De volta ao momento atual

Severo olha para Sirius Black, ele ainda não lhe informou, mas o semblante do agente lhe diz que a hora chegou. Ele respira fundo algumas vezes para controlar as batidas de seu coração e a vontade de vomitar. Snape sabe que além de não ser fácil, ele ainda será taxado como uma pessoa ingrata já que boa parte dos seus estudos foi paga por Tom Riddle, sem falar que um processo por calunia e difamação também não pode deixar de ser cogitado. Sim, ele sabe que pode se sair muito mal, mas ele também sabe que algumas coisas precisam ser ditas.

Ele ouve uma batida na porta e um oficial aparece informando que ele deve tomar o seu lugar ao mesmo tempo em que o sinal do fim do intervalo soa. Agora não há mais volta, ele vai dizer tudo que viu.

Ele caminha com o olhar altivo, exatamente como faria se estivesse entrando em sua sala de aula, tentando passar a maior segurança possível. Só que desta vez a sua plateia não são alunos que mal sabem os principais elementos da tabela periódica, mas sim pessoas que irão espremer até a sua última gota da sua sanidade.

Ele cumprimenta a juíza com um aceno discreto de cabeça e se senta no local indicado, Snape pode sentir o olhar de Lucio Malfoy sobre ele, deixando claro que irá fazer o possível para desacreditá-lo, ele vê que Tom Riddle também o encara, mas o olhar do homem é de calma absoluta como se duvidasse que ele tem algo a dizer.

Ele se senta esperando que tudo comece e neste momento a promotora se aproxima e pede que ele relate o que ele testemunhou anos atrás...

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O jovem Snape entra na sala proibida, a sala de filmes do senhor Riddle. Ele não quer nem pensar no que aconteceria se fosse pego neste momento, no mínimo a sua mãe seria demitida e eles teriam que sair daquela casa e isso significaria voltar a viver no lugar horrível em que viviam com seu pai.

Mesmo sendo um rapaz que segue as regras, o jovem Snape também fica entediado de vez em quando e mesmo que isso seja raro, ele também pode ser fadado a rompantes e foi num destes que ele entrou naquela sala.

A sua mãe disse que ele não poderia mexer em nada naquela casa nunca e tecnicamente ele está obedecendo, ele não tocou em absolutamente nada desde que entrou. No entanto, ela não falou nada a respeito de olhar e seus olhos se fixam na tela imaginando que tipo de filme seria aquele.

Ele vê uma jovem que deve ser um pouco mais velha de ele, a moça está deitada em algo lembra um pouco uma maca de hospital. Severo se aproxima tentando descobrir algo que lhe revele que filme é esse, então ele vê um homem que mostra que ele não está assistindo um filme qualquer, ele vê o senhor Riddle e neste momento ele percebe que ele aquela moça não é tão desconhecida assim...

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No tribunal

Severo Snape terminou de contar tudo que viu quando era um adolescente. Embora tenha sido difícil pra ele, essa parte foi a parte fácil, o professor sabe que o próximo passo será responder uma enxurrada de perguntas e pelo semblante de Lucio, Severo sabe que o advogado fará o possível para massacrá-lo.

A voz da promotora a tira do seu devaneio – desculpe – ele fala.

- Eu perguntei se o senhor conseguiria reconhecer a jovem que você viu se nós tivéssemos um retrato dela – a promotora pergunta e vê Snape assentir com a cabeça – o senhor tem certeza? Isso foi a mais de trinta anos.

- Trinta e sete pra ser mais exato – ele diz – com todo respeito, senhora, esse rosto está na minha mente durante todos estes anos. Eu o vejo acordado e dormindo também, se essa pobre mulher tivesse descendentes, eu seria capaz de reconhecê-los.

Então a promotora faz uma pausa dramática – se por acaso esta pessoa estiver entre as fotos que nós temos aqui, o senhor seria capaz de reconhecer?

- Senhora – ele diz de modo sério – eu tenho memória fotográfica, eu nunca esqueço um rosto, uma conversa, ou mesmo um número. Mesmo que tenha ocorrido há décadas, se houver alguma coisa eu reconhecerei.

