JAMES SIRIUS POTTER
As regras da escola diziam que, tecnicamente, membros de outras Casas não deveriam ter acesso ao Salão Comunal das demais. Mas com uma família tão grande quanto a minha, era difícil os professores conseguirem controlar a entrada ilegal de alunos - eles tinham desistido por volta do meu terceiro ano. Tanto que agora eu me encontrava na Sala Comunal da Grifinória, com meu irmão e seus dois amigos sonserinos, estando acompanhado apenas de Electra Black, minha eterna dupla escolar.
Agora não era hora para as crianças estarem presentes, considerando que tinham aula. Além do mais, nós éramos os únicos com janela nesse horário em plena segunda-feira.
- O que vocês estão tão ansiosos? - Electra perguntou, meio jogada na poltrona fofa mais próxima a lareira, com a capa jogada sobre as pernas. Nós dois deveríamos estar estudando para os NIEMs agora, mas tínhamos decidido nos juntar aos nossos irmãos depois que eles mandaram um bilhete pedindo ajuda.
- Tem… Uma fofoca rolando na Sonserina. - Cygnus Black era o irmão do meio de Electra, sendo o gêmeo mais velho de Anabelle Black, ambos colegas de turma de meu irmão. A irmã mais velha encarou o garoto, que suspirou. - Aparentemente, tem alguém muito inspirado por Voldemort.
Electra sentou direito na cadeira:
- O que quer dizer com isso?
- Estão dizendo que há um novo Lorde das Trevas. - foi a vez de Alvo me encarar, sério. - Tem os mesmos objetivos que Voldemort. E tem gente de acordo com isso. - ele acrescentou a última parte, franzindo os lábios.
- Estamos de olho em algumas pessoas, mas até agora ninguém foi óbvio. - Anabelle, a Black caçula, disse, pacientemente. - Ninguém vai se arriscar na nossa frente.
- Muito menos na nossa. - Electra apontou a si mesma e a mim. - James e eu vamos nos candidatar para o Quartel dos Aurores no final do ano letivo e todo mundo sabe disso.
- Como souberam desse boato? - eu perguntei, sério, me sentando no braço da poltrona de Els.
- Ouvi um primeiranista falar com um colega quando estava usando a capa. - Alvo disse, solícito. - Achei melhor te avisar. Nós vamos continuar a nossa investigação, óbvio, mas seria bom se vocês soubessem.
- Mais alguém sabe? - Electra perguntou, séria. Cygnus sacudiu a cabeça:
- Não. A não ser que conte Scorpius e Rose, mas só porque Alvo é boca aberta e falou perto deles. Só estamos contando a vocês porque são do sétimo. É melhor ter vocês com a gente caso a coisa saia do controle.
- Não conte a mais ninguém. - Els recomendou. - Quanto menos pessoas souberem, melhor. Menos chances de isso escapar para esse tal lorde ou um dos apoiadores dele.
- Certo. - Anabelle aceitou o que a irmã mais velha disse sem questionar. - O que acha que devemos fazer?
- Bom, James e eu temos o Mapa. Podemos sair da escola e fazer a investigação fora. E também acessar nossos pais sem o risco de uma terceira pessoa saber o que está acontecendo aqui.
- Como vamos contatar eles? - eu perguntei, olhando Electra. Pela minha visão periférica, Cygnus mexia no tapete, parecendo intrigado, mas agora não era hora de perguntar o que ele tanto cutucava no chão.
- Ainda não pensei nisso, mas até amanhã vamos ter um jeito. - Electra garantiu, confiante. - Cygnus, pare de mexer no chão! Parece uma criança!
- Tem uma runa aqui. - o Black franziu a testa. - Não conheço essa.
- Então pare de cutucar! - Anabelle ralhou, impaciente. - Pelas calças de Merlin, Cygnus, nós estivemos no Grimmauld Place, você sabe como essas magias antigas são, e está cutucando uma runa que não conhece!
Cygnus revirou os olhos e Alvo se inclinou para olhar, curioso.
- Eu estou na porra de um berçário. - Electra se levantou, bufando. - Parem de mexer no que não conhecem, essa é a regra básica de magia.
