou chorar!" ela rangeu os dentes, sentindo as mãos pesarem e os tapas ficarem mais lentos. - Como você pôde? Por que fez isso? Por que? Eu prometo que nunca mais vou chegar perto de você! Não me faça me sentir inútil de novo! Eu não sou um pedaço de papel, sou uma pessoa! – ela gritou essa última palavra e caiu na grama, o coração galopando desenfreado, tremendo.
Koushi se ajoelhou e encostou a testa no chão. Os olhos dela se arregalaram. "Dogeza?"
- Por favor, me perdoe só dessa vez. – Haru se endireitou, olhando em volta. Pensou ver, no canto do templo, três cabeças se escondendo. – Eu prometo que vou ser melhor.
- Eu não quero mais desentendimentos. – ela conseguiu dizer quando o coração se acalmou. – Sempre vamos conversar e resolver juntos o que quer que seja. – ele concordou imediatamente. Devagar, os lábios dela se curvaram para cima. – E você vai pagar a minha conta na doceria.
- Si... – ele ergueu a cabeça e ela fechou a cara novamente, fazendo-o voltar para a posição. – Sim! – ela suspirou, aliviada.
- Você é uma das pessoas que mais me conhece... Por favor, me respeite mais. – ela tocou na cabeça de Koushi, liberando-o.
- Nunca foi minha intenção magoar você, mas aprendi que as ações têm consequências inesperadas. – os olhos dourados não tinham mais escuridão e o semblante dele estava sereno. – Serei mais cuidadoso. – ele emitiu um leve sorriso.
- Eu bati forte. – os olhos dela brilharam travessos vendo as marcas vermelhas nas bochechas dele.
- Vou dizer que um galho me atingiu. – Haru riu, aceitando a mão que ele ofereceu para ajudá-la e levantar.
- Tarde demais. – ela apontou para as costas dele, onde os três bisbilhoteiros surgiram rindo.
SUGAWARA KOUSHI
- Obrigada pela ajuda. – Haru se curvou levemente quando Koushi a colocou na calçada ao pé da escadaria. - Foi melhor do que ficar aqui embaixo, no final das contas.
Ele sentiu suas bochechas esquentarem ao ver o sorriso tímido da garota.
- Agora, para a doceria! – Keiko exclamou, acenando feliz para retomarem seu destino original. – Quando você vai postar o vídeo, Sota-kun?
- Ainda preciso editar, colocar algumas explicações sobre as estátuas e o poema. Daí, escolher a trilha sonora. – Sota enumerou, ajeitando a mochila com os equipamentos de filmagem e fotografia. – Acho que mais uns quatro dias.
- E as provas da próxima semana? – Miyo perguntou, erguendo as sobrancelhas.
- Izumi-kun me passou um resumo. – Sota contou relaxado. – Os próximos seminários serão mais interessantes. Agora, os deliciosos doces que nos foram prometidos!
- E quem prometeu isso a você? – Keiko bateu no ombro dele, rindo.
- Será que esses dois estão conscientes do que está acontecendo com eles? – Haru comentou em voz baixa, caminhando ao seu lado. – Eles brilham muito. - Koushi arregalou os olhos com a observação e depois caiu na risada. – Você não vê os coraçõezinhos e brilhos de mangá shoujo?... Por que está rindo tanto?
- Nunca mais vou olhar para eles de outro jeito. – Koushi piscou ao ver os mesmos efeitos dos animes de romance ao redor do rosto sorridente ao seu lado. "O que está acontecendo aqui?... Me sinto tão confortável... O que diabos eu estou fazendo?" – Como estão os treinos? (Haru: cansativos. A treinadora nos fez assistir muitos vídeos das partidas dos outros times, mais do que o habitual.) Você vai jogar, mesmo com os pés assim? (Haru: é para isso que você me carregou.) "Ela está tão segura... A voz está tranquila e a expressão descontraída... Quero que ela esteja assim sempre." Koushi sentiu o rosto esquentar ao realizar esse pensamento. – Os doces dessa loja devem ser especiais para você se arriscar numa véspera de campeonato.
- É ali! – Keiko apontou a construção de madeira na esquina da rua, chamando-os para se apressarem.
- Pode parecer hipocrisia de alguém que só viveu para o vôlei desde os 11 anos. – Haru tinha um meio sorriso ao comentar num tom suave, olhando para os amigos esperando em frente ao estabelecimento. - Estou descobrindo que há coisas pelas quais vale a pena arriscar até um campeonato.
