- Boa noite, Hagrid. Posso entrar? Está frio aqui fora. - a voz de Snape saiu suave, completamente diferente do que realmente é, fazendo o Guarda-Caça sair da frente da entrada da porta com a expressão mais confusa do mundo.
- Algum problema professor Snape? - questionou Hagrid atordoado com a presença do homem em sua casa, e quase caiu de costas quando Harry, Ron e Draco apareceram. Anne fez beicinho por conta disso, queria tentar interpretar o pai de Diana novamente. - Por Merlin! O que está havendo?
- Calma Hagrid, é a Anne com polissuco. - disse Harry, tentando acalmar seu amigo, que parecia que ia ter um ataque.
O Guarda-Caça olhou Harry, depois Ron, depois seu olhar se demorou em Draco e por fim voltou a encarar a forma de Severus Snape, que lhe sorria de forma amigável.
- Sem querer ser rude… Mas o que exatamente está acontecendo? Desde quando vocês são amigos? O que estão fazendo aqui? - as perguntas saíam da boca do homem de maneira rápida denotando o quanto estava perturbado.
- Viemos lhe fazer uma visita, Hagrid. - quem respondeu foi Anne/Snape, se adiantando um pouco e estendendo a mão a ele cordialmente - Ainda não fomos devidamente apresentados, sou Anne Black.
O meio gigante piscou sem saber como agir por uns momentos antes de com um pequeno sorriso, obviamente confuso, pegou a mão da jovem.
- Hagrid… - disse ele, e então mudou completamente o assunto. - Sentem-se, eu faço um pouco de chá.
Os meninos aceitaram a oferta do homem e se sentaram, mas Anne ficou de pé escorada em uma bancada. Estava nervosa demais para tal e apenas ficou por ali, tentando calcular quanto tempo tinha ainda antes de o efeito da poção passar e passou a observar Hagrid, que estava colocando chá na xícara, tremendo e fazendo o líquido transbordar. Ann e os três meninos se entreolharam estranhando os maneirismos dele naquela noite, ele parecia estar nervoso com alguma coisa.
- Hagrid… Você está bem? - perguntou Harry preocupado e o meio gigante balançou a cabeça afirmativamente.
- Estou bem, estou ótimo, estou muito bem. - disse de forma nada confiante, o que fez Anne trocar um olhar com Draco. Sim, tinha algo muito estranho no Guarda-Caça.
- Já soube da Hermione e da Diana? - questionou Anne/Snape, ficando cada vez mais desconfiada, não acreditava que tinha sido ele, mas as circunstâncias estavam começando a ficar suspeitas demais. Ou o homem era culpado ou certamente pelo menos sabia de alguma coisa.
- Já sim, já soube o que houve. - respondeu curto novamente e no mesmo tom de ansiedade, fazendo Harry encarar todos os amigos ali presentes um por vez, antes de voltar a olhar para Hagrid.
- Olha… Temos que te perguntar uma coisa. - começou o menino, obviamente hesitante no que queria perguntar. - Você sabe quem abriu a Câmara Secreta?
Anne/Snape negou com a cabeça e escutou o suspiro coletivo dos outros dois meninos. Potter poderia ter lidado um pouco melhor com a situação, mas também eles não tinham tempo de ficar floreando.
- O que vocês têm que entender é que… - o homem foi interrompido por batidas na porta e canino latindo. Todos se entreolharam. - Rápido… Pra baixo da capa. Não falem nada. Vocês três, fiquem quietos.
Harry, Ron e Draco foram pra baixo da capa rapidamente e ficaram num canto da casa, praticamente debaixo da mesa. Anne/Snape não tinha muito o que fazer, apenas manter a pose do seu tio e rezar para Salazar que não fosse ele que estivesse batendo na porta. Hagrid então abre a porta e a jovem percebeu que eram o diretor Dumbledore e um homem que ela não conhecia, apesar de lhe ser familiar.
- Oh! Professor Dumbledore. - exclamou Hagrid aliviado e apreensivo ao mesmo tempo.
- Boa noite, Hagrid. Será que podemos..? - indagou o diretor com sua voz suave de sempre. Claro que o Guarda-Caça logo os convidou para entrar e assim eles o fizeram.
