Após Dumbledore ter conversado brevemente com os Weasley, Harry, Anne, Draco e Ron se encontravam na sala do diretor, completamente calados, só esperando o veredicto do mesmo. Ginny já havia saído da sala com seus pais, todos os três estavam bastante chorosos com o reencontro, aliviados que nada por fim havia acontecido com a filha mais nova. Snape e McGonagall também haviam deixado a sala, deixando os alunos de suas casas serem julgados pelo seu superior, sabendo que ele iria fazer o que fosse necessário.
Albus olhava para os quatro alunos de forma severa, a expressão ilegível, e também se manteve calado por alguns instantes, parecendo absorver o que cada um dos jovens estava pensando naquele momento. Quando falou, seu tom era calmo, porém severo:
- Vocês quatro têm consciência, é claro, de que nestas últimas horas, infringiram no mínimo uma dúzia de regras da escola.
O quarteto se entreolhou, cada um deles engolindo em seco, o medo aumentando com intensidade.
- Sim, senhor. - responderam em uníssono. O diretor manteve a mesma expressão no rosto, e não tardou a falar novamente.
- E há provas para que os quatro sejam expulsos. - disse, sem se alterar.
Desta vez nenhum dos alunos conseguiu esconder a decepção. Ann ouviu Draco murmurar algo como "meu pai vai me matar". Potter e Weasley encontravam-se calados. A jovem Slytherin foi a única a ter astúcia suficiente para se manifestar:
- Sim, senhor. - respondeu ela, a voz vacilando um pouco ao final.
- Entretanto… - a voz de Dumbledore tornou a ser ouvida no escritório - O mais apropriado é que vocês quatro recebam um prêmio especial por serviços prestados à escola.
Os quatro se entreolharam novamente, estupefatos. Levou alguns instantes para que a frase proferida pelo diretor penetrasse em suas mentes e, finalmente, os jovens sorriram de maneira cansada, os eventos da noite começando a cair sobre seus ombros.
- Obrigado, senhor! - falou Ron, a expressão de alívio maior que a de todos os presentes. Albus apenas sorriu, levantando-se da cadeira com alguns papéis em mãos, andando em direção aos garotos.
- E agora senhores Malfoy e Weasley, gostaria que mandassem uma coruja entregar estes papéis de soltura em Azkaban. Acho que todos queremos nosso Guarda-Caça de volta. - falou o homem sorrindo.
O diretor caminhou até um conjunto de mobília na frente da lareira, do outro lado da sala.
- Sentem-se. - disse ele mostrando as cadeiras lado a lado diante dele. Os dois alunos restantes obedeceram de imediato, sentido um nervosismo inexplicável. Anne se sentia muito desconfortável sentada ao lado de Potter. Sim houve ajuda mútua, não, ele não era tão ruim quanto ela pensava, mas ainda assim era estranho. A menina saiu de sua contemplação quando Dumbledore voltou a falar. - Então, vocês conheceram Tom Riddle. - disse pensativo. - Imagino que ele estava interessadíssimo... Em vocês dois.
Os jovens se entreolharam de maneira significativa. O diálogo estranho que tivera com o garoto voltou à mente de Anne com a velocidade de um raio. Várias perguntas pairavam por seu interior, uma mais esquisita que a outra. Por fim, acabou por fazer a única que, em seu julgamento, tinha uma certa coerência:
- Ele disse que sou a nova herdeira de Slytherin. É possível, professor?
- O herdeiro de Slytherin tem a habilidade de falar com as cobras... - ele falou com calma. O homem parecia que iria continuar a falar quando Harry o interrompeu.
- Mas senhor... eu também falo com as cobras e ele não se referiu a mim como o Herdeiro de Slytherin.
- Imagino que seja porque Anne está na casa de Slytherin e você de Griffyndor. - respondeu o homem com aparente cautela. - Afinal, como o próprio título sugere é Herdeiro de Slytherin…
Ann franziu a testa, absorvendo o que Dumbledore dissera e tentando conectar com o que o estranho, Tom Riddle, insinuara. Pelo que o diretor estava dizendo, era possível que ela realmente fosse a Herdeira, mas como poderia? Afinal ela nunca atacara ninguém e com toda certeza a visão de que os sangues-ruins eram escória não era algo em que acreditava. A jovem sabia que a família por parte de sua mãe pensava dessa forma, então Voldemort poderia muito bem fazer parte da mesma em algum ponto da tão complicada árvore genealógica e, por isso, os dois compartilharem do sangue de Slytherin. Black não entendia muito de genética, mas para ela esse pensamento fazia sentido, afinal o bruxo das trevas tinha a mesma ideia que a maior parte de sua família.
