Os outros três olharam estranhamente para a jovem Black sem entender a que ponto a mesma queria chegar, porém quando a garota apontou a víbora talhada no metal, a mesma expressão atravessou seus rostos.

- Anne, diz alguma coisa. - Draco se apressou a falar e sua prima demonstrava confusão - Em língua de cobra. - ele especificou e a morena assentiu.

- Abra. - ela ordenou da forma que Malfoy havia sugerido, e suas palavras não foram o que ela ouviu; foi apenas um estranho assobio e no mesmo segundo a torneira começou a brilhar com uma luz branca e a girar.

No momento seguinte as pias começaram a se mover, abrindo e aumentando o círculo no qual estavam, o topo que segurava as mesmas no lugar subiu em direção ao teto, se encaixando lá. A pia na qual havia a torneira com a cobra desceu lentamente até sumir em um burraco no piso e uma grade aparecer e cobrir o mesmo por completo. No meio de onde as pias se localizavam, havia um grande cano, largo o suficiente para uma pessoa escorregar por ele.

- Uou! - Harry exclamou quando o túnel largo se fez visível e Ann apenas concordou com a cabeça, se agachando e olhando para a escuridão, um arrepio percorrendo seu corpo.

Aquele não era o momento de fraquejar, haviam chego tão longe e estavam tão perto de solucionar o caso para sequer pensarem em desistir e a garota de Slytherin ainda precisava socar a cara de quem quer que estivesse por trás dos ataques.

- Vamos logo. - ela falou, respirando fundo e sentando na borda do cano, pendurando as pernas. Hesitou por um segundo, porém logo sorriu, afinal ela e Potter eram capazes de se comunicar com as cobras, então tinham grande chance de tentar conversar com o basilisco e convencê-lo de parar com os ataques.

A jovem Black, novamente, olhou para os amigos em um pedido silencioso de aproximação e o primeiro a se manifestar foi Harry, que parou em pé atrás dela.

- Estarei logo atrás de você. - ele falou e a sonserina assentiu, escorregando para dentro do túnel.

Foi um caminho longo e sinuoso, com certeza teriam sorte se achassem o caminho de volta para cima, porém Anne não pensou nisso por muito tempo, o que importava naquele momento era resgatarem Ginny Weasley e acabar com a pessoa responsável. A morena, enquanto descia, se manteve de olhos fechados, sentindo apenas o atrito de seu corpo com as paredes frias e úmidas do cano, assim como o vento em seu rosto provindo da aceleração. No momento em que a sonserina parou de escorregar ela sentiu-se bater com os pés em algo que não identificou, era quebradiço como cascas de ovo, então abriu os olhos e soltou uma exclamação de surpresa ao ver exatamente no que estava pisando: milhares de esqueletos de pequenos animais.

- Eca! - ela escutou Weasley reclamar com voz de nojo.

Anne também tinha o mesmo sentimento, porém não os externou, estava impressionada demais com a grandiosidade do lugar e com o terror que exalava daquelas paredes. O quarteto não sabia o que acontecera nos anos anteriores ali, porém sabiam que muitas criaturas haviam morrido ali e não se surpreenderiam ao verem um esqueleto humano, apesar de ser trágico e nojento era possível.

Assim que todos desceram pelo cano, a morena iluminou o local com a varinha e eles começaram a andar pelo único caminho que havia ali, com Anne e Harry liderando o caminho, afinal os outros dois estavam com medo demais para acompanhar o ritmo dos dois. Seguiram por aquele percurso em silêncio, afinal não estavam lidando com coelhinhos fofos e sim com uma cobra gigante à espreita pronta para devorá-los um a um.