Anne escutou Ron falando para Harry e Draco que era o Ministro da Magia e Draco retrucar que já sabia disso. Essa situação fez com ela realmente interpretasse Snape, dando um olhar assassino em sua direção para que os três ficassem calados.
O diretor e o Ministro olharam para Anne/Snape curiosos com sua presença ali e Dumbledore olhou para a jovem com um olhar questionador e então um sorriso.
- Ah, Severus agradeço por ter vindo tão rápido.
- Diretor… - respondeu Anne/Severus com um aceno de cabeça tentando manter a cara séria, apesar do espanto que sentia. Fudge balançou a cabeça como se quisesse clareá-la e falou:
- É um assunto sério, Hagrid, um assunto muito sério. Eu tinha que vir. Mais três ataques em alunos nascidos trouxas… Além das outras garotas que foram atacadas por último... As coisas foram longe demais. O Ministério precisava agir.
- Mais eu nunca… o senhor sabe, professor, eu nunca… - falava o meio-gigante tentando se defender sem saber como, como sempre Dumbledore veio ao resgate.
- Eu quero que você saiba, Cornelius, que Hagrid goza de minha inteira confiança.
- Olha, Albus… A ficha do Hagrid depõe contra ele. Eu vou ter que levá-lo. - disse o Ministro parecendo um pouco apologético.
- Me levar? Me levar pra onde? Pra prisão de Azkaban? - perguntou Hagrid num tom desesperado.
- Lamento, mas não tenho outra escolha. - falou Fudge soltando um suspiro. Nesse exato momento a porta se abriu um homem loiro com expressão azeda entrou. Anne novamente escutou uma exclamação vinda do canto que estavam os três patetas, novamente a voz de Draco dizendo que era seu pai e lutou contra a vontade de olhar feio para eles novamente.
- Já está aqui, Fudge? Ótimo. - disse o pai de Draco lentamente e olhou para Anne/Snape parecendo surpreso. - Severus, o que faz aqui?
Felizmente para a jovem, o questionamento do loiro foi perdido graças a Hagrid:
- O que está fazendo aqui? Saia da minha casa! - exclamou o meio gigante, obviamente se esquecendo que o filho do homem estava em algum lugar naquele aposento.
- Ah… Acredite em mim… Eu não sinto o mínimo prazer de estar dentro da sua… Chama isso de casa? - disse o homem com uma cara de nojo, novamente Anne teve que aguentar para não falar algo torto, tinha a certeza de que Draco devia estar muito envergonhado no momento. - Não, só que mandei uma coruja para a escola e me disseram que o diretor estava aqui.
- E o que exatamente o senhor… O senhor quer comigo? - questionou Dumbledore sempre no seu tom calmo e tranquilo.
- Eu e os conselheiros achamos que está na hora do senhor sair de cena. Esta é uma ordem de suspensão. - começou Malfoy parecendo muito satisfeito ao dizer isso e se aproximou do diretor, lhe estendendo um pergaminho perfeitamente enrolado com uma fita vermelha - Vai encontrar as 12 assinaturas aí. Nós chegamos à conclusão de que… Não é mais o mesmo. E com todos estes ataques não sobrarão nascidos trouxas em Hogwarts e nem quero pensar na imensa perda que isso seria para a escola. - o loiro mais velho falou e o tom de sarcasmo em sua voz era notável.
- Não pode afastar o professor Dumbledore. Se afastá-lo os nascidos trouxas não terão a mínima chance. Guarde minhas palavras, vai haver muitas mortes. - disse veementemente o Guarda-Caça.
- Você acha mesmo? - perguntou Lucius não aparentando estar nem um pouco preocupado com esse fato, de acordo com Anne.
- Acalme-se, Hagrid. - disse Dumbledore para o homem revoltado e então voltou a olhar para Malfoy. - Se o conselho deseja que eu me afaste é claro que eu vou me afastar. Mas vai descobrir que Hogwarts estará sempre aqui para ajudar a todos que nos pedirem. - disse o diretor olhando para Anne/Snape e então para um ponto mais ao lado dela, onde seus três amigos se encontravam.
- Admiráveis sentimentos. Vamos? - perguntou dando uma pausa dramática, o que fez Anne se questionar se Diana acabou convivendo demais com o homem que o necessário - Fudge?
