E ainda não me mudei… eu odeio minha vida.
[Pietro Polendina]
As pontas da minha cadeira clicam contra o metal da doca, cada passo das patas de aranha ecoando no vasto espaço. À minha frente o encouraçado se ergue à minha frente, uma montanha de aço e tecnologia, agora equipado com o motor protótipo do reator arc de larga escala.
'Se não fosse a ajuda do senhor Church, não teríamos conseguido fazer esse protótipo tão rápido.' Pensei em silêncio.
O ar está carregado com o cheiro de óleo e maresia, uma mistura peculiar que sempre me lembra de progresso e aventura.
"Doutor Polendina, tudo pronto para a partida?" A voz de Marrow Amin ressoa atrás de mim, seu tom descontraído, mas firme.
Viro a cadeira para encará-lo. Seu uniforme impecável, a cauda peluda balançando suavemente, e a expressão confiante de quem sabe o peso da missão que carrega.
"Tudo pronto conforme o planejado especialista Amin, ou devo dizer Capitão Amin." Respondo olhando dos dados no meu scroll. "O reator está instalado e pronto para ser testado em campo."
Marrow se aproxima, olhando para o encouraçado, dando uma risada sem graça.
"Fico pensando que só me promoveram porque sou um faunus. Algo como 'estava no lugar certo, na hora certa'. Não sei se mereço mesmo essa posição."
Viro a cadeira para encará-lo, ajustando os óculos no nariz. Seu rosto expressa genuína dúvida, a cauda peluda agora imóvel, refletindo sua introspecção.
"Marrow, se você acha que não merece essa promoção, então prove com ações seu valor." Comento em um tom firme mas amigável. "Mostre a todos e a si próprio que você é mais do que apenas um faunus no lugar certo. Seja a escolha certa, não importando como chegou até aqui."
Ele me olha, surpreso. Sua expressão muda, um brilho de determinação começa a surgir em seus olhos.
"Eu... eu nunca pensei dessa forma, doutor." Ele coça a nuca, um sorriso tímido se formando. "Mas o senhor tem razão, e essa missão é importante demais para eu deixar minhas inseguranças tomarem conta de mim."
Com a determinação agora firme em seu olhar, ele volta a encarar o encouraçado, o metal brilhando sob as luzes da doca.
"Além de testar o motor, você também atuará como dignitário de Atlas." Digo, ajustando os óculos novamente. "É crucial que essa missão seja um sucesso em todos os aspectos."
Marrow engole seco, mas assente, confiante.
"Tenho certeza de que fará um excelente trabalho, Marrow." Respondo, um sorriso genuíno se formando no meu rosto.
"Boa sorte, Marrow. Estaremos monitorando tudo daqui."
Ele se afasta caminhando em direção ao encouraçado. Observo enquanto ele sobe a rampa, cada passo mais firme do que o anterior. Ao chegar ao topo, ele se vira para mim, um aceno rápido antes de desaparecer dentro da embarcação.
A rampa se fecha com um som metálico, e o encouraçado começa a se mover, o ronco do motor enchendo a doca, apesar de ser mais silencioso que um de Dust convencional. Observo enquanto a embarcação se afasta, ganhando velocidade à medida que se dirige para o mar aberto.
PING!
"Uma mensagem?" Murmuru curioso abrindo o texto. "Parece que é da Penny."
Lendo a mensagem abro um sorriso com a notícia de que Penny fez uma amiga.
"Esplêndido." Comento para mim.
Mas ao continuar lendo me deparo com outra noticia.
"Vocês prenderam um ladrão aleijado?" Repetir confuso com a mensagem.
[Amber Stone]
O sol ainda tímido despontava no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. E eu estava ali, no meio do deserto, rodeada por faunus que mal conhecia.
Quem diria que eu, Amber Stone, estaria supervisionando a criação de uma cidade inteira construída por faunus ex-presidiários, androides coloridos e robôs enferrujados.
'É tanta coisa absurda que se torna realidade desde que me juntei com Jaune.' Penso enquanto escuto passos se aproximando de mim.
"O chefona, precisamos de mais materiais na área sul." A voz de um faunus com chifres de carneiro me tirou dos devaneios. "As fundações dos novos alojamentos estão prontas, mas a equipe está sem suprimentos para continuar amanhã."
