No outro dia de manhã, Anne e Draco estavam indo em direção ao Salão Principal para tomar café, mas pararam na porta encarando sua própria mesa. Era difícil saber que Di não iria aparecer ali, mesmo que atrasada. Ambos se olharam e não conseguiram ir para lá. Black olhou então para a direção oposta, e acabou visualizando Potter e Weasley, que pareciam estar apenas cutucando a comida sem comê-la e os dois estavam em completo silêncio. Ela então mostrou essa cena para seu primo e ambos decidiram ir sentar com eles, afinal os dois trios estavam desfalcados.

Os dois grifinórios não conseguiram esconder a surpresa quando viram os outros dois sentando-se à frente deles, porém logo acabaram engatando em uma conversa baixa sobre os acontecimentos que envolviam o herdeiro de Slytherin. Nenhum deles acreditava que pudesse ter sido Hagrid, afinal o mesmo era amigo do trio dourado e nunca seria capaz de lhes fazer mal. Harry disse que precisavam conversar com o guarda-caça, talvez ele soubesse ou tivesse alguma noção de quem estava por trás dos ataques. Os outros três concordaram, aquilo poderia ser realmente útil, e então combinaram que iriam mais tarde, depois do fim das aulas do dia.

Ao findarem o café da manhã, Anne e Draco se preparavam para voltar à sua mesa, porém foram impedidos por Minerva McGonagall, que acabara de dizer que iria acompanhar os alunos de Gryffindor e Slytherin até sua primeira aula: Transfiguração, a sua própria. O quarteto se entreolhou, achando aquilo muito estranho, porém nenhum deles disse nada, apenas deram de ombros.

Nenhum dos quatro conseguiu prestar muita atenção no que a professora falava, estavam um tanto dispersos. Minerva tentava seguir como se nada tivesse acontecido, porém Anne era capaz de notar que o canto de seus olhos tremia, provavelmente por conta do estresse pelo qual estava passando.

Ao término da parte teórica do feitiço que estava sendo aprendido, McGonagall disse que aprenderiam a prática apenas na aula seguinte e, pela primeira na vida, deixou os alunos não fazerem nada pelos 30 minutos restantes. Todos ficaram tão atordoados que mal se mexeram ou abriram a boca para falar alguma coisa.

A professora, então, os acompanhou novamente até sua próxima aula, que era Poções. Não havia outra palavra para descrevê-la: desastre total.

No momento em que Anne, Draco, Harry e Ron entraram na sala, pararam logo de andar pois ficaram assustados com a cena que viram: Severus Snape estava parado recostado à sua própria mesa e a expressão em seu rosto era a pior possível. Seu rosto estava mais esbranquiçado que o normal, contrastando ainda mais com seus cabelos negros. Seus olhos estavam vermelhos, parecia que ele havia chorado novamente ou estava com muita raiva.

Os quatro pararam perto da porta quando o olhar do homem parou sobre eles. Sentiram o frio descer pela espinha, tinham certeza de que aquela era a forma mais fria com que Snape já havia os encarado, nem mesmo Harry Potter sozinho tinha passado por algo assim antes. Engolindo em seco Anne agarrou os braços dos dois mais perto de si e os puxou com ela até uma mesa, com o intuito de escapar do professor irado. Escolheram as mesas mais ao fundo da sala, afinal não queriam ser os primeiros na linha de frente caso Snape resolvesse cometer alunicídio ali mesmo e o quarteto tinha plena certeza de que isso não tardaria a acontecer.

O homem de vestes negras tocou o quadro-negro com a varinha e ali apareceu o nome da poção que eles deveriam preparar naquela aula. Sem nenhuma palavra sobre o assunto, ele apenas frisou, com o tom de voz mais seco e frio que já utilizara com qualquer aluno presente ali, que se ouvisse qualquer ruído que não fosse pertinente ao preparo da poção ele puniria a pessoa imediatamente sem chance para discussão e obviamente ninguém abriu a boca para nada. Levantaram-se em silêncio para pegar os caldeirões e ingredientes necessários para tal e retornaram a seus lugares também em silêncio. Anne, Draco, Harry e Ron de vez em quando trocavam olhares preocupados, mas também não fizeram comentário algum.

