Rachel Berry estava em uma missão após o incidente no parque. Havia muitas perguntas em sua mente desde esse dia. A primeira delas era qual o nome do cliente do restaurante e atual serial killer da cidade? Sobre essa parte, depois que Rachel contou o que aconteceu, omitindo partes importantes, para Kurt e Finn, e os três foram para a delegacia no dia seguinte fazer um retrato falado do agressor. Era um elemento a mais para a polícia investigar o assassino de mulheres, que tinham em comum o fato de serem cantoras amadoras. A segunda pergunta que pululava na cabeça de Rachel era sobre ter poderes. Nunca em um milhão de anos ela pensou ser "especial" nesse sentido. Bom, ela achava que ter a voz e a capacidade de canto que tinha era o poder especial dela. A última pergunta era: como diabos, entre todas as pessoas, Santana Lopez, logo ela, poderia ser a vigilante? Ou um dos vigilantes?
Após o ataque no parque, Rachel passou três dias em casa se recuperando do novo trauma. Mas, desta vez, suas inquietações por respostas foram mais eficientes em tirá-la de casa do que conversas com o psicólogo.
"Você tem certeza?" Kurt franziu a testa.
"Eu quero voltar a estudar, Kurt." Rachel insistiu. "Eu não posso me transformar em uma enclausurada. Eu preciso viver sem medo."
"Tudo bem, eu te entendo. Mas por favor, me espere após as aulas. Ou ligue para Finn. Não fique desacompanhada por motivo algum."
"Prometo."
Kurt e Rachel pegaram o metrô e foram juntos à faculdade comunitária. O trajeto foi o mais rotineiro possível, o que era positivo para Rachel. Ela também fez questão e conservar toas as outras coisas da própria rotina. Ao entrar no prédio mais moderno, foi até a cafeteria e ganhou um sorriso atípico de Quinn Fabray. Não apenas isso, como também um abraço apertado dela.
"Fico muito feliz por ter voltado a estudar, Berry."
"Obrigada!" Rachel sentiu-se estranha e lisonjeada ao mesmo tempo pela expressão de carinho da jovem mulher.
"O café hoje é por conta da casa."
"Quinn, não precisa..."
"Faço questão."
Rachel aceitou o habitual capuccino e foi acompanhada por Kurt até a porta da sala de aula. Ela viu os colegas, que àquela altura sabiam sobre o assalto, embora Rachel percebeu que a história completa não foi contada. Isso foi algo positivo. Rachel agradeceu às manifestações de carinho, assistiu à primeira aula, mas não voltou para a segunda aula do dia. Em vez de esperar por Kurt ou Finn, Rachel pegou um ônibus que transitava em direção ao campus da Universidade Estadual. O lugar era relativamente conhecido por ela, não apenas por causa de Tina, como também se lembrava perfeitamente da excursão que a turma do ensino médio fez para conhecer o campus. Afinal, a Universidade Estadual era a maior e mais renomada instituição de ensino superior que existia na cidade.
O dormitório Stevenson era um prédio de 40 anos de idade que destoava dos demais edifícios do campus, que ou eram centenários, ou eram de arquitetura moderna. O dormitório Stevenson mais parecia um prédio retangular de arquitetura soviética dos anos 1960, totalmente sem personalidade. Isso era o que Santana Lopez costumava dizer. Mesmo desconhecendo a opinião sobre arquitetura da colega de teatro amador, Rachel concordaria. Rachel não tinha mais o velho telefone celular, em que guardava todos os contatos telefônicos. Ela o perdeu no parque. Mas ela conhecia o endereço de Santana Lopez e de Mercedes Jones devido às repetidas vezes que Santana gostava de dizer: Stevenson, 304!
Rachel foi até o apartamento em questão, e o encontrou trancado. Era quase meio dia, e pela hora, a classe da manhã de Santana Lopez ou de Mercedes Jones deveria estar no fim. Rachel sentou-se no chão não muito limpo ao lado da porta do apartamento e esperou. Acenava com sorrisos sem graça às pessoas que passavam por ali. Ela não soube precisar quanto tempo ficou esperando, mas pela quantidade de músicas que cantou dentro da própria cabeça, foi pelo menos meia hora. Sentiu vontade de ir ao banheiro, e relutou por um momento, lembrando da história que Mercedes contou a respeito de o local ser unissex. A experiência de Rachel mostrou que Mercedes tinha um ponto válido.
"O que está fazendo aqui?" Mercedes perguntou a garota encostada à porta do dormitório dela.
"Oi..." Rachel disse sem jeito. "Desculpe não ter avisado, mas eu perdi o meu celular... e vocês falavam tanto do dormitório Stevenson, apartamento 304, que eu nunca consegui esquecer esse endereço."
Mercedes encarou a garota por um momento. Não era difícil adivinhar porque Rachel estava ali. Santana contou o que aconteceu dias atrás no parque, por isso as duas esperavam tal visita cedo ou tarde. O que as colegas de quarto não imaginavam era que a espera seria de três dias. Para a surpresa da diva, Mercedes abriu a porta e a convidou a entrar. Sem dar explicações, a estudante de jornalismo abriu um armário e tirou de lá uma bolsa.
"Santana conseguiu encontrar a sua bolsa. O seu celular já era. Está nas mãos de alguém."
"Como?" Rachel pegou a bolsa e conferiu o conteúdo. Os documentos dela, o cartão de crédito e os 52 dólares que tinha em espécie estavam todos ali dentro, além da caderneta de anotações, o crachá do restaurante, as chaves de casa, o pequeno estojo onde guardava batom, remédio para dor de cabeça, uma camisinha e um pacotinho de absorvente.
"O que você acha, Rachel? Eu conheço a garota desde quando éramos crianças. Eu estava lá quando os poderes dela começaram a se manifestar. Eu estava lá quando ela beijou outra garota e entrou em pânico. Eu estava lá quando ela colocou uma máscara pela primeira vez." Mercedes gesticulou para o ambiente. "Nós moramos juntas. A garota é praticamente a irmã que eu nunca tive. Se existe uma pessoa em que Santana pode confiar os segredos dela, essa sou eu."
"É justo." Rachel acenou e permaneceu de pé enquanto Mercedes digitou uma mensagem no celular dela. "Há quanto tempo Santana... veste uma máscara?"
"Isso não é da sua conta." Mercedes continuou com a atenção voltada para o celular. "Não é porque você descobriu uma coisa que eu vou automaticamente me abrir contigo."
"Não é que eu queira me meter na vida dela..."
"Rachel, caia na real. Você tenta se meter na vida até de desconhecidos." Rachel quis reagir à ofensa de Mercedes, mas recuou por um momento. "Santana disse que vem direto para cá."