"Jaune reabasteceu ontem a noite." Respondi consultando em minha prancheta para ter certeza. "Está no galpão 3."
Enquanto o pedreiro seguiu seu caminho para verificar os suprimentos, andei pelo terreno acidentado, sentindo o calor do sol nascer. Faunus e robôs de todas as formas e tamanhos trabalhavam juntos, erguendo estruturas, transportando materiais, cada um com um propósito claro.
Como 'cidade satélite', este local tem várias funções: Ser um posto avançado para avistar e combater Grimms, treinar a mão de obra local, prover suprimentos para as futuras operações na mina de Dust e o mais importante de todos… abrigar a maior e mais avançada torre CCT de toda Remnant.
Por enquanto a manutenção da torre é mantida por alguns drones que o Jaune criou, mas a AI verde chamada Delta tem dado aulas para alguns faunus que foram colegas de cela do Arc. Apesar de serem apenas três, isso já garante a futura autonomia sob o equipamento para um futuro próximo.
No começo achei meio estranho, apesar de bem-vindo o fato deles terem aceitado rapidamente a proposta de trabalhar no meio do deserto infestado de grimms em troca de sua liberdade. Alguns até choraram agradecendo pela oportunidade de poderem provar seu valor inspirados pelo grande 'Rengoku'.
"Seja-la quem for esse esquisito com nome Mistraliano." Resmunguei caminhando em direção a muralha.
No meio do caminho, alguém grita chamando minha atenção.
"Ei, Chefona!" Um faunus com orelhas de raposa acenou de longe. "A gente vai poder beber hoje anoite?"
"Vocês conhecem as regras, um dia de bebida para dois dias de trabalho sóbrio."
"Mas está quente…" Ele reclama choroso.
"Então bebe agua, porra!" Reclamo deixando o faunus para trás sendo alvo de piadas de seus amigos.
No começo eu tinha estranhado essa ideia de dois dias de oito horas de trabalho com intervalos para um dia de folga, mas um bom salário somado a bebida e comida a vontade faz esse pessoal trabalhar a 120%, com zero atrasos e zero faltas.
Chegando na muralha, subo os degraus, dando de cara com dois vigias olhando para o horizonte com binóculos. Um deles é um faunus grande e gordo, com nariz de javali, já seu colega é baixo e bem magro, com um rabo de suricato chamado Timão.
"Por que tem dois vigias nesse posto?" Perguntei irritada.
Timão e Pumba se assustam com a minha chegada silenciosa e começam a se desculpar gaguejando.
"D-desculpa, chefona! A gente tava só..." Pumba começa com sua voz trêmula.
"Isso, a gente tava só olhando o Arc e a Ilia lutando contra aquele bicho enorme!" Timão completa apontando para o deserto.
Tomo o binóculo da mão do suricato faunus e olho na direção apontada encontrando nada além de areia.
"Que bicho enorme?" Pergunto, franzindo a testa. "Não tem-." Antes que pudesse reclamar, sou cortada por um som de explosão vindo do deserto.
BOOOOM!
Areia explode para cima, como se uma bomba tivesse explodido, mas na verdade era um grimm gigante saindo do subsolo com sua boca arreganhada para o céu.
"Mas que merda é essa?!" Grito assustada.
A criatura era enorme, seu corpo negro era similar de um tubarão coberto por uma carapaça dura cheia de ossos brancos e com duas mãos saindo da lateral de seu corpo. Suas mandíbulas estalavam, prontas para devorar qualquer coisa ao seu alcance. Era um verdadeiro monstro saído de um pesadelo.
[Image]
"Elder Sand Jaws!" Falou pumba ao meu lado. "Maior e mais perigoso que um Twin Terror Rex."
Antes que pudesse me preocupar com a vida de Jaune, um grito ecoou pelo deserto, um grito de cowboy vindo da direção do Grimm.
"YEEHAW!"
Não precisava ser um gênio para saber quem estava gritando.
Levantei o binóculo novamente, procurando a origem da voz. Demorou alguns segundos, mas o encontro. Nas costas da criatura, um loiro se segurava por correntes presas na carne do Grimm gigante. E, agarrada na cintura dele, uma garota ruiva gritava de medo.
"Preciso de um aumento." Resmunguei cansada. "Mas antes disso preciso começar a ser paga."
