Emmett
Londres
Dois anos antes
A noite estava um saco. Eu já tinha bajulado três empresários que não lembrariam do meu nome no dia seguinte, bebido mais cervejas que deveria e estava longe da minha namorada, que também precisava bajular outras pessoas. Não foi exatamente isso que eu planejei quando me tornei advogado, mas era o preço a se pagar para trabalhar em um dos escritórios mais respeitados em todo o Reino Unido. Parte do preço, pelo menos. Outra parte incluía aturar a babaquice do chefe, que estava em polvorosa com os novos contratos.
O filho dele, era outra história. Edward era uma pessoa bacana, pelo que tive a oportunidade de conhecer. Nós trabalhávamos em áreas diferentes, ele era parceiro de equipe de Rosalie, então não interagimos muito desde sua chegada, mas eu conseguia ver que ele era muito melhor que o pai. Agora, inclusive, eu tinha a impressão de que ele estava de saco cheio tanto quanto eu. Seria legal quando ele fosse o chefe por aqui, o que todos esperávamos que fosse em breve.
Edward parecia não ter muitos amigos, estava sempre sozinho e ignorava as investidas das funcionárias - e eram muitas. Desde as secretárias até as advogadas seniores, todas as mulheres solteiras daquele lugar pareciam querer arrancar a calcinha quando ele passava. Eu não sabia se era pelo status ou pela aparência, ou os dois. Ele também não saía depois do expediente, nunca estava no bar e aquela era a primeira vez que eu o tinha visto bebendo. Estava quase achando que o cara tinha feito voto de castidade, de abstemia, ou qualquer coisa do tipo.
As coisas aconteceram muito rápido. Naquela confusão de vozes falando, copos batendo e música tocando, eu demorei para perceber que duas estavam se sobressaindo. Edward e o pai - também Edward, mas ninguém podia chamá-lo pelo primeiro nome - estavam discutindo na frente de todos. Entre ofensas, a situação estava ficando muito tensa para ser discutida na frente dos convidados, que já começavam a olhar feio. É impressionante como as regras de etiqueta só serviam para os funcionários, já que os donos não precisam se comportar.
Eu observei de longe quando Rosalie se intrometeu e separou a discussão, arrastando Edward pelo braço para o outro lado do espaço. Ela me deu uma olhada e acenou com a cabeça para que me aproximasse dos dois no corredor que levava às salas. Babá de patrão, era só o que me faltava.
— Me ajude aqui, Emmett, ele está completamente bêbado — pediu. Eu me vi praticamente carregando um cara da minha altura até o sofá mais próximo.
Minha noite tinha acabado de ficar pior.
— Por qual motivo nós estamos fazendo isso, Rose? — perguntei, enquanto ela andava de um lado para o outro na sala. Eu a conhecia bem, ela estava tentando pensar em alguma solução.
— Porque ele é meu amigo! Porque nós somos humanos decentes, diferente do pai dele e de mais da metade das pessoas que estão lá fora agora! — ela gritou de volta.
Amigos. Essa era nova para mim. Tinha alguma concorrência aqui? Balancei a cabeça, não tinha nada a ver.
— Vocês estão falando sobre mim e eu ainda estou aqui — o bêbado no sofá tentou entrar na nossa conversa — Cadê o meu celular? Eu preciso falar com Bella.
Quem caralhos era Bella? Eu estava ficando sem paciência.
— Olhe o tom, Emmett — Rosalie sibilou e eu percebi que tinha falado em voz alta — Vá buscar as coisas dele na nossa sala, vamos levá-lo para casa. Essa festa já acabou.
O caminho até a sala parecia mais longo do que realmente era, e a cada passo, minha raiva só aumentava. A confusão ainda ecoava na minha mente, principalmente com a ideia de que Edward e Rosalie estavam tão próximos. A única coisa que eu queria era largar ele lá e voltar para casa, mas agora eu dirigiria até St. Woods porque o filhinho do papai não sabia beber. Essa noite toda parecia uma grande piada de mau gosto.
Entrei na sala e comecei a recolher as coisas espalhadas pela mesa. A música da festa ainda se ouvia abafada lá fora, mas a sensação de estar longe de todo aquele caos me deu algum alívio. Quando fui pegar o celular de Edward, uma sensação estranha me invadiu.