"Okay." Rachel acenou e observou Mercedes se movimentar pelo quarto. "Como ela consegue?"
"O quê?"
"Estudar, fazer atividades sociais e ainda colocar uma máscara?"
"Santana não dorme muito." Mercedes pegou a bolsa e o computador. "Você pode esperar aqui dentro, só não bisbilhote as nossas coisas. Se eu descobrir que você andou xeretando o meu lado do quarto, coisa que nem Santana faz, você está ferrada, Rachel Berry."
"Não vai esperar por Santana?"
"Eu preciso?"
"Não realmente."
"Santana pode ter uma língua aguçada, mas ela não morde. Pelo menos, não quando ela está sem a máscara. Você vai ficar bem."
Rachel acenou e viu Mercedes sair como se estivesse com pressa. Rachel sentou-se em uma cadeira, presumindo que aquilo lhe seria permitido. Ela olhou o ambiente que não tinha mais do que 15 metros quadrados e ficou admirada como duas pessoas completamente diferentes poderiam conviver naquele espaço tão pequeno. O lado presumidamente de Mercedes era mais organizado, e tinha um cartaz sindicalista na cabeceira da cama dela. O lado presumidamente de Santana tinha um quadro escrito "algo de errado não está certo", e ela tinha uma pequena bandeira do arco-íris na mesa de estudos.
A porta do dormitório foi aberta mais uma vez, e Rachel endireitou a postura ao ver Santana Lopez. A cantora estava com muitas dificuldades em conciliar a visão que tinha da estudante de engenharia com a de uma vigilante, especialmente que a salvou do segundo ataque. Santana a encarou por um momento. Ela colocou a mochila em cima da cama, e mostrou uma marmita a garota.
"Está com fome?" Santana ofereceu o alimento.
"Eu sou vegetariana."
"Pode comer a salada. Eu fico com a carne."
Rachel estava morrendo de fome. A última coisa que colocou no estômago foi o capuccino feito por Quinn horas atrás. Ela pegou a marmita e comeu a salada crua rapidamente, deixando o pedaço de frango grelhado para a vigilante.
"A comida do refeitório não é grande coisa, mas é o lugar mais barato." Santana disse enquanto observava Rachel se alimentar. "Mas presumo que comida de coelho tenha o mesmo gosto em qualquer lugar."
"A salada está boa, obrigada." Rachel terminou de comer e repassou a marmita para Santana, que pegou o garfo e começou a espetar a carne de frango.
"Eu presumi que você viria aqui eventualmente. Foi uma surpresa que levou três dias." Santana disse com o habitual sarcasmo, enquanto finalizava rapidamente a refeição, já se sentindo frustrada em saber que logo sentiria fome outra vez.
"Eu precisava lidar com meus traumas antes para conseguir sair da cama mais uma vez." Mesmo identificando o pouco caso na voz de Santana, Rachel pensou que a melhor política seria a sinceridade.
"É justo." Santana levantou-se, foi até Rachel e a olhou de perto em uma distância nada confortante. "Mate a minha curiosidade, Berry: por que não usou os seus poderes no primeiro ataque? Por que foi usa-los logo contra mim?"
"Porque eu não sabia que podia fazer isso. Aquilo... nunca tinha acontecido antes. Eu estou aqui também na esperança que você explicasse."
"Está dizendo que aquela foi a primeira vez que você manifestou qualquer tipo de poder?"
"Eu nem sei se fui eu mesma."
Santana jogou a marmita na lixeira e suspirou. O assunto Rachel Berry era mais delicado e complexo que ela poderia imaginar. Infelizmente, ela não tinha a mesma sensibilidade e empatia que seu companheiro de vigilância. Grant seria muito melhor para lidar com tal problema.
"Berry, não é que eu seja especialista nisso. As pessoas que conheço que possuem poderes especiais cabem nos dedos de uma mão. E todas essas pessoas, assim como eu, manifestaram seus poderes na puberdade. Mas eu ouvi uma história de um sujeito de manifestou os poderes dele depois de adulto, e foi por conta de um trauma. Não sei de todos os detalhes, mas esse homem atropelou uma pessoa e a matou. Ele ficou desesperado quando recebeu a acusação criminal e entrou em combustão. Literalmente."
"Ele morreu queimado?" Rachel levou a mão a boca.
"Não... ele se matou dias depois que entrou em combustão, queimou a casa inteira e matou a namorada... também sem querer."
"Isso é horrível!" Rachel estava profundamente chocada e temerosa.
"Pelo menos a gente concorda em alguma coisa. Foi sim horrível!" Santana foi até a janela e olhou brevemente a paisagem. "O meu ponto, Berry, é que eu não sei porque algumas pessoas tem poderes. Mas eu sei que é preciso trabalhar nisso ou coisas ruins podem acontecer."
"Eu concordo..." Rachel ficou inquieta. "Só não sei como? Eu nem sei nem mesmo se isso pode acontecer outra vez."
"Vamos ter que descobrir... assim como também teremos que descobrir quem é o seu agressor."
"A polícia está no caso. Eu fiz o retrato falado dele." Rachel suspirou. "Eu lembro de tê-lo visto algumas vezes no restaurante em que eu trabalho." Rachel disse com certa dificuldade em acompanhar o raciocínio de Santana, que estava em modo negócios naquele momento.
"Sério? Esse retrato falado já tem um nome?"
"Ainda não. Pelo menos eu acho que não... a polícia não é obrigada a me atualizar sobre as investigações."
"Tudo bem."
"Você também está investigando esse caso?"
"Eu não sou detetive, Berry."
"Mas você é a vigilante."
"Uma vigilante... eu apreciaria se você dissesse isso mais baixo. As paredes daqui são finas."
"Desculpe."
"Berry, essa é uma parte da minha vida que sinceramente eu não quero e nem vou dividir contigo. Por outro lado, eu gostaria imensamente que você mantivesse essa informação para você mesma."
"Eu não vou contar a ninguém, Santana. Você tem a minha palavra."
"Obrigada." Santana suspirou. Ela não confiava em Rachel Berry, mas ela não tinha outra escolha a não ser contar com a discrição dela sobre o assunto. "Agora sobre você ter poderes... olha, quanto a isso a gente não tem muitas opções. É óbvio que você tinha isso de maneira latente até ser liberado em um momento de estresse. Eu não sei se isso pode acontecer de novo, Berry, mas eu sei que você precisa aprender a controlar seja lá o que você tem aí dentro."
"Como? Eu não conheço ninguém com poderes extraordinários... você foi a primeira."
"Com toda sinceridade, eu sou uma péssima professora. A questão é que eu não tenho muita escolha. Acho que nem você."
"O que vamos fazer?"
"Eu vou te ajudar no que for possível, Berry. É só o que eu posso oferecer."
