"Após três casos similares, polícia investiga a possibilidade de haver um novo assassino em série atuando na cidade. O registro mais recente aconteceu na tarde de quarta-feira, quando uma mulher de 25 anos foi encontrada morta no beco da rua 47 do bairro de Greenville após ser brutalmente espancada e ter sofrido abuso sexual. Ao contrário das vítimas anteriores, essa foi a primeira vez que a atuação do suspeito foi registrada por uma câmera de vigilância. As imagens mostram uma pessoa mascarada abordando a vítima, antes de imobilizar ela e a arrastar para fora do alcance da imagem.

Continuando nosso giro de notícias, os vigilantes mascarados foram creditados ser os responsáveis pela desarticulação de uma gangue que estava invadindo apartamentos e expulsando moradores de um conjunto residencial..."

Santana desligou o canal de notícias que era transmitido ao vivo na rede social de vídeos. Ela odiava o noticiário, mas via especificamente aquele local porque Mercedes estagiava na tal empresa, o que dava a impressão de que aquele grupo jornalístico tinha potencial de ser menos mentiroso.

"Babe, vem para cama. Amanhã é sábado e a gente deveria fazer amor madrugada adentro."

Santana olhou para Jenny e suspirou admirada consigo mesma. Ela estava com Jennifer May, ou Jenny para os amigos próximos. As duas se conheceram no ano de calouro de Santana, ao passo que Jenny havia entrado no terceiro ano do curso de Psicologia. A garota mais velha era uma ricaça estudante de psicologia, e Santana era simplesmente uma novata de 18 anos do curso de engenharia, que morava em um dormitório do edifício conhecido por abrigar os estudantes bolsistas e pobres. Jenny, que era uma jovem lésbica bastante influente no campus, era conhecida por ser altamente seletiva nas parceiras sexuais, mesmo que tudo estivesse fadado a não passar de uma noite. Na noite em que se esbarraram, tudo indicava que Jenny e Santana seriam uma noite apenas uma para a outra. A história disse o contrário, e houveram muitas noites. Mas as duas jamais estiveram na mesma página.

Jenny, como foi dito, nasceu em uma família que era rica e tradicional, que tinha investidores de petróleo, advogados e políticos na árvore genealógica. Santana vinha de uma família humilde em que ela foi a primeira a conseguir entrar em uma universidade. O pai de Santana era enfermeiro, e a mãe era corretora de imóveis. Santana cresceu em um bairro de classe média baixa, estudou em escola pública onde conheceu a melhor amiga de uma vida inteira, Mercedes Jones, e o primeiro amor, Brittany Pierce. Para Santana, não havia nada de errado em ter algumas noites com uma mulher bonita e que vinha de uma das famílias mais influentes da cidade. Havia momentos em que estar com Jenny era divertido, em especial quando Santana era apresentada a pessoas da alta sociedade, e era vista como um bicho exótico em meio a um zoológico de mão dupla.

Santana e Jenny pareciam incompatíveis em personalidade e nos objetivos de vida, mas elas tinham química debaixo dos lençóis. Era por essa razão que as duas voltavam a se encontrar com uma frequência maior que Santana desejaria, a ponto de Jenny considerar que Santana era a sua namorada, apesar de a estudante de engenharia negar isso veementemente.

"Santana!" Jenny foi até a sala do pequeno apartamento em que morava, e encontrou a namorada em frente ao computador. "Eu estou pronta para você."

"Legal." Santana continuou com a atenção para a tela do computador. "Jenny... o que você sabe a respeito desses criminosos em série?"

"Por que me pergunta isso agora? Esse assunto não é exatamente sexy."

"Porque você é psicóloga e porque eu estou curiosa."

"Bom..." Jenny fechou o roupão e sentou-se no tapete da pequena sala, ao lado de Santana. "O que quer saber?"

"Existe algum padrão sobre esses abusadores em série?"

"Sim, existem alguns padrões. Geralmente são psicopatas. Alguns desenvolvem esse transtorno em decorrência a uma infância e adolescência de abusos, mas isso não é uma regra, porque outros psicopatas vêm de uma família perfeitamente normal com boa situação socioeconômica. Eles também são inteligentes e muito articulados."