- Venha, Hagrid… - falou o Ministro da Magia, obviamente cansado daquela situação.
- Bom… - o Guarda-Caça pigarreou antes de continuar - Se… Se alguém está procurando alguma coisa só tenho um conselho para dar. - ele fez uma pausa e olhou para o teto, tentando não encarar Anne ou o local que os meninos estavam debaixo da capa. - Sigam as aranhas, elas vão indicar o caminho. É.. É tudo o que eu tenho a dizer. Ah! E alguém precisa dar comida pro Canino enquanto eu estiver fora. - e o guarda-caça saiu da cabana com passos pesados.
Fudge olhou ao redor e então encarou o professor Snape por uns momentos antes de sair murmurando um: "Muito bem…".
Demorou apenas alguns instantes até que os meninos tirassem a capa de cima deles e encarassem Anne/Snape de forma inquieta. Ela mesma estava um tanto apreensiva com o desenrolar da situação, porém precisavam fazer o que Hagrid dissera ou a viagem deles teria sido em vão e Ann estava realmente determinada a chegar ao fundo daquele mistério para trazer sua irmã de volta. No momento em que ela abriu a boca para externar isso a porta da cabana se abriu novamente, revelando Albus Dumbledore, que adentrou o local e fechou a porta, tocando na mesma com os dedos antes de se virar para o restante dos presentes com um sorriso contido no rosto.
- Ah, eu deveria saber que os senhores estariam aqui nesta noite, inclusive a senhorita, Anne Black. - o tom de voz do diretor era calmo e ele não demonstrava estar com raiva - Devo admitir que foi um plano genial. Estão tentando descobrir quem está por trás dos ataques, eu presumo. - e olhou para o rosto de cada um.
Nenhum dos meninos foi capaz de encontrar a voz para responder às palavras do homem, pareciam estar estáticos e Ann revirou os olhos, virando-se para ele e assentiu, porém nesse momento a poção polissuco teve seu efeito findado e ela sentiu-se retornar à sua forma original e seu rosto esquentar no momento em que Dumbledore lhe sorriu abertamente.
- É… Diretor… - a menina não conseguiu formular nenhuma frase coerente, fazendo o homem rir levemente.
- Eu iniciaria a busca pela floresta, se fosse vocês. - o homem falou de forma enigmática com um sorrisinho maroto e piscou para eles, antes de se retirar do local e fechar a porta, deixando apenas os quatro novamente por ali.
Anne viu tanto Draco quanto Ron ficarem um pouco pálidos quando a Floresta Proibida foi mencionada. Era óbvio que os dois iriam se recusar a ir, mas precisavam. Afinal se até o diretor disse para eles irem, então eles tinham que ir.
Harry deu um passo à frente, deixando os outros dos meninos ali e olhou na direção de sua amiga, que tentava pensar em algo.
- Anne… Acho que devíamos ir logo. Pode ser que a gente não tenha outra oportunidade como essa de sair da escola. - o garoto falou e Anne concordou com a cabeça, olhando mais uma vez na direção de Draco e Ron, notando que eles haviam se sentado e aquilo era uma silenciosa mensagem dizendo que dali não sairiam nem à força. A garota voltou a encarar Potter, que estava com ambas sobrancelhas levantadas e então ele também a encarou. - Vamos?
A jovem assentiu, olhando pela janela para ver se não havia ninguém caminhando nos terrenos aqui por perto e voltou a olhar na direção de Ron com um sorriso zombeteiro, era a hora da vingança.
- Acho que está na casa errada, Weasley. Gryffindor não é casa para medrosos. - e mostrou a língua para ele, mostrando que estava brincando - ou não - e abriu a porta, saindo por ali e esperando por Harry.
Os dois então se encaminharam para o gramado, procurando a trilha das aranhas e quando a acharam começaram a segui-las. O caminho foi feito em silêncio, afinal nenhum dos dois tinham proximidade suficiente para conversar. Logo eles estavam entrando na parte mais escura e densa da floresta, e a garota percebeu que a quantidade de aranhas tinham aumentado.