"Você também pode pegar o meu agressor e fazer um pouco de justiça."
"Berry, eu não posso te fazer promessas. Eu saio a noite... eu uso uma máscara... mas eu tenho outras coisas na minha vida. Meus estudos não são de fachada. Eu ganho uma bolsa para estar aqui e eu quero estar aqui. Pode ser que a polícia faça um trabalho melhor e descubra o seu agressor primeiro do que eu."
"Ou seja, eu não sou a sua prioridade."
"Você se tornou uma das minhas prioridades. Só que você não é a única."
Rachel fechou os olhos por dois segundos. No fundo, ela sabia que não podia culpar Santana e nem exigir nada dela. Santana não foi responsável pela agressão que Rachel sofreu. Racionalmente, sabia muito bem disso. Mas emocionalmente era outra história. Rachel estava completamente em desiquilíbrio nesse aspecto, e era o lado emocional que sentiu raiva de Santana, achando que a vigilante era uma pessoa egoísta e mesquinha.
"Eu entendo." Rachel pegou a bolsa dela. "Obrigada pela atenção... e por recuperar a minha bolsa."
"Berry. Por favor."
"Santana, eu reafirmo que o seu segredo está a salvo. Muito obrigada por me receber."
Rachel saiu do dormitório a passos largos. Ela sabia que naquela altura Kurt e Finn deveriam estar loucos atrás dela. Rachel foi até o ponto de ônibus e esperou o transporte, cujo painel indicava que haveria uma espera de pelo menos 10 minutos. Nesse meio tempo, Santana apareceu correndo.
"Berry!" Ela sacudiu as chaves do carro em uma das mãos. "Deixa eu te dar uma carona até em casa. Por favor."
Rachel olhou rapidamente para duas estudantes que também aguardavam transporte naquele ponto. As garotas observavam a cena com médio interesse, mas só porque não havia mais nada acontecendo. Ela encarou a vigilante e olhou mais uma vez para o painel de informação.
"Eu não sou tão frágil assim. Eu ainda posso pegar um ônibus."
Santana acenou e se sentou no banco de espera. Não trocou mais palavras com Rachel Berry, ainda assim, esperou até que a garota embarcasse no transporte assim que ele chegou naquele ponto. Sentiu que Rachel lhe daria trabalho, o que era frustrante. Sem mais o que fazer, retornou ao dormitório. Santana olhou ao redor do próprio quarto e, por alguns minutos não sabia o que fazer, nem por onde começar a resolver os problemas que precisava administrar.
...
Quinn olhou mais de uma vez no endereço fornecido por Grant. Ela achava que era papo furado a história de ele ter poderes matemáticos, que o fazia ter movimentos precisos e etc. Tudo o que ela testemunhou foi Grant acertando uma placa de sinalização com pedrinhas. Ainda assim, Quinn precisava verificar se a ajuda que ela tanto almejava durante todos esses anos era real. Ela arrumou Beth para sair junto com ela. Ficou muito tempo em dúvida se deveria ou não levar a criança consigo. Grant garantiu que não haveria nenhum risco para Beth. Ao contrário, que a garotinha poderia acompanhar a mãe, com a condição de ser instruída a não espalhar o que possivelmente fosse ver.
"Mamãe, você ligou o ar condicionado de novo?" Beth perguntou a Quinn quando a temperatura do quarto começou a cair. "Estou com frio."
"Desculpe docinho. Eu vou desligar." Quinn sorriu e procurou se controlar. Deixar-se levar pelas emoções fazia os poderes dela se manifestarem sem que ela tivesse vontade. Beth não sabia que Quinn tinha poderes extraordinários. Ela achava que existia uma espécie de ar condicionado naquele apartamento, mesmo que ela nunca tivesse identificado o aparelho.
O dia estava nublado, o que foi um alívio depois da onda de calor que enfrentaram por quase duas semanas a fio. Quinn era praticamente imune ao frio, mas o calor a afetava no humor e na disposição. Era como se o calor a enfraquecesse, ao passou que o inverno a revigorava. Quinn vestiu uma roupa simples, boa suficiente para um dia de caminhada, como Grant bem instruiu. Depois de pronta, pediu um táxi e o destino foi uma propriedade no centro da cidade. A viagem não levou mais o que dez minutos. Quando Quinn e Beth chegaram ao endereço, justo o prédio que abrigava o escritório de advocacia, as duas foram recebidas por um motorista.
"Bom dia, senhoritas Fabray. O senhor Grant Fish pediu para que eu as levasse a propriedade dele."
O motorista abriu a porta de um SUV de luxo, em que tinha a disposição delas água mineral e algumas balinhas. Quinn também recebeu um recado no celular dela dizendo que tudo estava correto, e que o trajeto seria um pouco mais longo que ela poderia esperar. Levaram 30 minutos para deixarem a área metropolitana da cidade e mais 30 minutos para chegarem ao setor já nos limites municipais. A área era acidentada, e o motorista levou a mulher e a criança a uma propriedade cujo acesso era por meio de uma estrada de cascalho. Quinn imaginou ser uma dessas propriedades isoladas para um culto qualquer. O carro parou em frente a uma grande cabana, que tinha mais três carros estacionados por ali. Havia também uma casa em obras alguns metros para trás.
"Aqui estamos, senhorita." O motorista desceu do carro e abriu a porta para Quinn e Beth. "Pode entrar. O senhor Grant deve estar em algum lugar da propriedade."
Quinn ficou com receio de entrar na casa, até que o próprio Grant veio em direção a ela. Ele usava uma camiseta velha, bermudas e tênis de caminhada. As roupas estavam levemente sujas, como se ele estivesse trabalhando na limpeza de alguma coisa.
"Quinn, desculpe o arranjo para traze-las até aqui. Esse aqui é o meu rancho, que eu herdei do meu avô."
"Parece lindo." Quinn observou, ainda não inteiramente certa de que aquilo foi uma boa ideia.
"Não está como gostaria, mas estamos trabalhando nisso. Vou leva-las para conhecer as dependências e também o pessoal."
Quinn acenou, embora ainda estivesse incerta. Ela pegou Beth pela mão e seguiu Grant, que contornou a cabana de dois pavimentos, feita de tijolos maciços e acabamento em madeira. O telhado era alto e triangular. Eles não entraram naquela casa, no entanto. Grant circulou a cabana de dois pavimentos e apontou para uma segunda casa em construção, que parecia em fase final. Era uma construção que destoava completamente da cabana, se parecendo mais com uma casa luxuosa de rancho também com dois pavimentos. Além de ser uma construção maior que a cabana, também parecia mais robusta. Grant acenou para uma mulher latina que havia saído de dentro da construção. Ela usava um boné e carregava um saco de cimento de 25kg como se fosse um saco de macarrão de 500g.