TATSUO HARU
"Ryokushou – Doces Tradicionais Japoneses... Que cheiro bom!"
- Bem-vindos! – saudou imediatamente uma garotinha de cabelos castanho-claros e expressivos olhos claros. – Mesa para cinco?
Haru piscou para acostumar a visão ao interior da pequena doceria. Keiko e Miyo já estavam escolhendo no balcão em frente à porta, observadas por uma senhora de olhar gentil e uma mulher mais nova que sorriu para ela.
"Parece um bom lugar... Keiko disse que é da família Irino e que os doces são de alta qualidade."
- Está surpreendentemente fresco e vazio. – a voz de Koushi soou em suas costas, provocando arrepios.
- Que tal ali? – Miyo indicou uma das mesas perto das janelas.
- Claro. – a garotinha assentiu. – Por favor, logo virei pegar os pedidos de vocês. – deixou os cardápios de verão sobre a mesa.
"Ela é melhor nisso do que eu." Haru pensou, divertida. "Seriam avó, mãe e filha?... Não, a mulher com rabo-de-cavalo é muito nova."
- O que recomenda, Keiko-chan? – Sota apressou-se a preencher o banco ao lado da colega, empilhando as mochilas e bolsas do outro lado do banco. – Já que é a única que conhece os sabores.
"Sota é sorrateiro. Intencionalmente, reservou o banco apenas para os dois." Miyo, Koushi e Haru sentaram-se em frente ao casal reluzente de shoujo. "A aparência é linda! Como eu vou comer essas fofuras?" Acidentalmente, ela encostou a mão na mão de Koushi, ficando subitamente tensa. De novo, nenhuma memória estranha. Olhou-o surpresa ao ouvi-lo suspirar. "É realmente um alívio... Consigo sentir a temperatura do corpo dele, como na escada do templo... Ele parece calmo, mas deve ter ficado nervoso também... O perfume dele é tão bom... O que eu estou fazendo?" Haru sacudiu a cabeça, tentando ler as explicações ao lado de cada foto, consciente demais do braço ao seu lado a ponto de notar as contrações dos músculos. Engoliu em seco.
SUGAWARA KOUSHI
"Eu vou matar você, Sota!" Koushi via o descaramento do amigo, fingindo não notar o olhar assassino direcionado a ele enquanto sorria feliz, conversando despreocupado. "Enquanto eu não posso sequer me mexer!"
- Qualquer um é delicioso. – Keiko afirmou. – Minhas senpai encomendam em todas as estações.
- Estou envergonhada. – Haru disse, passando o cardápio para ele. – Não conheço nada de doces japoneses. Por causa do vôlei, evito comer açúcar.
- São deliciosos! E não levam tanto açúcar como os ocidentais. – os olhos de Miyo percorriam entusiasmados o cardápio. – São ótimos para a pele e a firmeza das articulações.
"Miyo é uma especialista. Ela tem sempre um mochi ou uma balinha... Eu também não sei muito bem o que pedir... Pensei que Haru, por trabalhar numa cafeteria tradicional, teria mais experiência..."
- Que tal pedirmos um de cada e aí todos experimentam? – Keiko sugeriu.
- Aqui estão os que me pediu, Kanoko. – um homem de cabelos pretos e uniforme branco de cozinheiro entregou uma bandeja cheia de doces em forma de glicínias à mulher do balcão. – Esses estão com tudo hoje. – o leve sorriso em seu rosto chamou a atenção de Koushi.
"Parece que todos aqui trabalham com alegria." O homem tinha uma expressão tranquila ao observar o salão.
- Irino-san! – Keiko se virou para trás ao ouvir a voz conhecida. O homem acenou.
- Se não é Matsusaki-chan. – ele veio até a mesa. – Finalmente veio conhecer a loja.
- Pensei que estivesse fazendo entregas. – "Ele parece descontraído e relaxado." - Não sabia que o encontraria aqui.
- Na verdade, eu só faço as entregas quando estamos com falta de pessoal. – Irino sorriu. – A doceria é da minha família, então ajudo onde é preciso.
- O que você indica para quem não tem costume com doces japoneses? – Keiko perguntou. – E que não queira nada com muito açúcar. – Irino pensou por um momento.