Severus sentou-se em sua cadeira e ali ficou, não ficou andando por entre as carteiras para acompanhar o desempenho dos alunos como sempre fazia, o que era alívio para a maioria dos grifinórios, que praticamente sempre acabavam se atrapalhando ao ter o professor respirando em suas nucas esperando que dessem algum passo em falso para que pudesse repudiar e assim seguiu a aula, com a maior parte dos alunos amedrontada demais para tirar qualquer dúvida sequer. Em resumo, acabou sendo tranquilo e, na opinião de Ann, podia ter sido muito pior. Nem Longbottom tinha conseguido tirar Snape do sério e isso era uma grande vitória. Entretanto, como já era de se esperar, o pensamento cruzou a mente da jovem cedo demais.

Duas coisas aconteceram em seguida: ouviu-se um barulho de metal se chocando contra o chão e o menino em questão começou a gritar e choramingar alguns instantes depois, aparentemente seu caldeirão havia derretido e a poção escorrera do mesmo, derretendo também parte da mesa, o que fez com que o apoio do material cedesse e derrubasse tudo o que havia ali, inclusive o caldeirão. Alguém que estava sentado na frente exclamou que o líquido estava corroendo o chão também.

O quarteto do fundo apenas se entreolhou, depois arriscaram um rápido olhar na direção de Severus - que demonstrava um olhar que só podia ser descrito como assassino - e, como se tivessem ensaiado esse movimento durante meses, se encolheram nas cadeiras, tomando o cuidado de não derrubarem nada.

Segundos depois escutaram novamente o tom gélido e cruel da voz do professor comentando que Neville Longbottom havia conseguido um mês de detenção com o homem e que, como o menino não tinha aptidão nenhuma para ser um bruxo que se preze, iria começar limpando a bagunça que fizera sem o uso da magia, inclusive arrumar o que havia estragado e que não importava como ele faria isso, mas queria perfeito como era antes de o mesmo depredar o patrimônio da escola. Terminada sua fala, ele retirou 50 pontos da casa de Gryffindor. Até esse ponto tudo estava normal, Severus sempre fazia isso, mas o que ocorreu a seguir foi algo que ninguém esperava: Theodore Nott soltou uma risadinha e Snape se virou para ele, fazendo Anne se erguer um pouco da cadeira para observar o que se passava e a jovem por pouco não desmaiou. O professor tinha o mesmo olhar assassino em sua face e retirou 40 pontos do garoto, lembrando que havia falado no começo da aula que não queria ouvir nenhum ruído.

Após isso o homem acenou com a varinha, fazendo todos os caldeirões e ingredientes sumires, dizendo que faria a mesma coisa com os alunos se estes não sumissem da sua frente em dois minutos, menos, obviamente, Neville. Sem esperar para ver se isso realmente aconteceria, o quarteto simplesmente enfiou o material de qualquer jeito em suas mochilas e saíram dali praticamente correndo.

Uma vez que os quatro estavam no corredor olharam um para o outro assustados com que havia acontecido. Draco chegou até a se dar um beliscão, provavelmente tentando comprovar que não estava sonhando ou melhor tendo um pesadelo, e a careta de dor que ele fez foi o bastante para o loiro concluir que aquilo era real, bem real.

Anne sacudiu a cabeça pela palhaçada de seu primo, e tirou os meninos do devaneio que estavam.

- Precisamos falar com o Hagrid. - ela disse determinada. - Não vamos aguentar essa situação por muito tempo. E outra, quero achar o desgraçado que atacou a minha irmã!