Chegaram a uma grande encruzilhada, com vários túneis desembocando em uma espécie de saguão, a qual era o local onde se encontravam, e por fim pararam de andar, os dois ofidioglotas tentando ouvir qualquer sinal de que o basilisco estivesse por perto, porém estava tudo em silêncio até que Ron começou a gritar em desespero. A sonserina virou-se rapidamente para ver o que exatamente havia acontecido e duas coisas ocorreram em seguida: da varinha do ruivo saiu um feixe de luz vermelha que atingiu a parte superior do túnel e a mesma ruiu, derrubando grandes pedras e fazendo com que Anne se jogasse para o lado, colocando os braços sobre a cabeça para tentar se proteger enquanto literalmente o teto desabava sobre si.

A jovem não sabia quanto tempo demorou para que tudo se aquietasse, mas, tão logo quanto isso aconteceu, ela abriu os olhos e se viu completamente empoeirada, cheia de arranhões por todo o corpo. Teve uma pequena dificuldade para se levantar por conta de estar um pouco tonta devido aos pedaços de pedra que caíram sobre ela e cambaleou um pouco, fazendo um esforço grande para não cair novamente. Quando conseguiu se firmar olhou para o local onde estava, notando que uma parede de pedras havia caído e ela, Draco e Ron estavam presos.

- Não acredito. - a jovem suspirou incrédula e procurou seu primo com o olhar, Draco estava a alguns passos dali, próximo à parede, completamente alheio ao resto. A morena, então, olhou na direção de Weasley de maneira penetrante - Weasley... - seu tom de voz era perigoso.

- Hey! - o garoto em questão se defendeu, erguendo os braços em rendição - Eu queria iluminar esse lugar para não dar de cara com aquela cobra gigante por andar no escuro! - logo a expressão do ruivo tornou-se culpada - Mas esqueci que minha varinha não está nas melhores condições.

A jovem Black respirou fundo na tentativa de aplacar sua frustração, mas foi completamente em vão. A garota abriu a boca para ralhar com ele, porém foi interrompida pela voz de Draco:

- Anne, deixa para azará-lo depois, temos um assunto mais importante a resolver agora. Estamos presos e Potter foi sozinho atrás do monstro.

O loiro estava agitado e Anne entendia perfeitamente o por quê. A sonserina fechou os olhos e balançou a cabeça em negação, amaldiçoando até a sétima geração dos antepassados do garoto por todo seu heroísmo. Certamente o garoto acabaria morto graças à imprudência e isso era algo que ela precisava evitar. Black pegou a varinha, a qual estava cuidadosamente guardada no bolso interno de suas vestes, e a girou na mão, tentando encontrar uma solução.

- A gente precisa encontrar uma maneira de passar. - disse o óbvio e se aproximou da grande parede de pedras que havia se formado. Poderia muito bem provocar uma nova explosão, porém era arriscado, afinal existia a grande possibilidade de causar um novo desmoronamento. Com certeza se tentasse tirá-las com os próprios braços, mesmo que tivesse ajuda dos meninos, iria demorar demais e Potter seria morto em um piscar de olhos.

A jovem olhou na direção dos outros dois e deu um longo suspiro.

- Temos que tirar ao menos uma parte dessas pedras, preciso ir atrás dele. - ela falou enquanto girava a varinha nos dedos de maneira nervosa. Ron a encarou surpreso, provavelmente estava achando estranha a atitude dela, afinal sonserinos não eram conhecidos por seu altruísmo. Draco a olhava como se a mesma tivesse perdido a cabeça, porém não comentou nada. Anne sabia que era loucura, mas nada podia fazer, uma vez que haviam se metido juntos nessa confusão. A garota precisava descobrir exatamente quem era o Herdeiro para ser capa de fazê-lo pagar por ter atacado sua irmã de coração.

- Anne, você sabe que isso vai acabar mal, não sabe? - o loiro indagou, fazendo com que sua prima revirasse os olhos exasperada.