Cygnus deu mais um tapinha na runa, antes de segurar o pedaço de tapete para tampar a coisa, e em segundos, a runa brilhava em um azul claro mágico demais para que eu me sentisse tranquilo. Eu fiquei de pé, puxando Anabelle para perto enquanto Els e os dois garotos eram engolidos pela luz azul. Anabelle e eu fomos alcançados pela coisa em seguida e tudo o que eu pude fazer foi praguejar antes de perder a consciência.
Alguém sacudia meu ombro com força, mas meu corpo se recusava a responder. Havia algo diferente, eu podia sentir a minha magia um pouco fora de controle, mas não conseguia abrir os olhos. Houve um grito feminino, agudo e familiar demais.
Electra.
Eu abri os olhos de uma só vez, erguendo a mão da varinha, mas a mão no meu ombro me apertou mais ainda:
- Sua varinha está comigo. Ainda não sei quando irei devolvê-la. - uma voz que eu não conhecia disse e eu consegui focar o rosto na minha frente.
O rosto do meu pai. Mais jovem do que eu já o tinha visto. Mas… Os olhos eram castanhos. E os óculos eram retangulares. Aquele parecia meu avô, mas eles estava morto há muito tempo.
- Pontas, essa daqui está muito agitada. - outra voz que eu não conhecia disse, impaciente. - Acha que seria melhor se eu a deixasse inconsciente…
- Não se atreva! - Electra gritou. Eu empurrei a mão do meu ombro e me sentei de uma vez e encarei Els, segurada com firmeza por um homem muito parecido com ela.
- Em que ano estamos? - foi a minha primeira frase. Electra tentou se soltar do garoto, mas ele não moveu um músculo. Sirius Black, apesar de esbelto, era forte o suficiente para segurar o furacão que Electra era.
- O que quer dizer com isso? - meu avô perguntou, sério. Eu voltei a encará-lo, sério:
- Preciso saber em que ano estamos. Estou sem varinha, não fiz movimento nenhum de ataque. Minha melhor amiga está sendo segurada por seu amigo e os outros três estão inconscientes. - eu apontei meu irmão e os gêmeos com a cabeça. - Estou fazendo uma pergunta séria. Em que ano estamos?
- 1976. - uma voz feminina e suave respondeu, atrás de mim. Meu avô encarou a mulher sobre a minha cabeça:
- Lily, não sabemos…
- Escutem. - Electra interrompeu, desistindo de lutar contra Sirius. - Nós todos chegamos aqui inconscientes. Não é possível que vocês pensem que isso é um maldito ataque contra vocês.
- Estamos em guerra e… - Sirius começou e ela olhou para cima, franzindo os lábios:
- Se fôssemos atacar vocês, não chegaríamos aqui todos inconscientes. Nem foi intencional. Só queremos desfazer essa coisa e voltar para o lugar de onde viemos. - ela interrompeu, séria. - E você está machucando meu ombro.
Sirius afrouxou o aperto, mas se manteve firme com a garota, enquanto quem eu supunha ser Remus Lupin - ele tinha muitas cicatrizes - pegava as varinhas do meu irmão e dos outros dois:
- Esses estão usando o uniforme da Sonserina.
- Sim, e nós estamos usando o da Grifinória. Um pouco de crédito não lhes faria mal. - eu me levantei sem pressa, preocupado com a varinha de meu avô apontada para mim.
Nessa ocasião, tínhamos a mesma idade - talvez eu fosse até mais velho que ele - porém ele era um bruxo que no futuro enfrentaria Voldemort três vezes e sairia vivo. Eu não queria testá-lo.
- Acordem as crianças. - eu pedi, encarando, por fim, Lily Evans. Realmente, minha irmã era parecida demais com ela, a ponto de assustar alguns professores mais antigos. - Por favor. E nos levem a Dumbledore.
- Conhecem Dumbledore? - James Potter estreitou os olhos para mim.
- Ele é o único de quem Voldemort tem medo. É claro que o conhecemos. - eu quase revirei os olhos. - Já têm nossas varinhas. Por favor, solte Electra. - eu apontei a garota que ainda era segurada por Sirius.
- Nós vamos definir isso nós mesmos. - meu avô virou as costas para mim e arrebanhou Remus e Lily para um canto, depois de um aceno de cabeça firme de Sirius. Os três sonserinos começaram a acordar, mas eu acenei para que não se movessem e fui prontamente obedecido.
Se Sirius tinha notado, ele não disse uma única palavra enquanto os demais debatiam por alguns minutos, o tempo todo lançando olhares desconfiados para nós.