- O que você sugere, Itsuka-chan? – a garotinha se aproximou e ele explicou o pedido.
- Que tal aqueles Brotos de Flor Vermelhos que você fez agora a pouco, Nagomu-san? – ela prontamente respondeu, fazendo o sorriso do homem aumentar. – É uma boa para começar.
- Vou pedir à Kanoko para nos ajudar. – ele acariciou a cabeça da garotinha, que ficou vermelha de vergonha, mas o seguiu até o balcão.
"Mesmo com a loja enchendo, eles estão tranquilos... É como se confiassem em si mesmos e nos companheiros... Não, não é só isso..." Koushi observou-os arrumar os doces em formato de flor vermelha nos pratinhos, enquanto a senhora mais velha servia as canecas de chá verde.
- Não tem problema nenhum. – a voz de Haru o trouxe de volta à conversa. – Mesmo com os pés sensíveis, continuei treinando.
- Vocês dos clubes de esporte se esforçam muito. – Sota comentou. – De qualquer forma, nós vamos assistir vocês dois nas eliminatórias.
TATSUO HARU
"O que? Eles vão nos assistir?... Por que?"
- Isso era segredo, Sota-kun. – Keiko estreitou os olhos para ele. – Era nossa surpresa. – "Esse sorriso sem-vergonha dela me deixa sem ação." Instintivamente, Haru se virou para Koushi e encontrou os olhos dourados postos nela. Ela sentiu o calor subir pelo pescoço antes de desviar o olhar. "Ele também está ruborizado?... Não é minha imaginação?"
- Vai ser ótimo ter vocês na plateia. – Koushi disse. – Mas vocês não deveriam se concentrar nas provas?
- Um ou dois dias não vai fazer tanta diferença. – "Ele diz isso porque sempre briga com Izumi e Keiko pelas primeiras posições no ranking." – Além disso, temos que apoiar os amigos.
- Eu nunca vi uma partida ao vivo. Vai ser bem legal. – Miyo comentou, do outro lado de Koushi. – Hotaru-kun disse que é emocionante!
"Parece que as expectativas estão altas... Amigos?... É isso mesmo?" Os rostos contentes ao redor de Haru brilharam de um jeito diferente. "Ele também está feliz?" Koushi endireitou a postura, como se aceitasse a responsabilidade de atender às expectativas deles.
- Okaasan, estamos prontos aqui. – Irino anunciou, com a bandeja na mão. – Kanoko, tudo bem?
- Não é nada pesado. – a mulher com rabo-de-cavalo deu a volta no balcão, trazendo uma segunda bandeja com os pratinhos.
- Depois, você vai se sentar um pouco. – Irino recomendava preocupado. – Eu fico aqui na frente para você.
"Ela finge que não está ouvindo, mas o sorriso é perceptível... Ela está grávida!" Os olhos de Haru arregalaram.
- Aqui estão os Brotos de Flor. – Kanoko serviu dois e Irino os outros três. – Espero que gostem. – ela sinalizou para eles experimentarem. – É uma das especialidades de Nagomu, feita com açúcar japonês. Ele tem se esforçado para seguir a receita da família. – "Ela fala com tanto orgulho do marido." – Já que Matsusaki-san conhece os nossos produtos, pode sentir alguma diferença, pois ele assumiu alguns doces a pouco tempo.
Irino voltou com as canecas de chá quentinhas e postou-se ao lado da esposa, tocando suas costas com cuidado.
- Está uma delícia! – Keiko cortou um pedacinho com o espetinho de bambu. – Para mim, melhor que o da última vez!
- É realmente diferente do sabor que eu conheço. – Miyo, a especialista da mesa, provou um bocado. – É mais suave e leve.
"O rosto da sra. Kanoko se iluminou!"
- Fico feliz que gostaram. – Irino se curvou em agradecimento. – Ainda tenho muito o que aprender. Por favor, aproveitem.
O casal se afastou e ela os observou cumprimentar outros clientes antes de voltarem para trás do balcão.
- Acho que você vai gostar, Haru-chan. – Koushi lhe disse. - É realmente muito gostoso e não é doce demais.
Ainda impactada pela visão do casal e consciente demais da presença dele ao seu lado, Haru olhou por tempo demais para Koushi. Sem saber o que fazer, ele espetou um pedaço e ofereceu.
