Desde que colocou uma máscara, a vida de Santana mudou completamente. Pensando em como as coisas aconteciam, era engraçado pensar que tal decisão foi tomada do dia para a noite pouco mais de ano atrás. Tudo começou em uma noite de bebedeira. Mercedes e Santana estavam em um bar comemorando o aniversário de um colega da faculdade, que também era residente do edifício Stevenson. Santana não estava interessada em procurar um corpo quente naquela noite, e Mercedes, como a melhor amiga costumava dizer, tinha vocação para ser freira. As duas saíram do bar para voltarem ao Stevenson, depois de decidirem que já tinham desfrutado o suficiente da festa.
"Não deveríamos sair tão tarde de um bar e a pé." Santana brincou com a amiga. "Damas como nós correm perigo quando não se comportam."
"Não vejo as damas." Santana gargalhou, se sentindo solta com o efeito do álcool.
"Eu vejo uma: eu mesma. Pelo menos a minha melhor amiga é forte suficiente para me proteger de todo mal."
"Eu deveria ser paga por essa escolta."
"Não, você tem espírito de herói."
"Quer saber?" Santana disse. "Eu deveria testar essa sua teoria. Vamos procurar uma pessoa em apuros e vamos salvá-la."
"Mas assim, de cara limpa? Heróis não podem ser reconhecidos, porque tem todo esse lance de proteger as pessoas próximas e tudo mais."
"Tem razão." Santana pegou a echarpe e a amarrou no rosto. Depois, pegou o chapéu de Mercedes. "Como estou?"
"Parece o Zorro pobre que foi à guerra." Mercedes gargalhou. "Vamos ver se você consegue encontrar um gato em cima e uma árvore."
Existem coisas para as quais o universo conspira. No quarteirão seguinte, aconteceu um acidente de carro logo em frente de Santana e Mercedes. O motorista que causou o acidente chegou a descer do carro para conferir o estrago, mas em vez de ligar por socorro, ele correu para fugir do local. Antes que tivesse a chance de religar o carro, Santana agiu e não permitiu que ele fugisse tirando o sujeito de trás do volante. Nesse meio tempo, Mercedes ligou para o serviço de emergência para socorrer as verdadeiras vítimas. Santana deu um soco no sujeito, e o prendeu no próprio carro usando o cinto que ele vestia.
Mercedes e Santana correram para um local mais discreto da rua e observaram ao longe os socorristas chegarem cinco minutos depois. Infelizmente, uma das pessoas que estavam no carro, uma criança, morreu no hospital. Os noticiários mostraram a ação do cidadão que impediu que o motorista criminoso fugisse. Como Santana vestia o chapéu, isso já foi suficiente para não ser possível identificar o bom samaritano, como a imprensa chamou, pela câmera de segurança daquele cruzamento.
As coisas foram acontecendo muito rápido para Santana depois de esse ato meio altruísta, meio embriagado. Isso fez com que Grant confrontasse a protegida sobre o ocorrido e sobre os riscos.
"Com grandes poderes vêm granes responsabilidades." Santana argumentou durante a discussão.
"Não me venha citar revistinha em quadrinhos, Lopez. Já pensou nos riscos que o seu altruísmo pode causar para todos nós?"
"Grant, de que adianta eu poder levantar um carro se eu não vou fazer nada com isso? Mike não usa os poderes dele nas criancinhas no hospital? Qual a diferença? Pela primeira vez em toda a minha vida, eu me senti bem com essa coisa que eu tenho, com esse poder que sempre me causou problemas. O que eu sei é que essa cidade tem problemas, nossa polícia só serve aos poderosos, e que eu posso fazer a diferença. Eu não estou pedindo a sua autorização para isso. Eu só estou deixando você saber que eu vou ajudar as pessoas sempre que eu puder."
"Usando o chapéu da Mercedes?"
"Eu posso arrumar uma máscara daquelas de ninja, se isso te fizer dormir tranquilo."