- Estamos no caminho certo, aparentemente… - Anne disse, continuando a seguir a trilha. Nem em seus pesadelos mais profundos a garota havia visitado aquele local e puxou a varinha, murmurando "Lumus", afinal não estava enxergando mais nada e, no momento em que viu o que havia à sua frente, quase desmaiou. A jovem não era aracnofóbica, mas assustou-se com o tamanho daquele aracnídeo que estava a pouco mais de dez metros dos dois. Ela sentiu Harry parar ao seu lado, também respirando de forma pesada. Logo eles escutaram algo se movendo, algo que era realmente muito pesado, se movendo. Os dois se entreolharam, só esperando o que fosse aparecer. Anne viu enormes pernas de aranha aparecer e então escutar:
- Quem está aí? Hagrid? É você? - falou a aranha gigante em pausas, pois as pinças ficavam batendo uma na outra. A morena olhava chocada e aterrorizada para o animal fantástico, ele falava! Uma aranha gigante que fala! Ela foi tirada de seu momento reflexivo pela voz de Potter.
- Somos amigos do Hagrid. - ele falou escondendo bem o medo, ainda mais quando eles perceberam que a aranha se aproximou deles. - Você… Você… Você… Você é Aragogue?
- Sim. Hagrid nunca mandou homens à nossa depressão antes. - disse Aragogue.
- Ele está em apuros. - disse Anne achando sua voz que ela achava que havia perdido. - Aconteceram uns ataques na escola e eles acham que foi o Hagrid. Acham que foi ele quem abriu a Câmara Secreta. - ela olhou para Harry antes de olhar a aranha novamente. - Como antes.
- Isso é mentira. Hagrid nunca abriu a Câmara Secreta. - falou a aranha parecendo um tanto revoltada.
- Então você não é o monstro? - questionou Harry engolindo em seco em óbvio desconforto.
- Não… O monstro nasceu no castelo. Eu fui trazido de uma terra longínqua no bolso de um viajante. - explicou Aragogue e Anne deu um passo à frente, aproximando-se dela
- Mas… Se você não é o monstro… O que matou a garota há 50 anos? - perguntou curiosa, afinal era uma das questões mais importantes, além de descobrir quem foi.
- Nós não falamos sobre isso. É uma criatura antiga que as aranhas temem mais do que a qualquer outra. - respondeu a aranha num tom de irritação.
- Mas você já viu? - questionou Harry tentando arrancar qualquer informação dela.
- Eu nunca vi parte alguma do castelo a não ser a caixa na qual Hagrid me guardava. A garota foi achada no banheiro. Quando me acusaram Hagrid me trouxe pra cá. - falou Aragogue. Anne, que estava olhando para cima, deu um cutucão nas costelas de Harry, o chamando.
- O que foi? - ele sussurrou para ela, não entendendo a expressão da menina. Ela então apontou as infinitas aranhas que desciam, formando teias grandes e grossas. Harry engoliu em seco e sussurrou que ela não entrasse em pânico antes de voltar a atenção a Aragogue.
- Bom. Obrigado. Nós já… vamos. - o moreno falou voltando a gaguejar um pouco.
- Já vão? eu acho que não. Meus filhos e minhas filhas não fazem mal a Hagrid por ordem minha. Mas não posso negar a eles carne fresca ainda mais quando ela entra com tanta boa vontade em nosso ninho. Adeus amigos do Hagrid.
Anne respirou fundo, tentando fazer com que suas pernas voltassem a funcionar, uma vez que pareciam ter virado geléia. Apenas começou a correr no momento em que Harry a puxou completamente em desespero, porém para ela era uma tarefa difícil pois estava com as roupas e sapatos maiores que seu número, então não demorou muito para que ela tropeçasse e caísse, rolando pelo chão. Potter a ajudou a se levantar, porém aqueles segundos foram o suficiente para que as aranhas os encurralassem. Com um longo suspiro, Ann tateou os bolsos à procura da varinha, a qual havia guardado no momento em que começaram a conversar com a aranha, e, no momento em que a achou, apontou para a direção onde precisavam ir.
- Harry… Corre assim que eu der o sinal. - a garota falou e voltou sua atenção aos aracnídeos que pretendia atingir - Incendio!