- Draco, eu sei que é perigoso, mas você acha que é justo o fato de o Potter ir sozinho enfrentar o basilisco? A criatura também atacou a Di, lembra? - o sonserino baixou o olhar, parecia finalmente ter entendido - E outra, ambos sabemos falar a língua das cobras. Talvez tenhamos uma chance.

Draco, dando um suspiro derrotado, assentiu, demonstrando que entendera o ponto dela, e olhou para a parede de pedras de maneira interrogativa.

- Não tenho nem ideia de como fazer isso. Vamos levar anos para conseguir puxar todas. - os dois sonserinos estavam na mesma linha de raciocínio, porém Ron não. O mesmo estava olhando feio para a varinha quebrada em sua mão.

- Coisa idiota. Se ao menos estivesse funcionando... Wingardium Leviosa seria muito bem-vindo agora. - ele falava consigo mesmo, entretanto os outros dois escutaram muito bem e se entreolharam certamente com o mesmo pensamento: como não haviam pensado nisso antes? A sonserina se virou para o ruivo e se aproximou dele, tocando-lhe o ombro com simpatia; a raiva que sentia minutos antes se esvaiu, afinal o garoto havia encontrado uma solução para o problema que possuíam ainda que tivesse sido ele mesmo a causar.

- Calma, Ron. - era a primeira vez que ela o chamava pelo apelido - Draco e eu vamos dar um jeito nas pedras, depois vou atrás do Po... Harry e vamos trazer sua irmã de volta em segurança.

O rosto do garoto pareceu se iluminar - Anne sentiu que daquilo não poderia sair coisa boa - e logo ele se colocou a falar:

- Brilhante! Com certeza enfrentar um basilisco em quatro é mais inteligente que enfrentar sozinho. Brilhante!

A jovem Black respirou fundo, segurando-se para não revirar os olhos nem bater na própria testa e muito menos em Ron.

- Ron. - ela o chamou, novamente respirando fundo - Você e Draco não vão a lugar algum. - o ruivo abriu a boca para argumentar, porém a garota foi mais rápida em continuar falando - Ele é medroso e você está sem varinha. Que chance acha que vamos ter se Harry e eu precisarmos ficar de babá? - ela estava exasperada com a situação, quase ao ponto de desacordá-lo para que parasse de falar - E se por acaso o pior acontecer... Precisamos de alguém para avisar os professores.

Ron a encarou um pouco abobalhado.

- Caso o pior acontecer? O que você quer dizer com: caso o pior acontecer? - o ruivo questionou franzindo a testa.

Ann olhou-o e piscou duas vezes, sem resposta por alguns segundos, tentando definir se ele realmente estava fazendo aquela pergunta ou se ela havia escutado errado.

- Ron... - ela iniciou vagarosamente - Pensa comigo. É uma cobra de 20 metros de comprimento. Você realmente não parou para pensar que poderíamos morrer?

Ele parou e a encarou por uns longos minutos antes de arregalar os olhos.

- Ahhh! Cobra gigante! - exclamou ele com claro terror estampado em sua face. A sonserina simplesmente revirou os olhos. Às vezes não entendia como Weasley podia ser tão burro. Virando-se para seu primo, ela suspirou novamente.
- Será que vamos conseguir tirar as pedras sem morrermos soterrados? - indagou, girando a varinha nos dedos. Draco encarou-a e deu de ombros.
- Não chegamos até aqui para morrer por um monte de pedras, se for para morrer, que seja com estilo. - ele falou e virou-se novamente para as pedras, apontando a varinha a uma que aparentava estar meio solta no topo da pilha. - Wingardium Leviosa. - o minério se soltou com facilidade, causando efeito nenhum no restante e pousou-o no chão, longe de onde os estudantes se encontravam. Olhou para a prima e deu um sorriso orgulhoso, demonstrando que aquilo não seria impossível.