"San!" Grant acenou para ela antes de se aproximar com as duas convidadas. "San, quero te apresentar Quinn e Beth."
Santana colocou o saco de cimento em cima de uma pilha com outros sacos e retirou as luvas antes de cumprimentar as recém-chegadas.
"Quinn, esta é Santana Lopez. Ela é a autora do projeto desta casa."
"Tudo bem?" Quinn estendeu a mão e foi prontamente correspondida. "Quinn Fabray... o seu projeto parece... sólido."
"A casa é sólida!" Santana reiterou. "Não é um projeto muito bonito, até porque eu não sou arquiteta, mas ele está bem alinhado com os nossos propósitos."
"Que é?"
"Ter um lugar para ficar, caso queira, e ter alguma proteção para desenvolver nossas habilidades em paz." Grant respondeu.
"A cabana só tem um quarto, e eu cansei de dormir no tapete da sala." Santana resmungou. "Essa casa foi projetada para ter seis quartos, quatro banheiros, sala de musculação, uma cozinha prática, e uma sala ampla para trabalharmos."
"Seis quartos... quem mais... usa esse rancho?" Quinn ficou curiosa.
"Grant e eu, Elliott e Mike... e agora você, eu presumo." Santana contou usando os dedos.
"A cabana foi construída pelo meu avô, e ela vai continuar sendo usada por mim." Grant explicou. "A nova sede é para abrigar os três palhaços e você e Beth... caso queiram aceitar a nossa proposta."
Quinn olhou em direção a uma pessoa se aproximando. Era um jovem homem oriental, alto e esquio. Ele se juntou ao grupo de foi logo cumprimento as recém-chegadas.
"Bom dia." Ele segurou a mão de Quinn. "Mike Chang ao seu dispor."
"Quinn Fabray. E essa é a minha filha Beth." Quinn ficou acanhada. "Todos vocês têm habilidades... especiais?"
"Sim." Grant explicou. "Santana é bem mais forte que aparenta. Mike tem o dom de cura..."
"De regeneração de tecido orgânico. Eu não consigo curar uma gripe, mas eu consigo fazer uma ferida fechar." Mike foi mais específico.
"E o Elliott... é isso mesmo?" Quinn olhou ao redor para ver se vinha mais alguém.
"Elli é uma diva!" Santana revirou os olhos. "Ele acabou de se formar pela C Academy e está achando que é a própria Greta Garbo."
"Elliott dá grandes saltos." Mike foi mais específico. "Literalmente falando."
"Ele voa?" Quinn ficou curiosa.
"Não... está mais para grandes saltos mesmo." Grant procurou ser mais específico. "Ele consegue pular por cima daquela árvore ali. Mas ele não consegue voar no sentido clássico. Infelizmente ele tinha um compromisso e não pôde vir hoje. Mas Santana, Mike e eu estamos a disposição para responder qualquer dúvida."
"Por onde começamos então?" Mike bateu as mãos.
"Pelo começo."
Grant convidou Quinn e Beth para conhecerem a cabana e eles foram seguidos pelos outros dois. A cabana tinha dois pavimentos, mas na realidade o segundo andar abrigava o único quarto e banheiro completo da residência. O térreo era formado por uma grande sala luxuosa, e pela cozinha, além de um lavabo. Quinn sentou no sofá, ao passo que Beth ficou à vontade para explorar a casa enquanto os adultos conversavam.
Santana e Mike foram se sentando nos sofás da sala, tão à vontade que era como se estivessem em casa. Grant e Mike se conheciam há mais tempo. Grant chama as próprias habilidades de matemáticas, porque seus movimentos eram precisos. Isso valia tanto para o arremesso de objetos, quanto para a própria coordenação que podia fazer dele tanto um grande dançarino como também um lutador quase perfeito. Os dois se conheceram em um evento na alta sociedade.
Os Changs era uma família de origem coreana, sendo que o pai de Mike enriqueceu fazendo investimentos certeiros, com base em pura matemática. Não movimentos matemáticos, como Grant, mas com números e algoritmos a fim de fazer previsões dos movimentos de mercado. Mike não era um herdeiro dos negócios do pai. Isso estava a cargo o irmão mais velho dele. Mike era um dançarino que trabalhava na C Academy e que, nas horas vagas, era voluntário no hospital onde, secretamente, acelerava o processo de cura de crianças recém-operadas. Ele não curava câncer, mas o poder dele regenerava os tecidos, promovendo rápidas cicatrizações.
Mike foi o primeiro a especular e a compreender que Grant era especial. Desde então, os dois fizeram um pacto para trabalhar juntos em desenvolver as próprias habilidades e também em ajudar outros como ele. Foi Mike quem descobriu Elliott, que foi colega dele na C Academy. O trio virou um quarteto quando Grant flagrou Santana Lopez preparando um trote contra a então namorada dele, depois de uma pequena confusão em uma festa de fraternidade. Ele viu Santana carregando dois sacos de cimento de 25kg cada como se fossem sacolinhas de supermercado. A intenção dela era literalmente cimentar o jardim da sororidade que morava a namorada de Grant. Santana tinha 19 anos à época, e era uma caloura na Universidade Estadual.
"Estou construindo nesse rancho um lugar seguro para pessoas como nós." Grant explicou à Quinn. "Esse rancho será um espaço em que a gente seja capaz de fazer tudo que podemos longe dos olhos curiosos."
"Como se faz isso? Desenvolver nossos poderes?" Quinn perguntou. "Quer dizer, eu sei o que eu posso fazer. Eu só não sou capaz e controlar o tempo todo."
"Eu ajudo com a meditação e com tai chi." Mike sorriu.
"Meditação e tai chi?" Quinn ficou incrédula.
"É fundamental." Santana defendeu o método. "Depois do meu primeiro período, minha força começou a aumentar, e chegou um ponto que eu comecei a quebrar coisas da minha casa sem querer. Meus pais ficaram assustados e com medo de eu os tocar depois que eu quebrei o braço do meu pai sem querer. Foi uma merda, porque a gente não podia contar para as pessoas o que estava acontecendo. Alguém poderia querer me internar, me prender ou fazer experiências... até que a minha mãe sugeriu yoga. Foi o que me ajudou."
"A questão, Quinn, é controlar e não reprimir." Mike explicou. "Grant, Santana e Elliot têm poderes físicos, mas pelo que fiquei sabendo, você projeta energia para esfriar, o que faz você ser mais como eu. Se essa energia não for bem administrada, problemas podem acontecer. E o primeiro passo para fazer isso é trabalhar a mente e a respiração. Depois a gente pode trabalhar no desenvolvimento de nossos potenciais e testar nossos limites."