Santana passou dois meses atuando como um lobo solitário, intervindo em pequenas coisas. Até o dia em que Grant decidiu ajudar com infraestrutura e também como dupla. Ele mostrou a Santana as maneiras como os dois poderiam desarticular crimes maiores, gangues e tudo que a polícia não se metia a não ser por ordem superiores. Mercedes concordou em ajudar auxiliando em investigações, porque ela disse que seria ótimo para aprimorar as técnicas como jornalista investigativa. Assim nasceram os vigilantes formados por Grant e Santana, e com Mercedes atuando como apoio.
...
"A polícia divulgou na manhã esta segunda-feira, o retrato falado do suposto serial killer que vitimo quatro mulheres. A única testemunha sobrevivente do caso relatou à polícia que o ataque partiu de um homem branco, aproximadamente 1,80m de altura, corpo esguio, cabelos curtos, aproximadamente 30 anos. Quem tiver informações sobre esse homem, por favor, comunicar por meio do telefone..."
Finn assistiu atentamente ao noticiário. A divulgação não tomou mais do que dois minutos da grade, o que era frustrante.
"Eles só divulgaram o retrato-falado agora, porque não conseguiram pegar o sujeito."
"Eu não quero me preocupar com isso agora." Rachel pegou o prato com cereal e leite e olhou pela janela. "Estou cansada disso." Disse em tom mais baixo, mas o suficiente para ainda ser ouvida.
"Não podemos baixar a guarda. Esse homem está atrás de você. Se não fosse por um grupo de pessoas que passavam no parque naquele dia..."
"Eu conheço a história, Finn." Rachel disse irritada. "Eu vivi essa história. Não preciso que você fique obcecado com isso."
Para Finn, Rachel foi salva por um grupo de pessoas que passavam no parque quando o serial killer a atacou mais uma vez. Foi a substituição vital que ela fez para não revelar a presença do vigilante. Melhor dizendo, de Santana Lopez. Rachel ainda estava perplexa com a revelação, muito mais até do que a possibilidade de ela ter algum tipo e poder especial. Mesmo depois com a conversa atravessada que ela teve com Santana, Rachel não ficou satisfeita, pois muitas questões ainda precisavam ser respondidas. O humor dela refletia tal frustração.
"Eu preciso ir trabalhar." Finn foi até Rachel e a beijou na cabeça. "Quer que eu te traga o almoço?"
"Você pode me tocar, Finn." Rachel disse de supetão e visivelmente irritada.
"O quê?"
"Eu não sou um bibelô frágil. Você pode me tocar, você pode me beijar." Rachel disse tentando conter a própria raiva.
Finn ficou desconcertado. Rachel pediu espaço logo depois do ataque, o que o namorado entendeu perfeitamente e a respeitou, mantendo uma distância respeitosa, fisicamente falando. Depois, com o tempo, Kurt aconselhou a Finn a não fazer nada que não caracterizasse como pressão a Rachel em relação ao sexo. Foi exatamente o que ele fez, por mais que tivesse vontade de dar vazão aos próprios desejos. Finn, então, se reaproximou de Rachel e a beijou nos lábios. Esperou até onde ela iria. Foi Rachel quem tomou a iniciativa de um beijo aberto, fraco, quando encostou a ponta da língua nos lábios o namorado. Finn tirou a tigela das mãos da namorada para que os corpos deles se ajustassem um contra o outro. Assim, não só o beijo se aprofundou, como Finn ficou mais livre para sentir o corpo da namorada e vice-versa.
"Finn." Rachel rompeu o beijo. "Vamos para o meu quarto."
