Paris, 1989.
A fumaça dos cigarros se misturava ao ar denso da noite, criando uma névoa que flutuava sobre as ruas de paralelepípedos. As luzes dos postes lançavam sombras alongadas, e o som distante de um saxofone ecoava pelas vielas, quase como um lamento solitário que refletia os corações daqueles que percorriam os becos da cidade.
Em meio a esse cenário, Olivier Simon caminhava em silêncio, seus passos ecoando suaves no vazio ao seu redor. Ele carregava um peso invisível, uma mistura de decisões passadas e arrependimentos que teimavam em segui-lo. Paris era uma cidade de sonhos, mas para Olivier, ela havia se tornado um labirinto de memórias e escolhas malfeitas.
Ele não se lembrava exatamente do momento em que seu coração se partiu. Talvez tenha sido na primeira vez que encontrou Isabel, encantado pela doçura em seus olhos; ou talvez tenha sido muito antes disso, em uma noite qualquer em que seus olhares se encontraram pela primeira vez em uma mesa de bar, quando ele ainda podia olhar para James sem carregar a culpa de um amor não declarado.
Mas o tempo era implacável, e as escolhas que Olivier fez, guiadas por um senso de dever e medo, o levaram a uma vida que parecia perfeita aos olhos de todos, menos aos dele. E agora, com a aliança ainda fria em seu dedo, ele começava a se perguntar se havia sido covarde demais para lutar pelo que realmente queria.
Aos olhos do mundo, ele era um homem de sucesso, casado com uma mulher encantadora, vivendo uma vida que muitos invejavam. Mas dentro de si, ele sabia que havia algo errado, uma lacuna que nem mesmo os momentos mais felizes ao lado de Isabel conseguiam preencher. Porque, em algum lugar entre o som abafado das ondas do passado e o barulho ensurdecedor de sua consciência, estava o nome que ele nunca conseguia esquecer: James Davis Miller.
Aquela noite seria como qualquer outra, pensava ele. Mais um cigarro que ele se recusava a fumar por saber o triste fim que levaria se tragasse aquilo, mais uma bebida para silenciar as vozes em sua cabeça. Mas, conforme ele seguia pelas ruas iluminadas, com os dedos enfiados nos bolsos e o frio cortante da noite em seu rosto, uma decisão começava a tomar forma. Talvez fosse a hora de confrontar seus próprios fantasmas.
Porque se há algo que Paris ensinava, é que a verdade sempre encontra uma maneira de emergir, mesmo nas sombras mais profundas. E Olivier, apesar de todo o medo que o consumia, sabia que não poderia continuar fugindo de si mesmo para sempre.
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