Pego o megafone da minha cintura, o que uso geralmente para dar ordens nos canteiros de obra, e grito para Jaune.
"ACABA LOGO COM ISSO, ARC!"
Em resposta, Jaune olhou na minha direção, sorriu largando uma das correntes e criando algo para empunhar em sua mão livre.
A névoa dourada materializa em seguida um cilindro prateado com um botão vermelho. Antes que pudesse me questionar o que era aquele item, Jaune aperta o botão fazendo sair do tubo uma lâmina de luz azulada.
"Uma lâmina de dust?" Questionou Pumba curioso.
Com o sabre de luz, Jaune abre um buraco na carapaça da criatura só para em seguida puxar Ilia junto com ele para dentro do Monstro.
"Essa não…" Resmunguei preocupada. "Por que ele fez isso?"
O grimm gigante cai na areia, levantando uma nuvem de poeira que obscurece momentaneamente minha visão. O chão treme com o impacto, e me agarro à muralha para não perder o equilíbrio. A criatura começa a se mover, tentando submergir mais uma vez.
Mas algo de errado ocorre com o monstro e ela pára no meio do processo, como se estivesse confusa ou sentindo dor.
"O que tá acontecendo?" Pergunta Timão, sua voz trêmula de medo.
"Arc está fazendo merda." Respondo, apertando o megafone com força.
Depois de ficar parado por alguns segundos, o Grimm começa a gritar.
"IAAAAAAOOOH!"
O som é ensurdecedor, um misto de dor e raiva que ecoa pelo deserto. A criatura se debate, sua carapaça rachando e se despedaçando enquanto ela luta contra algo invisível.
"Ela está quebrando?" Grita Pumba confuso, seus olhos arregalados de pavor.
Observo, incrédula, enquanto o Grimm gigante continua a se debater, seus movimentos ficando cada vez mais desesperados. A areia ao redor da criatura é lançada para o ar, criando uma tempestade de poeira que dificulta a visão. Mas, mesmo através da névoa, consigo ver a carapaça do Grimm se desintegrando, como se algo estivesse corroendo-a de dentro para fora.
Subitamente, a criatura para de se debater. O silêncio repentino é quase ensurdecedor após os gritos e o caos. Observo, prendendo a respiração, enquanto o Grimm gigante relaxa o corpo, ficando inerte no solo do deserto. A areia ao redor se assenta lentamente, revelando a forma imóvel da besta.
"Ele conseguiu..." Murmura Timão, a voz cheia de admiração e alívio.
Aos poucos, o corpo da criatura começa a se desintegrar. A névoa negra começa a se dissipar revelando Jaune e Ilia, cobertos de areia e suor, mas vivos.
"Arc, seu louco!" Grito pelo megafone, o alívio misturado com raiva. "Você podia ter morrido!"
Jaune olha na minha direção, com um sorriso largo no rosto ele me joga um beijo.
"Se esse loiro idiota não tivesse me salvado, eu mataria ele." Resmunguei furiosa enquanto Timão e Pumba saiam de perto de mim.
Em poucos minutos, Jaune e Ilia chegam na cidade. Antes que o loiro pudesse falar algo, Ilia começa a reclamar.
"Você é louco, Arc!" Ilia grita, sua voz tremendo de raiva e medo. "Por que você sempre tem que se colocar em perigo assim todo dia?"
Jaune, com um sorriso cansado, responde.
"Você tem razão Ilia. Acho melhor você parar de me seguir pelo seu próprio bem."
Ilia congela, mas logo em seguida se endireita e fala calmamente.
"O que importa é que um grimm poderoso foi derrotado e a ilha está mais segura por causa disso." O tom formal dela deixa claro que sua missão como 'serva' não tinha acabado. "Mas com sua licença, preciso me retirar para me recuperar de nossa missão."
Com um aceno de Jaune Ilia se retira, seus passos tortos e pesados na areia, deixam claro que a garota está tonta e cansada.
Frustrado, Jaune resmunga passando a mão pelo cabelo suado.
"Não consigo me livrar dela." Ele murmura, olhando na direção em que Ilia desapareceu. "Tenho que fazer algo bem mais louco e irresponsável para afastá-la."
Tremendo o que poderia ser pior do que matar um Grimm de dentro para fora, me aproximo dele, minha sombra projetando-se sobre seu rosto cansado.