Finn esqueceu a hora de ir ao trabalho. Não que ele fosse fazer tanta diferença além de atrasar alguns serviços pendentes. Finn pegou Rachel no colo, ao estilo noiva, e a levou para o quarto dela. Ele a repousou na cama com cuidado, e os beijos e carícias recomeçaram. Finn estava no limiar entre tentar ir devagar para dar tempo a Rachel a se reajustar ao contato íntimo, e deixar-se levar pela necessidade do sexo, na qual estava abstinente há mais de um mês. Quando Rachel ficou nua mais uma vez na frente dele, deitada na cama, esperando que ele se encaixasse, Finn retirou as calças e a cueca em um movimento só, revelando o membro ereto e pronto. Ele estimulou a namorada até o ponto que a umidade e a lubrificação natural estivessem fluindo, inseriu um dedo para ter certeza de que não a machucaria. Rachel não dizia nenhuma palavra. Estava completamente em silêncio durante toda troca de carícias, o que era estranho. Justo ela que gostava de falar até o ponto da penetração, quando geralmente se calava.
"Você tem certeza?" Finn perguntou ainda com o dedo inserido na vagina da namorada. Tudo que Rachel fez foi acenar positivo.
Finn retirou o dedo e, segundos depois, Rachel sentiu a cabeça do pênis do namorado na entrada da vagina. A penetração foi rápida e sem dor. Essa era a parte em que Finn se esquecia da namorada e se concentrava no movimento dos próprios quadris. Um minuto, dois minutos, três minutos de estocadas em aceleração progressiva até a ejaculação. Finn deu mais algumas estocadas lentas, até que o gozo fluir. O mecânico tinha um certo fetiche em ver o próprio sêmen saindo pela vagina da namorada, como se o líquido esbranquiçado fosse a prova de que a fêmea estava bem marcada e fodida. Rachel fechou as pernas e Finn rolou para deitar ao lado dela, recuperando o fôlego pela transa inesperada.
"Você está bem?" Era a pergunta de praxe, mas naquele momento, Finn realmente queria uma resposta sincera.
"Estou." Rachel disse já se cobrindo.
"Você... você gozou?" Nesse momento, Rachel começou a chorar e Finn ficou preocupado, arrasado com a possibilidade de ele ter a ferio de alguma maneira. "Rachel? Por favor, me diga o que está acontecendo?"
"Eu só preciso de um tempo." Ela tentava secar as lágrimas que teimavam em desder.
"A gente não deveria ter transado. Você não estava preparada." Finn ficou irritado. Era óbvio que Rachel não estaria preparada de uma hora para outra. Ele deveria ter ido devagar, mas quando a outra cabeça assumia o controle, era difícil ponderar.
"Eu vou ficar bem. A gente vai ficar bem. Isso foi importante para quebrar o gelo... para a gente voltar ao que éramos. Eu ainda consigo... fazer isso." Rachel procurou respirar fundo, e foi aos poucos secando as lágrimas.
Finn se levantou da cama e começou a se vestir novamente. O corpo estava relaxado, mas a mente dele continuava em alvoroço. Será que um dia o relacionamento tedioso e assim desejado entre ele e Rachel voltaria ao normal? Era o que ele mais queria no mundo: ver a namorada garçonete e cantora ocasional em sua vida pacata e seus sonhos megalomaníacos, ele garantindo o futuro dos dois na oficina mecânica, o teatro para distrair, os amigos para interagir.
"Você quer que eu fique?"
"Não." Ela respondeu.
"Precisa de alguma coisa?"
"Não."
"Eu volto daqui a pouco."
"Eu não vou sair de casa hoje. Não precisa ter pressa."
"Tudo bem."
Rachel observou o namorado sair do quarto, e prestou atenção até ouvir a porta do apartamento se fechar, uma vez que Finn também tinha as chaves dali. Assim como Rachel também tinha as chaves da quitinete em que ele morava. Ela olhou para o teto por alguns minutos, ainda enrolada nas cobertas. Estava ainda tentando processar os resultados da ação impulsiva. Rachel quis fazer sexo com Finn para que ela pudesse compreender algumas coisas sobre o próprio corpo e mente em relação a voltar a ter relações sexuais normais.