"E a relação com a vítima? Existe algum padrão?"

"O psicopata não é necessariamente um assassino. A psicopatia é um transtorno em que a pessoa não expressa nenhum tipo de empatia pelo outro. E quanto ele mata, não o faz gratuitamente. Existe uma motivação, uma tara, um gatilho que variam de caso para caso. De certa maneira, é preciso haver uma conexão. Na faculdade, eu li sobre um caso de um serial killer que era motivado pelos pés das vítimas. O gatilho era sempre mulheres que usavam esmaltes vermelhos... esse cara matou sete mulheres! Ele as abordava em um lugar social, tipo em um bar, as seduzia, tinha relações sexuais aparentemente consensuais, depois ele as estrangulava e levava como prêmio o dedão dos pés."

"Sério?" Santana fez expressão de nojo.

"A maioria deles sempre leva um tipo de prêmio, como um objeto da vítima ou um cacho do cabelo... ou partes do corpo. Esse costuma ser o erro deles. É como a polícia consegue incriminar eles. Por que pergunta?"

"É porque eu vi no noticiário de que um cara anda espancando e violentando jovens mulheres... eu conheço a vítima que sobreviveu."

"É uma de suas conquistas?" Jenny ficou enciumada.

"Não... o nome dela é Rachel Berry. Devo ter mencionado ela alguma vez. É a diva irritante do teatro amador que tenta sabotar Mercedes." Santana franziu a testa por um momento. "Será que ela ainda está em risco por ter sobrevivido?"

"Não tem como saber." Jenny fechou o computador de Santana e puxou o rosto dela para um beijo. "Você não veio aqui para discutir sobre psicopatia comigo, ou veio?"

Santana encarou Jenny e aproximou o rosto para beijá-la. Sem perder tempo, a mão dela desceu o baixo ventre e os dedos de Santana começaram a rotacionar o pequeno órgão sexual, para estimular o prazer da parceira. Jenny abriu o roupão e deitou no chão da sala, convidando Santana a posicionar a cabeça entre as pernas dela.

...

Marley agradeceu a Artie pela sobremesa. Desde que ela mencionou que gostava de gelatina de morango, o colega de trabalho assumiu que essa era a sobremesa favorita dela, e a comprava no mesmo lugar pelo menos uma vez por semana. Gelatina e morango não era a sobremesa favorita de Marley, e ela estava um pouco enjoada de comer isso toda semana. Mas ela não dizia a verdade para Artie para não ferir os sentimentos do colega.

"O pessoal do cassino está em apuros." George rompeu a notícia.

"O que aconteceu?"

"Roubaram 50 mil dólares nas mesas, e eles perderam as imagens dos caras."

"Cabeças vão rolar." Marley disse enquanto engolia a gelatina de morango.

"A cabeça de Josh vai rolar." Artie argumentou. "Ele é o chefe de segurança. Se quer saber? Bem feito."

"Ainda magoado porque ele te chamou de amador?" Marley riu.

"Não se pode fugir do carma." Artie sentenciou. "Aliás, o que vai cantar hoje a noite?" Ele se dirigiu a Marley.

"Hoje à noite? Nada."

"Por que?"

"Porque hoje eu serei plateia. Uma amiga minha, que também é compositora, vai apresentar as músicas que ela escreveu. São lindas."

"Quem é ela?"

"Marissa Blando. Vocês precisam ver. Ela é absolutamente fabulosa."

O dia de trabalho transcorreu sem nenhum acidente. As fofocas que envolviam a trapaça no cassino correram entre os funcionários, apesar das orientações de que o assunto estava terminantemente proibido de ser comentado. Inclusive, houve ameaças de que se o assunto chegasse à imprensa, cabeças iriam rolar dentro da empresa. Para Marley, nada daquilo a interessava. Ela não ganharia absolutamente nada vazando a informação para jornalistas. O trabalho do trio de TI's dizia respeito ao hotel, mas não ao cassino, que era gerido por um sistema próprio, com equipe própria. Por isso, a investigação sobre a trapaça não bateu à porta de Marley, Artie e George.