- Levaremos vocês a Dumbledore. - Remus deu um passo à frente do trio. - Deveríamos chamar reforços…
- Não precisa. - eu interrompi. - Nos levem a Dumbledore. Iremos todos bem quietinhos e comportados. Estamos desarmados. Podem apontar suas próprias varinhas para nós enquanto vamos até lá.
- Acorde os seus. - James Potter parecia impaciente, apontando os três sonserinos com a cabeça. - E solte a moça, Sirius. A varinha dela está comigo.
Sirius soltou Electra, que lançou um olhar longo e magoado para ele e foi até os irmãos mais novos, enquanto eu erguia Alvo de uma só vez. Meu irmão resmungou alguns palavrões, olhando em volta, mas não fez perguntas quando eu fui ajudar Els a fazer os irmãos levantarem. Anabelle estava visivelmente tonta, mas Cygnus parecia horrorizado olhando os quatro bruxos que nos encaravam com desconfiança.
- Sente aqui. - Els ajudou Anabelle a se sentar em uma poltrona confortável. - Respire fundo. Está machucada?
- Não. Deve ter sido da magia. - a única Black loira disse, suspirando. - O que aconteceu?
- Estamos em 1976. - foi a única informação dada por Electra. Os dois garotos olharam para mim, esperando confirmação e eu olhei os dois:
- Ela está certa e estamos enfiados em problemas. Da próxima vez, - eu encarei Cygnus, que pareceu envergonhado. - obedeça quando sua irmã disser para não cutucar runas desconhecidas.
- Vamos a Dumbledore. - Sirius disse, quando Anabelle ficou de pé. Cygnus correu para apoiar a irmã. Alvo foi do outro lado, ansioso. James e Sirius tomaram a frente, com o trio de sonserinos logo atrás dos dois. Els e eu estávamos entre os sonserinos e Lily e Remus.
Um bom esquema de segurança. Pelo menos, se aparecesse alguém, nós poderíamos tirar as crianças do caminho.
- O que diremos a Dumbledore? - Electra perguntou, ansiosa. Eu olhei a Black, que tinha os olhos cinzas cheios de preocupação.
- A verdade.
- Acha que ele irá acreditar?
- Uma coisa de cada vez. - eu disse, tentando passar um pouco de calma para a garota. Electra enganchou o braço no meu, como fazia sempre que estava assustada, e acenou com a cabeça:
- Pensaremos nas coisas conforme elas forem indo. - ela disse, baixinho.
Os Marotos nos levaram para a sala do diretor pelo caminho mais longo e muito menos usado. Era um milagre que não tivéssemos encontrado nem mesmo Pirraça pelo caminho e, graças a Merlin, nenhum outro aluno.
Quanto menos pessoas soubessem de nós, melhor. Já era um problema sem tamanho que os Marotos tivessem nos visto. Imagine se outra pessoa também soubesse da nossa existência. Magia do tempo era uma coisa complicada, volátil e imprevisível: eu não entendia porque, diabos, alguém deixaria uma runa de viagem no tempo sob uma tapeçaria em uma escola! Nós éramos sextanistas e setimanistas, o que nos dava uma margem de conhecimento mágico adequado, mas e se fosse um aluno do primeiro ano? Pior, uma criança nascida-trouxa, que até alguns meses atrás nem sabia da existência de magia, que dirá das regras relacionadas a manipulação do tempo? O risco que essa criança correria?
Se eu descobrisse o responsável por essa idiotice, nós teríamos uma conversa muito séria.
- Aqui estamos. - Remus disse, colocando as mãos nos bolsos. - Sorbet de limão. - ele disse, tranquilo. A águia de pedra rangeu e se moveu, dando espaço para que nós passássemos pela escada. Nós todos subimos a escadaria sem pressa, Anabelle um tanto ansiosa, mas parecendo mais firme do que antes.
Uma sonserina no uniforme, mas eu e Electra sabíamos que ela era uma grifinória de alma - só não queria admitir.
Remus parou na frente da porta da sala de Dumbledore e deu leves batidinhas e esperou por alguns segundos até que um "Entre" suave ecoou até nós. Remus entrou na sala, sendo seguido por Lily, minha família e a de Electra, e fomos seguidos muito de perto por Sirius e James.