Anne espelhou seu sorriso, o coração acalmando as batidas um pouco, afinal o loiro lhe havia dado uma injeção de ânimo e logo ambos estavam trabalhando em perfeita sincronia, mesmo que ainda um tanto desajeitados. Ron ficara um tanto afastado dos sonserinos, observando o que faziam, até o momento em que todos escutaram o barulho de um pássaro, um canto alto. A sonserina olhou para cima, vendo um borrão avermelhado passar sobre eles - a jovem identificou como sendo o pássaro de Dumbledore - , indo na mesma direção que o garoto da Grifinória havia ido anteriormente De alguma forma Ann sabia que Potter estava com problemas, afinal por que outro motivo uma fênix entraria num lugar como aquele? A garota respirou fundo, voltando a encarar as pedras.

Ela estava ofegante; as gotículas de suor corriam livremente por sua face. Não sabia que aquela tarefa seria tão difícil assim, porém não fraquejou. Harry precisava de ajuda e ela prometera a si mesma que iria ajudá-lo, então assim o faria e nada seria capaz de pará-la. Demorou um pouco ainda para que conseguissem tirar parte das pedras do topo, apenas o suficiente para que a sonserina pudesse passar, mesmo que precisasse escalar o restante. Ela aproximou-se um pouco mais e olhou para cima, dando um suspiro longo; a hora havia chego.

- Bom... Eu já vou indo. - falou, não aguardando resposta por parte dos dois garotos e iniciou sua escalada pedindo a Merlin que nenhuma das pedras maiores se soltasse e acabasse rolando em sua direção.

Certamente a sonserina escorregou algumas vezes enquanto subia, acarretando mais alguns cortes para sua coleção, porém, felizmente, nada com o que precisasse se preocupar muito. Ao alcançar o topo, onde havia uma pequena passagem, ela atravessou e logo se virou para o lado de onde viera, olhando na direção dos amigos que ali ficaram, porém acabou escorregando com o movimento e rolando junto de algumas pedras até a base da parede. Da sua boca ia sair um grande xingamento, porém o mesmo morreu antes mesmo que as cordas vocais da jovem fossem acionadas, pois o choque tomou conta de seu ser no momento em que ergueu o olhar e enxergou uma porta redonda a pelo menos 20 metros de si com sete cobras cravejadas em alto relevo. Levantou-se, tendo a certeza plena de que era aquele caminho o qual precisava seguir.

Andou lentamente, não conseguindo encontrar força de vontade para correr. Pela primeira vez sentiu medo de morrer e seu instinto de sobrevivência ordenava que ela retornasse e fugisse, porém ela não lhe deu ouvidos e seguiu caminhando, tentando bolar um plano para o caso de Potter já ter partido dessa para uma melhor. Não, não podia. Harry Potter era o Menino-Que-Sobreviveu, não seria uma cobra gigante que o teria matado se nem mesmo o Lorde das Trevas conseguira esse feito. Um pouco mais tranquila, ela alcançou a porta com as cobras e notou que a mesma já encontrava-se aberta. Certamente o pássaro também havia entrado por ali, então ela assim o faria. Respirou fundo e colocou a cabeça para dentro do túnel para tentar enxergar algo, porém foi impossível, afinal o longo corredor era muito mal iluminado, o que fez com que a morena quase caísse ao passar o restante do corpo pela porta; ela não havia visto que ali o chão acabava e havia uma escada. Anne desceu a mesma, notando o quanto estava úmida e se segurando com mais força para não escorregar, logo tocando o chão molhado com os pés. A hora havia chego.

Black virou-se para o final do túnel, tentando tomar coragem para o que viria a seguir e começou a andar devagar, sem olhar para a frente, afinal uma mera troca de olhares lhe seria fatal.