Marley caminhou ao bar costumeiro ao final do expediente. Nem mesmo Artie a acompanhou neste dia, pois ele argumentou que tinha outro compromisso. A turma que ela encontraria no bar estava muito mais próxima aos amigos que ela tinha em comum com Unique, do que os nerds aficionados por eletrônica e computadores. Quando Marley chegou, cumprimentou Roderick Meeks, que organizava a agenda de shows e de eventos no bar, além de ser um dos sócios do empreendimento. Roderick também tinha um estúdio de gravação que costumava alugar para artistas independentes que buscavam uma qualidade de som e de mixagem com um pouco mais de qualidade do que nos estúdios montados nas garagens de casa.

"Melissa chegou?" Marley perguntou a Roderick.

"Está ali aquecendo a voz."

Por aquecer a voz, entende-se tomando algumas doses de conhaque. Marley foi até a amiga. As duas se abraçaram e deram um beijo no rosto. Sorrisos estavam fartos. Roderick apresentou a atração da noite. Melissa subiu ao pequeno palco e se apossou do teclado, acompanhada de Raphael no violão. A noite foi um sucesso. Marley vibrou com a amiga, que fez um belíssimo setlist de seis canções autorais. Melissa era uma artista folk indie que tinha uma voz grave e rouca muito peculiar. Ela colocava tanta energia nas interpretações, que foi comparada a um vulcão em erupção.

Um drink de celebração depois, Marley decidiu voltar ao hotel. Desta vez em direção a boate em que Unique costumava brilhar. Chegou, por coincidência, em meio a um belting poderoso de Unique, em que ela sustentava a nota por 15 segundos. É claro que o público adorava ver aquela mulher trans enorme, em seu vestido brilhante, dominar o palco e a plateia como se fosse a dona do mundo. Marley aplaudiu a amiga, e ainda teve a chance de vê-la cantar a última música da noite, quando a casa noturna encerrava as atividades no palco, e se tornava um bar comum em que as pessoas ouviam e dançavam músicas vindas de um jukebox, jogavam bilhar e bebiam até cair.

"Marley, querida!" Unique cumprimentou a melhor amiga assim que a viu no camarim. "A que devo a honra? Faz semanas que você não vem me ver no palco."

"Eu estava no bar vendo Melissa e decidi esticar a noite contigo."

"Como ela foi?"

"Divina. Ela superou o medo de palco com algumas doses de conhaque, mas foi tudo bem."

Marley ajudou a amiga a tirar a peruca e depois desceu o zíper do vestido. Unique tinha implantes nos seios, mas não tomava hormônios por medo dos medicamentos alterarem a voz dela. Ela também não pensava em fazer a cirurgia de adequação genital, porque Unique nunca se incomodou com o próprio pênis, muito menos os homens com quem ela se relacionava sexualmente.

Marley e Unique tinham uma amizade que vinha desde o ensino médio. Marley era uma criança de 11 anos em meio a um bando de adolescentes hormonais e garotos que a viam como uma presa. Unique, três anos mais velha, foi quem a protegeu ao longo de todo ensino médio. Àquela época, Unique era ainda um alterego de Wade Adams, cuja mãe era confeiteira e o pai era chefe da equipe de segurança de uma empresa local. Wade Adams era um garoto gay que gostava de vestir as roupas femininas dentro de casa, mas não se arriscava em fazer isso na escola. Wade se tornou Unique no último ano do ensino médio, em um ato de autoafirmação apoiado especialmente pela mãe e por Marley.

A relação entre Unique e Marley foi brevemente interrompida quando a garota mais jovem foi para outra cidade estudar em uma das melhores Universidades do país. Unique continuou o projeto dela de ser a melhor cantora e performer possível. Quando Marley perdeu a bolsa de estudos, foi Unique que propôs que elas dividissem um apartamento, e a amizade foi reestabelecida.

"Tem planos para a noite?" Marley perguntou.

"Não tenho, e se quer saber, nem estou a fim de perguntar às meninas se querem esticar a noite em algum outro lugar. O que acha de irmos para casa e assistir a um filme?" Unique propôs.

"Você anda muito caseira nesses dias. Estou te estranhando."

"Estou um pouco saturada dessa vida noturna. Acho que preciso de férias."