Draco rapidamente assentiu, dizendo que teriam que tramar logo o plano se realmente queriam ir naquela noite. Harry logo se apressou falando que mandaria um bilhete a Hagrid, avisando que iria tomar um chá com ele assim que as aulas terminassem e assim eles poderiam ir sem problema algum e o amigo já estaria avisado que receberia visita, só não saberia quantas pessoas iriam e o verdadeiro motivo da visita. O coração da sonserina amoleceu um pouco com as palavras e a determinação de Potter em ajudar. Obviamente não era só a garota que havia "perdido" alguém, a melhor amiga do Grifinório também estava petrificada, assim como Di, então Ann presumiu que ele entendia perfeitamente o que ela estava sentindo. Apesar de tudo, a jovem estava feliz de poder compartilhar a raiva e a dor com os amigos mais inesperados. E realmente eram inesperados. Nunca havia sonhado que em algum ponto de sua vida estaria lado a lado com Harry Potter para descobrir alguma coisa, mas aquilo era bom, havia encontrado uma ótima amizade. Apesar de se irritar com Ron quase o tempo todo, não podia negar que ele também era uma boa pessoa. Seria legal tê-los por perto. Depois de seu momento introspectivo de pensamento, Anne deu um sorriso aos meninos e os quatro subiram as escadas que levavam ao Grande Salão para almoçarem.

Durante o almoço o pequeno grupinho quase não conversou. Estavam observando a movimentação no Salão apenas, notando o quanto a grande maioria dos presentes apresentava certa tensão no olhar e nos movimentos. Perto do horário da próxima aula deles, Herbologia para os Grifinórios e Feitiços para os Sonserinos, apareceram simultaneamente os professores Sprout e Flitwick, dizendo que os acompanhariam às aulas seguintes. Anne, Draco, Harry e Ron trocaram olhares significativos antes de acompanharem seus respectivos professores e a dúvida estava estampada nos rostos deles: por que os professores os estavam acompanhando a todas as aulas?
Assim que entraram na aula, Ann e Drake trataram de sentar perto de dois meninos da casa de Ravenclaw para poderem perguntar o por quê exatamente de os mestres estarem fazendo aquilo. Assim que o professor começou a passar a parte teórica do feitiço que aprenderiam naquele dia, Black rasgou um pedaço de pergaminho e escreveu apressada no mesmo a pergunta que estava martelando sua cabeça, juntamente com um "o que está acontecendo?" logo dobrando-o e o jogando pra frente, onde os dois corvinos estavam e começou a copiar a matéria do quadro. Poucos instantes depois o pergaminho estava em sua mesa aberto e com a resposta: Eles têm medo de que os alunos sejam atacados. Estão acompanhando-nos a todo lugar e não temos permissão de sair das comunais a não ser para as aulas.

Piscando um pouco atordoada ela passou o bilhetinho para Draco, que franziu a testa ao ler. Os primos se entreolharam, certamente em suas cabeças se passava o mesmo pensamento: Como iriam até a cabana do Hagrid se estavam sendo acompanhados o tempo todo? Passaram a aula de Feitiços inteira, assim como a de Herbologia, que era a próxima, com essa dúvida martelando em suas cabeças.
Assim que chegou a hora do jantar, os dois sonserinos nem se deram ao trabalho de se dirigirem até sua própria mesa; foram diretamente à de Gryffindor para discutirem com Potter e Weasley sobre como procederiam para descobrir quem era o verdadeiro responsável por aquilo que estava acontecendo. Harry deu a ideia de usarem a Capa de Invisibilidade, porém Ron falou que a capa era muito pequena para cobrir os quatro. Ann semicerrou os olhos, deixando de ouvir a conversa dos meninos por alguns instantes enquanto mergulhava em seu mundo de pensamentos e questionamentos. Obviamente não iriam conseguir andar em quatro debaixo da capa, um deles precisaria encontrar outra maneira de ir à casa do guarda-caça sem levantar suspeitas, mas como? Ela não sabia fazer o feitiço da Desilusão e também não tentaria fazer, seria muito arriscado.

Ela suspirou, voltando a prestar atenção nos três amigos, que aparentemente estavam tentando pensar também em alguma maneira de saírem do castelo, mas nenhum dos três chegou a conclusão alguma. Apenas se entreolharam e deram um suspiro coletivo de decepção, não podia ser tão difícil assim quebrarem as regras, uma vez que já haviam feito isso algumas vezes.