E uma labareda de fogo irrompeu da ponta da varinha, queimando boa parte das aranhas, abrindo espaço para que os dois corressem, porém novamente não foram muito longe e mais uma vez havia centenas de aranhas rodeando-os. Anne se preparou novamente para atacar as aranhas, pronta para morrer lutando, quando ouviu uma nota alta e longa e um clarão de luz atravessou a depressão.
- É o carro! - gritou Harry, e o automóvel roncava encosta abaixo, faróis acesos e buzina tocando, derrubando aranhas para todos os lados e parou na frente dos dois. - Entra!
Anne não precisou de dois convites, entrou no carro o mais rápido que conseguiu e logo as duas portas se fecham. Harry nem precisou tocar no acelerador ou na direção, o motor roncou e eles partiram a toda velocidade.
O carro foi parar apenas na orla da floresta, de onde os dois alunos podiam ver as luzes da cabana pertencentes a Hagrid e foi para lá que andaram rapidamente, adentrando o local e, como se fosse um movimento combinado por ambos, jogaram-se um de cada lado dos outros meninos, soltando finalmente a respiração que seguravam.
- E então, o que descobriram? - foi Draco quem perguntou, olhando para Harry e depois para a prima, que estava coberta de sujeira - O que aconteceu com você?
Ela olhou para seu primo lhe tirando adagas pelos olhos.
- O que aconteceu? Hagrid aconteceu! - disse com raiva. - E obviamente não foi ele nem sua amada aranha de estimação!
Os garotos de Gryffindor olharam na direção da menina de maneira assustada, assim como o de Slytherin, não estavam acostumados com Anne Black tendo rompantes daquela forma e dificilmente ela os tinha, porém naquele momento todas as emoções que guardara desde o momento em que fitara Aragogue floresceram e ela não teve mais controle.
- Ann… Calma… - Draco falou baixo, tentando acalmar a menina, que soltou um longo suspiro e fechou os olhos tentando se acalmar.
- Vamos voltar. - disse a morena cansada. - Quero dormir e a única coisa útil que descobrimos é que o monstro, seja ele qual for, é predador natural de aranhas. - e suspirou, pensando em sua cama. Levantou-se, pegando o frasco com o restante da poção - que sobreviveu à queda de forma milagrosa - e bebeu, tomando a forma de Severus Snape novamente.
Logo os quatro estavam a caminho da escola, com Anne à frente, rezando para não encontrar ninguém na entrada e pelos corredores e, como se Merlin ouvisse suas preces, estava tudo vazio. Se encaminharam para o banheiro da Murta novamente, onde Ann se apoiou na pia, tentando abrir uma das torneiras para lavar o rosto, porém a água não saiu e ela xingou baixo. Baixando o olhar para o metal, a garota viu cobras talhadas em alto relevo. Franzindo a testa, a jovem não comentou com os outros, apenas se afastou dali e olhou para os garotos, que já haviam pego suas mochilas e Draco estava tanto com a dele quanto com a da garota. Se despediram ali, e Anne/Severus "escoltou" Draco de volta ao Salão Comunal deles. Os dois se jogaram no sofá e ficaram ali por um tempo em silêncio até o efeito da poção passar e Ann voltar a ser ela mesma. Seu primo levantou, dizendo que iria tomar banho e ir para a cama e a jovem apenas assentiu, dizendo que faria o mesmo.
Uma vez no banheiro a garota se despiu, transfigurando sua roupa e os sapatos de volta à sua forma natural antes de deixar num canto para serem lavadas. Entrou no chuveiro e ali ficou por um tempo, tentando acalmar suas emoções e voltar à razão. Assim que conseguiu, foi diretamente a seu dormitório apenas de toalha, trocando-se lá e caindo na cama, pegando no sono logo em seguida.
A noite da garota foi um tanto atribulada e ela quase não descansou. Teve um sonho muito estranho com uma cobra gigante e não conseguiu dormir direito, as preocupações eram demais. Quando o sol raiou, no dia seguinte, Anne levantou-se, desistindo de dormir e se arrumou, pegando o material e descendo para o Salão Comunal para esperar seu primo, completamente absorta em seus pensamentos.