"Quantos pontos a criatura te deu?" Pergunto, direta ao ponto.
Quando aceitei trabalhar com ele levantando essa cidade, Jaune me contou tudo sobre como funciona seu Semblante.
"Trinta mil." Ele responde ainda cansado, mas orgulhoso, curvando seus lábios. "Somado ao que andei matando nesses ultimos dias, essa operação já foi paga e sobrou uns trocados."
"Suprimentos para construção, alimentação da equipe e robôs novos foram todos pagos?" Questiono surpresa.
Jaune confirma com um aceno de cabeça.
"Mesmo os Arc Builders?" Perguntei abrindo um sorriso sacana.
"Não usa esse nomes, foi ideia deles." Responde Jaune apontando para seus ex-colegas de cela.
"Ok. Mesmo aqueles robôs coloridos mais fortes?" Pergunto curiosa. "Sei que eles não são tão inteligentes quanto o Church e Alpha, mas ainda assim são bem surpreendentes, afinal apenas 4 pavimentaram uma estrada ligando aqui até a cidade."
"A inteligência limitada deles e a dependência de alguém para dar ordens fez com que eu economizasse muitos pontos, a versão original deles era basicamente humana." Explica Jaune como se fosse nada demais A.I. verdadeira. "Mas diferente do Church eles estão 'presos' a um corpo físico, igual ao design original."
"O nome 'robô mestre' era do design original?" Perguntei abrindo um sorriso do nome bobo e cafona.
Dando de ombros, Jaune responde.
"Culpa do dr Light e dr Wily." Ele diz sorrindo se virando para o horizonte, encarando o deserto. "Falando sério agora Amber, estou feliz que consegui os pontos, mas a quantidade de Grimms me preocupa."
Franzindo a testa com expressão séria ele se vira para mim.
"Nós somos um posto avançado para cidade." Explica Jaune apontando para Kuo Kuana. "A maioria dos habitantes da ilha está do meu lado agora, mas ainda existe um núcleo duro que me odeia e está criando conflitos pela cidade.
Suspiro cansada me aproximando dele.
"O que gera emoções negativas e que atrai mais grimm." Concluo para o loiro ao meu lado. "Então por que a gente não vai lá e 'resolve' o problema. Entendo que você não queira sujar suas mãos, me dá aquela poção de novo que acabo com eles em uma noite."
Jaune suspira, olhando para o horizonte onde o sol tinha se erguido.
"Eu entendo sua preocupação, Amber." Ele informa suspirando cansado. "Mas vou conversar com Ghira primeiro."
Política parece cansar Jaune, mais do que enfrentar grimms gigantes.
"Que tal se você fazer um vistoria nas obras e já ir falar com Ghira?" Sugeri tentando animá-lo.
"Tem certeza?" Ele questionou surpreso.
"Está tudo indo bem agora, vai logo antes que eu mude de ideia."
"Valeu Amber." Acenou o loiro correndo para fazer a vistoria o mais rápido possível.
[ORIGINAL POV]
'A maioria dos robôs que fiz para ajudar na construção da cidade foram dá série Fallout, eles são bem baratos.' Penso olhando em volta todo o movimento. 'São Eyebots para fazer vigilância e mandar informações para a nova torre de CCT no meio da cidade; Protectrons sem armas para ajudar com trabalho pesado; E vários Mr. Handys para trabalhos gerais e limpeza.'
Caminho me aproximando do grupo de robôs coloridos que poderia ser reconhecido por qualquer gamer old school.
'E é claro os quatro responsáveis por ter acelerado tanto a parte de construção do projeto.'
"Bom ver vocês de novo." Falo em voz alta chamando atenção deles. "Guts man, Bomb man, Metal man e Concrete man."
[Image]
"Saudações, Jaune Arc." Os quatro respondem ao mesmo tempo.
É um pouco triste que eles não tenham mente própria ou personalidade como Church, Delta e o Sarg, mas eu precisei economizar criando eles.
"Fiquei sabendo que a missão de vocês foi um sucesso."
Guts Man em resposta deu um passo à frente e se pôs a falar pelo grupo.
"Sim senhor! A autoestrada que construímos tem 17 quilômetros de comprimento e é projetada para suportar um tráfego intenso, com várias faixas em cada sentido. A largura de cada faixa de rolamento é de 3,5 metros, garantindo que carros movam com segurança. Como ela vai ter duas faixas em cada direção, a largura total das pistas será de 7 metros, só para as faixas de rolamento."