Ann escondeu o rosto nas mãos. Pensa, Anne, pensa! Sua melhor amiga e irmã de coração estava em um leito na ala hospitalar e a morena precisava encontrar uma forma de descobrir quem foi o responsável para poder se vingar. Ela não era da casa de Slytherin à toa e iria fazer quem quer que fosse pagar pelo que fizera. Ainda de olhos fechados pensou na noite que os meninos usaram a Poção Polissuco para… E não chegou a completar o raciocínio pois a ideia que chegou à sua mente foi a melhor de todas. Ergueu o rosto com um sorriso enorme. Ela havia guardado o que sobrou no caldeirão da poção para o caso de precisar, e aquele era o momento perfeito para isso. Não dizendo isso aos meninos, ela apenas se limitou a pedir que eles a encontrassem no banheiro da Murta no dia seguinte antes do jantar pois ela tivera a ideia mais brilhante de todas. Os garotos apenas ficaram encarando-a de forma interrogativa e Anne deu um sorriso divertido, falando que era surpresa e pediu que confiassem nela e que Harry apenas levasse sua capa de invisibilidade na mochila.

O Menino-Que-Sobreviveu concordou após alguns segundos, assim como Draco e Ron. A jovem Black deu um sorriso maior do que o anterior. Estava tudo certo. Ela só precisaria do cabelo de alguém que estivesse acima de qualquer suspeita. Algum Monitor ou talvez um professor… Anne sorriu maleficamente ao pensar nisso. Sim, um professor seria perfeito e a menina já tinha certeza plena de quem seria. A morena só precisava conseguir um fio de cabelo dele e essa era a parte onde as coisas complicavam um pouco para seu lado. Seu tio Sev não era nem um pouco bobo. Ela não poderia simplesmente chegar no homem e pedir um cabelo dele. Obviamente ele desconfiaria da razão para ela pedir, afinal era o professor de Poções da escola.

Diana certamente conseguiria, na verdade ela conseguia qualquer coisa com o pai e o enrolava lindamente com seu dedo mindinho sem isso lhe acarretar problema algum depois, mas infelizmente sua irmã no momento não estava disponível para ajudá-los. Suspirando, Ann acabou deixando seu pensamento correr para a amiga e franziu a testa, inclinando a cabeça para o lado, pensativa. Havia acabado de se recordar do dia horrível no qual descobrira o estado em que Di se encontrava e se lembrou da forma desesperada que Severus havia se agarrado na filha. A morena semicerrou os olhos, encarando o além. Será que era possível que algum fio de cabelo tivesse caído sobre Diana? Torcendo para que sim, Ann arriscou olhar para a mesa dos professores, notando que Snape não se encontrava ali.

Novamente Ann voltou a pensar com seus botões sobre algo que não havia considerado há pouco. Precisava ir até a ala hospitalar fazer uma visita para sua irmã, mas como faria isso sem que fosse acompanhada por um professor? A ideia de ir até lá na companhia de um não era muito sensata pois ela seria bombardeada por perguntas desnecessariamente no momento em que estivesse procurando o cabelo de seu tio. Não. Teria que ser na surdina se quisesse que aquilo desse certo.

Deu mais um suspiro e voltou seu olhar aos meninos na mesa. Draco com certeza não poderia ajudá-la, era medroso demais para isso e tinha o mesmo sentimento por Ron. Certamente ele não seria capaz. A última pessoa que restou foi Potter e, no momento que seus olhos encontraram os dele, uma luz apareceu em sua cabeça. Claro! Ela iria até lá com a Capa de Invisibilidade do garoto e tudo resolvido! Utilizando do método clássico de Diana, Anne olhou para o menino moreno sentado à sua frente, piscando os olhos de forma fofa e pedindo com uma voz fininha e doce: Harryyyy, você pode me emprestar sua capa amanhã de manhã? Por favorzinho…

O garoto piscou algumas vezes, parecendo confuso e concordou sem nem mesmo perguntar o motivo. Draco, que estava sentado do lado de Ann, deu um cutucão em suas costelas, fazendo com que ela o olhasse. Ele a encarava com a sobrancelha erguida, demonstrando claramente que sabia exatamente de onde ela tirara o método e em resposta a garota deu de ombros, como se dissesse que não ligava e sorriu demonstrando que funcionava.