Decidida a não pensar mais sobre essa confusão, voltou a encarar o diretor ao externar outra pergunta:
- Mas o senhor sabe que não ataquei ninguém, certo?
- Eu sei Anne. - ele respondeu com um sorriso, vendo a preocupação no olhar da jovem. - Sim, você é a Herdeira de Slytherin, mas diferente do seu antecessor, você não tem preconceitos... - continuou o mesmo e olhou a menina por cima dos óculos de meia-lua. - Talvez então, a senhorita dê um destino melhor para nosso monstrinho.
A jovem sentiu suas bochechas esquentarem e um sorriso cansado, porém verdadeiro tomou conta de sua face. Não importava que realmente fosse a Herdeira, sua inocência estava provada e o diretor sabia que ela pretendia dar uma vida melhor à Fofinha.
Black sentiu sobre os ombros o peso do que haviam feito e o cansaço tomou conta de si, um bocejo escapando quase que automaticamente.
- Pode contar comigo, professor. No que depender de mim, ninguém nunca mais vai usá-la para o mal. - respondeu a garota de Slytherin.
O diretor assentiu, com a expressão serena, e deu um sorriso brincalhão antes de tornar a falar novamente.
- Agora acho melhor que a senhorita volte ao seu Salão Comunal antes que pegue no sono aqui mesmo. - disse ele. Ann apenas assentiu e se levantou rapidamente.
- Boa noite, diretor, boa noite, Potter. Nos vemos amanhã. - falou a garota de Slytherin e, sem esperar resposta, apressou-se a sair dali.
Uma vez fora do escritório Anne alongou as costas, sentindo as articulações estalando. Realmente era hora de tomar um banho e ir ao seu dormitório.
A menina desceu as escadas o mais rápido que seus pés permitiam de maneira segura e, quando estava nos degraus que levavam ao Grande Salão, viu Draco e Ronald retornando da parte externa do castelo. Aguardou por alguns instantes até que eles a alcançassem.
- Weasley, como está sua irmã? - ela dirigiu a pergunta ao ruivo.
- Ela está bem... - ele respondeu pensativo franzindo a testa. - Bem pra quem levou uma bronca dos nossos pais e um susto do inferno.
- Resumindo... - Draco se intrometeu. - Ela está bem fisicamente, mas emocionalmente não.
O jovem de Gryffindor sorriu e olhou na direção do menino ao seu lado, de maneira patética de acordo com os pensamentos de Anne.
- Exatamente! - ele exclamou, como se tivesse descoberto a América.
Ann apenas balançou a cabeça em um misto de indignação e diversão. Até que não seria tão ruim conviver mais com os grifinórios quando o ano letivo seguinte começasse.
- E vocês dois? Sem mais ataques cardíacos? - ela caçoou
- Não... tudo bem. - Respondeu Ron. - Depois dessa.. não tem como ficar pior. - Draco assentiu.
- Também estou bem... - ele falou lentamente, ficando ligeiramente triste e preocupado .- Só... queria a Di com a gente…
A jovem assentiu, a expressão se tornando mais séria. Graças à sua irmã de coração e a Hermione eles haviam conseguido chegar ao fundo daquele mistério e foram capazes de impedir que mais pessoas fossem atacadas. Pela primeira vez em bastante tempo, em contraste com a gravidade da situação, a sonserina sentiu uma ponta de otimismo crescendo em seu interior.
- Logo ela estará conosco novamente, Draco. E Hermione também. - ela falou a última frase olhando para Ron, mas o que não notara era que essa afirmação aquecera não somente o coração do grifinório, mas a seu próprio também. A garota bocejou. - Acho que deveríamos ir para o Salão Comunal, preciso muito tirar esse uniforme. - ela fez uma careta, se referindo à sujeira que se impregnara em suas roupas.
Os meninos concordaram e assim fizeram o caminho juntos em silêncio até seus caminhos se separarem. Ron se despediu e subiu as escadas, ao passo em que os Sonserinos continuaram a caminho das masmorras.
No dia seguinte, Anne estava em modo automático, sua mente repassando tudo que havia acontecido na noite anterior e chegando a conclusão nenhuma. Talvez ela estivesse cansada demais para avaliar tudo aquilo. Soltando um suspiro resignado, sabendo que não adiantaria continuar pensando, a jovem sonserina entrou no Salão Principal.