"Ok…" Respondo surpreso com tanta informação falada que não tinha pedido. "Agora vão se apresentar para Amber, preciso ir falar com Ghira na cidade."
Assim que dispenso os robôs, invoco a névoa dourada do meu semblante. Sinto a energia fluir pelo meu corpo, moldando a aura em uma forma específica. Em segundos, o planador do Duende Verde se materializa em baixo dos meus pés, suas linhas elegantes e aerodinâmicas brilhando sob a luz do sol. O planador flutua suavemente se erguendo do solo, pronto para o voo.
"Vamos lá, garoto." Murmuro para mim mesmo, ativando os foguetes na prancha.
Rapidamente decolo com o vento soprando meus cabelos enquanto a prancha começa a tomar altura. A sensação de liberdade é instantânea, o ar fresco batendo no meu rosto enquanto acelero em direção à cidade.
As paisagens de Menagerie passam rapidamente abaixo de mim, um deserto salpicado com oasis, poucas palmeiras e a grande estrada pavimentada que leva diretamente ao meu destino.
Não consigo deixar de ficar maravilhado com o trabalho dos quatro.
"Criar os robôs mestres para me ajudar foi uma boa ideia, mas fazer o Concrete Man foi genial, aquele cara é praticamente uma fábrica de cimento e concreto que só precisa de recarregar uma vez a cada dois dias na minha nave."
Avisto a cidade ao longe, com a mansão Belladonna em evidência.
"Faz uns dias que não visito eles." Murmuro para mim dando uma risada. "Será que eles sentiram minha falta."
Ao me aproximar da mansão Belladonna, diminuí a velocidade do planador, pairando sobre a cidade. Lá embaixo, as ruas, antes tranquilas, agora pulsam com vida. Crianças correm pelas calçadas, seus risos ecoando pelo ar. Elas acenam na minha direção, gritando meu nome com entusiasmo.
Os gritos se misturam, criando uma sinfonia de alegria. O clamor enche meu peito de felicidade e orgulho, abrindo um sorriso em meu rosto.
"Não vou conseguir resistir, vou ter que fazer um show pra essa galera." Murmuro confiante.
[Ghira Belladonna]
Sentado na sala de reuniões encaro Sienna e Audra enquanto reviso minhas anotações.
"Tumulto," começo a falar, sem rodeios. "Temos tido problemas com membros 'radicais' da White Fang causando brigas, dizendo que você, Sienna, é uma falsa líder."
Sienna não se move, mas seus olhos âmbar brilham com um desprezo que conheço bem.
"Eles alegam que Adam Taurus é o salvador dos faunus agora," continua Audra, com a voz grave cheia de ressentimento. "Estão usando isso para justificar suas brigas idiotas."
"Adam…" repito, o nome pesado na minha língua. "Ele sempre teve um jeito de inflamar os ânimos."
"Inflamar é pouco," diz Sienna, finalmente se movendo. Ela se levanta, mãos apoiadas na mesa. "Os membros radicais leais a ele estão dispostos a ferir faunus inocentes pela 'causa'. O máximo que eles vão conseguir na ilha sem humanos por perto é atrair mais grimms."
"Isso eles estão fazendo." acrescenta Audra. "Todo esse conflito aberto triplicou a quantidade avistados perto da cidade. Kuo Kuana já teria sido invadida, se não fosse Jaune lutando contra os maiores e mais perigosos no posto avançado, sem contar também as armas laser que recarregam no sol que ele nos forneceu ."
Sienna fecha a cara encarando Audra com a menção de Jaune. A líder da White Fang sabe que o humano além de inocente é um grande aliado, mas o orgulho tolo dela a impede de aceitá-lo 100%.
"Esses baderneiros não escutam as minhas ordens e estão se escondendo entre os habitantes civis da ilha." Menciona Sienna em um tom derrotado. "Não sei como posso ser útil sem aumentar a insatisfação do povo."
"Humpf." Resmunga Audra na direção da Sienna. "Novidade." Completou a ruiva em um tom sarcástico.
Com seu orgulho ferido Sienna arregala os olhos e aponta o dedo para a comandante da guarda.