"Nós costumamos nos encontrar neste rancho aos sábados pela manhã." Grant disse. "Você pode vir sempre que quiser. Eu deixo um motorista à disposição, caso você concorde vir regularmente. Se eu não puder estar aqui por causa de um compromisso pessoal ou profissional qualquer, Mike e Elliott podem assumir a condução dos trabalhos."
"E Santana?" Quinn perguntou.
"Fabray, eu costumo vir aqui com certa frequência para treinar. De quebra, eu ainda supervisiono a obra. Eu posso dar caronas, posso ajudar em alguma coisa ou outra, mas o fato é que eu não tenho perfil para ser professora."
Quinn também não estava muito interessada em ter Santana como professora. A loira achou que Mike era muito simpático. Grant era o sujeito educado que parecia estar à frente de tudo, afinal, ele era o dono do rancho, certo? Santana parecia ter uma energia pungente e caótica ao mesmo tempo. Quinn já se envolveu com pessoas caóticas antes, e o resultado não foi bom.
"O que vamos fazer hoje?" Quinn perguntou aos supostos novos professores.
"Nada!" Mike sorriu. "Hoje é dia de relaxar e de nos conhecermos."
"Vocês precisam experimentar a comida que Mike faz. Se ele não fosse um dos melhores dançarinos que conheci, com certeza teria uma carreira brilhante como chef." Grant elogiou. "Beth, você gosta de batata frita?"
"Sim!" A menina respondeu empolgada.
"Mike faz a melhor batata frita do mundo... estilo belga!"
"Só precisa aumentar a quantidade!" Santana reclamou para o olhar de interrogação de Quinn.
"Então está decidido. Mike vai fazer o nosso almoço, eu preciso cuidar de algumas coisas e San pode apresentar o rancho para as garotas, já que o seu humor não faz nada bem a energia destinada aos alimentos." Grant disse revirando os olhos.
Santana não era uma boa anfitriã. Nunca foi. Mas ali estava ela caminhando pela propriedade junto com uma criança, e da mãe dela chamada Quinn Fabray. As mulheres passaram pelo prédio em construção em direção a um pequeno haras. Beth ficou encantada com a égua e os dois cavalos que existiam na propriedade.
"Esses são Dino e Frank. Aquela bonitona ali é a Grace." Santana acariciou a égua de pelagem preta, que aparentava ser muito mansa. Ela pegou Beth no colo, para que a garotinha também pudesse acariciar o animal majestoso.
"Eu gosto muito de cavalos." Quinn se aproximou de Dino, o macho de pelagem malhada. O cavalo reclamou num primeiro momento, mas terminou por aceitar a carícia. "Meu tio tinha um rancho na Carolina do Sul. Era um dos meus lugares favoritos no mundo."
"Você veio de lá?"
"Sim."
"Está um pouco longe de casa."
"Minha casa é na cidade, portanto, não estou muito longe."
"É justo."
"Eles são lindos." Quinn sorriu ao ver que Dino aceitou a presença dela. "São todos de Grant?"
"Sim, ele curte equitação e tudo mais."
"Você cavalga?"
"Aprendi com Grant aqui mesmo no rancho. Mas eu prefiro não cavalgar."
"Por quê?"
"Não acho muito respeitoso com eles."
"Bom, essa é uma visão de mundo. Respeito, mas não concordo. Eu penso que o vínculo com esse animal é estabelecido quando você cavalga."
"Bom, eu não cresci em ranchos."
"Você não é daqui?"
"Sou de Ohio."
"Está longe de casa."
"De certa maneira, sim."
Quinn entendeu o que Santana quis dizer. Ao contrário dela, que cortou por completo qualquer ligação com a família, Santana mantinha os vínculos. Quinn não sabia qual a força desses, mas deviam ainda serem significativos. Isso a fazia invejar aquela jovem mulher.
"Quem cuida deles quando vocês não estão aqui?" Quinn mudou de assunto. Falar sobre o passado e sobre a própria família era um ponto fraco.
Santana apontou para uma pequena cabana ao lado.
"Grant tem um funcionário chamado Darrell, que mora ali na cabana nos dias de semana. É ele quem cuida do rancho e dos animais. Como ele folga nos fins de semana, dificilmente vocês vão vê-lo. Mas é um cara okay, eu acho."
"Você o conhece bem?"
"Darrell?" Santana colocou Beth de volta ao chão, e a garotinha correu para o lado da mãe para acariciar Dino. "Mais ou menos. Às vezes eu venho aqui nos dias de semana por causa da obra, e a gente se esbarra. O cara não sabe que nós temos poderes. Aliás, qual é o seu mesmo?"
"Eu consigo esfriar coisas com as minhas mãos."
"Pelo que entendi na conversa lá na cabana, o seu controle é um problema?"
"Eu consigo controlar em circunstâncias normais. Mas eu esfrio quando estou sob uma situação de muito estresse." Quinn explicou. "Foi assim que Grant me descobriu. Por causa de um assalto. Eu fiquei muito nervosa e esfriei. Grant disse que eu quase congelei o braço dele."
"Entendo o seu drama." Santana acenou. "Eu quebrava muita coisa antes de conseguir achar um balanço. Meus pais ajudaram. Minha melhor amiga também. Grant foi decisivo nessa parte. Ele me ensinou a lutar com técnica. Por incrível que pareça, isso foi um grande diferencial."
"Seus pais ajudaram? Nossa!"
"Na medida do possível, sim. Eles tiveram a sagacidade de não me enviar para nenhum laboratório para me testarem. Meu pai é enfermeiro e ele conhece um pouco desses bastidores. Ele foi o primeiro a tentar me esconder do mundo, ao mesmo tempo em que ele pesquisou uma maneira de me ajudar."
"Eu nunca contei sobre isso aos meus pais... Se soubessem, teriam me expulsado de casa mais cedo." Quinn disse com amargor.
"Seus pais te expulsaram de casa?" Santana franziu a testa. "Foi por causa da sua filha?"
"Não foi só por causa de Beth." Ao ver o olhar de interrogação, Quinn suspirou. "Eu tinha uma vida de luxo e meus pais me criaram para ser a filha perfeita, até eu não ser mais. Então eles me expulsaram de casa."
"Eu sinto muito."
"Obrigada." Quinn sorriu para Beth e observou a filha caminhar um pouco à frente das duas mulheres que caminhavam em direção aos limites da propriedade.
"O pai de Beth não te ajudou?" Santana perguntou.
"O pai de Beth morreu em um acidente de carro. A gente brigou por causa dos custos dos exames pré-natal. Então ele saiu, bebeu mais do que devia e provocou um acidente que custou a vida dele e de outra pessoa inocente. A mãe dele obviamente me culpou, e eu fui expulsa pela segunda vez. Foi quando eu decidi sumir a minha cidade. Eu paguei uma passagem só de ida para cá, e me viro para sobreviver desde então."