Procurou por uns segundos a mesa da sua casa, e se surpreendeu por ela estar do lado da mesa dos Grifinórios. Aquilo era muito raro, graças à competitividade e rivalidade entre as mesmas
Ann sorriu, encaminhando-se inicialmente à de Gryffindor no momento em que avistou Harry, Ron e Draco. A jovem franziu a testa ao primo, mas não comentou nada e sentou ao lado do moreno, com o corpo virado para a mesa de sua própria casa.
- Como estão se sentindo? - indagou, o pé batendo continuamente no chão, denunciando seu nervosismo.
Os meninos olharam para ela por uns segundos, obviamente chocados a julgar pelo modo que seus olhos se arregalaram, mas logo voltaram ao normal.
- Cansado. - respondeu Ron e Harry concordou com a cabeça, acrescentando:
- Pouco ansioso e nervoso... - o grifinório falou devagar. - Não falaram nada sobre... elas.. os petrificados.
Ann coçou a cabeça, indagando a si silenciosamente se algo tinha dado errado com a poção, porém logo sentiu um toque suave em seu ombro, seguido de uma voz feminina:
- Não falaram o que sobre quem?
O tempo, naquele instante, pareceu parar quando a jovem virou-se em câmera lenta e viu as duas pessoas com quem passara as últimas semanas completamente preocupada: Diana e Hermione.
Acordar havia sido muito estranho. Tinham se passado meses, mas para a jovem sonserina era praticamente o começo do ano. A preocupação com tudo o que estava acontecendo, mas que no momento em que acordou... Tudo já tinha acabado.
A ruiva e Hermione tinham se abraçado, felizes por estarem inteiras, nenhuma das duas se demorando na Ala Hospitalar, e caminharam juntas para o Salão Principal, ansiosas para verem seus amigos e finalmente saberem o que realmente havia acontecido.
As duas garotas se surpreenderam ao ver Anne e Draco sentados com Harry e Ron na mesa de Gryffindor. Dando de ombros, ambas se aproximaram dos amigos e escutaram o que estavam falando.
- Não falaram o que sobre quem? - Diana perguntou com um sorriso no rosto, sabendo que os quatro iriam pular de susto, pois não haviam visto a aproximação delas.
Assim como previra, o quarteto se virou tão rápido que ela precisou segurar Ann pelos ombros para que a mesma não caísse do banco e, em um piscar de olhos, a morena já estava agarrada a seu pescoço, abraçando-a como se sua vida dependesse daquilo.
- Di... - sua irmã de coração falou com a voz embargada. Parecia que Anne queria dizer mais algo, porém não o fez e Diana conhecia a irmã o suficiente para saber que aquela era a demonstração da saudade e preocupação que a mesma sentira, afinal era uma menina um tanto fechada quando se tratava de exposição de sentimentos. Elas se afastaram um pouco e sorriram felizes de se verem novamente, sem machucados muito sérios e com poucas contusões.
- Parabéns! Nem acredito que vocês descobriram tudo! - disse Hermione ainda abraçada a Harry e Ron.
- Ah... - disse o Menino-Que-Sobreviveu olhando para os sonserinos. - Tivemos uma grande ajuda.. de vocês duas e de Anne e Draco também.
Diana sorriu para os grifinórios também, e relutante soltou sua irmã para abraçar eles, ficando por fim Draco. Eles eram amigos de muitos anos, mas ela ficou um tanto envergonhada sem saber o motivo. Parecia que nenhum dos dois sabia o que fazer. O loiro estava com as bochechas coradas e não conseguia parar de encarar a sonserina, aparentando um leve torpor. A jovem deixou de lado essa sensação quando o menino a abraçou apertado.
- Que bom que você está bem. - ele sussurrou no ouvido da jovem Snape, que sorriu e se afastou olhando para todos.
- Bom... agora contem tudo! Quero saber o que perdi! - exclamou Di , olhando na direção da irmã e, o que viu, foi algo completamente atípico. Hermione a estava abraçando e Ann retribuindo ao abraço de maneira confortável, porém o rosto da menina de Slytherin estava tão vermelho quanto o brasão da casa de Gryffindor. Ela murmurou algo e as duas se afastaram, fazendo com que Diana erguesse ambas as sobrancelhas à cena e encarasse Anne.