Dumbledore ergueu a cabeça da mesa de trabalho, na qual estava debruçado sobre um livro antigo, e nos olhou com interesse:
- Bom dia, Srs. Lupin, Black, Potter e Srta. Evans. - ele abriu um meio sorriso. - E os senhores? - Dumbledore nos encarou, os olhos brilhando com expectativa.
Eu e Electra nos entreolhamos. Ela arrebanhou os três mais jovens para mais longe dos grifinórios e nós dois tomamos a frente, apesar do olhar de irritação dos outros três - nós éramos os mais velhos e eles sabiam muito bem que tínhamos aceitado a tarefa de cuidar dos mais novos assim que eles entraram na escola.
- Professor, com todo o respeito, acho que seria melhor termos essa conversa em privado. - Electra respondeu, aparentando calma, mas eu sabia que o coração da garota devia estar mais do que acelerado.
- De forma alguma. - Sirius cortou, seco. - Quero saber porque diabos você se parece tanto com a minha família quando não temos nenhuma Electra registrada.
- Sr. Black, por favor, se mantenha calmo. - Dumbledore ergueu a mão, paciente. - Me contem primeiro como se encontraram.
- Nós estávamos no Salão Comunal. - Lily começou, nos olhando com desconfiança. - Estávamos falando sobre Você-Sabe-Quem. E aí, do nada, uma luz azul brilhou no meio do nosso salão e esses cinco apareceram inconscientes. Todos com uniformes de Hogwarts, alguns sonserinos. Nós temos as varinhas deles. - Lily continuou e Sirius as colocou sobre a mesa do diretor, ignorando os nossos olhares ansiosos.
- E eles os atacaram? Ameaçaram em algum momento? - o diretor perguntou, pacientemente. Os quatro alunos negaram com a cabeça:
- Mas não entendemos como vieram parar aqui. Um deles disse algo sobre uma runa. - Remus explicou, apontando para mim com a cabeça. - Então deve ter sido magia antiga. E nos perguntaram sobre o ano, mas não nos disseram nada além disso. Só pediram para que os trouxéssemos para o senhor, Professor.
- Entendo. - Dumbledore ficou de pé e veio na nossa direção e parou imediatamente de frente com Electra. Para crédito dela, a garota não deu um mísero passo para trás e olhou o diretor como se esperasse que ele a atacasse. - Você deve ser Electra.
- Sim, senhor. - ela respondeu, rigidamente. Eu alcancei a mão de Els, que aceitou entrelaçar os dedos nos meus. Merlim, como a mão dela suava.
- Por que não me conta a sua versão da história? - o diretor perguntou, curioso. Els acenou com a cabeça:
- Nós… - ela olhou para nós quatro e eu acenei com a cabeça, incentivando que ela falasse. - Nós estávamos no Salão Comunal da Grifinória - Electra começou. - falando sobre Voldemort. Cygnus - Els lançou um olhar severo para o irmão mais novo, ignorando o susto dos outros quatro bruxos na sala. - estava sentado no chão, mexendo no tapete, quando disse que via uma runa que não conhecia. Eu mandei que parasse de cutucar a coisa, mas ele me ignorou completamente. Aí, quando eu fui puxá-lo para longe, a runa começou a brilhar azul e aí tudo se apagou. Acordei com Sirius apontando a varinha para o meu nariz.
- E por isso perguntaram em que ano estavam. - ele pareceu interessado. - Vieram do futuro, suponho.
- Sim, senhor. - eu respondi. Dumbledore se demorou me encarando e depois olhando Electra:
- Quantas gerações no futuro?
- Duas. - eu respondi, sabendo exatamente aonde ele queria chegar. - Este é o período escolar de nossos avós, não nosso.
- Futuro? - Remus perguntou, a voz falhando por um momento. Ele pigarreou e corou quando Electra e eu o encaramos. - Isso significa… Você não está registrada na família Black porque ainda não nasceu. - ele olhou a Black ao meu lado, que concordou com a cabeça.
- Isso é interessante. - Dumbledore girou nos calcanhares e voltou à mesa de trabalho. - Em que ano estavam?
- 2021. - Alvo respondeu, suspirando.
- E Voldemort ainda é presente? - Lily perguntou, ansiosa. Nós nos entreolhamos:
- Já falamos demais. - Anabelle disse, calma. - Já devemos ter mudado tanta coisa…
- Podemos mudar mais ainda. - Cygnus interrompeu a irmã. Electra se virou para ele, o rosto lívido. - Espere e não me mate. - ele encarou a irmã mais velha, sem um pingo de medo. - Podemos… Lidar com Voldemort antes que as coisas cheguem àquele ponto.