O aparelho estava sobre a mesa, mas algo não parecia certo. Ninguém deixava o celular aberto e nenhum celular permanecia desbloqueado por tanto tempo. Alguém havia mexido recentemente. Além disso, ele estava com a tela ligeiramente quebrada, como se tivesse sido jogado com força contra alguma coisa, mas o mais estranho foi o histórico de chamadas e mensagens bem ali, como a última coisa a ser vista.
— O que está fazendo aqui? — a voz de trovão do chefe veio por trás de mim. Claro, era o que eu precisava mesmo.
— Apenas recolhendo as coisas de Edward para levá-lo para casa, senhor Cullen — respondi, rezando para que fosse o suficiente para ele me deixar em paz.
— Muito bem, ele passou dos limites mesmo. Vejo que encontrou o celular dele — apontou para o aparelho — Certifique-se que esteja lá com ele pela manhã. Não queremos que caia em mãos erradas, certo?
Aquele homem me dava arrepios e na meia luz parecia ainda mais assustador. Ele deu um sorriso e saiu, parecendo um vilão de filme ruim.
Voltei até o sofá, onde Rosalie estava tentando acalmar Edward, que agora estava dando sinais de que queria levantar, mas mal conseguia manter os olhos abertos. Eu abri a boca para falar sobre o que tinha visto na outra sala, mas fui interrompido por uma Rose que olhou para mim com um olhar fulminante, quase como se estivesse me dizendo para não criar mais confusão. Mas ela não disse nada, e essa falta de explicação só me fez ficar ainda mais irritado.
Respirei fundo, porque ela não tinha culpa de nada que aconteceu ali. Nós iríamos conversar em outro momento.
— Vamos embora, Rose. Você tinha razão, essa festa já acabou.
Forks
Dias atuais
Desde o dia em que Edward me chamou para vir à essa cidade, eu sabia que alguma coisa estava prestes a explodir nas nossas cabeças. Não era apenas sobre reencontrar uma namorada, tinha mais. Depois daquela noite na festa do escritório, nós nos tornamos amigos, ele tinha passado os últimos anos falando sobre Bella. Tudo era sobre Bella, como ele queria ir atrás dela, como ela tinha desaparecido, como ele sonhava com ela…
Quando chegamos a Forks, ele estava com a ansiedade em níveis estratosféricos para iniciar sua busca. Eu estava feliz por ele, nós fomos bem recebidos e tudo mais, mas algo me incomodava. Naquele dia, no carro, Rosalie fez uma pergunta que me fez lembrar de algo que estava esquecido há muito tempo no fundo da minha memória: o sorriso horripilante que o senhor Cullen havia me dado quando viu que eu estava com o celular de Edward e suas palavras: não queremos que caia em mãos erradas.
Na época, aquilo não tinha feito muito sentido. Afinal, o que o pai de Edward poderia querer esconder? Talvez fosse só uma maneira de proteger o filho, sei lá. Mas agora, com Edward tão eufórico com a descoberta de uma filha, eu não conseguia deixar de me perguntar: o que mais aquela frase queria dizer?
Eu estava em completo choque. Tudo parecia... errado. Como é que ninguém sabia disso? O pai dele sabia? Eu não conseguia processar tudo ao mesmo tempo. Em vez de perguntas, minha cabeça estava cheia de suposições e teorias. E nenhuma delas fazia sentido.
Edward nos contou sobre a conversa com Bella e estava tão animado, tão feliz, que eu não pude estragar aquele momento. Nem mesmo saber que seus tios sabiam e não contaram não o abalou. Eu não queria levantar suspeitas sobre seu pai, não era justo manchar seu dia c om lembranças de alguém que só o fez sentir mal, então tentei manter a normalidade. Ele parecia tão seguro de si, tão esperançoso…
Eu sabia que não poderia colocar Edward em uma situação desconfortável agora. Ele estava tão animado com a ideia de reunir a família, de finalmente ter a chance de ficar com Bella. E eu... Eu não queria ser o cara que arruinava esse momento para ele. Eu queria que ele fosse feliz, porque ele merecia, mas uma parte de mim estava se corroendo por dentro.
Alguma coisa estava muito errada. A conversa sobre a criança continuava a ecoar na minha mente, enquanto eu tentava manter a fachada de normalidade, tentando não deixar transparecer as dúvidas que estavam me consumindo. Tudo começava a fazer sentido de uma forma distorcida. Eu não queria ser o cara chato que estraga as coisas, mas as peças do quebra-cabeça estavam se encaixando de uma forma muito estranha.