"Meça suas palavras papa anjo de humano." Inferiu Sienna.
"Engraçado você falar isso com a sua situação com meu filho." Retrucou Audra.
"O que você está insinuando?" Perguntou Sienna indiguinada.
"Não se faz de besta, sei que você-." Audra tentou falar.
"SENHORITAS!" Gritei interrompendo a troca de 'gentilezas'. "Discutam sua vida pessoal outra hora, precisamos trabalhar juntos para diminuir a agitação civil."
Ambas envergonhadas olharam para baixo.
"Francamente!" Exclamei frustrado. "A solução não vai cair do céu-." Tentei falar.
CRASH!
Mas fui cortado por algo que caiu do céu quebrando meu teto e a mesa entre nós.
Olho para cima, o teto da sala de reuniões, agora um buraco enorme e depois para baixo, mas não consigo ver o que caiu. A poeira levantou e destroços por todo lado destroem qualquer chance de retomar a reunião no presente momento.
Audra e Sienna estão tossindo por estar mais próximo do que caiu.
"Vocês estão bem?" pergunto preocupado.
Audra assente, limpando a poeira do rosto. Sienna, ainda tossindo, acena com a mão, sinalizando que está bem.
Nos aproximamos cautelosamente do objeto que caiu do céu. Parece uma figura humanoide, mas está coberto de poeira e detritos. Rapidamente Audra remove os escombros do corpo, revelando...
"Jaune" Diz Audra preocupada pegando o jovem do chão e abraçando com carinho.
"Sério?" Questiona Sienna em um tom sínico.
É Jaune que caiu no chão. Seu corpo estava coberto de arranhões e hematomas, mas já estava se curando devido sua Aura.
"O que ele está fazendo aqui?" Pergunta Sienna, a voz carregada de desconfiança.
"Não sei." respondo, me aproximando do humano nos seios da comandante da milícia de Menagerie. "Mas precisamos cuidar dele."
Assim que toco no corpo de Jaune, seus olhos se abriram de repente. Ele olha em volta e sai do colo de Audra rapidamente, assustando a todos nós.
Menos Audra, que o puxa de volta num abraço apertado, preocupada com ele.
"Você está bem?" pergunta Audra em um tom carinhoso. "Você não se machucou quando caiu do céu, meu anjo?"
Jaune, ainda desorientado, olha ao redor, tentando entender onde está. Seus olhos pousam em mim e depois em Sienna, que o encara com desconfiança.
"O que aconteceu?" pergunta Jaune, a voz rouca.
"Como Audra mencionou, você caiu do céu." respondo tentando manter a calma. "Literalmente."
Jaune olha para cima, vendo o buraco no teto. Assim que ele entende o que aconteceu ele se desvencilhou do abraço de Audra e limpa a poeira do corpo.
"Desculpem pelo transtorno," diz ele, esfregando a nuca. "Tive um pequeno problema com meu planador, mas prometo compensar pelos danos."
"O teto é o de menos meu jovem." Explico me acalmando. "Mas me diga a que devo essa visita."
Jaune enfia a mão no bolso e tira várias cápsulas com botões. Ele as segura na palma da mão, mostrando-as para nós.
"O que é isso?" pergunto, curioso.
"Sei que a cidade anda meio agitada. E cada uma dessas cápsulas contém uma vasta quantidade de recursos," explica Jaune com um sorriso confiante. "Água, comida, material para construção, ferramentas e muito mais."
Sienna franze a testa desconfiada e questiona.
"E como você planeja usar isso para melhorar o humor dos habitantes de Menagerie?" Pergunta a líder suspeita da veracidade da declaração.
Jaune sorri, um brilho nos olhos.
"Vamos fazer um grande festival."
"Isso é… uma ideia interessante." Murmurei coçando o queixo. "Mas quão grande você pretende fazer."
[Blake Belladonna]
"Finalmente paz e sossego." Resmungo deitada no meu beliche.
Yang saiu para treinar com Pyrrha, Weiss está arrancando seus cabelos de tanto trabalhar abrindo sua própria empresa e Ruby está trabalhando em sua foice para implementar aquele metal estranho que Jaune deu para ela enquanto escuta algo com seus fones no canto do quarto.
Ou seja, o silêncio finalmente reina no quarto do time RWBY.