- Então ele ainda é um problema. - James jogou a cabeça para trás, suspirando.
- Ele é uma inspiração para outros como ele. Foi um problema para meu pai. - eu respondi e encarei Cygnus. - Você tem ideia do que está causando…
- Acho que o rapaz tem uma boa ideia. - Dumbledore interrompeu, e todos nós o olhamos, incrédulos.
- Mudar as coisas pode deletar a nossa própria existência, professor. - Electra lembrou, pacientemente.
- Podemos garantir a sua existência, senhorita. Mas podemos também, evitar que Voldemort se torne um problema para seus pais. - o diretor pareceu interessado. - Ou podemos conversar a respeito do que sabem sobre esta guerra que estamos vivendo e como acabar com isso.
- Sabemos. - Cygnus deu um passo para frente, escapando das mãos de Electra por alguns milímetros. - E eu queria muito participar dessa guerra.
- Cygnus!
- Se você quer ir embora, vai. Eu fico e volto depois. - Cygnus encarou a irmã mais velha:
- Se você ficar, eu fico porque tenho que te manter inteiro ou a mamãe me mata.
- Se você ficar, eu fico. - Anabelle emendou.
- Se qualquer um ficar, todos ficaremos. - eu lembrei, falando mais alto quando os Black entraram numa discussão acalorada. - Isso não é passível de discussão. Viemos juntos, iremos embora juntos.
- James tem razão, mas Cygnus também. - Alvo disse, pacientemente. - Vamos ajudar. Já estamos aqui mesmo. Além do mais, nós temos algumas vantagens porque conhecemos o inimigo, vocês são sétimo ano e ainda poderemos conhecer algumas pessoas.
Electra e eu nos entreolhamos e ela suspirou, sacudindo a cabeça:
- Eu entendo vocês e quero ajudar também. Mas é perigoso e vocês ainda são menores de idade…
- Electra, nós três vamos completar 17 antes do final do ano. - Alvo revirou os olhos. - E você não vai mais poder mandar na gente.
Eu mordi o lábio, segurando uma risada.
- Já mudamos tanta coisa. - Cygnus olhou a irmã, sério. - Vamos ficar e ajudar.
- Temos os meios e o conhecimento. Se bem que papai nunca contou os detalhes de como Voldemort caiu. - Alvo ponderou, distraído, olhando alguns dos livros na estante de Dumbledore. - Minha aposta era em magia negra do pior tipo.
- É. - Electra disse, seca. Todos nós éramos informados do que Voldemort fizera assim que completamos dezessete anos. - Foi exatamente isso. Por isso menores de idade não se metem.
- Ela é muito certinha para ser minha parente. - eu ouvi Sirius comentar. Cygnus deu uma risadinha, olhando a versão jovem do avô:
- Ela só está protegendo a gente. Electra faz muito jus ao título Black na Grifinória. - ele prometeu. - Então ficamos. E assim que completarmos dezessete anos - ele encarou a irmã mais velha, que o fuzilava com os olhos. - iremos tomar parte ativa da guerra. Por enquanto ficamos só nas ideias para vocês.
- E Anabelle? - Els sabia como jogar sujo. Cygnus estreitou os olhos. - Vai concordar em deixá-la participar de batalhas?
- Ninguém tem que me deixar fazer nada. - Anabelle bufou, irritadiça.
- Você é menor de idade. - Electra lembrou.
- Por um tempo bem limitado. - a caçula lembrou e Electra franziu os lábios com tanta força que ficaram brancos.
Foi a minha deixa para tomar a frente novamente e passei um braço sobre o ombro de Electra - tanto com a intenção de passar um pouco de calma a ela quanto para segurá-la caso ela tentasse esganar os irmãos mais novos.
- Se vamos ficar, teremos que ser claros em relação a muita coisa. Els e eu teremos acesso a sua Ordem da Fênix, professor, - eu comecei e quando os Marotos abriram a boca, eu continuei a falar. - e iremos informar vocês conforme forem liberando a gente. Até que todos sejam maiores de idade, vão obedecer Electra e eu.
- Não nós. - meu avô pareceu indignado.