Precisei levantar da mesa e procurar por ar, terminei encostando na parede de vidro no fundo da sala. A noite em Forks tinha acabado de começar, mas para mim, tudo estava fora de controle. Cada palavra que Edward dizia só me deixava mais confuso, mais inquieto. Eu queria acreditar no que ele estava dizendo. Queria que fosse simples, como ele queria, mas, no fundo, eu sabia que não era.
Rosalie, que estava do outro lado da mesa, me deu uma olhada. Ela sabia tanto quanto eu que não podíamos mexer nisso agora. Edward estava feliz. E, por mais que me consumisse, eu precisava deixar ele viver esse momento.
De repente, Edward parou de falar, como se tivesse percebido algo. Ele me olhou de canto por um segundo antes de falar.
— Emmett, você está… estranho. O que foi? — ele perguntou, sua voz carregada de preocupação.
A pergunta foi direta e eu não era conhecido por ser bom em disfarces. Se mentisse, ele saberia. Respirei fundo e dei um sorriso forçado.
— Claro que estou feliz, Ed. Só… estou tentando processar tudo, sabe? Você encontrou Bella, e isso é ótimo. Mas é muita informação de uma vez só, e você sabe que não sou bom com essas coisas — eu ri, mas a risada soou vazia, até para mim.
Ele continuou me observando como se não comprasse minha explicação, mas antes que pudesse continuar me pressionando, Rosalie se levantou da mesa e caminhou até nós.
— Emmett tem razão — disse ela, com a voz tranquila, mas com um tom que deixava claro que ela sabia mais do que estava deixando transparecer — Eu também fiquei surpresa com tudo isso. E, sinceramente, acho que o que mais me assusta não é o fato de você ter uma filha, mas o segredo em torno disso.
Eu a olhei, surpreso. Eu sabia que Rosalie estava sempre atenta às coisas, mas nunca imaginei que ela soubesse algo que eu não sabia - nós morávamos na mesma casa, pelo amor de Deus, ela seria minha esposa. E, pior ainda, ela parecia calma demais diante de toda aquela situação.
Edward franziu as sobrancelhas, parecendo confuso.
— O que você está dizendo, Rose? — perguntou ele, mais desconfiado do que eu esperava — Você sabia sobre Bella o tempo todo?
Rosalie olhou para mim antes de responder, como se estivesse pesando as palavras. Ela não queria que eu fosse pego de surpresa, mas, ao mesmo tempo, sabia que era hora de dizer a verdade.
— Eu soube poucos dias atrás — disse ela, com a voz mais baixa agora, quase como se estivesse compartilhando um segredo — Eu… ouvi uma conversa dos seus tios sobre ela.
Puta que pariu. Ela sabia, sabia há dias e não nos contou. Nós viemos até aqui em busca dessas respostas, e ela teve acesso e não compartilhou. O que estava acontecendo aqui?
— Então, você sabia e não me contou? Rose, como você pôde? Eu achei que nós… Caralho, nós somos amigos. Eu confiei em você!
A voz de Edward estava carregada de frustração, e eu pude ver a dor nas suas expressões enquanto ele puxava o cabelo. Eu sabia que Rosalie estava tentando proteger ele de alguma forma, mas agora, parecia que ele se sentia mais traído do que nunca.
— Eu queria te contar, mas… eu não sabia como. E mais importante, não sabia o que isso significava para você. Não foi uma decisão fácil, Ed. Eu só não queria te deixar ainda mais confuso, especialmente porque você estava tão perto de reencontrar Bella.
Edward ainda estava em silêncio, como se estivesse tentando processar tudo o que acabara de ouvir. Eu, por outro lado, estava começando a entender onde as coisas estavam indo.
— Eu preciso saber mais — ele disse, finalmente quebrando o silêncio e olhando para todos nós — Eu preciso entender o que está acontecendo. O que mais está sendo escondido de mim?
Foi a vez de Esme intervir, e a essa altura Carlisle já havia chego e se juntado a nós.
— Meu bem, acredito que todos aqui agiram com o mesmo objetivo: proteger você. Eu, seu tio, seus amigos, todos nós, temos a mesma ideia do que aconteceu. Talvez seja hora de enfrentar as coisas de uma vez por todas, você está preparado para isso?
Eu olhei para Edward e percebi que, em partes, estávamos compartilhando do mesmo sentimento. Aquela sensação de estar prestes a descobrir algo que mudaria tudo, mas sem saber se estava preparado para lidar com isso. Eu sabia que não havia mais como voltar atrás. As respostas estavam ao nosso alcance. Só faltava decidir o quanto estávamos dispostos a enfrentar.
