Seu Olhar Alfa

Olá Pessoal.

Essa é minha nova fic, é sobre Alfa e Ômega, eu nunca escrevi esse gênero, mesmo interessando-me nele, então me perdoem se eu escorregar um pouco em algum aspecto.

Também peço que me desculpe por qualquer erro de digitação, o meu tempo está muito corrido e eu corrijo, mas ainda assim pode escapar alguma coisa, se virem comentem que eu arrumo ta bom?

Espero que gostem...

Aproveitem

AVISOS: Sexo, Homossexualidade, Violência, Abuso, Suicídio, Dependência Emocional

Capítulo 1

Era uma manhã fria quando Severus Snape levantou-se de sua cama grande e confortável nos seus aposentos pessoais nas masmorras de Hogwarts. O homem bocejou enquanto jogava as cobertas para o lado, passou as mãos nos cabelos bagunçados e encaminhou-se para o banheiro afim de tomar um delicioso banho bem quente, o bastante para o local ficar rapidamente cheio de vapor. Para Snape o dia não começaria bem sem deixar a água escorrer por sua pele levando embora o suor que impregnava em seu corpo a noite devido os pesadelos que insistiam em perturbá-lo todos os dias.

Como se precisasse daquelas imagens para se recordar do terror que foi aquele dois de maio, a noite longa e terrível onde quase encontrou seu fim nas presas de Nagini.

Não era preciso nenhum pesadelo, ele tinha as marcas.

Marcas que eram tocadas por seus dedos enquanto ensaboava seu pescoço. Dois anos se passaram desde aquela noite, mas cada vez que tocava aquele pedaço de pele sentia como se estivesse acontecendo naquele momento.

Entretando dois anos fora tempo o suficiente para se acostumar com os pesadelos, suor, marcas e lembranças, por esse motivo o homem ignorou qualquer sentimento ou pensamento e apenas terminou o banho e foi para o quarto com a toalha enrolada na cintura e outra secando os cabelos.

Os ponteiros do relógio acabaram de indicar sete horas quando Snape adentrou ao grande salão vestido com uma bela veste completamente fechada do pescoço até os pulsos, muito parecida com as costumeiras vestes que usava por anos e anos, mas agora com alguns detalhes prateados nas barras. Fios de prata, um luxo que se permitiu após voltar a lecionar em Hogwarts a pedido de Minerva, mas agora na cadeira de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, matéria onde mostrou-se ser um ótimo professor elevando as notas dos alunos, principalmente os sonserinos que depositavam no mestre a carência de seus pais comensais agora presos em Azkaban.

Claro que Snape sabia muito bem que havia outro motivo para seus queridos alunos gostarem tanto de suas aulas e até mesmo o procurarem em seu escritório dizendo terem dúvidas sobre alguma atividade.

Snape era um Alfa.

Alfas são bruxos que nasceram com genes dominantes, seus feromônios são expelidos por sua pele e invocam os ômegas, bruxos com genes submissos. Tais genes começam a se manifestar ainda na adolescência e ficam cada vez mais forte conforme a idade avança. Não são todos os bruxos que nascem com esses genes, e aqueles que nascem já sabem seu destino, pois todo Alfa encontra seu ômega, de alguma forma, em algum momento, eles se encontram.

Todos, menos Snape.

Era raro um Alfa chegar a mais de quarenta anos sem um ômega, mas a paixão que Snape nutria por Lilian durante todos aqueles anos nublaram qualquer possibilidade dele sequer pensar em ter outra pessoa que não fosse a ruiva, e fazendo isso seus genes foram contidos até que finalmente sentiu-se livre de qualquer culpa quando conseguiu ajudar Harry Potter a vencer a guerra entregando a verdade ao menino.

Sentir a liberdade de não ter mais mestre para seguir e nem culpa para se remoer fez os genes Alfa de Snape aflorarem de tal forma que muitas vezes se viu em situações embaraçosas com sonserinos querendo lhe tocar, se entregar totalmente, ainda que o professor fosse pelo menos uns vinte e cinco anos mais velho que eles e fosse, claro, seu professor. McGonagall o obrigou a tomar uma poção que ajudava com esse problema, mas como a velha bruxa dizia quase diariamente...