- Não posso mandar em vocês, mas no meu irmão eu posso e Electra pode mandar nos irmãos dela. Essa foi nossa tarefa, a que foi dada por nossos pais quando eles entraram na escola. Sempre proteger os mais novos e a eles a tarefa de nos obedecer. - eu encarei o trio sonserino, que pareceu desgostoso, mas acenou com a cabeça. - Levaremos tudo o que disserem em conta, mas saibam que até que tenham 17 anos, Electra e eu seremos os únicos a tomar parte ativa nisso.
- E isso nos dará tempo de pensar em como enviá-los de volta a 2021. - Dumbledore sorriu, acenando com a mão e diversas cadeiras apareceram. - Já que os senhores encontraram nossos viajantes no tempo, vou permitir que ouçam sua história. Porém, nada pode sair daqui.
- Nada vai sair, professor. - Sirius jurou. - Principalmente porque eu quero lidar com Voldemort e ia ajudar muito se eu pudesse saber o que ele fez. - ele sentou em uma cadeira fofa, ao lado de Electra.
A semelhança dos dois era assustadora. Cygnus e Anabelle tinham algumas das feições Rosier da mãe deles, Aella, e Bells tinha cabelos loiros cacheados e um rosto muito doce que era capaz de enganar o mais esperto dos bruxos adultos. Cygnus era parecidíssimo com Sirius, mas o nariz e a boca Rosier eram óbvios demais para serem ignorados. Mas Electra era puramente Black, até a medula. Tão parecida com Sirius que se passaria por sua irmã gêmea.
Tão desconcertante que meu próprio avô ficou chocado ao observar a dupla sentada à minha direita.
- Posso começar. - Alvo se ajeitou, ele e Cygnus mantendo Anabelle entre eles. Els e eu demos o aval a ele e Alvo pigarreou. - Nós viemos de 2021. Nosso sexto ano - ele apontou a si mesmo e aos gêmeos. - e o sétimo deles. - Al apontou Els e eu. - Tudo começou porque há um bruxo no nosso tempo que está mais do que inspirado em Voldemort. Nós ouvimos boatos na Sonserina, por meio de um primeiranista e decidimos contar para os dois. Eles vão se alistar no Quartel de Aurores depois dos NIEMs deles e eles têm um contato bem forte com o pessoal do quartel, então seria mais fácil.
- Eles podem ser interceptados por uma terceira parte. - Remus lembrou.
- Electra disse exatamente a mesma coisa e nos prometeu uma solução até amanhã. - Al sorriu, galante. Bells revirou os olhos, um tanto corada:
- Eles conseguem sair da escola sem serem pegos. Electra e James darão um jeito. - ela pareceu segura da informação que passava. - Continue, Al.
- Estávamos discutindo o que sabíamos e medidas a serem tomadas quando Cygnus decidiu enfiar o dedo em uma runa e aqui estamos. - Alvo simplificou a coisa toda, arrancando um sorriso divertido de Lily. - Meu pai e o pai deles são muito amigos, mesmo que tenham se conhecido apenas na vida adulta.
- Quem são? Aposto que são de Alphard. - Sirius pareceu extasiado. - Ele é o melhor de nós.
Electra se remexeu, incomodada e Dumbledore notou:
- Algo que queira nos dizer, Srta. Black? - ele perguntou, gentilmente, olhando Electra. Ela pigarreou e olhou Sirius:
- Somos seus, na verdade. - ela disse, delicadamente. - Seus netos. Você teve um filho com uma mulher trouxa, meu pai. O nome dele é Atlas.
Sirius piscou, sem saber o que dizer em resposta. Passou os olhos por Els, Bells e Cygnus, que acenou alegremente para o avô.
- Ela era trouxa. Não a conheci. - Electra continuou, pacientemente. Sirius pigarreou:
- E o que houve com ela?
- Não sabemos. Papai foi criado por uma parente distante dela que só tinha seu nome como informação e o nome de batismo de meu pai. - Anabelle continuou, séria. - Ele foi a Durmstrang e depois se mudou para a Inglaterra, quando tinha vinte anos, procurando mais sobre a família. Harry, o pai de Al e James, ficou muito feliz quando o conheceu e eles agora são grudados, de modo que nós - ela apontou nosso grupo. - também somos grudados.