Para aproveitar esse raro momento de calma, coloco um livro aberto no meu colo. Cada página, um refúgio. O cheiro do papel, o peso das palavras, tudo me transportava para longe. Um momento raro, precioso.
'Nada pode estragar esse momento.' Penso em silêncio virando as páginas do meu livro.
"Blake!"
Uma veia saltou na minha testa, mas consigo não demonstrar 'toda' minha irritação para a minha líder de equipe que está dependurada na minha cama fazendo cara de cachorrinho carente. Fechei o livro, marcando a página com cuidado. Respirei fundo, preparando-me para o que viria a seguir.
"O que foi, Ruby?" Perguntei em um tom neutro forçado.
A pequena ceifadora estava com seu scroll em mãos, ela estava oscilando entre olhar para tela e meu rosto com a boca aberta, como se tentasse falar algo.
"Você…. tipo… morou em Menagerie… certo?"
Ruby estava muito nervosa, e por algum motivo não conseguia me olhar nos olhos.
"Sim?" Respondi em um tom inquisitivo.
"E você é tipo uma princesa? Já que é a filha do rei da dos faunus certo."
Resolvi fechar meu livro e concentrar na conversa. Apesar da declaração exagerada fico feliz de instruir minha colega humana na cultura faunus.
"Meu pai não é o rei dos faunus, ele era líder da White Fang e agora ele é chieftain da maior cidade de Menagerie."
"Kuo Kuana." Responde Ruby me pegando de surpresa.
De olhos arregalados, encaro a garota de capa.
"Sim, você está certa." Confirmei ainda surpresa com conhecimento sobre a ilha.
Mas antes que pudesse questioná-la ela continua a falar.
"Ghira e Kali Belladonna são seu país, sendo sua mãe uma felina faunus com orelhas iguais às suas e seu pai é alto e forte com barbão cheio e bigode aparado."
Meu queixo cai no chão com a descrição correta da aparência dos meus pais.
"Como você sabe?" Questionei surpresa.
Ruby dá uma risada sem graça, mas explica como.
"Eu estava vendo um stream ao vivo de um show que está acontecendo em Kuo Kuana-."
"Ah!" Exclamo entendendo a situação. "Isso aí é fake Ruby, Menagerie nem tem uma torre de CCT."
"Então como você explica isso?"
Ruby vira o scroll para mim, e lá estavam eles. Meus pais, Ghira e Kali Belladonna, cantando e dançando em um grande palco, rodeados por uma multidão eufórica. A cena filmada por drones voadores em varios ângulos era tão vívida que quase podia sentir a energia da plateia, o som das vozes dos meus pais cantando.
{A whole new world / a whole new world
That's where we'll be / that's where we'll be
A thrilling chase / a wondrous place
For you and me…}
Uma lágrima escorre do meu rosto enquanto meu coração se contorce em dor.
A dor das lembranças me atinge como um soco no peito. As palavras duras que falei, o olhar de decepção no rosto do meu pai, o choro silencioso da minha mãe. Tudo isso ecoa na minha mente, uma sinfonia de arrependimento. Mas, ao mesmo tempo, há um alívio inegável em ver meus pais bem, felizes, vivendo suas vidas sem o peso da minha presença problemática.
"Ruby, como…?" Minha voz falha, mas tento me recompor. "Onde você achou essa gravação?"
Ruby sorri, um brilho de entusiasmo nos olhos prateados.
"É ao vivo." Respondeu Ruby sorrindo. "Parece que alguém construiu uma torre em Menagerie e está transmitindo esse show ao vivo para todo o mundo!
"Pelos Deuses!" Exclamei atônita. "Como? Quando? Quem?"
"Como eu não sei, parece que terminaram a obra a poucos dias, quanto a quem…"
Como se concluindo a frase de Ruby, entra no palco recebendo uma salva de palmas uma mulher morena, cabelos negros com orelhas felinas e listras de tigre em seu braço.
"Sienna?" Questionei confusa.
{Uma bela performance do nosso chieftain e sua esposa.} Disse a líder da White Fang fazendo uma pequena reverencia para meus pais. {Lembrando que hoje é na verdade seu último dia como chieftain, não é mesmo Ghira?}
"Ultimo dia?" Questionei mais uma vez, ainda mais confusa.