Conforme ela caminhava, começou a escutar barulho ao fundo. A sonserina respirou fundo, esperando que Potter estivesse bem, ou ao menos vivo. Não era capaz de sequer erguer o olhar, mas tinha a certeza plena de que naquele momento o garoto estava lutando com o basilisco e, pela primeira vez naquela noite, sentiu medo de verdade, apesar de não saber exatamente a razão. A única coisa em que conseguia pensar e desejar naquele momento era que a cobra parasse. Desejava que, assim como todas as outras cobras com que ela conversava e brincava, aquela também a atendesse. Black sempre teve um pouco de controle sobre esses animais, os mesmos geralmente a escutavam e obedeciam e, a jovem queria desesperadamente que a cobra gigante fizesse o mesmo.

De repente, saindo de sua prece mental, Anne percebeu que o barulho havia acabado, ela conseguia escutar até os longínquos pingos de água que caíam do teto da Câmara e batiam no chão. Engoliu em seco e saiu em disparada, o espírito quase se separando do corpo ao escutar um grito.

- NÃO! O QUE VOCÊ FEZ?

A garota, então, parou derrapando no piso molhado e ergueu o olhar para ver quem gritara pois não reconhecia aquela voz e franziu a testa ao se deparar com uma cena nada menos do que bizarra. Um garoto que ela nunca havia visto na vida estava olhando fixamente na direção da cobra gigante que parara com a boca aberta a centímetros de Potter. Este estava sobre uma grande cabeça de pedra, que Anne julgou ser de Salazar Slytherin, segurando uma grande espada prateada. Os três pareciam em choque e a bizarrice parecia não ter fim.

O desconhecido, a cobra e o grifinório viraram a cabeça para ela de maneira simultânea, parecendo terem combinado o movimento. Black achou aquilo realmente estranho, mas não comentou o assunto, estava mais focada no tamanho da serpente e de seus dentes. O animal era realmente incrível e bonito para quem soubesse apreciar. Esqueceu-se, por um momento, de que aquele era o monstro letal que habitava a Câmara e atacara suas amigas. Ann, por um segundo, desejou poder tocá-lo.

Para a sua surpresa, a cobra enorme fechou a boca e se virou, deixando Potter de lado e se aproximando da jovem, deixando a mesma praticamente em pânico, antes de perceber que o animal encostou a grande cabeça no chão com os olhos fechados (a jovem de Slytherin notou que os mesmos sangravam) e seu rabo se movimentava, parecendo uma cauda de cão abanando. Era fácil imaginar um cachorro pedindo carinho.

Com uma certa curiosidade e fascinação, Anne levou a mão à cabeça da cobra e começou a fazer um leve carinho com as pontas dos dedos, sentindo a textura áspera e pegajosa ao mesmo tempo, o que fez a cobra se balançar inteira, demonstrando o quanto estava gostando da atenção. A sonserina soltou uma risada divertida e ia continuar com os carinhos, porém o clima logo foi quebrado pelo barulho que ecoou de madeira caindo. A jovem olhou na direção do som e viu o jovem desconhecido com uma expressão mista de incredulidade e raiva. A varinha que segurava anteriormente estava caída aos seus pés.

- O que está fazendo, garota insolente? COMO OUSA? - a última frase saiu como um estrondo e reverberou pelas paredes da Câmara.

Black se encolheu um pouco pelo susto, porém logo se recompôs e virou-se para encarar o estranho.

- Será que posso saber quem é você e o porquê de estar gritando comigo se nem ao menos me conhece? - o tom dela era um misto de curiosidade e desafio. Apesar do grande incômodo que sentia (nunca admitiria nem a si mesma que estava com mais medo que antes), não iria abaixar a cabeça. Já estava acostumada aos xingamentos, afinal seu tio não lhe dava folga.

A menina viu o desconhecido fazer uma careta de raiva, mas o mesmo não respondeu. A curiosidade mais uma vez tomou conta de seu ser, mas ela foi novamente distraída pela cobra que pedia mais carinho. Não se importou com o silêncio prolongado até que a voz do jovem quebrasse o mesmo com uma risada sem graça e forçada.