O restante do jantar foi leve e com muitas brincadeiras por parte do quarteto, afinal já estavam com o plano tramado e com certeza funcionaria. Ann sorria um pouco mais naquela noite, sabendo que era apenas questão de tempo para que solucionassem o mistério. Di e Hermione certamente se orgulhariam dos esforços que os amigos estavam fazendo para descobrir quem estava por trás de todos os ataques e, assim que descobrissem, Black esperava que as mandrágoras já estivessem maduras e que a professora Sprout já estivesse preparada para ministrar a poção que traria os alunos de volta ao normal.

Com os pensamentos mais tranquilos, Ann notou o momento em que os professores começaram a se levantar e Minerva, Flitwick e Sprout se encaminharem à mesa de suas respectivas casas para acompanharem os alunos às Salas Comunais. Black franziu a testa, se perguntando se os de Slytherin não seriam acompanhados, porém sua silenciosa indagação rapidamente foi respondida no momento em que as portas do Salão Principal se abriram e Severus Snape ali adentrou. Ann e Draco se entreolharam e saíram correndo para a mesa da casa verde; não queriam receber uma bronca de graça do professor que já estava estressado. Sem dizer nada, o homem se virou novamente para a saída e os sonserinos se prontificaram a se apressar para segui-lo.

No momento em que passaram por Snape para entrar na Sala Comunal, tanto Anne quanto seu primo discretamente olharam para o homem e novamente notaram os olhos vermelhos dele. Certamente ele havia chorado. Com um suspiro a menina puxou o loiro para que se sentassem no sofá mais afastado e ele prontamente a questionou sobre seu plano. Ann ponderou sobre contar a ele ou não e decidiu por não fazê-lo por completo, uma vez que queria ver a expressão de surpresa no rosto dele e dos grifinórios também, então apenas se limitou a dizer que utilizaria o que restou da Poção Polissuco para se transformar em alguém que seria à prova de falhas. Draco indagou sobre quem era, mas ela não respondeu, porque ela ainda não havia conseguido o cabelo e utilizou a desculpa de que era surpresa. Não era mentira, porém também não era toda a verdade. Dando um sorriso ao garoto, ela se levantou dali e beijou-o no rosto, lhe desejando boa noite e subindo ao seu dormitório, evitando que o primo a questionasse mais.

Naquela noite Anne conseguiu dormir melhor e conseguiu dormir a noite toda. A cada hora que se passava estavam mais perto de pegar o desgraçado que mandou o monstro existente na Câmara Secreta atacar os nascidos trouxas e sua irmã. A única coisa que ainda martelava em sua mente era a questão do momento em que iriam despertar Diana e Hermione. Estava com saudades delas e olha que nem fazia tanto tempo que haviam se visto pela última vez. Pensando nas duas, Black pegou no sono.

No dia seguinte pela manhã a menina levantou cedo e foi praticamente correndo para o Salão Principal sem nem lembrar do primo. Ela chegou antes dos meninos e se sentou à mesa de Gryffindor novamente, não ligando para os olhares estranhos que estava recebendo dos alunos dessa casa e nem para os comentários que vinham da mesa de Slytherin. Algum tempo depois Harry e Ron chegaram e não muito depois Draco chegou também. Fizeram a refeição entre brincadeiras e sorrisos e Potter entregou discretamente a Capa de Invisibilidade a Ann, afinal era melhor que já estivesse com a mesma na mochila para que pudesse sair direto da aula na hora do almoço e ir direto à Ala Hospitalar.
A primeira classe de todos os quatro era uma dupla de Defesa Contra as Artes das Trevas e com certeza era mais uma aula perdida do professor loiro, que pareceu não se abalar com nada do que estava ocorrendo na escola, apenas continuou elogiando a si próprio e falando sobre seus livros. Apesar de imprestável, Lockhart tinha um defeito que naquele momento era de grande utilidade: não prestar atenção em nada que não fosse ele mesmo, o que ajudaria e muito no plano de Anne, a qual tinha uma excelente oportunidade para sumir entre os alunos, vestir a capa e ir de encontro à sua irmã. Foi exatamente isso que fez quando tocou o sinal avisando que era hora do almoço. Rapidamente Ann já estava longe de todos, coberta pela Capa de Invisibilidade e andava tranquilamente pelos corredores na direção da enfermaria.