- Você precisa encontrar seu ômega. – Disse a diretora ao seu lado.

- Eu não preciso encontrar ninguém. – Resmungou Snape tomando um gole de suco e observando os alunos tomando o café da manhã. – Tem que parar de me falar isso toda manhã.

- Ora, meu querido, falo isso para seu bem. Todos merecem ter alguém e você como Alfa tem que ter o seu ômega.

- Eu não tenho que ter nada. – Disse Snape carrancudo.

- Poderia, se quisesse, sabe disso. Pode reivindicar uma mulher ou homem para você.

- Não vou sair mordendo qualquer um por aí.

- Cuidado, Severus, vai acabar ficando sozinho como eu.

- Sorte a minha. – Sussurrou antes de se levantar e encaminhar-se para a sala de aula passando por entre os alunos que começavam a se levantar.

O dia seguiu calmo como imaginou quando acordou, os alunos daquela aula pós café eram tranquilos, corvinais e lufanos, sempre muito dedicados e silenciosos devorando cada explicação. A calma dos alunos nessa aula permitiu que sua mente vagasse por possibilidades que sabia não existirem. Alfas e Ômegas se juntam quando jovens, as vezes ainda na escola, em sua maioria por afinidades e sentimentos românticos, mas as vezes um Alfa quer tanto um ômega que o morde reivindicando-o para si, ainda que não tenha ali nenhuma atração sexual ou sentimental, apenas o puro desejo de possessão do Alfa. Snape sentia pena desses ômegas, era melhor ficar sozinho do que ser obrigado a se submeter, obedecer e se entregar a alguém que não queira.

O sinal do término da aula soou tirando Snape de seus devaneios.

- Quero dois rolos de pergaminho sobre a eficácia do feitiço de redução em uma batalha para a próxima aula.

Ainda era possível ouvir alguns resmungos pelo corredor quando caminhou da sala de DCAT até as masmorras onde entraria em seus aposentos e descansaria até a hora do almoço.

- Professor Snape?

Snape revirou os olhos antes de se virar e encontrar uma sonserina do terceiro ano o olhando nervosamente.

- Dúvidas escolares são tiradas após o almoço em meu escritório, senhorita Warren. – Disse simplesmente antes de dar as costas para a garota.

- Professor?

Snape fechou os olhos e respirou fundo. Fora a maldita fungada dada logo em seguida que o fez se virar e encarar a menina novamente. Ele sabia, entendia muito bem o que aqueles olhos azuis queriam lhe falar, seus próprios olhos negros disseram a mesma coisa trinta e poucos anos atrás, só que em seu caso não tinha ninguém para ouvir.

- Siga-me. – Disse baixinho indicando o caminho para seu escritório. – Sente-se.

A menina entrou no escritório do professor e se sentou na cadeira indicada por ele. Snape se sentou atrás da escrivaninha, cruzou as pernas e esperou. Esperaria o tempo que fosse necessário, ela falaria, eles sempre falam. Aquelas paredes já ouviram muitas confidências depois da guerra. O Ministério da Magia ter inocentando-o e mostrado ao mundo como ajudou a derrotar Voldemort trouxe confiança para sua pessoa e com essa confiança, vieram as verdades de seus alunos.

- Fale quando tiver vontade, senhorita Warren.

A menina assentiu e mexeu nervosamente com as mãos.

- O senhor sabe quem são meus pais e que eles estão em Azkaban. – Começou a menina.

- Sim, eu conhecia os Warren, eram comensais da terceira linha do Lord das Trevas e foram capturados durante a batalha.

- Depois disso eu fiquei sob a responsabilidade dos meus avós paternos. – A voz da menina fraquejou por um momento. – Eu não os conhecia antes.

Snape nada disse, apenas aguardou. Sabia muito bem onde essa conversa chegaria, já ouvira isso de outras crianças que depositavam em si a confiança de contar o que acontecia em suas casas. Infelizmente os pequenos sonserinos em sua maioria vinham de famílias com histórico de abusos e violências e eram os mais jovens que mais sofriam ou pelo menos os que mais mostravam suas fragilidades, pois os mais velhos normalmente do quarto ano para cima, tendiam a esconder e reprimir o sofrimento que tinham em sua família transformando aquele sentir em rancor, ainda que por vezes um ou outro colapsavam pela gravidade dos casos.