- Oh, a nova herdeira de Slytherin. - ele falou em tom de sarcasmo - Tão fraca... Inútil! Nem parece que tem o sangue do grande Salazar Slytherin correndo por suas veias.

Anne novamente virou-se para o jovem com a expressão séria. Algo no tom dele lembrava-lhe a forma como Ted Tonks a tratava e isso deixou-a um tanto nervosa, afinal já havia passado por algumas situações bastantes desagradáveis com o homem, porém, o que mais lhe incomodou foi o fato de ele tê-la chamado de Herdeira de Slytherin. Não podia ser verdade, uma vez que ela não havia atacado ninguém.

- Você é o herdeiro, não eu. - a menina acusou, tentando ganhar tempo, afinal nem sabia quem era o jovem.

Ele abriu um sorriso frio e desdenhoso, fazendo com que um arrepio percorresse a espinha da menina, a mesma era obrigada a admitir que o garoto lhe transmitia mais medo que a cobra gigante deitada aos seus pés, o animal naquele momento parecia mais inofensivo que um filhote de coelho.

- Interessante... Então você não conhece sua própria história... - disse o jovem. Seu tom demonstrava pena, porém o olhar era frio e penetrante. - Sua mãe precisa conhecê-la, claro... Minha melhor comensal: Bellatrix. Você é o rosto esculpido dela, com exceção dos olhos, obviamente, que são a mera lembrança do passado de seu pai.

O herdeiro se aproximou um pouco dela, a expressão em seu rosto havia mudado completamente; era mais do que cruel, e ele andava calmamente como um animal encurralando sua presa.

Anne franziu a testa, tentando entender o que o garoto estava falando. A única pessoa que possuía relação com os Comensais era Voldemort, mas... Não podia ser. O estranho era muito jovem para ser o mesmo e Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado havia desaparecido havia dez anos. Em contrapartida, ele conhecia sua mãe e sabia o quão parecidas eram. Ninguém fora da casa de Slytherin sabia de quem ela era filha.

A garota deu um passo para trás, levemente perturbada, quando um estalo passou por sua mente. "Você não conhece sua própria história." O que exatamente ele queria dizer com isso? Algo no olhar dele a assustou, era frio, cruel e vil. A jovem perdeu a fala.

Por sua mente vários pensamentos voavam, cada um mais improvável que o outro. Anne não conseguia compreender o que exatamente esse jovem queria insinuar ou aonde queria chegar. Tentava encontrar um sentido para as palavras dele, porém tinha medo de fazê-lo. Sentia-se como se tivesse entrado em curto.

Não sabia quanto tempo havia passado enquanto ficou encarando o herdeiro de Slytherin, uma vez que seu corpo apenas voltou a reagir quando ela percebeu uma luz começar a brilhar no meio do peito do jovem desconhecido e o mesmo começar a gritar loucamente.

- NÃO! PARE! - o tom de voz do garoto era completamente desesperador e Anne virou o rosto, não queria ver o que estava acontecendo; era quase capaz de sentir a dor que o mesmo aparentava sentir. A menina se encolheu, confusa e com medo daquilo, porém não foi capaz de continuar sem ver o que acontecia. Tornou a encarar a cena no momento em que havia apenas pequenos pedaços brilhantes no ar e, para sua surpresa, Potter ajoelhado no chão com algo nas mãos que ela não era capaz de identificar. Nesse mesmo instante, a garota Weasley se sentou rapidamente, respirando profundamente.

- Harry! - ela exclamou, após uns segundos. - Não fui eu, Tom Riddle me obrigou! E... - a ruiva parou de falar e arregalou os olhos, dando um grito meio estrangulado - É O MONSTRO!

- Está tudo bem, Ginny. - respondeu o garoto, virando o rosto na direção da cobra e da sonserina. - Anne consegue controlá-lo... Estou certo Anne?