Chegando ao local que era seu destino a morena abriu a porta cuidadosamente, afinal existia grande possibilidade de que Madame Pomfrey estivesse por lá. Olhando para os lados e não a vendo, a jovem adentrou a Ala Hospitalar ainda com certa cautela. Era improvável que houvesse alguém por ali naquele horário, mas nunca cuidado era demais. Assim que chegou perto do leito de Diana, Anne parou de andar pois viu que Severus Snape se encontrava sentado ao lado da maca onde a filha estava. Respirando fundo, Black parou no lugar e franziu a testa, tentando pensar no que faria. Ela não conseguiria se aproximar o suficiente para vasculhar ao redor por fios de cabelo caídos sem fazer barulho, mas também não podia sair dali sem o que fora buscar porque depois não daria tempo. Precisava pensar rápido ou o plano iria todo por água abaixo. Fitando o cabelo de Snape por mais um tempo, Anne deu um largo sorriso, uma ideia iluminou sua mente e ela já sabia exatamente o que fazer.

Aproximou-se mais um pouco de seu professor e tirou a mão de dentro da capa de invisibilidade. Respirou fundo e levemente fez uma pinça com os dedos pegando alguns fios de cabelo do homem e os puxando com força para arrancá-los, logo cobrindo-se completamente pela capa novamente.

Severus virou rapidamente a cabeça para trás com a expressão confusa e assustada, tentando entender de onde tinha vindo aquilo. Black já havia alcançado a porta nesse instante e saiu andando até dobrar a esquina do corredor. Julgando ser um local seguro a menina livrou-se da capa e tirou um pequeno frasco do bolso: o frasco que continha a poção que usaria mais tarde. Jogou os cabelos de Snape ali dentro, vendo o líquido tomar a cor negra, e fechou o recipiente novamente, enrolando-o na capa e guardando ambos no bolso antes de fazer seu caminho ao Salão Principal com o intuito de tentar almoçar, porém quando chegou às portas, viu-as se abrindo e os alunos começando a sair. Com um longo suspiro a jovem se esquivou pelo meio das pessoas para alcançar os amigos que a esperavam para seguirem às masmorras para a aula de Poções. Nenhum deles a questionou sobre o que ela tinha feito, na verdade mal conversaram. Quando entraram na sala novamente pegaram os lugares ao fundo e se sentaram, esperando o professor, que não tardou a chegar.

Severus Snape entrou na sala como um vendaval; os alunos conseguiam ver e sentir a aura de preocupação que emanava do homem. Felizmente agora todos, inclusive os sonserinos, aprenderam que enquanto Diana não voltasse à vida, era melhor se manterem calados e mudos, evitando assim detenções e retirada de pontos de suas casas. Portanto quando Snape começou a explicar a poção do dia, os alunos mais pareciam múmias, apenas copiavam as instruções mal e mal respirando.

Novamente a aula se passou em silêncio e dessa vez não existiu nenhum incidente, foi relativamente tranquila e, faltando cinco minutos para o fim, o professor passou uma tarefa para os alunos: cinco rolos de pergaminho sobre antídotos e venenos incomuns. Ninguém se atreveu a questionar o homem, apesar de todos acharem que ele estava ficando louco. A coragem faltou a todos naquele momento. Apenas fariam a tarefa e a entregariam, ninguém queria detenção com Snape daquela forma.