Quinn ficou em silêncio e Santana percebeu que a conversa a partir dali não seria mais frutífera. Seja lá como foi a vida daquela jovem e bonita mulher, lembrar era doloroso. Santana apontou para o resto da propriedade sem efetivamente mostra-la para Quinn e Beth. Também não havia muito mais para ver. A propriedade era delimitada com uma cerca. Havia um pequeno riacho que adentrava na área de vegetação original preservada, que não era muito grande. O rancho também tinha um pomar e dois cachorros pastores que estavam no canil naquele momento. Beth pareceu encontrar o seu pequeno paraíso, pela maneira como ela corria e saltava entre os campos de gramado e pasto, e as áreas de mata. Não que o rancho tivesse grande extensão, mas era um lugar bonito e, certamente, bem cuidado.
"Hora do rango." Santana disse ao receber a mensagem de Mike.
Na cabana mais antiga, Mike e Grant esperavam as garotas, que se surpreenderam pela mesa bem arrumada. Não era nenhum dia especial. Tudo não passava de um pequeno mimo para as recém-chegadas. Na hora da refeição, Quinn percebeu que era apenas ela que costumava consumir um expressivo volume e comida no prato. Todos os outros pareciam ter apetite de leão, o que era justificado por causa do metabolismo mais acelerado e do montante de energia que era preciso ser reposta para sustentar os poderes mais físicos e de liberação energética.
Nenhum trabalho de desenvolvimento foi feito, mas isso pouco importou para Quinn. Logo depois do almoço, ela voltou para casa junto com Beth aproveitando uma carona oferecida por Mike. Estar com aquelas pessoas a deixou mais leve e com esperança. Era como se ela tivesse finalmente encontrado a família que tanto procurava.
...
Santana olhava para o painel e levou a mão até o queixo. Havia fotografias de cinco mulheres ao redor de um mapa impresso da cidade. O mesmo mapa tinha tachinhas pregadas em lugares específicos e linhas de barbante coloridas fazendo conexões entre locais e as fotografias. Santana era do tipo que fazia mapas mentais para conseguir pensar sobre soluções para problemas que precisava resolver. Mercedes estava ali próxima e não tinha muito interesse no grande painel. Ela trabalhava melhor na tela do computador, entre arquivos e textos. Grant entregou um copo de café para Santana e procurou entender o sistema. Como Santana, ele também gostava de usar mapas mentais, mas diferente dela, os que ele construía eram menos caóticos.
"Tem certeza que são cinco?" Grant perguntou para ninguém em específico.
"Cinco casos nos últimos seis meses, isso se as conexões que fizemos forem corretas." Mercedes baixou a tela do computador e foi até o painel. "Melissa Blando foi a última vítima. A primeira foi, possivelmente, Greta Mills, 30 anos, vendedora. A segunda foi Veronica Sanz, 19 anos, estudante. A terceira foi Rachel Berry, 20 anos, garçonete. A quarta foi Janet Berson, 25 anos, contadora. A polícia não considera Mills como a primeira de uma série, por causa do padrão de espancamento. Mills foi estrangulada e agredida sexualmente, achada na própria casa. A polícia não achou esperma ou qualquer outra pista que pudesse levar à identidade do assassino. O que conecta essas cinco, além de terem sido violentadas e mortas por espancamento, exceto Berry, é que todas são cantoras amadoras que se apresentavam com certa regularidade em bares e restaurantes." Mercedes pegou uma impressão de dentro de sua pasta e colocou a cópia que conseguiu do retrato falado no centro do mapa. "Nenhuma pista sobre a identidade desse sujeito."
"Como isso é possível? Esse cara estava desmaiado quando os policiais chegaram naquele dia. Deveria haver, no mínimo, um boletim de ocorrência." Santana lamentou.
"Pelo menos ele se parece com o retrato falado, pelo que você conseguiu ver?" Grant tomou um gole do café sem açúcar que ele gostava.
"Estava escuro e o rosto dele estava inchado... Berry o reconheceu como um cliente o restaurante."
"Eu sei que a polícia está investigando suspeitos baseados nessas informações, mas até agora... o meu contato lá dentro disse que esse cidadão provavelmente nem usa cartão de crédito. Pessoas lembram de ter visto alguém parecido, mas não lembram do nome nem de nada mais significativo." Mercedes tomou o gole do café dela e fez uma careta. Ao contrário de Grant, ela gostava o café com creme ou com uma colher de açúcar, no mínimo. "Existem 32 bares e restaurantes que oferecem música ao vivo na cidade, incluindo os que têm noites de karaokê. Não há uma lógica aparente nos locais que conseguimos identificar. O assassino também não faz o ataque necessariamente próximo aos bares que essas mulheres frequentavam. Todas foram atacadas próximas das casas delas, exceto Mills que foi literalmente dentro de casa."
"Ataque sem arrombamentos, o que queria dizer que ela conhecia o assassino." Grant complementou o raciocínio.
"Esse sujeito deve ter uma lista de vítimas que ele pretende fazer." Santana presumiu. "Ele não as escolhe ao acaso, como se ele sentisse tesão e fosse atrás delas. Há uma conexão... algum gatilho que o estimula a fazer o mínimo de pesquisa sobre essas mulheres. Isso leva algum tempo. Mills foi morta dentro de casa. Berry foi atacada a caminho de casa. Depois ela foi atacada pela segunda vez em uma região próxima ao restaurante. Sorte dela que foi justo em um dia que eu resolvi a vigiar."
"Ele vai tentar pegar Berry outra vez." Grant foi ao painel e apontou para a tacha que conectava o barbante que era ligado à foto de Melissa Blando. "Da mesma forma que eu penso que ele vai à homenagem a Melissa no bar que ela frequentava. É o mesmo que Marley costuma cantar."
"Vocês dois deveriam ir lá hoje. À paisana, claro." Mercedes sugeriu.
"Por que não vem conosco?" Santana perguntou.
"Porque eu tenho uma prova amanhã cedo, e eu ainda quero terminar a faculdade."
"É um argumento válido." Grant sorriu para Mercedes e depois voltou a atenção para a outra amiga. "Vamos nós dois assistir a homenagem. Só não dê em cima da minha irmã, okay?"
"Marley é bonita..." Santana divagou. "Mas Jenny a mataria."
"Jenny outra vez?" Grant fez uma careta.
A mãe de Jennifer May era sócia do pai de Grant Fish na firma de advocacia. Grant conhecia Jennifer desde quando tinha oito anos, e os dois nunca conseguiram se tolerar desde essa época. Jennifer nem desconfiava que a presumida namorada dela era próxima do rapaz que considerava ser um total esperdício de oxigênio.