O homem que a atacou duas vezes foi brutal. Só na segunda vez que ela pôde entender porque ninguém ouviu os gritos: de alguma maneira, o homem fez a voz de Rachel ser silenciada. Que tipo de poder bizarro era esse? Roubar as vozes das pessoas? Rachel precipitou as coisas com Finn porque ela também queria mudar a imagem que vinha a sua mente assim que fechava os olhos: Daquele homem usando uma máscara, a estuprando com requintes de sadismo. Finn nunca foi um cara atento com o prazer da parceira, o que fazia o orgasmo ser algo que Rachel costumava experienciar no trabalho solo. Mas Finn nunca causou dor em Rachel para conseguir o próprio prazer.
Rachel fechou os olhos, ainda sob impacto do sexo com Finn, e chorou ao perceber que a experiência não fez sumir aquela horrenda imagem mental de um homem mascarado em cima dela, gozando dentro dela enquanto apertava o pescoço dela, após ter a espancado e rasgado suas roupas. Depois, a deixando para a morte no chão imundo ao lado de uma lixeira. Rachel achou mesmo que tivesse morrido, até que acordou no hospital, e viu que o ambiente era mundano demais para ser o pós vida.
Frustrada, ela levantou da cama e foi para o banheiro que dividia com Kurt. Estava nua, mas não se preocupou em se cobrir pois sabia que estava sozinha no pequeno apartamento. Tomou uma chuveirada quente, lavou suas partes íntimas. Ainda tinha dificuldades em encarar a cicatriz em seu abdômen que os médicos fizeram para sanar o sangramento interno. Era mais uma horrível lembrança que o estuprador mascarado deixou. Voltou para o quarto, vestiu roupas casuais e olhou pela janela da sala. Ela deveria se mudar daquele apartamento, pois não conseguia deixar de olhar em direção ao beco para onde foi arrastada e atacada.
Rachel tentava voltar a ter uma vida. Só ela sabia o quanto se esforçava para voltar a trabalhar, para voltar a estudar. Estava pensando seriamente em reconvocar o elenco para a peça no teatro, na companhia amadora de William Schuester. Talvez fosse bom para ela se reunir com os amigos para fazer o que mais gostava: atuar e cantar em cima de um palco. Quem era mesmo o elenco? Ah sim: Sam Evans, Matt Rutherford, Rory Flanagan, Tina Cohen-Chang, Kurt Hummel, Finn Hudson, Mercedes Jones, Santana Lopez e, estrelando, Rachel Berry. A própria Rachel escreveu o roteiro em conjunto com Will Schuester e Tina. Um roteiro sobre audições teatrais, em que Rachel fazia a atriz novata que disputava o papel com a diabólica Mercedes Jones. A mocinha recebe o apoio do faxineiro do teatro, Finn Hudson, na luta em ganhar a preferência do diretor cínico Kurt Hummel, e do protagonista masculino bobalhão Sam Evans. Todo o resto do elenco tinha papeis coadjuvantes.
Rachel não se interessava pelos noticiários. Fazia dias que evitava sequer olhar para a televisão. Pegou o novo celular que Leroy deu a ela: era um modelo mais tecnológico em relação ao que foi perdido no parque. Olhou para os contatos salvos e viu o nome de Santana Lopez. Decidiu deixar uma mensagem.
...
Quinn sorriu ao servir um café expresso a um professor popular na faculdade comunitária. O professor em questão vivia em companhia de algum estudante, especialmente de mulheres. Era alto, não muito bonito, cabelos compridos e um estilo de se vestir despojado que lhe dava uma áurea de intelectual atormentado. Quinn nunca conversou com o tal professor, mas ela apostava que ele era um progressista, se fazia de sensível e secretamente deveria dormir com muitas estudantes, usando a desculpa de que todas eram maiores de 18 anos. O telefone dela tocou o alerta de mensagem. Era Mike, que havia mandado um vídeo que ensinava controle de respiração, e recomendou que ela começasse a praticar antes do encontro no rancho. Por coincidência, ela viu entrar no prédio um rosto que se tornou conhecido para ela dias atrás.