A jovem Warren baixou a cabeça e deixou o corpo tremer com o choro que não conseguiu segurar. Snape se levantou e aproximou-se devagar abaixando-se diante da menina. Devagar postou a ponta do dedo no queixo dela e em silêncio a fez levantar a cabeça inclinando-a para trás, então com o mesmo dedo puxou o colarinho de sua camisa escolar expondo o ombro de pele tão pálida quanto a sua e ali estava a mancha rosa que ainda estava em processo de cura. Uma mancha que se encaixou em sua mão quando a postou em cima dela percebendo a posição que o agressor estava ao infringir o machucado. O professor puxou a camisa para cobrir o ombro dela e pegou seus pulsos enquanto olhava dentro de seus olhos lacrimosos. Com cuidado ergueu a manga vendo em ambos os braços os machucados vermelhos das amarras.

- Desculpa, professor. – Pediu a menina em um sussurro. – Eu não devia falar nada, desculpa.

- Senhorita Warren, olhe para mim. – Pediu quando a garota baixou a cabeça. – A culpa não é sua. Seus avós deveriam cuidar de você e não aproveitarem de seu corpo. Infelizmente essa prática acontece muito entre famílias de sonserinos.

- Por quê?

Snape não respondeu, apenas se ergueu, queria ele ter uma resposta para dar, mas nem depois de tantos anos de vida conseguiria responder tal pergunta. Calmamente foi até o armário de poções que ainda mantinha em seu escritório como um bom mestre de poções que era. Olhou com cuidado alguns vidros e pegou três frasquinhos na prateleira mais alta, então voltou para diante da menina dando um deles na mão dela e pedindo que guardasse em seu bolso afim de tomar antes de dormir, o segundo frasco foi destampado e ordenado que tomasse ali mesmo e o terceiro foi usado para uma mistura que Snape fez em poucos minutos e aplicou nos ferimentos dos pulsos e ombros dela.

- Vai ficar tudo bem, senhorita Warren, volte para a sala comunal, tome a poção e durma, eu vou te liberar das aulas da tarde, precisa descansar.

A menina assentiu com a cabeça e respirou profundamente, Snape sabia o que ela desejava enquanto olhava no fundo de seus olhos negros, mas também sabia que ela não faria aquele ato por diversos motivos que podia ler em suas íris. Medo, receio, vergonha. Mas estava ali a vontade do abraço acalentador que ela precisava. Talvez se aquela garota fosse aluna de Minerva ou Sprout possivelmente ganharia um abraço quente e confortável, mas ele era Snape e nem ao menos sabia abraçar alguém, nem mesmo se lembrava se algum dia na vida chegou a ser abraçado, então como poderia retribuir isso a alguém tão machucado como a senhorita Warren?

Snape a levou até a porta após ela se recompor e a assistiu caminhar até virar o corredor, quando a menina sumiu de suas vistas caminhou-se rapidamente para o escritório da diretora.

- Em que posso ajudar, Severus? – Perguntou Minerva sem nem mesmo tirar os olhos do papel que estava escrevendo, ela parecia cada vez mais com o velho que agora estava fingindo dormir na moldura dourada de seu quadro.

- Mais uma aluna veio me procurar.

McGonagall ergueu a cabeça e olhou pesarosa para o professor.

- Me diz que é devido seu gene Alfa e que ela apenas se apaixonou por você. – Pediu a mulher soltando a pena que estava usando e recostando-se na cadeira.

- Não.

- Outro caso?

- Sim. Eles têm aparecido mais do que queremos.

- Bem, com a guerra terminada e os alunos percebendo que os pais não eram boas pessoas e ainda mais você virando alguém de confiança é de se esperar que eles te procurem para buscar um caminho diferente do que os pais seguiram.

- É desgastante. – Disse ao se sentar na cadeira em frente à mesa da diretora.

- Imagino que sim. Ouvir de seus pupilos que eles sofrem abusos de seus familiares deve ser cruel demais.

- O problema não é ouvir o que eles têm a contar. É não poder fazer nada.

