Notas da autora
A-ji se encontra...
Ela decide...
Os guardas da prisão ficam...
Capítulo 36 – Reencontro após captura
A-ji se preparou para trata-lo e começou a observar as correntes na cauda em busca da origem ao usar o seu pulso oculto sendo que ela foi uma autodidata, aprendendo por si mesma e depois, melhorando o seu desenvolvimento graças a ajuda dos seus amigos.
A princesa se lembrava de quando andava sozinha com livros para aprender por si mesma e a sua irmã a menosprezava por não ter ninguém para ensiná-la ao contrário dela que tinha como shifu o mais poderoso mestre de demônio da atualidade e que possuía o título de grão-mestre, Ning Qing.
A-ji aprendeu a aceitar calada e apenas se curvava enquanto orava em pensamento para que a sua irmã mais velha estivesse de bom humor porque se a princesa herdeira ficasse de mal humor iria torturar ela como sempre fazia até se sentir satisfeita ao tornar a vida da mais nova ainda mais miserável.
A segunda princesa também se recordava nitidamente de quando o imperador e a imperatriz comentaram que seria uma perda de tempo designar qualquer um para ensiná-la ao mesmo tempo em que exibiam os costumeiros olhos frios na sua direção sendo que havia se acostumado com tais olhares.
Afinal, esses olhares frios sempre a seguiram desde que conseguia se lembrar.
Somente conheceu olhares opostos através do seu shifu Dai Di, Li Haoqing, Ru Jun, Qu Xiaoxing e Luo Jinsang porque foram algumas das exceções sendo que para a jovem, Dai Di era considerado um avô para ela e não somente seu shifu, fazendo com que o assassinato dele fosse um golpe extremamente brutal para A-ji.
Inclusive, por causa dessas poucas pessoas que a tratavam bem, a princesa estava disposta a levar qualquer punição pelos seus atos no lugar deles. Ela nunca permitiria que eles fossem punidos.
Então, saindo das suas recordações enquanto questionava a si mesmo o motivo de se lembrar delas naquele momento, a jovem segue com o olhar as correntes que restringiam a cauda até a origem delas e que era proveniente de uma espécie de flecha que foi retirada por ela após estar parcialmente para fora durante a batalha do tritão contra o seu torturador, fazendo com que todas as correntes caíssem com estrondo no chão, para em seguida, esvanecerem no ar junto com a flecha sem deixar quaisquer vestígios.
A-Ji se sente lastimável ao ver que a cauda se encontrava em frangalhos, com escamas viradas ou faltando que revelavam a carne e os cortes sanguinolentos como se tivessem amolado uma lâmina na pele embora a jovem soubessem que eram frutos dos relâmpagos que cortavam ao mesmo tempo em que queimavam.
Pelo menos, sem as correntes em sua cauda, os braços pendurados carregavam menos peso.
Quando a princesa olha novamente para ele que aparentemente não sentiu nada em uma primeira análise, a jovem ficou aliviada ao ver que houve um relaxamento súbito do corpo do tritão e que os olhos haviam retornado fracamente ao azul-gelo de outrora, para depois, se fixarem na garota, a reconhecendo como sendo aquela que ele salvou.
Quando o reconhecimento brilhou em seu olhar, o jiaoren estreitou os seus olhos, olhando-a atentamente enquanto era visível a mais pura raiva neles, com a mestra de demônios não o condenando porque era tudo culpa dela. A intensidade do olhar repleto de fúria a faz sentir calafrios ao ponto de fazê-la baixar a cabeça ao mesmo tempo em que era tomada pela vergonha, com A-ji aceitando o tratamento dispensado a ela porque ele não estava errado em sentir raiva dela.
A jovem também se lastimava por ter contraído mais uma dívida que parecia impagável considerando o que presenciou.
Afinal, mesmo que a punisse se forma semelhante, o seu corpo não aguentaria sequer um quarto do que ele aguentou e mesmo se aguentasse, não seria o suficiente para pagar o seu débito.
Inclusive, a jovem temia que nunca conseguisse saldar a dívida aparentemente impagável e enquanto refletia sobre isso, a culpa esmagadora massacrava o seu coração e mente ao mesmo tempo em que se juntava aos outros arrependimentos que ela acumulou em sua curta vida até aquele instante. As suas dívidas apenas se amontoavam implacavelmente sem dar quaisquer meios dela quitá-los, fazendo-a se desesperar internamente.
Estoicamente, a princesa empurra tais sentimentos e pensamentos para o canto da sua mente e coração porque tinha que tratá-lo e para isso, precisava agir como a sua irmã mais velha para conseguir obediência dos guardas. Secando as lágrimas que ameaçaram brotas de seus olhos, a jovem inspirou profundamente e se ergueu, avistando ambos os guardas olhando para ela de forma apreensiva enquanto era visível o medo em seus olhos.
Após A-ji se erguer, ela assume a postura, voz e olhar autoritário de Ru Ling, passando a falar de forma autoritária e que não aceitava qualquer contestação:
- Mova o mecanismo para abaixar o tritão!
Os guardas ameaçam recusar debilmente, fazendo com que a princesa se lembrasse do que a sua irmã fazia com aqueles que ousavam questioná-la porque ela mesmo havia sentido várias vezes em sua pele.
Rapidamente, a jovem faz selos com as mãos, fazendo surgir um chicote dourado e com um chute após reunir seu poder espiritual para aumentar a sua força natural, ela escancara a porta da cela que bate sobre as dobradiças, fazendo eles olharem de forma estupefata para A-ji que bate abruptamente o chicote com violência no chão, para depois, baixar o rosto na altura dos guardas caídos e que se encontravam aterrorizados após passar o estupor inicial:
- Como ousam me desobedecer?