"Eu também acho. Se quer saber? A gente deveria usar as nossas economias para passar uma semana em alguma praia do Caribe."

"Isso seria perfeito."

"Depois, eu acho que você deveria voltar àquele seu projeto de se juntar à companhia de Shelby Corcoran."

"Será? Eu ganho mais dinheiro aqui."

"Mas você seria mais notada e o seu talento seria melhor reconhecido em um palco importante do teatro musical."

Unique terminou de trocar a roupa e finalmente abraçou de lado a amiga.

"Vou considerar a sua proposta, mas antes, quero deitar na minha cama quentinha, assistir a um filme qualquer contigo, só para dormir dez minutos depois. O que acha?"

"É um plano perfeito para hoje a noite."

A volta para casa foi calma. A vizinhança estava vivendo a sua normalidade, e a única discussão mais passional que houve entre Marley e Unique foi em relação qual filme assistir, mesmo sabendo que as duas cairiam no sono durante a exibição. No dia seguinte, Marley foi a primeira a acordar, como era usual. Ela tomou o café, foi se exercitar, e agradeceu por ser fim de semana. Unique era quem tinha compromisso com trabalho naquele sábado, quando teria que performar na boate no período da noite. Marley não quis tirar os pés de casa naquele fim de semana. Ela passou o dia assistindo filmes. Até a comida veio por delivery naquele dia. Quando Unique saiu para trabalhar no final da tarde, Marley desejou boa sorte e se desculpou por não estar disposta a ver a performance de Unique naquele sábado.

Então o telefone dela deu o sinal de alerta que uma mensagem havia chegado.

"Pessoal, é muito triste informar isso a vocês dessa maneira, mas é melhor assim do que pelo noticiário amanhã. Nossa querida Melissa foi encontrada morta hoje pela manhã." - Rodrick

...

Rachel estava apreensiva com a volta ao trabalho. O psicólogo a encorajou a continuar a viver a vida, porque se ela sucumbisse ao medo e ao isolamento, também estaria permitindo que o agressor dela exercesse completo domínio. Para ajudar a volta de Rachel Berry ao mundo da qual ela passou quase um mês se escondendo, Finn prometeu auxiliá-la no que fosse preciso, em especial com o transporte. Ele a deixou no trabalho prometendo retornar no fim do expediente.

"Rachel!" A diva suspirou ao reconhecer a voz do desafeto.

"Jane..."

"Eu só queria dizer que estou feliz por ter voltado." Jane expressava uma rara simpatia.

O que Rachel sofrera causava certa comoção e simpatia por quem a conhecia. Era nesses momentos em que Rachel não conseguia decidir se tais reações eram desejáveis ou não. No fundo, tudo que ela queria era a normalidade. Ela preferia a Jane antipática, ela preferia que os detratores continuassem às claras quanto ao que sentiam. Porque Rachel sabia que a simpatia era temporária, e ela temia se habituar a ela e se ferir quando o período de tréguas acabasse. No entanto, ela sorriu para Jane.

"Obrigada, Jane. Isso significa muito para mim."

Rachel colocou o uniforme completo e foi para a linha de frente. O restaurante iria abrir em cinco minutos. Em dias normais, sem atrações, levava pelo menos meia hora até o primeiro cliente aparecer para consumir o que ficava entre o lanche da tarde ou uma happy hour. Nos dias com atrações culturais disputadas, formava-se fila logo ao abrir. Mas aquele era apenas um dia normal, sem atrações musicais ou culturais. Nada além dos serviços usuais: boas refeições, boas opções de bebidas, tudo a um preço desconectado com o real valor das coisas.

Os primeiros clientes apareceram. Em seguida vieram outros e Rachel foi se reabituando à labuta depois de um mês parada no tempo. Nenhum cliente conhecia a história dela, nenhum cliente sabia o que sofreu. Pela primeira vez, Rachel percebeu que o anonimato poderia ser muito bom, que a decisão de dela, de Burt e de Leroy em bloquear toda tentativa de divulgação dos dados da suposta primeira vítima de um aparente serial killer foi extremamente acertada. Rachel, de fato, não desejava a mesma atenção que Tina teve no mês anterior, quando foi uma quase-vítima de uma ação do vigilante.