Assim que a aula acabou, todos saíram meio que em disparada e Sprout já estava esperando os sonserinos para que a acompanhassem até sua última aula do dia, que seria Herbologia. Anne e Draco quase não prestaram atenção, ambos estavam ansiosos demais para conseguirem. Sentiram um imenso alívio quando o último sinal tocou, liberando-os das últimas aulas do dia.

Acabaram por sentar-se na mesa de Gryffindor, que juntamente com a de Ravenclaw bem próximo à porta e guardaram lugar para Harry e Ron, que também vinham de sua última aula. Escolheram aquele local de forma estratégica, afinal precisariam sair rápido dali para dar continuidade ao que planejaram. Os dois grifinórios chegaram e sentaram à frente dos outros dois, exatamente à ponta da mesa. Quase não comeram nada, apenas enganaram o estômago para que ele não ficasse vazio. A ansiedade que estavam sentindo era demais, era palpável, afinal nenhum dos quatro parava quieto.

Mais ou menos na metade do jantar, Anne se levantou, dizendo que iria ao ponto de encontro deles, que era o banheiro da Murta-Que-Geme. Olhou para os meninos, pedindo que Ron saísse, depois Draco e por fim Harry, com um espaço de cinco minutos entre cada um para que ninguém desconfiasse de nada. Deixou Potter por último, pois tinha certeza de que ele era o mais responsável dos três e seria capaz de improvisar caso algo desse errado. Assim que saiu de fininho dali, a jovem Black subiu as escadas e rumou para o banheiro, logo entrando em uma das cabines e se despindo. Colocou seu robe de Slytherin no chão e apontou-lhe a varinha, respirando fundo. Após algumas tentativas frustradas, Ann conseguiu transformá-la em uma capa negra semelhante a que seu tio Sev usava todos os dias.

Quando ia começar o trabalho em sua blusa ouviu passos e a voz de Ron chamando seu nome. A menina respondeu que estava fazendo os últimos ajustes em seu disfarce e que já se juntaria a ele. Transfigurando a blusa branca em negra, alguns números maior que a dela e uma versão parecida com a de Snape. Fez o mesmo com sua saia, transformando-a em calça também de cor negra e grande, ao passo em que Draco também já havia chego ali e perguntado por ela, obtendo de Ron a mesma resposta que ela lhe dera. A menina suava, aquilo estava exigindo bastante de sua magia. Eram feitiços avançados, apenas aprenderia sobre eles no quarto ou quinto ano, porém ela gostava de treinar Transfiguração. Faltavam apenas os sapatos, que foram um pouco mais complicados, afinal eram dois e precisavam ficar iguais. Após algumas tentativas ela conseguiu fazer um par de sapatos relativamente iguais e para ela aquilo bastava, ninguém ia ficar olhando para seus pés, de qualquer forma. Harry foi o último a chegar, dizendo que estava tudo certo, que não haviam percebido nada e também perguntando onde estava Anne, recebendo de Draco a resposta que Ron havia dado a ele.

A garota de Slytherin, sorrindo, vestiu as roupas e o sapato. Estava louca para ver a cara dos amigos quando saísse de onde estava. Destampou o frasco com a Poção Polissuco e cheirou, franzindo a testa. Deu de ombros e tomou um gole, logo tampando novamente. Sentiu as mudanças em seu corpo acontecendo. Alongando-se, criando massa corporal, os cabelos diminuindo. Assim que passou a vertigem ela guardou o frasco no bolso interno do robe e abriu a porta, saindo da cabine com a expressão séria em uma perfeita imitação de Severus Snape.