- Você sempre faz o possível para ajudar essas crianças, por sua causa já prendemos três em Azkaban por abusos e livramos alunos de mais sofrimentos.

- Não é esse tipo de ajuda que gostaria de dar.

- Eu sei, mas você não é mais um comensal da morte, meu caro. Não pode sair por aí torturando e matando essas pessoas.

- Uma pena. Não sabe o alívio que é saber que seu abusador foi ceifado.

Minerva olhou atentamente para Snape e percebeu o olhar distante que o professor tinha enquanto falava aquela última frase. Apesar de o final da guerra ter aproximado os dois a ponto de poderem dizer serem amigos, Minerva nunca questionou sobre o passado do Snape, sabia que o homem taciturno era muito reservado sobre sua infância e família e agora entendia um pouco do porquê ele jamais falava sobre seus pais e até o motivo de ele ser aquele homem que estava diante de si.

- Você matou quem abusou de você? – Perguntou Minerva baixinho recebendo um olhar intenso do homem.

- Ele teve o que mereceu. – Respondeu Snape simplesmente mantendo o olhar profundo cheio de sombras do passado.

- Entendo. – Respondeu Minerva respirando fundo. – Quanto a senhorita Warren, vou mandar o comunicado ao Ministério para que investiguem os avós dela, enquanto isso ela estará bem cuidada aqui na escola e você, tenho certeza, ficará de olho nela, não queremos outros pulsos cortados por aqui. – Snape assentiu rapidamente. – Bom, mudando de assunto, estou organizando um encontro de ex-alunos no castelo para o próximo final de semana.

- Pelo amor de Merlin! – Exclamou Snape revirando os olhos. – Finalmente nos livramos deles, por que quer trazer de volta?

- Ora Severus, eles não vão voltar a estudar aqui, serão apenas convidados de um jantar e todo o corpo docente estará presente, sem desculpas. Entendeu, meu caro? Quero você elegante para ser o anfitrião junto a mim, serão muitos alunos e eu não darei conta sozinha, preciso dos diretores das casas para ajudar. Quem sabe você finalmente encontre um ou uma ômega na festa.

- Já disse para parar de tentar arranjar um par para mim, deveria ter mais coisas a fazer.

- Ah, mas aí não seria divertido. – Disse sorrindo ao ver Snape revirar os olhos antes de se levantar e sair de seu escritório.

- Você tem planos, Minerva? – Perguntou o quadro de Dumbledore atrás da professora. – Planos com Severus Snape são perigosos.

- Ah, eu sei, seu velho, conheço bem aquele homem, mas vai dar tudo certo.

Um sorriso brincalhão brotou no rosto de Minerva antes da bruxa voltar a anotar algo em um pergaminho.

Os dias seguintes foram tumultuados com atividades extras e a tensão das provas que estavam chegando, mas também com a ansiedade do Natal que se aproximava cada vez mais. Snape passou cada dia tentando ignorar a proximidade da fatídica festa dos ex-alunos, festa que McGonagall fazia questão de lembra-lo a cada oportunidade, mas apesar de todos os seus esforços o tal dia finalmente bateu à porta.

Snape afastou os lençóis e se levantou indo até a única janela que tinha ali. A neve da manhã desenhava os cantos dando aos olhos um belíssimo quadro do lago negro quase congelado e das montanhas ao redor. Uma paisagem linda, clara e solitária assim como a lula gigante que passara perto da janela e como ele mesmo. Apesar de Minerva lhe encher a cabeça com a questão de encontrar um ômega, no fundo sabia que a mulher lhe falava algumas verdades.

A solidão sempre foi sua amiga, costumava abraçá-la e a vesti-la como uma segunda pele. Era bom, confortável e facilmente adaptável. Pessoas eram irritantes, idiotas e em sua maioria não confiáveis. Em seu papel como comensal a solidão era essencial para se manter firme ao lado do Lord. Sem ter alguém não haveria preocupações além de manter o disfarce.

No entanto, depois de dois anos se livrando das amarras de seus mestres e sem precisar temer pela vida de ninguém, sua mente deu abertura para ao menos pensar em como seria se encontrasse um ômega que de fato gostasse de si não apenas fosse chamado pelo seu sangue Alfa.