- Mas...
- Pelo visto, essa cela é tão patética que não pode conter um tritão. Isso significa que vocês ousaram falar mentiras para a família real. Afinal, nas cartas enviadas ao palácio vocês falaram que o demônio estava na melhor prisão e que era impossível uma fuga. Pelo visto, mentiram. Imaginem como os meus pais e irmã vão se sentir quando souberem dessa mentira? – Ela fala em tom de ameaça enquanto mantinha uma face autoritária e beligerante, com o chicote sendo brandido novamente, fazendo o som do estalo reverberar pelo local.
Prontamente, os guardas se ajoelham implorando por clemência enquanto falavam que não era mentira porque eles sabiam a penalidade de mentir para o imperador.
Um deles se ergue com as pernas bambas e apressadamente aciona o dispositivo para descer o jiaoren.
Ao se lembrar que a irmã amava estalar o chicote que invocava e que sempre fazia questão de insistir com a sua dominância e arrogância assim como a sua necessidade de impor medo de várias maneiras a aqueles que considerava inferiores, A-ji brande novamente o chicote enquanto falava, ocultando o nojo que sentia ao se lembrar de como sua irmã usava o chicote que era a arma favorita dela:
- Espero ter sido clara. Vocês vão me desobedecer, novamente?
- Não. – Eles falam em usino.
- Agora, fiquem do lado de fora!
- Sim!
O que estava de pé ajuda o seu colega caído a se levantar e com ambos tropeçando em seus próprios pés correm debilmente para fora, buscando sumir o mais rápido possível da frente da jovem.
Então, a princesa se vira e após entrar, desfaz o chicote e volta a tratar do jiaoren enquanto não conseguia olhar para ele por causa da culpa e da vergonha que a assolava implacavelmente.
Finalmente, a cauda se encontrava no chão assim como o seu corpo debilitado e coberto de ferimentos.
Prontamente, a jovem abre a sacola e retira os medicamentos, observando que muitos serviriam para o estado que se encontrava o jiaoren e após separar o que precisava, dedicou um olhar cuidadoso para as feridas no corpo do tubarão, começando com a cabeça para depois, o seu olhar se dirigir para baixo, decidindo se deter apenas no estado da pele e das escamas.
A princesa percebeu que apesar dele estar debilmente acordado, ela ainda podia sentir os olhos do tritão nela e ao ganhar coragem para olhar para ele, o príncipe herdeiro dos oceanos virou o rosto rigidamente para longe dela, fazendo a jovem suspirar porque tinha absoluta certeza de que ele a culpava pelo que aconteceu sendo que estava certo em culpa-la na visão dela.
Afinal, se ela tivesse morrido afogada na cabine do navio, eles nunca se encontrariam e ele não acabaria pescado na costa pelo grão-mestre de demônios a pedido de Ru Ling.
Então, se lembrando de um feitiço útil, ela conjurou água condensada e umedeceu todas as escamas de peixe que estavam secas, rachadas e deformadas na cauda do tubarão e mesmo que ainda estivessem marcadas por causa dos ferimentos, estavam em um estado muito melhor do que antes, permitindo que a garota se lembrasse vagamente do antigo resplendor em vez da cauda sangrenta e desbotada que encontrou ao entrar na prisão.
A-ji percebeu que o jiaoren acabou adormecendo após perder a batalha contra a inconsciência, com a jovem acreditando que foi em decorrência do fato dele não suportar mais a exaustão em seu corpo sendo que antes ele estava apenas lutando contra a inevitável inconsciência que desejava toma-lo.
Conforme começava a tratar do tritão, ela se lembrou de que os irmãos disseram que era raro conseguir algum medicamento para tratar danos internos de demônios quando trouxeram a sacola porque era um senso comum entre os mestres de demônios jamais curar feridas internas mesmo daqueles que eram "domesticados", segundo o termo que adoravam adotar para eles, para que não pudessem repor o poder demoníaco que foi consumido.
Portanto, com muito custo, eles conseguiram um dos melhores medicamentos de alta qualidade, o Ningxue Wan, para lesões internas e que era refinado no Vale Demoníaco, com ambos conseguindo quatro capsulas a pedido dela.
Porém, para desespero dela, ele se recusava a tomar o remédio, com a jovem não o condenando pelo seu ato ao considerar o sofrimento que vivenciou, assim como a desconfiança em relação a ela após os recentes acontecimentos.
A-Ji confessava que estava surpresa que mesmo inconsciente, o tritão conseguia manter as suas mandíbulas travadas com ela acreditando que não era somente para evitar colocar algo na boca dele. Era para que também não gritasse caso viessem puni-lo mais tarde e conforme analisava por esse ângulo, podia ver o quanto ele era orgulhoso.
Afinal, para o jiaoren não importava o quanto fosse torturado e humilhado. Ele não iria satisfez o seu algoz e nenhum outro humano. Selar firmemente as mandíbulas era uma forma dele evitar gritar para não satisfazer o seu torturador ao mesmo tempo em que desejava se manter firme e estoico.
Conforme pensava nisso, ela concordava que de fato ele representava o oceano em todo o seu orgulho e poder.
Inclusive, na sua visão, podia ser considerado como crime um humano desejar tanto poder simbólico na forma da subjugação do tritão como se tivesse subjugando o oceano.