Anne, pelos olhos negros do homem, viu os três meninos perderem completamente a cor do rosto e o medo tomar conta de suas expressões. Ron dava a impressão de que iria desmaiar a qualquer instante. Draco voltou a ter uma coloração no rosto, porém esverdeada, como se o sonserino fosse vomitar. Harry tinha fechado os olhos, provavelmente apenas esperando a bronca, o sarcasmo e a dor de ter pontos sendo retirados de suas casas, assim como o pavor de ter que cumprir detenção com Snape. A jovem Slytherin, resolvendo brincar mais um pouco, deu um sorriso sarcástico típico de Severus Snape e disse com voz grave:

- Ora, ora. O que temos aqui? Potter, Weasley e Malfoy. Por acaso não sabiam que esse é um banheiro feminino? - os olhos dela/dele brilharam com diversão - Devo supor que estão tramando alguma coisa.
Os meninos se entreolharam, aparentemente tentando achar qualquer desculpa, mas falhando miseravelmente, então todos eles simplesmente se mantiveram calados, afinal qualquer coisa que falassem apenas pioraria a situação. Não aguentando a vontade de rir, Ann caiu na gargalhada ao ponto de lágrimas saírem de seus olhos.

Os três meninos deram alguns passos para trás, tamanho o susto que levaram, e então Draco estreitou os olhos:

- Anne… Não tem a menor graça! - ele reclamou, com sua cor do rosto voltando ao normal, ao perceber que era sua amiga ali.

- Vocês… Precisavam ver… Suas caras! - Anne respondeu ainda rindo. Ron fechou os olhos e encostou na pia atrás de si soltando a respiração, e Harry colocou uma mão no rosto, negando com a cabeça. Com o que achava que era um sorrisinho inocente, Ann ergueu as mãos em sinal de rendição e olhou para os três ali presentes. Sua expressão parecia pensativa. - Agora… Vocês três vistam a capa. Andem devagar, de preferência sem fazer barulho. Eu vou na frente pra não correr o risco de tropeçar em vocês. - e entregou a capa a Potter sem falar mais nada. Colocou as mãos nos bolsos à procura do restante da poção e deu um sorriso quando sentiu os dedos encostando no frasco, afinal tinha o suficiente para tomar mais duas vezes.

Em poucos instantes os quatro já haviam saído do banheiro. Suas mochilas ficaram dentro de um dos boxes - o mais afastado - para que se, por alguma razão, alguém entrasse ali não visse os materiais. A Murta-Que-Geme também não estava por ali, então facilitou bastante para eles.

A viagem pelos corredores escuros e desertos do castelo não foi exatamente fácil como Anne havia pensado que seria. Professores, monitores e fantasmas andavam pelos corredores aos pares, olhando tudo atentamente, à procura de alguma atividade incomum. Algumas vezes passavam por ela/ele e lhe perguntavam porque não estava de guarda perto da porta, porém não obtinham resposta, apenas um olhar sério no melhor estilo Severus Snape era suficiente para que não fosse questionado novamente.

Houve um momento particularmente tenso em que Anne/Snape tinha que passar pelo verdadeiro professor de poções, afinal ele estava montando guarda perto da saída que levaria à trilha para a cabana do Hagrid. Agindo como se nada tivesse errado e aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, Anne/Severus passou pelo seu tio sem olhar diretamente para ele.

- Boa noite. - ela falou normalmente e seguiu seu caminho, afinal se não o fizesse o homem desconfiaria e poderia acabar seguindo-a/o para saber quem era e porque passara tão rapidamente.

- Boa noite. - respondeu o verdadeiro Severus Snape com sua voz monótona que ele usava com todos menos Di e Anne.

Assim que saíram do castelo, o quarteto finalmente pôde relaxar um pouco e andar sem se preocupar se estavam fazendo barulho. Ann estava ansiosa pela conversa que teriam em poucos minutos. O desejo de se vingar de quem quer que fosse o responsável por todos os ataques apenas crescia em seu âmago e isso lhe dava determinação para seguir em frente com a ajuda dos amigos.

Fazia uma noite clara e estrelada. Eles continuaram caminhando em direção às janelas iluminadas da casa de Hagrid. Era mais seguro que os meninos ainda ficassem sob a capa, afinal podia ter alguém com o Guarda-Caça. Anne/Snape bateu na porta e esperou alguns segundos até Hagrid escancarou a porta. Eles deram de cara com um arco que o homem apontava. Canino, o cão de caçar javalis, o acompanhava dando fortes latidos.

- Professor Snape?! - exclamou Hagrid confuso e assustado enquanto abaixava a arma e perdia por completo a cor do rosto.