"Jenny... é complicada." Santana suspirou.
"Ela é tóxica mesmo." Mercedes resmungou. "Psicóloga com borderline."
"Qual foi a última chantagem para fazer você ficar com Jenny?" Grant ficou curioso.
"Ela está me ajudando a entender o perfil desse serial killer. Isso significa que eu vou ter que aguentá-la por perto durante algum tempo."
"Sorte sua." Grant ironizou.
"Existe uma parte boa."
"Qual?"
"Seria indelicado eu dizer."
"Você? Se preocupando com delicadeza?" Grant deu uma gargalhada.
"Okay, seria pornográfico eu dizer."
Mercedes revirou os olhos e olhou para o relógio. Estava ficando tarde, e ela precisava ainda resolver problemas no ambiente universitário. Grant e Santana foram juntos até ao bar em que Marley gostava de se apresentar e onde haveria a homenagem à Melissa Blanco. Os dois foram à pé, pois assim aproveitavam para conversar e para observar melhor a cidade.
"Berry deveria estar com a gente. Ela é a única que conhece o cara com certeza. Eu só conheço a cara amassada e ensanguentada dele."
"Pessoas podem mudar o cabelo, colocar óculos e outros adereços para mudar a aparência. Se a polícia decidir publicar o retrato falado, esse sujeito vai ter ainda mais cuidado. Ele pode sair da cidade."
"Mesmo que ele saia da cidade, ele vai voltar em algum momento para terminar com Berry."
"Você está mesmo confiando nessa análise de Jenny?"
"Olha, a Jenny é mimada e insuportável na maioria do tempo, mas ela é inteligente, e entende mesmo de perfis psicológicos. Talvez nem tanto a dela própria, mas enfim."
"Jenny diz alguma coisa sobre você?"
"Ela sabe que eu escondo alguma coisa. Talvez a tara dela em ficar comigo é para descobrir o que é."
"Você precisa ter cuidado. O que a gente faz nos torna pessoas solitárias por um bom motivo."
"Eu não quero viver de transas casuais, Grant. Não estou dizendo que Jenny é a pessoa, mas eu não vou me fechar a uma chance para ter um relacionamento com alguém realmente legal. A gente precisa encontrar um meio termo entre lidar com o que fazemos com uma máscara e ainda ter alguma normalidade."
"Você? Santana Lopez? Dizendo isso?"
"Com sentimento, tudo fica melhor. Aprendi isso com Brittany."
"A sua namorada do ensino médio?"
"Ela mesma." Santana balançou a cabeça. "Eu sei que o que fazemos pode ser importante. É uma maneira de usarmos nossos poderes para algo bom... proteger pessoas... eu gosto disso. Eu gosto da adrenalina. Relacionamentos podem atrapalhar, eu sei. As pessoas que amamos podem correr riscos. Mas pular de cama em cama para satisfazer essa parte de nossa vida simplesmente cansa. A gente acha que pode ser o Batman, quando no fundo a gente quer mesmo é ser o Superman."
"Superman é chato."
"Superman tem Lois Lane." Santana balançou a cabeça e sorriu. "Eu reparei como você olhou para Quinn Fabray lá no rancho. Ela é muito bonita."
"Quinn Fabray precisa de ajuda para lidar com os poderes dela e de uma comunidade segura. É isso que ofereci a ela."
"Por que você gostou dela?"
"Porque eu mandei fazer um dossiê sobre Fabray, e vi que ela não oferecia risco para o resto de nós."
"Você tem um dossiê sobre mim também?"
"Você sabe que eu tenho." Grant piscou para Santana.
"Você é paranoico."
"Eu sou Bruce Wayne para o seu Clark Kent."
Santana soltou uma gargalhada gostosa, verdadeira, enquanto os dois amigos entraram no bar. O ambiente estava com uma iluminação reduzida. Fotografias de Melissa e flores enfeitavam um lado do palco. Ao centro havia um microfone e do outro lado estava o piano e um violão. Marley já estava no local abraçando e socializando com pessoas conhecidas por ela. Unique pediu uma noite de licença no hotel para também prestigiar uma mulher que se declarava ser fã. Além delas, também se encontravam ali Roderick, Artie e, para surpresa geral, Blaine Anderson. O ex-estudante da C Academy era uma estrela em ascensão no meio artístico devido ao talento como ator e a versatilidade de seu estilo, que fazia dele um pop star em potencial.
"Grant? Santana?" Marley foi ao encontro dos dois. "Não é que vocês não sejam bem-vindos, mas é que eu não esperava encontrar você aqui." Voltou-se para Grant. "Eu já te convidei um milhão de vezes para vir aqui e você nunca apareceu."
"Santana quis ver você cantar e me arrastou para cá."
Grant sorriu sem jeito e Santana ficou vermelha. Daquela maneira, Marley iria pensar que a vigilante queria entrar nas calças dela. Obviamente que Santana não recusaria Marley, porque a achava bonita e simpática, mas a insinuação era constrangedora.
"Você?"
"Eu gosto desse lance de novos artistas... não sabia que essa noite seria atípica. Ela era sua amiga?" Santana apontou para o altar.
"Sim, ela era a minha amiga."
"O que aconteceu, se posso perguntar?"
"Um psicopata a matou."
"Eu sinto muito." Santana disse com sinceridade. "Meus sentimentos."
"Obrigada." Marley apontou para um grupo de amigos. "É só uma homenagem feita por nossa comunidade, sabe?"
"Eu não sabia que Blaine Anderson fazia parte dela." Santana observou.
"Você o conhece?"
"Ele é o ex-namorado de um conhecido." Santana se lembrou desse detalhe que Mercedes lhe contou quando visitou Rachel. Ela mesma nunca havia esbarrado com o garoto até então.
"Certo..." Marley encarou Grant. "A gente deveria fazer um dueto, como antigamente."
"Você canta?" Santana ficou impressionada com a informação nova sobre o amigo.
"Marley e eu fazíamos duetos nos aniversários da mãe dela." Grant ficou sem jeito. "Eu fiz algumas aulas de canto quando era criança porque os meus pais eram do tipo que enchiam as crianças e atividades para não ter que lidar com eles."
"Eu gostaria de ver esse dueto." Santana desafiou.
"Você também sabe cantar." Grant retribuiu o desafio.
"Claro que eu sei. Eu estava em um musical!"
"Jura?" Marley ficou curiosa.
"Sim, com a minha melhor amiga, Mercedes. A gente estava ensaiando para um musical pela companhia amadora de William Schuester. Cedes é a rainha da voz, para te dizer a verdade, mas eu me garanto."