Pensamentos, apenas pensamentos perdidos em noites passadas em claro.

Snape respirou fundo jogando esses pensamentos para o fundo de sua mente, não gostava de perder tempo com algo que não aconteceria. Concentrando-se apenas no dia cheio que teria pela frente, arrumou-se e rumou para o salão principal encontrando pelo caminho alunos sonolentos se arrastando para o café, alguns até mesmo de pijama ainda.

- Senhor Falset. – Chamou fazendo um menino quartanista parar no meio do corredor. – Não se atreva a aparecer de roupa de dormir no Grande Salão. Salazar Sonserina teria vergonha dos alunos que estão pisando em sua casa hoje em dia. Volte para seu dormitório e vista-se adequadamente.

- Sim, professor Snape. – Respondeu o menino olhando atravessado para o professor devidamente vestido com calça social e camisa preta fechada até o pescoço e punhos.

Snape seguiu seu caminho e entrou no Grande Salão seguindo até sua cadeira na mesa dos professores ao lado de McGonagall que mal o deixou se sentar.

- Está tudo certo para hoje a noite. A maioria dos alunos já terão ido para casa para o Natal e quem ficar jantará mais cedo as seis horas. As oito receberemos nossos convidados.

- Que maravilha. – Disse Snape sarcástico sem virar-se para a mulher.

- Não vejo a hora.

Foi então que Snape sentiu no tom de voz dela que havia algo a mais nesse querer todo por esse jantar de ex-alunos. Seus olhos passaram pelo rosto enrugado, o sorriso travesso e os olhos intensos e brincalhões.

- Seja lá o que estiver planejando, esqueça Minerva, não vou participar.

- Você está muito sozinho, Severus. – Comentou colocando a mão no braço do professor. – Um Alfa adulto e solteiro é raro.

- Raro apenas porque os outros não são capazes de controlar o gene e saem marcando os Ômegas aleatoriamente. Eu sei muito bem me controlar.

- Um controle que pode te matar, sabe bem que ficar sozinho o definhará, sua linhagem exige um par.

- Prefiro morrer a obrigar alguém que não queria estar comigo.

- Então deixe que as pessoas se aproximem de você. Não se feche, meu amigo. Não é saudável ser sozinho.

- Eu estou bem. – Respondeu baixinho ao perceber que apesar de irritante, a persistência de McGonagall tinha uma preocupação genuína por trás. – Ficarei bem e te proíbo de me apresentar a seja lá que for que você queira apresentar.

- Você é um enorme estraga prazeres, sabia?

- Eu estou bem sozinho e vou continuar assim.

Foram as palavras finais de Snape antes de sair da mesa dos professores e caminhar com a cabeça erguida até sua sala nas masmorras tentando não pensar no quanto aquelas palavras eram mentirosas, pelo menos metade delas.

A verdade era que lá dentro, em seu mais íntimo sentir Snape odiava a solidão, ainda que soubesse muito bem conviver com ela desde sua infância e até chegasse a amá-la de certa forma. A solidão era uma via de mão dupla, ao mesmo tempo que o deixava mais focado, concentrado e o ajudava a se tornar o melhor em sua posição, também o fazia sentir-se abandonado, esquecido e não amado e isso trazia a amargura que o fazia ser Severus Snape. Era um sentimento que ardia em sua pele a noite ao olhar as chamas da lareira e pensar que seria bom ter alguém para olhá-las junto consigo, talvez abraçada em seu corpo, e até mesmo beijando. Havia desejo em seu corpo, desejo de deitar-se com alguém em sua cama durante uma noite tempestuosa e nem mesmo ouvir os trovões por estar concentrado unicamente nos gemidos que a pessoa dava ao pé do seu ouvido. Havia o querer de um carinho despretensioso em meio ao café da manhã e olhares intensos ao se distanciarem.

Essa era a mentira que contava até para si mesmo, de que estava bem com a solidão, mas no fundo não estava. Ele a odiava, queria que desaparecesse. Mas para isso seria necessário um outro alguém e era nesse ponto que entrava a parte da verdade em sua frase dita a Minerva, de que iria continuar sozinho.