- Aqui, aaaaahhhh... – ao ver o rosto completamente vermelho dele, Haru acordou. "Ele está fazendo o som para abrir a boca que a gente vê nos animes de romance!" O olhar dela dardejou pelos rostos curiosos dos amigos antes de abocanhar rapidamente o doce e se virar para o outro lado.
- É realmente bom. – ela disse com relutância, sem coragem de olhar para ninguém e tendo certeza de que Koushi ouvia nitidamente seu coração descontrolado.
- Eu terminei o trabalho mais cedo para você descansar. – Irino ainda tentava convencer a esposa a se sentar. – Tudo bem, Obaasan não vai ficar bravo.
"A voz dele está cheia de carinho e cuidado."
- Você ainda é todo atrapalhado no atendimento. – "E a dela, cheia de preocupação e uma pitada de impaciência." – E já vai começar o horário de maior movimento.
- Não vai fazer mal você colocar as pernas para cima um pouco, Kanoko. – a senhora de coque o apoiou.
- Pode ir, Kanoko-chan. – a garotinha Itsuka afirmou. – Eu ajudo Nagomu-san e Obaasan. – "Ela parece tão madura para a idade. Será que é irmã de algum deles?"
- Então, conto com você, Itsuka-chan. – Kanoko cedeu. Antes de entrar, seus dedos deslizaram pelo ombro do marido e ele respirou fundo, aliviado.
"Quero viver algo assim também."
- Que tal pedirmos mais? – Sota propôs e ela se virou para o grupo para apoiar a ideia. Viu que Koushi estava concentrado na mesma cena.
SUGAWARA KOUSHI
"Quero viver algo assim também."
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Notas Finais
Kakigori – gelo raspado, coberto com xaropes de frutas e leite condensado. É uma tradição popular no verão japonês, entre julho e agosto.
Torii – portão que marca a entrada de santuários xintoístas e simboliza a separação e união entre o mundo material e espiritual.
Ayakashi – entidades sobrenaturais, espíritos ou aparições com uma natureza misteriosa e que habitam locais específicos, como florestas, rios e montanhas.
Kappas – entidades do tamanho de uma criança pequena com dedos unidos por membranas, casco de tartaruga e um orifício em forma de tigela na cabeça. Precisam viver perto da água. Adoram pepinos.
Miko – as sacerdotisas dos santuários xintoístas.
Dogeza - a pessoa se ajoelha em frente à outra, com as duas palmas das mãos e a testa no chão para expressar submissão ou um pedido de perdão por uma falta muito grave.
Deaimon – anime slice-of-life contando a história de Nagomu. Ele fugiu sua casa para se tornar músico. Ao saber que seu pai foi hospitalizado, ele volta assumir a loja de doces da família. No entanto, enquanto ele estava fora, a jovem Itsuka começou a trabalhar na loja. A relação entre todos os personagens é muito bonita e sensível. É um dos animes que assisto quando estou triste ou perdi a fé na humanidade. Vale muito a pena ver!
Reino Oculto – onde os ayakashi vivem quando não estão no Reino Aparente (humano).
Clube de Atividades ao Ar Livre – peguei a ideia de um outro anime muito tranquilo de ver: Yuri Camp. São garotas acampando e passeando pelo Japão. Esse ano estreou a 4ª temporada.
Tenjin-sama – Sugawara-no-Michizane, um proeminente político e estudioso do século IX, foi deidificado sob o nome de Tenjin. Hoje ele é venerado como Kami da educação e do aprendizado. Ele é personagem do anime Noragami, outro super-indicado.
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Olá!
Não aguentei deixar no ar o gosto amargo do último capítulo, então corri para aprontar esse.
Um pequeno templo na periferia de Sendai não é um cenário excelente para uma reconciliação? E depois ainda temos doces japoneses! Eles realmente são menos açucarados que os ocidentais e são sazonais. Se o pessoal da Sendai for em estações diferentes, vai encontrar outros tipos de doce. Cada um mais lindo e fofo que o outro!
Koushi mereceu a surra. Espero que ele não esqueça tão cedo e valorize mais o que tem diante de si. E espero que Haru se imponha mais, deixe de aceitar com tanta facilidade as coisas ruins que acontecem.
E você, acha que tudo isso foi planejado por Sota e Keiko? Eu ainda tenho dúvidas. :-)
Nos próximos capítulos, teremos as tão faladas eliminatórias.
Te vejo lá!
Abraços,
Jasmin