{É verdade Sienna.} Responde meu pai pelo microfone em sua mão. {E apesar de eu ter me apegado ao título, é importante darmos o próximo passo nesse grande momento para faunus e humanos de toda Remnant.}
Tomo o scroll da mão de Ruby, que apesar de fazer beicinho não reclama.
{Você tem toda razão.} Anuncia Sienna abrindo um sorriso treinado para as câmeras. {Afinal não é todo dia que um reino é fundado.}
"REINO?" Grito surpresa me aproximando da tela.
{E devemos tudo ao homem do momento…} Diz Sienna apontando para a lateral do palco. {Jaune Arc!}
"Jaune?" Eu e Ruby questionamos de olhos arregalados.
O choque me paralisou. Jaune, o garoto loiro cobiçado por metade de Beacon, estava em Menagerie. E não apenas isso, mas aparentemente envolvido em algo monumental. Um reino? Fundado por ele? As perguntas se atropelavam na minha mente, cada uma mais urgente que a outra.
"O que você está fazendo em Menagerie?" Questionei com olhos grudados na tela.
Foi então que me lembrei das palavras de Lie Ren quando o interrogamos sobre Jaune.
'Ele disse que tem algo especial guardado para você…' Era isso que ele estava planejando?
[Corsac Albain]
"Os explosivos estão em posição." Comentou o jovem com cauda de guepardo me entregando o detonador.
"Excelente." Murmurei contemplando o desfiladeiro abaixo.
Rochas gigantes no fundo deste vale serviam como tumba e prisão para um grimm de tamanho apocalíptico.
"Dread Shadow." Murmurei o nome do monstro com um sorriso venenoso em meus lábios.
Respirando fundo me viro para os poucos membros que ainda são leais à causa faunus. Um momento glorioso como esse merece um sermão inspirador.
"A quinze anos atrás, o grande herói faunus, Mino Taurus, se sacrificou para prender a maior ameaça aos faunus de Menagerie."
Minha voz era projetada com grande alcance devido a estrutura do desfiladeiro, o que ajudava a prender a atenção dos aqui presentes.
"E como o povo de nossa ilha retribui seu sacrifício?" Perguntei notando fúria brilhando nos olhos dos aqui presentes. "Vendemos nosso orgulho e dignidade para um humano."
Gritos e vaias concordando comigo vieram dos fiéis, alimentado por ódio e desgosto pelo que tem acontecido em nosso sagrado lar.
Como se em resposta o chão treme, não muito, mas o bastante para eu perceber.
"Tudo que aquele demônio em forma de humano precisou foi distribuir doces e falsas promessas para que a população local se dobrasse a seu favor."
O coro de fúria e frustração é tamanha que preciso erguer a minha mão para silenciá-los.
'Perfeito.' Penso satisfeito. 'Com toda essa emoção negativa, o grimm vai nos seguir quando dirigimos em direção a cidade.
A conformação do meu pensamento é o chão que começa a tremer de forma mais intensa.
"Me sinto mal de ter que desfazer o trabalho deste grande faunus caído, mas seu filho Adam Taurus, seu legado vai nos liderar nesse momento tribuloso." Antes de continuar, ergo minha mão e monstro o detonador para todos verem. "Libertaremos esse monstro para purificar Menagerie dos faunus heréticos que ousaram se unir aos nossos inimigos e a contaminação do humano."
Os gritos parecem se sincronizar com as vibrações que ecoam por todo vale e suas pedras.
Com um último gesto dramático estendo meu braço e aberto o detonador.
"Testemunhem." Declaro com a explosão ocorrendo logo em seguida.
KA-BOOM!
O poder da explosão, somado a nosso coro de emoções negativas é o bastante para enfraquecer a prisão que entuba o grimm gigantesco.
Fumaça negra começa a escapar pelas pedras enquanto os tremores se intensificam.
Um sorriso torto se forma em meus labio só de pensar no desespero daquele humano maldito.
"Quero ver você se safar dessa Jaune Arc."
E ai gurizada?
Ainda estou sofrendo para me mudar para um novo apartamento, mas prometo continuar escrevendo.
Grizz_Rex_89:
O Superman ficaria orgulhoso com lágrimas.
Avip:
Uau. Seu comentário fez meu dia. Obrigado.
Theaceoffire:
Não coloque seu em loucura.
Avip:
Esse é um bom conselho.