Como Alfa e ainda mais um Alfa adulto, conseguiria facilmente marcar um ômega com sua mordida e reivindicar a pessoa para si a tornando sua, porém fazer isso sem que a pessoa sentisse algo por si, que quisesse ser marcada era de uma repulsa sem igual. Snape jamais condenaria alguém a ser sua prisioneira, não usaria ninguém dessa forma. Ele foi usado por seus mestres sem chance de se libertar das garras de Dumbledore ou do Lord das Trevas, por anos fez o que era mandado sem nunca ter a chance de escolha e aquilo o moldou da forma que é hoje, o fez construir muros internos em sua mente e coração para aguentar o que foi preciso fazer em suas missões dada pelo Lord e pressionada por Dumbledore.

Não, só marcaria alguém que o amasse.

E quem poderia amar Severus Snape?

- Quem? – Perguntou-se Snape enquanto olhava-se no espelho e arrumava a belíssima veste bruxa que usaria no jantar.

A roupa era de um verde musgo escuro com finas linhas de prata na barra e nas mangas. Seu colarinho trazia desenhos de cobras entrelaçadas. Os sapatos pretos e lustrosos combinavam com a camisa e os cabelos escorridos emoldurando o rosto. Estava elegante.

As oito horas a diretora estava devidamente posicionada na porta de entrada do castelo junto a Snape. Flitwick, Sprout e Slughorn fariam o acompanhamento das pessoas as mesas. Aos poucos os convidados chegavam pelo portal principal sendo recepcionados primeiro por Hagrid e Canino, depois caminhando por um caminho belamente iluminado até a entrada do castelo onde McGonagall cumprimentava alegremente cada um com um abraço muitas vezes breve e em outras demorado como no caso da senhorita Granger que todos sabiam ser sua pupila preferida. Snape por sua vez ficava um pouco atrás dando simples acenos de cabeça e alguns apertos de mãos em alguns sonserinos que apareceram.

- Acho que quase todos chegaram. – Disse Minerva quando o salão já estava cheio e o barulho das conversas e taças cheias de champagnes chegava aos ouvidos. – Vou para dentro, um elfo pode receber os atrasados.

- Eu os recebo. – Disse Snape rapidamente agarrando-se a qualquer oportunidade de evitar a multidão de ex-alunos no Grande Salão o máximo que conseguisse. – Se em meia hora não chegar mais ninguém eu entro.

- Obrigada, Severus.

Quando a diretora se afastou Snape respirou fundo e esticou a postura sentindo a coluna estralar. Estava cansado, mas preferia horas e horas em pé de vigília na entrada do castelo do que ir para aquele salão. Assim que o relógio da escola começou a badalar indicando ser nove horas, Snape bufou e estava se virando para entrar quando avistou de longe a figura de duas pessoas se aproximando, então permaneceu em seu lugar apenas aguardando com a carranca em sua face claramente desprezando os atrasados.

Rapidamente a silhueta do convidado foi clareando conforme se aproximava dos archotes da entrada e pode então visualizar seu antigo estudante.

- Senhor Zabini. – Cumprimentou apertando a mão do jovem que tinha quase a sua altura, mas trazia um corpo maior e mais musculoso.

- Professor Snape, é um prazer encontrá-lo novamente. – Disse o ex-aluno com uma voz cordial e baixa. – Peço desculpas pelo meu atraso, meu companheiro ômega teve um acesso de frescura não querendo vir e precisei corrigi-lo. O senhor como Alfa entende como temos que disciplinar nossos pares.

Snape não respondeu, apenas deu uma levantava de lábio enquanto apertava as mãos uma na outra em suas costas de forma até mesmo violenta, ainda que silenciosa. O desprezo por alguém como Blásio estampado em seus olhos, mas impossível de se perceber pelo jovem que só conseguia ver a si mesmo.

- Claro que já conhece meu ômega assim como todos nesse castelo, mas será divertido apresentá-lo como ele realmente é para todos. Até o momento mantive segredo, precisava adestrá-lo primeiro, ele é um tanto quanto...

- Indisciplinado e arrogante... – Completou Snape ao ver o par de Zabini se aproximar e o olhar espantado. – Olá senhor Potter.