- Protesto! – Lucio Malfoy diz – isso é irrelevante para o caso.

- Meritíssima – a promotora fala calmamente – eu asseguro que tudo será esclarecido.

- Protesto negado – a juíza fala – por favor, continue, senhor Snape.

- Meritíssima – a promotora fala – senhor Snape, eu tenho algumas fotos comigo e gostaria que o senhor Snape desse uma olhada.

- Vá em frente – a juíza diz.

- Senhor Snape – a promotora continua – o senhor conseguiria reconhecer a moça que estava nas filmagens entre estas fotos?

- Esta – o professor diz sem hesitar – essa foi a moça que eu vi.

- O senhor tem certeza disso? – a promotora diz – o senhor pode dizer o nome dela?

- Ela era chamada de Bertha Jokins – ele diz – ela foi levada para passar um tempo na casa e depois foi embora como... – ele para de falar

- Por favor, senhor Snape, continue – a juíza fala

- Como várias outras que estiveram lá – ele diz

Um silêncio sepulcral toma conta do tribunal...

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Enquanto isso

Luna espera com a respiração suspensa, ela sabe que agora não vai demorar muito. Em breve todos saberão que ela está viva e quem sabe a sua mãe finalmente tenha a justiça que ela merece.

Luna é uma mulher sincera principalmente consigo mesma e ela precisa admitir que seu coração está descompassado, não apenas com o que está prestes a acontecer, ela se sente assim também por estar diante de Draco Malfoy.

O tempo que os dois passaram justos quando ela estava tentando achar alguma pista nas ruas fez com que ela o conhecesse muito bem e é por conhecê-lo muito bem que Luna pode dizer sem nenhum pingo de medo de errar que ele está magoado. Ela consegue perceber isso pela forma que ele a encara quando pensa que ela não está olhando.

Ela sabe que as coisas estão mais próximas que nunca de terminar de uma forma ou de outra. Luna sabe que nada trará a sua mãe de volta, mas ela também sabe que tanto ela quanto seu pai precisam desta conclusão que ela espera que seja colocar o responsável pela tragédia que abalou as suas vidas na prisão.

Ela ouve um murmúrio do lado de fora, parece que a sua hora vai chegar mais cedo do que esperava...

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Um pouco antes

A juíza teve um pouco de trabalho para conter a audiência. Após um momento de silêncio os burburinhos começaram e Snape pôde ver que muitos consideraram um absurdo o que ele disse, enquanto outros ainda lutam para acreditar.

Ele evita encarar Lucio Malfoy, não que ele tema o homem que um dia chamou de amigo, mas porque ele precisa manter a sua impassividade e não deixar transparecer o asco que o homem lhe causa.

Ele vê o homem se levantar e fazer uma pausa dramática – então, senhor Snape – o advogado começa – o senhor disse aqui que uma jovem morta estava em uma espécie de maca hospitalar num filme que você assistiu escondido na casa do senhor Riddle.

- Não senhor – Snape fala, por sorte ele já conhece o homem muito bem para saber como ele opera – em momento algum eu disse que a jovem estava morta, embora parecesse estar.

- Então o senhor não pode dizer que ela estava morta – Lucio fala – assim como não pode dizer que o senhor Riddle a matou – ele conclui.

- Em momento algum eu fiz alguma dessas afirmações – Severo fala impassível – eu disse apenas que esta moça desapareceu, assim como várias outras que ficavam na mansão.

- Por favor, explique melhor – quem fala agora é a juíza.

- Eram garotas – Snape fala – adolescentes ou jovens mulheres. Elas iam e vinham e eu não tinha permissão para falar com elas.

- O senhor está dizendo que o senhor Riddle proibia? – Lucio questiona

- Não – Snape diz – não o senhor Riddle, a minha mãe.

- E o senhor pode dizer o motivo desta proibição? – o advogado continua.

- Não senhor – Snape diz usando a palavra senhor com uma ironia velada – a minha mãe só falava que não era adequado, acho que ela temia que o senhor Riddle não gostasse, mas eu só posso supor.