Santana Lopez não a viu de imediato. Quinn também não acenou para ela, querendo saber o que a estudante de engenharia da Universidade Estadual estaria fazendo ali. Viu Santana mexer no celular e, em menos de cinco minutos, foi ao encontro de ninguém menos que Rachel Berry. Quinn ficou confusa. De onde as duas se conheciam? Rachel foi em direção à cafeteria, e nem percebeu o olhar de surpresa de Santana ao ver Quinn Fabray ali.
"Olá, Quinn. Você poderia fazer um capuccino para viagem?"
"Claro." Quinn encarou Santana. "Você também vai querer um?"
"Não, obrigada."
Quinn trocou olhares com Santana antes de virar as costas para as duas a fim de preparar o café. Nesse meio tempo, Joe chegou e ajudou ao atender uma nova cliente.
"Aqui está." Quinn entregou o café nas mãos e Rachel. "As aulas terminaram mais cedo?" Ela perguntou tentando soar casual.
"Não. Minha amiga e eu temos um compromisso." Rachel acenou com educação e saiu do balcão da cafeteria expressa.
Quinn acompanhou as duas saírem do prédio. Não queria transparecer, mas estava muito curiosa sobre essa relação. Talvez sentiu uma ponta de ciúmes? Ela nunca imaginou que Rachel Berry e Santana Lopez pudessem se conhecer. Aliás, que mundo pequeno era aquele?
Enquanto isso, já no estacionamento, Santana destrancou o carro dela, permitindo que Rachel entrasse no veículo.
"Para onde vamos?" Rachel estava curiosa.
"Conhece o parque da reserva natural?"
"Sim... mas porque você vai me levar tão longe?"
"Porque é dia de semana e não vai ter muitas pessoas circulando por lá."
"Você não disse que é só yoga?"
"Sim, mas você é imprevisível e descontrolada. Se os seus poderes se manifestarem, dificilmente teremos testemunhas. Por isso será mais seguro praticar yoga na reserva."
"Bem pensado. Apesar de que eu nunca mais senti aquilo. Faz dias e até agora nada. Nem mesmo quando Finn e eu discutimos."
"Mesmo? Aliás, como aquele grandalhão está liando com tudo isso?"
"Qual parte?"
"De que tem um serial killer atrás de você?"
"Ele está preocupado." Rachel não quis dar mais detalhes sobre as discussões que ela tinha com o namorado.
"A polícia encontrou alguma pista sobre o sujeito?"
"Nada. Nem o nome ele. Nem com a divulgação do retrato falado."
"Isso é estranho. Eu também não consegui nenhum progresso. Eu achei que tivesse encontrado o sujeito, mas na verdade era o namorado de Blaine Anderson."
"Blaine Anderson, o ex do Kurt?"
"Tem outro ex-namorado famoso de Hummel com o mesmo nome?"
"Blaine é uma persona non grata entre nós. Não me surpreenderia que ele namore um serial killer estuprador e bissexual."
Santana franziu a testa. Apesar da curiosidade, ela resistiu em não perguntar o que se passou entre Kurt e Blaine. O trânsito estava tranquilo àquela hora, sinal de que a estrada para o parque também estaria sem maiores movimentos. O caminho para a reserva natural era basicamente o mesmo para o rancho, com a diferença de que, no trevo, o rancho ficava à esquerda da estrada, ao passo que a reserva natural ficava à direita. Santana visitou o lugar poucas vezes, mas Rachel, sendo nativa daquela cidade, tinha nesse parque lembranças diversas, geradas desde a infância que envolviam os pais, especialmente porque Rachel foi uma criança que só fez amizades sólidas quando entrou no ensino médio.
A entrada do parque era basicamente o enorme estacionamento. Rachel e Santana tiraram as mochilas e andaram em direção à bilheteria. Os visitantes pagavam por dois tipos de ingressos: o primeiro e mais barato os limitava ao clube criado dentro da área. O segundo tipo, e mais caro, dava direito ao clube e acesso à trilha até o cume da montanha mais alta do município. Santana e Rachel pagaram pelo ingresso mais caro, passaram direito pelas dependências do clube e foram em direção as catracas que davam acesso às trilhas. Precisaram fazer uma rápida vistoria pela segurança. Não era permitido bebida alcoólica, não era permitido acampar, caçar ou pescar. Não era permitido acesso a trilha a pé após ao meio dia. Era entregue o folder com as recomendações, regras e um pequeno mapa da trilha de 5,4km morro acima. A paisagem fazia valer à pena a caminhada por um terreno acidentado.