Assim que Draco apareceu, ambos foram para o Salão Principal e novamente mantiveram seu hábito de sentarem-se à mesa de Gryffindor para fazerem companhia aos amigos, que chegaram logo depois. Os quatro se colocaram a discutir baixinho sobre a noite anterior, tomando cuidado para que ninguém ouvisse ou estariam em maus lençóis como nunca antes estiveram. Acabaram, por fim, decidindo que ao final de suas últimas aulas do dia, que seria Transfiguração em ambos os casos, iriam até a enfermaria fazer uma visita às amigas e enfrentariam quem fosse necessário para isso. Com as coisas resolvidas o quarteto se dividiu e cada um foi para sua respectiva aula: os Grifinórios para Herbologia e os Sonserinos para Feitiços.
Nenhum dos quatro foi capaz de prestar atenção direito nas classes da manhã, tampouco nas da tarde, nem comer direito no almoço. Novamente estavam ansiosos, fazia tempo que não viam suas amigas, exceto Anne que visitara a ala hospitalar no dia anterior, e ainda estavam tentando descobrir o que exatamente se passava. Transfiguração foi a última aula e o quarteto estava sentado ao fundo da sala, pouco se importando com as palavras de Minerva McGonagall, porém a mulher percebeu e quando todos, com exceção dos quatro, já haviam saído da sala, a mulher questionou-os sobre o que havia acontecido. Anne, já cansada, explicou de maneira exasperada sobre a preocupação dela e dos amigos com Hermione e Diana, uma vez que não eram autorizados a vê-las. A professora olhou demoradamente para o rosto de cada um deles antes de dar um suspiro, aparentemente compreendendo. Tanto o Trio de Ouro quanto o Trio de Prata eram inseparáveis e o afastamento das duas garotas era complicado.
Minerva, então, permitiu que o quarteto fosse até a Ala Hospitalar desde que os acompanhasse e, pela primeira vez em dias, a morena de Slytherin deu um sorriso genuíno, sem qualquer traço de ironia à mulher e por pouco não a abraçou pois se conteve, afinal McGonagall não era uma pessoa muito afetiva; ao menos não aparentava ser.
Passados alguns minutos, os quatro alunos e a professora adentraram o local onde Diana e Hermione estavam. Os dois grifinórios correram até esta e os outros dois àquela, sentando um de cada lado da ruiva; de onde Anne estava conseguia ver a professora que se encostara na parede e estava olhando para fora, presumivelmente querendo dar privacidade aos estudantes. A falta que Di fazia era completamente notável e seus dois amigos precisavam dela. A morena tocou a mão de sua irmã de coração, lhe fazendo carinho enquanto se perdia em pensamentos, porém simultaneamente duas coisas chamaram sua atenção. A primeira foi a monitora de Gryffindor entrando esbaforida na Ala Hospitalar requisitando a presença de Minerva em um dos corredores do segundo andar e a segunda foi um papel amassado na mão da ruiva, o qual ela segurava com bastante força. Franzindo a testa, a jovem de Slytherin conseguiu tirá-lo da mão de Diana com certa dificuldade. Desamassando-o e passando o olhar por cima de seu conteúdo, a menina quase entrou em choque e ficou boquiaberta, afinal ali estavam todas as respostas pelas quais ela e seus amigos buscavam de maneira incessante. Levantando-se, Anne rapidamente pegou Draco pelo braço, puxando-o para fora do lugar e se aproximando de um archote que iluminava o corredor escuro. Os passos dos dois grifinórios foram ouvidos também se aproximando.
- O que foi, Anne? - Harry perguntou confuso e a garota em questão ergueu o papel um pouco na direção da luz para que pudesse ler.
Respirando fundo e um tanto trêmula, ela começou:
- "Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há nenhum mais curioso ou mortal que o basilisco, também conhecido pelo rei das serpentes. Esta cobra, que pode alcançar um tamanho gigantesco e viver centenas de anos, nasce de um ovo de galinha chocado por uma rã. Seus métodos de matar são os mais espantosos, pois além das presas letais e venenosas, o basilisco tem um olhar mortífero, e todos que são fixados pelos seus olhos sofrem morte instantânea. As aranhas fogem do basilisco, pois é seu inimigo mortal, e o basilisco foge apenas do canto do galo, que lhe é fatal."