- E o senhor obedecia? – Lucio pergunta de forma irônica – deve ser difícil para um rapaz jovem ficar distante de garotas bonitas. Elas eram bonitas, não eram?

- Sim – Severo diz – curiosamente nenhuma garota desprovida de beleza entrava naquela casa – ele diz arrancando risadinhas dos presentes.

- Silêncio! – a juíza diz – por favor, façam silêncio para que não seja necessário evacuar a sala! Por favor, responda a pergunta, senhor Snape, o senhor obedecia a sua mãe?

- Eu não me dirigia a elas – o homem fala – mas eu respondia quando elas falavam comigo, não responder seria indelicado.

- Então o senhor está dizendo que o senhor conversava com elas – Lucio diz com um brilho no olhar –e elas falavam algo sobre o que acontecia?

- Eu não disse que conversava com elas – Snape fala – eu disse apenas que respondia quando elas se dirigiam a mim, infelizmente não posso dizer sobre o tratamento dado a estas moças – ele completa – só o que eu disse é que elas entravam e saiam.

- Senhores! – a juíza diz – essa conversa não está levando a nada! O senhor Snape não está sendo julgado aqui, senhor Malfoy – ela repreende o advogado de defesa – então se tem mais alguma coisa relevante para perguntar sugiro que o faça sem maiores rodeios.

- Sem mais perguntas, excelência – o homem fala de modo calmo.

- Meritíssima – a promotora toma a palavra – se me permite, eu gostaria de fazer mais uma pergunta.

- Seu momento de questionar a testemunha já acabou, por que a senhora não fez na ocasião?

- Perdão meritíssima – a promotora diz –mas eu estava esperando algo que pode vir a ser pertinente para o julgamento, então se me permite.

A juíza assente com a cabeça e Mckinnon se aproxima de Snape – pois bem, senhor Snape. O senhor disse ao meu nobre colega que havia outras garotas, certo?

- Sim senhora – o homem responde de forma impassível, mas ele não esperava ser interrogado novamente pela promotoria.

- Então o senhor seria capaz de reconhecer outras moças que passaram pela mansão? – ela indaga.

- Talvez – a testemunha responde – nem todas falavam comigo.

- Se por acaso houver entre estas fotos uma dessas moças, o senhor conseguiria distinguir mesmo que ela estivesse mais velha?

- Sim senhora – ele diz com convicção.

- Então, por favor – a promotora fala – o senhor poderia dar uma olhada? – ela diz enquanto pega mais algumas fotos.

- Essa aqui – ele diz assim que coloca os olhos – ela também ficou por um tempo lá.

- O senhor sabe como ela era chamada? – a promotora indaga.

- Não senhora, ela não ficou muito tempo – ele fica calado por um momento.

- Por favor, continue, senhor Snape – a promotora diz.

- Bem – Snape fala – um dia ela desapareceu, mas não foi como as outras.

- Por que não foi como as outras? – a juíza diz.

- Por ela o senhor Riddle procurou – ele completa.

- Senhores – Lucio diz – se me permitem falar, eu não consigo descobrir no que isso tudo vai levar!

- Por favor, senhora promotora, esclareça – a juíza diz – eu devo dizer que neste momento, eu concordo com meu colega da corte.

- Eu asseguro, excelência, em poucos minutos tudo vai ser esclarecido – a promotora diz – eu peço permissão para receber outra pessoa.

- Isso é incomum – a juíza fala – por que a corte deveria permitir?

- Porque ela é a pessoa que vai ligar tudo – a promotora diz.

- Pois bem – a juíza fala - vamos esclarecer logo essa história, permissão concedida

Neste momento as portas se abrem...


NOTA DA AUTORA

Finalmente o capítulo! Eu sei que eu demorei e sei também que o capítulo está pequeno, mas como não sei se tem alguém ainda por aqui eu acabo desanimando e não escrevo tanto como deveria.

Espero que tenham gostado e se alguém puder deixar uma palavrinha, eu agradeço

Bjos e até o próximo