- Então, já sabe de onde vem toda essa marra da Electra. - Al retomou o assunto, depois de sorrir para Bells. - Nós, James e eu somos dois terços da família Potter. Nosso pai, Harry, é filho de James e Lily. - Alvo tinha zero tato. Lily, que bebia uma pequena taça de água, engasgou, sendo socorrida por Remus, que segurou uma risada. - Só tiveram ele.
- E foi seu pai que derrotou Voldemort? - James olhou para Al, que acenou que sim:
- Ele, tio Rony e tia Hermione. Eles são Weasley. - ele pareceu distraído. - Nós temos uma irmã caçula, a Lily. - ele sorriu para a nossa avó. - Ela é bem parecida com você, mas tem os olhos iguais aos de James. Meu irmão, digo.
- Havia uma profecia. - eu continuei, quando o silêncio ficou longo demais. - Que dizia que uma criança nascida daqueles que derrotaram Voldemort por três vezes seria o responsável por sua queda. Voldemort passou a caçar meu pai quando ele era apenas um bebê. Vocês foram mortos por ele, enquanto protegiam meu pai. - eu contei e James e Lily se entreolharam, sem saber o que dizer ao outro, e voltaram a olhar para mim. - Ele, obviamente, sobreviveu. E, aos dezessete, derrotou Voldemort.
- Depois de descobrir seus pontos fracos. - Remus disse, sério.
- É claro. Levou quase um ano, mas conseguiu. - eu baguncei os cabelos.
- Ele abandonou a escola? - Lily se empertigou. Electra franziu o nariz:
- Voldemort tomou conta do Ministério e de Hogwarts. Harry era o principal alvo dele. Eu também não terminaria a escola.
- Isso não é foco de piada. - Bells ralhou e Electra revirou os olhos:
- Não estou fazendo piada, estou sendo realista. Eu não teria pisado na escola tampouco. - ela disse, suspirando. - Ele foi convidado a ser Auror sem os NEWTs e aceitou. Assim como tio Rony.
- O Weasley. - Sirius disse, acenando com a cabeça e Els concordou:
- O próprio. Tia Hermione terminou a escola, assim como a tia Gina Weasley, mãe de James e Al. - ela explicou. - Depois que Voldemort foi derrotado, claro. Tia Hermione é nascida-trouxa.
- E a sua mãe? - Sirius encarou Electra, que revirou os olhos:
- Ela é Rosier. Lutou ao nosso lado, contra meu outro avô. - ela se empertigou. - Hoje é curandeira.
- De qualquer forma, essa é nossa história resumida. - eu finalizei e olhei Dumbledore. - Com o passar do tempo, daremos mais detalhes. Precisamos falar da guerra.
- Sim, Sr. Potter. - Dumbledore disse, se levantando, e começou a andar em círculos. - Contem o que sabem.
- Essas informações só são dadas para gente quando fazemos dezessete anos. É magia negra do tipo mais nojento e poderoso. - eu expliquei, olhando os mais jovens, que pareceram animados com o pedaço de informação que eu daria. - Foi contado a nós dois depois do aniversário da Els. - eu olhei Sirius. - Sua família mora no Grimmauld Place, então já deve ter ouvido falar de Horcruxes.
Enquanto os outros pareceram confusos, Sirius fez uma careta que era um misto de horror e nojo. Dumbledore parou e olhou para mim:
- Entendo.
Eu acenei com a cabeça:
- Voldemort fez uma porção delas. - eu expliquei e Els se remexeu, desconfortável. - Els fez questão de ir à biblioteca da Mansão Black e achou alguns livros úteis para que entendêssemos o que significava isso.
- É uma pena que eu não tenha mais acesso. - ela lamentou. - Tenho certeza que lá nos daria alguma dica de como destruir essas coisas.
- Nós daremos um jeito. - eu apertei o joelho dela e voltei a encarar os outros. - Estamos em 1976, o que significa que ele já deve ter feito algumas, só precisamos saber quais.
- Eu nem sei por onde começar. - Electra esfregou os olhos, cansada.
- Eu sei. Consegui arrancar a informação do meu pai. - eu disse, pacientemente. Electra arregalou os olhos. - Ele gosta muito de whisky de fogo.
- Sim, que bom que você sabe quais são. - Cygnus disse, seco. - Mas, antes de tudo, o que são Horcruxes?
- É uma magia negra antiga. Não sei os meios - foi Sirius quem respondeu. - mas sei que são objetos nos quais um bruxo das trevas é capaz de guardar parte de sua alma. Ele se torna imortal assim.