Ann ainda não havia saído exatamente do torpor no qual se encontrava, porém, quase automaticamente, ergueu a mão alguns centímetros e a cobra passou a cabeça por baixo para que a menina pudesse acariciá-la. Esta sorriu, fazendo carinho no animal. Sempre quisera um bichinho de estimação, porém seus tios nunca lhe permitiram.

- Fofinha... - sussurrou ela, sorrindo mais largamente.

- Acho que isso é um sim... - murmurou o moreno que fechou os olhos e deu uma risada leve, balançando a cabeça negativamente.

- Ótimo... - disse a ruiva ainda parecendo desconfiada, tanto da cobra enorme quanto da outra garota, e mudou de assunto rapidamente. - Podemos sair daqui agora?

Black finalmente tornou a prestar atenção em seus arredores, porém ainda estava se sentindo estranha, confusa com o que aquele garoto havia falado. Com certeza ele sabia algo sobre ela, ou estava apenas blefando? A jovem olhou na direção de Potter e suspirou, concordando que precisavam sair dali.

- Como vamos subir aquele túnel? - o garoto indagou e Anne sorriu, olhando na direção da cobra novamente, uma ideia genial tomando sua mente, libertando-a momentaneamente dos pensamentos que a fala de Riddle lhe trouxeram.

- A Fofinha aqui pode nos ajudar, não pode? - perguntou ela, coçando a cabeça da cobra.

"É claro que posso, subam na minha cabeça." - A garota assustou-se ao ouvir a mesma voz que havia ouvido meses antes, na noite das bruxas, porém logo relaxou. De alguma forma sabia que a cobra não atacaria mais ninguém. Foi a primeira a fazer o que o animal havia sugerido e, sem olhar para trás, chamou os outros dois que de início relutaram um pouco, porém acabaram por fazer o mesmo, segurando-se nos chifres que saíam da pele da cobra.

Assim que se ajeitaram da maneira mais segura que podiam, Fofinha (assim batizada por Anne) levou-os pelo caminho todo e, para a surpresa da sonserina e de Harry, Draco e Ron haviam conseguido tirar praticamente todas as pedras do caminho sem fazer a Câmara desmoronar.

Aparentemente os dois garotos não os viram sentados em Fofinha, uma vez que ambos começaram a gritar desesperadamente.

- É o monstro! - Ron gritou horrorizado correndo para um lado depois para o outro.

Draco olhava para o monstro chocado e completamente pálido, mas ao menos tinha parado de gritar como idiota; apenas parecia ter sido petrificado, mesmo que isso não fosse mais possível.

Anne não sabia se ria, chorava ou revirava os olhos. Com certeza o medo dos garotos era compreensível, porém a jovem não tinha paciência (era uma típica Slytherin) e falou ligeiramente alto:

- Parem de drama os dois. Apenas subam para podermos dar o fora daqui logo.

Ron parou na posição que estava e virou o rosto lentamente para a cobra, mais pálido que Draco anteriormente.

- A... a... co.. cobra... fa-fa-falou que ne-nem a Ann... - ele gaguejou e então desmaiou ali mesmo. Draco apenas olhou em sua direção com uma sobrancelha levantada e voltou a encarar sua amiga de casa.

- Depois os Sonserinos que são covardes... - ele comentou, apesar de estar meio branco ainda, parecia que pelo menos havia entendido a situação.

Ann apenas balançou a cabeça negativamente ao drama do grifinório e Fofinha tremeu a cauda, como se estivesse rindo, depois abaixou a cabeça tão delicadamente quanto podia para que o loiro fosse capaz de subir. O mesmo olhou desconfiado, porém logo o fez.

- Será que alguém pode me explicar como isso aconteceu? - indagou ele, ajeitando-se um pouco atrás de Anne.

- Ah... Eu sou a herdeira de Slytherin, ao que parece. - respondeu a Anne dando de ombros e Harry riu batendo a mão na testa.