- O quê? - perguntou Black, a vermelhidão descendo para o pescoço.
A outra apenas levantou uma sobrancelha e murmurou um "nada", mas ela tinha pequeno sorriso de canto nos lábios, que fez Ann empalidecer um pouco.
As meninas foram distraídas por uma exclamação:
- Diana! Por favor não faz essa cara de novo! - gritou Ron horrorizado - Você fica parecendo demais o Snape!
Potter apenas concordou com a cabeça e Hermione revirou os olhos.
- Ora, Ron, é óbvio que ela vai ficar parecida com o professor Snape, é filha dele! - falou ela em tom de indignação e Ann apenas riu, aparentando estar aliviada e se virou para sua irmã, para questioná-la sobre o que ela havia falado, mas a mesma não estava mais prestando atenção neles aqui. A sonserina estava olhando para a mesa dos professores.
Desde que a jovem ouvira seu sobrenome, dispersou-se completamente da conversa com os amigos, afinal queria ver Severus e abraçá-lo. Embora para ela o tempo não tenha passado significativamente, com certeza para seu pai parecera uma eternidade. Di o conhecia, sabia o quão preocupado ele ficava. Ela vasculhou ansiosamente com os olhos o Salão Principal na tentativa de encontrá-lo, porém não o viu. Será que algo havia acontecido com ele? Não, com certeza não podia ter acontecido, afinal ele era professor e o Herdeiro não seria estúpido a ponto de atacar um professor. Ainda que em sua mente soubesse que nada havia acontecido, sentiu um aperto forte no coração. O que faria se seu pai estivesse metido em encrenca?
Seus pensamentos foram interrompidos no momento em que uma mão firme apertou seu ombro e a virou e, para sua surpresa, a mão pertencia a Severus Snape.
A jovem não teve nem tempo de pensar em algo para dizer, uma vez que o homem a abraçou apertado como se a vida dele dependesse daquele abraço e ela retribuiu da mesma maneira. Palavras não foram necessárias para que ela notasse o sentimento de felicidade e alívio por parte dele, aquele gesto foi o suficiente uma vez que ele sempre evitara demonstrações de carinho perante aos outros.
Diana não sabia por quanto tempo ficaram daquela maneira, porém não demorou muito para que o Salão Principal fosse preenchido pelo som de palmas e comemorações.
Lentamente Snape colocou a filha no chão, colocando um beijo na testa dela, fazendo-a sorrir. Um som suave começou a ecoar no salão: era a professora McGonagall, pedindo para todos se sentarem e manterem a calma.
Para a surpresa de todos do local, o professor de Poções se sentou ao lado da filha à na mesa dos alunos, e por ali ficou durante todo o jantar. No começo os alunos ficaram quietos e mais reservados, mas depois sentiram-se mais confiantes e voltaram com as palhaçadas e a algazarra. Não muito depois disso as portas do salão se abriram novamente, revelando Hagrid, o Guarda-Caça.
- Desculpem o atraso. A coruja que foi entregar minha carta de soltura se perdeu no caminho... Uma maldita ave chamada Errol! - falou o meio-gigante e Ron escondeu o rosto nas mãos, murmurando algo ininteligível. - Eu gostaria de dizer que se não fosse por vocês, Harry, Rony e Hermione é claro.. - Ele foi cortado por Draco que estava muito indignado.
- E nós aqui?! - gritou ele cruzando os braços. Di e Anne puxaram ele de volta à posição sentada com um 'Cala a boca Draco!'. Algumas risadas ecoaram pelo salão e Hagrid continuou com um sorriso terno:
- Os seis, então. - disse o meio gigante - Se não fosse por vocês eu ainda... Eu ainda estaria sabem onde, então... Gostaria de dizer muito obrigado!
- Hogwarts não existe sem você. - respondeu Harry pelo sexteto e começou a bater palmas, sendo seguido por todos os alunos e professores.
O restante da festa passou-se nesse mesmo clima de tranquilidade, risos e brincadeiras. Até Snape, que não distribuía sorrisos normalmente, estava em uma postura bastante relaxada para seus padrões e não parecia se importar de estar sentado à mesa de Gryffindor. Hermione trocou um olhar rápido com Anne e ambas sorriram. A morena de Slytherin pegou a mão da irmã de coração e apertou de maneira carinhosa. O ano havia sido bastante atribulado e cheio de surpresas, e de uma coisa elas tinham certeza: a partir dali nada seria igual.