"Que porcaria de noite." Carl reclamou.

"Poucas gorjetas." Rachel concordou enquanto contava sua parte. "Mas é melhor do que não ter nada. Eu passei um mês dependendo do meu pai, e vou passar um mês dependendo do meu melhor amigo até conseguir voltar a pagar minhas próprias contas. É uma sensação horrível ter que depender de outras pessoas."

Carl concordou enquanto retirava o uniforme. O que era tão trivial fez com que Rachel se sentisse desconfortável. Ela sorriu para o amigo, pegou o celular e saiu do vestiário com a desculpa que precisava fazer uma ligação. De fato, ela precisava mesmo para saber sobre Finn. Não havia mensagens dele, e por isso telefonou. Finn não atendeu. Rachel começou a ficar preocupada e ligou para Kurt.

"Ei Rach." O amigo atendeu.

"Kurt, você sabe onde está Finn? Ele ficou de me buscar."

"Oh... é verdade."

"O que aconteceu?"

"Finn estava bem vocal sobre querer enfrentar o vigilante por causa do que aconteceu contigo."

"O quê?"

"Ele me mandou uma mensagem como se tivesse conseguido um encontro. Eu não sei se ele caiu na armadilha."

"Kurt, estamos falando de Finn." Rachel disse aflita.

"Sim... provavelmente ele caiu na armadilha."

"Eu vou ligar para a polícia agora."

"Não se aflija. Espere um pouco, talvez uns dez minutos. Se ele não chegar aí nesse tempo, pegue um táxi e venha para casa."

Rachel desligou o telefone e se apavorou. Ela pegou seus pertences no vestiário do restaurante e saiu vestida ainda no uniforme. A agonia fez com que ela sequer esperasse suas companhias mais usuais. Rachel andou rumo ao metrô em um passo acelerado. No entanto, antes de conseguir descer até a estação. Foi abordada por uma pessoa mascarada. Ela olhou para os lados e achou irônico que as ruas sempre estavam vazias em uma hora como aquela.

"Fique quieta." O mascarado ordenou.

Rachel fez menção em desobedecer e gritar com toda força que ela tinha nos pulmões. Mas ela claramente sentiu-se ser atingida por algo, algum tipo de pressão enérgica que pareceu estrangular a garganta dela. Mesmo assim ela tentou, mas nenhum som saiu. O homem mascarado a puxou para uma área entre ruas que dava acesso a um pequeno parque que ali existia, desses movimentados durante o dia e evitados durante a noite.

"Você não deveria ter escapado da primeira vez." O mascarado a arrastava parque adentro, e Rachel tentava gritar, mas nenhuma voz saía. "Não vai acontecer mais."

O pânico tomou conta o corpo de Rachel quando o homem mascarado a jogou no chão como num golpe de judô. Rachel bateu com as costas chapadas no chão de gramado e perdeu o fôlego. Pronto. Ela sabia que não tinha mais jeito. Ela não conseguia gritar e não seria páreo em uma luta contra aquele homem que estava disposto a fazer com ela tudo que tinha feito da primeira vez, com a diferença que ele teria cuidado em não a deixar viva.

Foi quando o inesperado aconteceu. A visão de Rachel estava turva, mas ela viu uma segunda pessoa mascarada pegar ser agressor e literalmente arremessar ele para longe com uma força que um ser humano não possuía. Rachel pôde observar uma luta aparentemente não muito justa em que um dos mascarados estava quebrando a cara do outro até chegar um momento que um deles caiu, e foi imobilizado nos pulsos com um lavre e plástico que policiais usavam para algemar um grande número de pessoas.

Por fim, a máscara dele foi retirada. Rachel relutantemente se aproximou. Ela poderia simplesmente correr, mas a curiosidade tomou o melhor dela. O vigilante parecia tentar falar algo, mas a voz também não saía. Ele apontou para a própria garganta e depois fez o sinal como se perguntasse se Rachel estava ouvindo. Rachel ignorou o vigilante por um momento e viu o homem sem a máscara. O coração dela deu mais um salto quando percebeu que ela conhecia aquele sujeito como um cliente recorrente do restaurante.