"Marley, querida." Unique se aproximou. "Não vai dizer que é o novo caso de Grant? Não vai me apresentar?" Ela estendeu a mão para Santana. "Unique Adams ao seu dispor."
"Santana Lopez." Ela correspondeu. "Eu não sou caso do Grant. Não jogo neste time."
"Oh!" Unique sorriu.
Roderick foi até ao palco e o diálogo do trio cessou por um instante. Ele fez um breve discurso sobre a razão daquela noite especial em homenagem a Melissa. Foi feito meio minuto de silêncio que foi rompido por aplausos. Roderick anunciou o primeiro a ir ao palco para a noite de homenagens. Blaine foi até ao piano e ajustou o microfone.
"Melissa e eu nos conhecemos aqui mesmo neste bar há dois anos. Eu fiquei encantado com a voz potente que ela tinha. Nossa sintonia foi imediata e a gente começou a fazer algumas músicas. Eu vou cantar uma delas para vocês."
Enquanto Blaine fazia uma interpretação dramática da música que tinha uma letra muito pop, Unique revirou os olhos e cochichou aos amigos.
"Esse aí gosta de atenção... mais do que eu. Totalmente diva! Foi ao meu show e achou que eu deveria beijar os pés dele, como se ele tivesse feito um favor por aparecer na plateia."
"Pelo menos ele canta bem." Santana franziu a testa.
"Darling, você já viu o meu show?"
"Não."
"Prepare-se."
Podia ser um show em homenagem a uma colega que se foi de maneira horrível, mas para Unique, boas performances eram sagradas. Após a ovação que Blaine recebeu, mais pela fama do que pela apresentação, ele foi cercado de pessoas, que o cumprimentavam incessantemente. Enquanto isso, Unique e Marley subiram juntas no pequeno palco. As atenções se voltaram as duas garotas. Marley pegou o violão e disse ao microfone.
"Melissa odiaria isso aqui, para dizer a verdade. Não a nossa pequena reunião, mas a razão porque estamos aqui. Ela era um furacão cheio de vida, e gostava de celebrar a via, e não a morte. Ironicamente, ela odiava o palco. Era dessas pessoas que tinham medo, sabe? Mas a gente insistia muito, tanto, que ela bebia dois copos de conhaque, que ela dizia que era para aquecer a voz. Na verdade, ela criava coragem assim. Então ela subia ao palco e soltava aquela voz maravilhosa. Unique e eu vamos cantar aqui a nossa preferida que Melissa escreveu."
Santana arregalou os olhos quando viu a potência daquele dueto. Unique era uma diva do teatro e a voz dela era feita para aquele tipo de lugar, muito parecido com Rachel Berry. Marley surpreendeu Santana, porque ela jamais imaginou que aquela nerd que colocava programas em computadores pudesse cantar tão bem. Santana sabia que ela própria era uma cantora muito competente, graças à Mercedes. As duas, modéstia à parte, podiam fazer um dueto superior a Marley e Unique. Isso não queria dizer que a vigilante não estava apreciando o show. Além disso: Marley fazia muito bem aos olhos.
Um esbarrão lhe trouxe de volta à realidade. Santana fez uma careta para a mulher que quase a fez derramar a água que consumia. Foi quando ela notou um sujeito magro, relativamente alto, e com o rosto familiar que estava assistindo a Marley e Unique. Santana achou o homem parecido com o serial killer. Teoricamente, o homem deveria apresentar alguns hematomas em processo de cura no rosto. Mas Santana sabia que o serial killer tinha poderes especiais, que ela não conhecia a extensão. Ele poderia curar rápido, tal como Santana. Em todo caso, ela decidiu se aproximar do homem que ela atraente, branco, traços bem masculinos, cabelo curto.
"Oi." Santana disse casualmente.
"Oi." O homem respondeu.
"Bela dupla."
"Yeap."
"Você as conhece?"
"Não."
"Conhecia a falecida?"
"Pode-se dizer que sim."
Santana quis continuar a conversa, mas o homem acenou para ela e saiu do balcão com o copo de cerveja em mãos. Ele foi em direção a uma mulher que estava do outro lado do bar, e aparentemente os dois se conheciam. Santana não comprou muito bem o movimento. O instinto dela dizia que era preciso fazer algumas verificações, por isso ela assobiou para o barman.
"Ei!"
"O que deseja?"
"Uma cerveja e..." ela deu apontou discretamente para o homem com quem estava falando. "Conhece aquele cara ali?"
"Não muito. Já o vi por aqui uma vez ou outra. Para mim é um cliente ocasional como qualquer outro."
"Obrigada."
Santana pagou o barman e voltou para o lado de Grant. Nessa altura, Marley e Unique terminaram a participação delas na homenagem, e saíram do palco muito aplaudidas.
"Então?" Grant perguntou.
"Não tenho certeza." Santana viu que Marley e Unique se aproximavam. "Eu preciso trocar de roupa."
"Eu te cubro."
Santana virou as costas para Marley e Unique, e saiu sem dizer nada às duas, deixando uma péssima impressão. O que disse a Grant foi verdade: Ela precisava trocar de roupa, ou quase isso. Achou um canto escuro e discreto no bar, e vestiu a jaqueta que estava em sua mochila. Ela costumava patrulhar como vigilante vestindo um colete à prova de balas, mas ela não estava com o equipamento naquele momento. Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo e ficou à espreita. O homem em questão foi até Blaine Anderson e disse alguma coisa que fez o artista acenar e se despedir das pessoas ao redor. Os dois saíram caminhando lado a lado, e Santana os seguiu a uma distância segura, em uma avenida que estava com o movimento reduzido àquela altura da noite.
De repente, o homem suspeito empurrou Blaine para dentro de um beco, com muita agressividade. Santana agiu no automático: ela vestiu a máscara e rapidamente alcançou os dois. Viu o homem pressionando Blaine contra a parede, e o beijando com agressividade. Santana foi ágil e rápida para acertar o suposto agressor.
"O que merda você está fazendo?" Blaine gritou e logo foi até o homem que ficou atordoado com o empurrão que levou. Foi com uma força tão incrível, que ele achou que tivesse sido atropelado.
"Cuidado, esse sujeito pode ser um assassino em série." Santana advertiu.
"O quê?" O homem reclamou.
"Do que você está falando?" Blaine continuou muito irritado. "Ele é o meu namorado."
"Mas ele... ele parecia que estava..." Santana ficou confusa.
"Parecia que estava tentando me foder? Esse era o propósito até você aparecer."
"Desculpe." Santana se afastou. "Podem voltar a se comer."
Ela correu para fora do beco e procurou um lugar seguro para retirar a máscara. Respirou por um momento sem o tecido em seu rosto e lamentou o engano. Achar o serial killer estava sendo mais complexo do que ela imaginava.