Era isso! Era óbvio, tanto ela como Harry escutava uma voz, e apenas eles ouviam.
- É isso! - ela exclamou olhando para os três meninos, que pareciam perdidos. - Não entenderam? É o basilisco o monstro da Câmara, uma cobra gigante!
A morena viu o instante que os meninos entenderam, pois seus rostos entraram em choque e entendimento e continuou a falar:
- O basilisco mata as pessoas com o olhar. Mas ninguém morreu, por que ninguém o encarou. Colin viu o bicho através da lente da máquina fotográfica, queimou o filme que havia dentro, mas Colin só foi petrificado.
Ela foi interrompida por Draco que resolveu ser útil também.
- Justino… deve ter visto o basilisco através do Nick Quase Sem Cabeça! Nick recebeu todo o impacto, mas não pode morrer novamente… E Di e Hermione foram encontradas com um espelho, elas sabiam que não poderiam se virar e olhar para ele.
- Mas, e Madame Norris? - questionou Ron. Todos eles fizeram uma pausa, pensando como a gata teria se salvado da morte certa.
- A água… - disse Harry lentamente. - A inundação do banheiro da Murta Que Geme. Aposto como Madame Norris só viu o reflexo…
- Mas como é que o basilisco anda circulando pelo castelo? - perguntou Ron novamente, parecia que o garoto queria achar uma falha no que Di e Mione escreveram. - Uma cobra gigantesca… Alguém teria visto…
Nesse momento Anne mostrou o que Diana havia escrito no fim da página.
- Canos. Canos… ela está usando o encanamento. Harry e eu ouvimos aquela voz dentro das paredes…
Draco agarrou o braço de Anne de repente.
- A entrada para a Câmara Secreta! E se for um banheiro… - disso o loiro com a voz rouca.
- Banheiro da Murta Que Geme… - disse Harry entendendo o que o sonserino deu a entender. Eles foram interrompidos, ouviram a voz da Professora McGonagall ecoando pelos corredores e magicamente ampliada.
- Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas. Todos os professores para o corredor do segundo andar.
O quarteto se entreolhou e, obviamente, nenhum deles seguiu para o dormitório, mas sim correram até o corredor sobre o qual a voz de Minerva falava. Esconderam-se atrás de uma esquina, de onde conseguiam ver e ouvir tudo o que acontecia.
- O herdeiro de Slytherin - escutaram a professora dizer e Anne notou que ela estava muito pálida. - Deixou outra mensagem: "O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre."
Novamente os quatro alunos se entreolharam, a mesma expressão em seus rostos: assombro e espanto. Realmente a situação havia ficado muito séria e eles precisavam agir, afinal, possivelmente, eram os únicos no castelo inteiro que sabiam do que se tratava e também onde ficava a entrada para a Câmara.
- Quem foi? - perguntou Madame Pomfrey, com a voz trêmula.
- Ginny Weasley. - respondeu McGonagall. - Teremos que mandar todos os alunos para suas casas, isso é o fim de Hogwarts.
Logo se escutaram passos apressados e uma voz muito familiar e aborrecida para todos ali presentes, incluindo os professores.
- Desculpe, eu cochilei. - disse Lockhart que sorria. - O que eu perdi?
Ele não pareceu notar que os outros professores o olhavam com uma expressão muito próxima ao ódio. E antes que qualquer um deles respondessem, Snape se adiantou:
- O homem que precisávamos! Em pessoa! Uma menina foi sequestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente sua vez.
Lockhart ficou lívido.
- Isso mesmo, Gilderoy. - disse a professora Sprout. - Você não estava dizendo ainda ontem à noite que sempre soube onde era a entrada da Câmara Secreta?
- Eu… bem, eu.. - gaguejou Lockhart.
- É, você não me disse que tinha certeza do que havia dentro dela? - falou professor Flitwick.
- Di...disse? Não me lembro…
- Pois eu me lembro de você dizendo que lamentava não ter tido uma chance de enfrentar o monstro antes de Hagrid ser preso. - continuou Snape. - Você não disse que o caso foi mal conduzido e que deviam ter-lhe dado carta branca desde o começo?
Lockhart contemplou os rostos duros dos colegas à sua volta.