- Envolve assassinato e procedimentos bem desagradáveis que não cabem a esta discussão. - Electra completou. - Há um livro, em Grimmauld Place. - ela estremeceu.
- Achei que seu pai teria dado fim nessas coisas. - Al comentou e eu bocejei:
- Atlas achou melhor manter esses livros trancados por magia porque às vezes precisamos saber como destruir essas coisas. - eu comentei. - Els e eu aparatamos lá uma noite e lemos.
- Você não escapuliu nenhuma noite. - Bells olhou a irmã mais velha, confusa. Electra deu de ombros:
- James e eu nunca fomos à casa dos Diggory prestar condolências. - ela respondeu, vagamente, e voltou a encarar Dumbledore, séria. - Voldemort tem Horcruxes, no plural mesmo. Estamos em 1976, e como James disse, ele já deve ter feito uma porção delas. Já que ficaremos, nós podemos assumir parte disso. James e eu, digo. Eles - ela apontou os três sonserinos com a cabeça. - só entram quando completarem dezessete.
- Se é o que desejam. - Dumbledore disse, sério. - Entrarei em contato com os demais membros da Ordem da Fênix e apresentarei vocês. Mas, neste momento, nossa maior prioridade é como iremos esconder vocês.
- Alvo e James podem ser meus primos distantes. - Pontas disse, sério. - Nós dois sermos James irá causar confusão, mas lidaremos. - ele disse, olhando para mim e eu acenei com a cabeça, concordando.
- Alphard foi deserdado. - Sirius olhou o diretor. - E está morto. Será fácil, direi que foram educados em casa mas que agora precisam terminar na escola porque não têm mais ninguém.
- Perfeito. - Electra abriu um largo sorriso. - E ficaremos todos na Grifinória, certo?
- Ou podemos colocá-los em um lugar seguro… - Dumbledore começou, mas parou de falar quando Electra ergueu a mão:
- Não irei impedir as crianças e nem eles de terminarem a escola. - ela apontou o grande grupo que nos acompanhava. - E aqui terei acesso aos seguidores de Voldemort que ainda são estudantes e também a algumas pistas. Serei mais útil aqui, assim como James.
- E você pode bancar a nossa babá. - Cygnus bufou.
Electra ignorou o irmão mais novo veementemente.
- Está certo, Srta. Black. - Dumbledore respondeu, depois de ponderar. - Há alguém que queira informar a respeito dos meios que trouxeram vocês até aqui?
- Acho melhor mantermos apenas entre nós, os que estamos aqui. Já somos muitos. - ela respondeu, ficando de pé. Electra olhou o trio de sonserinos e apontou o dedo para eles, estreitando os olhos. - Vocês não se enfiam em problemas. Não atacam comensais da morte. Não vão fazer pegadinha nenhuma. Nada de magia fora da escola. E se eu desconfiar que um de vocês colocou um dedinho que seja para fora da linha, vai tomar uma azaração. Entendido?
Os três desviaram os olhos, fazendo careta.
- Entendido? - Electra perguntou, mais alto. Os três resmungaram um sim. Ela se virou para os Marotos e Lily. - Não vou controlar vocês. Mas sejam sensatos.
- Ranhoso não vai sair impune pelo ataque a Mary. - Sirius se levantou, ficando de frente para Electra, que colocou as mãos nos quadris.
- Ele merece, eu concordo. - ela cedeu. - Mas faça isso quando ele estiver sozinho. Aqueles amigos dele são… Difíceis.
Sirius lançou um olhar de curiosidade para a garota, mas optou por olhar para meu avô, por cima do ombro:
- Você ouviu a senhorita maior-de-idade. Ranhoso tem que estar sozinho.
- Feito. - Pontas lançou um sorriso divertido para Electra e Sirius, e cruzou os braços, se recostando na cadeira. - E agora?
- Agora - Dumbledore ficou de pé. - vocês retornam a seus dormitórios. As meninas ficarão com a Srta. Evans. Os senhores Potter e o Sr. Black ficarão com os senhores.
Nós nos levantamos e Els enganchou o braço no meu, suspirando:
- Espero mesmo que isso não acabe mal. - foi tudo o que ela disse antes de seguirmos os outros para fora da sala do diretor e em direção à Sala Comunal da Grifinória.