O vigilante a tocou no ombro e isso ascendeu novamente uma onda de pânico em Rachel. O corpo dela começou a tremer de maneira descontrolada, ela sentiu falta de ar, e parecia que o estômago dela estava em chamas. Essa onda de choque, de queimação e de pânico passou para os braços, e Rachel empurrou o vigilante. Empurrou não: ela literalmente o arremessou contra uma árvore, e desmaiou em seguida.

Rachel achou que ficou desmaiada por um segundo, porque quando levantou a cabeça novamente, viu o homem com os pulsos amarrados ainda no chão, e o segundo mascarado sentado contra a árvore, aparentemente desmaiado. Pela segunda vez, Rachel poderia ter corrido dali, mas pela segunda vez, a curiosidade tomou conta. Ela foi até o mascarado desmaiado contra a árvore. Sem hesitar, ela retirou a máscara dele e ficou ainda mais chocada por também conhecer aquela pessoa.

"S.. ." Era tudo que a voz ela conseguia produzir naquele momento.

O vigilante despertou e arregalou os olhos em pânico ao se ver sem a máscara. O vigilante levantou-se em um impulso e a expressão era literalmente de choque e de pavor por ter tido a identidade comprometida. O vigilante continuava a tentar falar, mas durante o embate com o serial killer, ele foi atingido por algum tipo de onda que comprimiu a garganta e o deixou sem voz. Mas o pior de tudo não foi isso. O vigilante também estava muito surpreso ao perceber que foi abatido por uma onda muito forte de energia que surgiu a partir de Rachel Berry.

Aconteceu um movimento ao longe. O vigilante pegou a máscara das mãos de Rachel, a vestiu novamente e a puxou para fora daquele caminho. O serial killer ainda estava ali amarrado e sem máscara. Eles viram ao longe um vigilante do pequeno parque se aproximando e já acionando um reforço pelo rádio. O vigilante foi puxando Rachel, a segurando pela gola do uniforme o restaurante até o limite do parque, e de lá apontou para a estação do metrô, como se tivesse a mandando voltar para casa. Rachel queria obedecer, mas na abordagem do serial killer, a bolsa dela caiu em algum momento.

"Ah... ah... ss... sss." A voz ainda não saía e por fim ela fez uma gesticulação com o dedo dizendo que estava sem dinheiro e outro gesto dizendo que estava sem o celular.

O vigilante suspirou e retirou a máscara, a colocando por dentro do casaco largo e preto. Por fim, apontou para a entrada do metrô, como se convidando Rachel a acompanhar. Rachel e o vigilante sentaram lado a lado no vagão. Era uma situação inusitada e extremamente desconfortável. Rachel sinalizou que deveria descer naquela estação, e o vigilante levantou-se para acompanha-la. Caminharam lado a lado em uma situação completamente incômoda até Rachel chegar na portaria do edifício em que dividia o apartamento junto com Kurt.

Rachel queria dizer alguma coisa, mas o vigilante encostou o dedo indicador nos lábios em sinal de silêncio, como se implorasse pela discrição de Rachel. Por fim, foi embora. Rachel subiu para o apartamento sem conseguir lidar com as próprias emoções.

"Rachel!" Ela ouviu Kurt gritar. "Estou tentando te ligar há horas. O que aconteceu contigo? Você está suja, em seu uniforme de trabalho... descabelada... cadê as suas coisas?"

Rachel encarou o amigo e se esforçou para falar.

"F... F... Finn?" A voz que saiu não parecia pertencer a ela. Era rouca, estranha, e ela sentiu uma terrível dor na garganta.

"Finn caiu em um trote por causa das bobagens que postou nas redes sociais. Ele ligou desesperado porque quando ele chegou no restaurante, você já tinha ido embora. Ele ainda deve estar te procurando. Cadê as suas coisas?"

Rachel apontou para o próprio quarto e se dirigiu para a segurança do próprio espaço. Ela deixou que Kurt resolvesse a confusão com Finn. Porque ela própria não tinha condições. Rachel deitou na cama dela, abraçou um dos travesseiros e não conseguiu dormir. Permaneceu parada, em posição fetal, pressionando o travesseiro contra o próprio peito pelo resto da noite.