- Cara, se soubéssemos disso antes, dava pra termos controlado a cobra há muito tempo... Afinal ela ignorou completamente o Voldemort depois que você chegou aqui. ele falou em um tom animado, porém pensativo.

Anne virou-se rapidamente (quase se desequilibrando no processo) para o grifinório com os olhos arregalados e uma expressão confusa em seu rosto.

- Aquele era o Você-Sabe-Quem?

- Era... - respondeu o moreno lentamente, hesitante, como se não quisesse assustá-la mais ainda. - Pensei que você tinha percebido isso...

Ann apenas negou com a cabeça e ficou em silêncio por alguns segundos, tentando absorver aquela e todas as outras informações da noite. Draco, não notando o desconforto da prima, quebrou novamente o silêncio.

- Como assim? Mas ele não tinha sumido, ou algo parecido? Como entrou em Hogwarts?

Ginny, que até aquele instante não se pronunciara, falou com uma voz esganiçada:

- Precisamos pegar o Ron e ir embora daqui!

- Conversamos depois. - disse Potter. - Realmente gostaria de sair desse lugar.

Ann pensou por alguns instantes no quão engraçado seria se Fofinha o colocasse na boca e, para sua surpresa, foi exatamente isso que a mesma fez com a maior delicadeza que uma cobra peçonhenta de 20 metros de comprimento conseguia e assim finamente saíram dos esgotos da escola.

Logo que todos haviam descido da cobra, e a mesma havia soltado Ron no chão, Ann se aproximou da mesma novamente e estendeu a mão, tocando-lhe o focinho com carinho.

- Você é incrível, sabia? Não sei como os outros te trataram, mas quero que tenha a certeza de que ninguém mais vai te fazer mal, ou te usar para o mal. Vamos cuidar de você. - sussurrou à sua nova amiga e deu um beijo entre as grandes narinas, não se importando com o fato de ser pegajoso. Fofinha tocou o rosto da menina com o focinho de maneira carinhosa e desceu o túnel novamente, a passagem sendo selada quase que de maneira instantânea.

Ann ficou observando a pia um tanto perdida em pensamentos, porém virou-se ao escutar um pigarro vindo de trás de si.

- Anne, como reanimamos ele? - era Harry quem perguntava, se referindo a seu amigo.

A jovem Slytherin sorriu, negando com a cabeça, e pegou sua varinha, usando, para acordar o idiota, de um feitiço que estudara com Hermione alguns meses antes: Enervate. O encantamento foi instantâneo e o garoto voltou à consciência.

- Ahn? Que sonho louco foi esse que eu tive? A Anne era a cobra! - Ron falou rapidamente ao se sentar.

Todos presentes ali simplesmente reviraram os olhos e ignoraram o ruivo desorientado. Nem Potter, Anne percebeu, estava a fim no momento de corrigir seu melhor amigo. Todos estavam cansados, agora que a adrenalina havia saído de seus sistemas.

Não demorou muito também para escutarem passos rápidos, como se tivessem correndo e então a porta do banheiro foi aberta com um estrondo, revelando cinco figuras as quais Ann não tinha certeza se eram para ajudar, ou para expulsá-los: Professora McGonagall, Professor Snape, Sr e Sra Weasley e é claro, o diretor de Hogwarts Albus Dumbledore.

Anne olhou para os amigos antes de encarar os professores e prendeu a respiração; com toda certeza estariam muito encrencados por terem quebrado as regras.
O silêncio foi quebrado quando a sra. Weasley, soluçando, agarrou a filha e o filho em um abraço apertado, agradecendo por estarem vivos. A jovem Slytherin e Draco se entreolharam, não sabendo como agir, apenas esperando a bronca que viria, afinal o diretor de sua casa e o próprio Dumbledore se encontravam ali. Ann tinha a certeza plena de que se passava pela mente do primo o mesmo pensamento que passava pela sua própria: "tomara que não nos expulsem."