- Eu… eu realmente nunca… vocês devem ter entendido mal…
- Vamos deixar o problema em suas mãos, então, Gilderoy. - disse a professora McGonagall. - Vamos providenciar que todos estejam fora de seu caminho. Enfim terá carta branca.
- Muito bem… - disse ele parecendo um tanto desesperado. - Estarei na minha sala… me preparando. - dito isso, o homem se virou e saiu praticamente correndo dali.
- Muito bem. - disse McGonagall cuja as narinas tremiam. - Com isso o tiramos do caminho. Os diretores das casas devem informar aos alunos do que aconteceu. Digam que o trem os levará para casa logo de manhã. Os demais, por favor, verifiquem de que nenhum aluno fique fora dos dormitórios.
Com isso todos os professores saíram fazer o que deviam, deixando os quatro alunos por ali. Anne, que até aquele momento estava apenas prestando atenção no diálogo dos professores, se virou para os amigos, notando a palidez no rosto de Ron. Não era para menos, afinal sua irmã caçula havia sido levada pelo monstro e muito provavelmente morreria se eles não tomassem alguma atitude e rápido.
- O que faremos? - ela indagou, apertando os nós dos dedos, mostrando o quanto estava ansiosa.
- Vamos até Lockhart. - disse Harry, pronto para terminar com o monstro de vez. - Ele pode ser imprestável, mas vai tentar entrar na Câmara.
- Tenho minhas dúvidas sobre isso. - disse Draco, e Ron apenas assentiu com a cabeça, obviamente ainda abalado com o que havia acontecido.
Anne negou com a cabeça, obviamente aquela era uma ideia muito idiota. Lockhart era imprestável demais para isso, além de covarde. Sozinhos teriam melhor chance.
- Vocês não podem estar falando sério. Lockhart não vai nos ajudar em nada. Nós não precisamos daquele covarde e está bem óbvio que a última coisa na terra que ele faria é entrar na Câmara. Ele simplesmente está fugindo como todo bom covarde faz. Inventando essas desculpinhas… - a jovem estava indignada com os amigos. Será que não percebiam as reais intenções do professor?
- Concordo com Anne. - disse o loiro. - Ele vai fugir, deu para ver na cara dele.
Os dois grifinórios se entre olharam, e por fim deram de ombros. Afinal, não é como se eles já não tivessem enfrentado um inimigo sozinhos sem ajuda dos professores.
- Vamos então… - disse Harry.
Sem demorar mais um segundo sequer, o quarteto seguiu alguns passos até o banheiro, que ficava ali do lado, e abriram a porta, entrando de maneira apressada e fazendo barulho. A Murta-Que-Geme saiu de um dos boxes, fechando a cara ao ver quem estava ali.
- Ah são vocês… O que vocês querem agora? - ela perguntou, flutuando.
- Perguntar como você morreu. - respondeu Draco sem rodeios, fazendo Ann revirar os olhos pela delicadeza de seu primo, ou a falta dela.
- Ahhh, foi horrível. - respondeu a Murta - Aconteceu aqui mesmo. Morri nesse boxe. Me lembro tão bem! Eu tinha me escondido aqui porque Olívia Hornby estava caçoando dos meus óculos. Tranquei a porta e fiquei chorando e então ouvi alguém entrar. Disseram uma coisa engraçada. Deve ter sido uma língua diferente, acho. Em todo caso, o que me incomodou foi que era a voz de um garoto. Então eu sai do boxe para mandar ele ir embora e… morri.
- Como? - perguntou Harry, piscando, enquanto Ann já caminhava pelo banheiro tentando encontrar algo errado.
- Não faço ideia. - ela ainda pôde ouvir a Murta sussurrando - Só me lembro de ter visto dois olhos grandes e amarelos… Bem ali, oh, perto da pia.
E aquilo foi como um grande choque de realidade para a garota. Flashes de memórias apareceram em sua mente e ela lembrou-se exatamente do que havia de estranho naquele local: a cobra talhada na torneira. Se apressou em se colocar à frente da mesma e a tocou com os dedos de maneira lenta. Aquilo estava à sua frente e ela não havia notado.
- Gente… Essa é a entrada para a Câmara Secreta. - ela disse, ainda atordoada, indicando a exata torneira.