"Podemos parar no mirante da garganta." Santana sugeriu, apontando o local no pequeno mapa inserido no folder.
"Não tenho objeções."
Um quilômetro e meio de trilha, e chegaram ao ponto em questão. Tratava-se de um mirante onde era possível vislumbrar uma fenda na encosta da pequena montanha. Era uma boa vista antes de chegar ao pico de Maryan, cujo trajeto completo costumava levar quatro horas, entre ida e volta. O mirante da garganta também era interessante por ter uma pequena área plana além do mirante, que dava acesso a um dos pontos de apoio com banheiro e mesas para refeições. Santana bebeu um pouco de água, antes de estender a esteira no chão. Rachel fez o mesmo. Fizeram posição sentada indiana, e Santana passou instruções sobre respiração.
"O meu poder é físico. Eu sou mais forte, corro mais rápido e cicatrizo mais rápido do que um ser humano regular." Santana explicou, lembrando muito o que Mike e Grant passavam para ela nos treinamentos semanais. Para exemplificar, Santana pegou o canivete e cortou a ponta do dedo, apesar dos protestos de Rachel. O corte sangrou apenas por meio minuto. Assim que Santana pressionou o pequeno ferimento e jogou água para limpar, Rachel ficou maravilhava ao ver que o sangue já estava estancado. "Não se preocupe. Não vai haver nem cicatriz ao final do dia."
"Você sente dor?"
"Eu sinto!"
"Você é imortal?"
"Não. Eu só tenho cicatrização acelerada. Se eu receber um tiro no meu coração ou na minha cabeça, eu vou morrer. O seu poder é possivelmente de dispersão energética. Isso significa que nossos poderes têm naturezas diferentes, mas o que temos em comum é a necessidade do equilíbrio mental. Nesse ponto, respirar ajuda."
Santana corrigiu a postura e fechou os olhos, ao mesmo tempo em que dava instruções para Rachel.
"Não espere sentir nada agora. Não espere entrar em alfa. Concentre apenas em fazer a sua mente parar de tagarelar."
Rachel bem que tentou, mas a mente dela não parava. Ela se sentiu como um caso perdido. Abriu os olhos e ao seu lado estava uma garota linda. Era difícil conciliar a imagem da amiga irritante e mesquinha de Mercedes Jones com a da vigilante que procurava ajudar. A paisagem era agradável, o ar parecia limpo, mas a mente de Rachel não conseguia deixar de pensar em Finn e no próprio agressor. Ela queria superar tudo que passou, mas era difícil sabendo que o agressor poderia tentar novamente. Ela precisava se preparar e sentia que não tinha mais tempo. Tudo era tão sufocante, que gritou em agonia.
Santana abriu os olhos e viu a interessante cena daquela garota que ela sempre considerou insuportável de repente perdendo a estribeira. Rachel gritava para o mundo, chutava o chão, as árvores e o que pudesse. Santana deixou que Rachel extravasasse sem interferir, mas manteve-se atenta sobre outras pessoas que poderiam passar por ali e, principalmente, para qualquer tipo de manifestação de poder que Rachel poderia ter. Um guarda florestal se aproximou e ameaçou interferir, mas Santana foi rápida.
"Senhor." Ela disse se colocando à frente do homem. "Minha amiga precisa gritar. Deixa ela gritar."
O guarda viu a garota chorando copiosamente e depois sentando no chão batido. Então acenou para Santana e se afastou. Santana voltou total atenção para a colega. Ela se ajoelhou em frente a pequena diva e segurou as mãos trêmulas dela.
"Rachel, já passou. Tudo isso já passou. Não se segure no passado ou ele vai te arrebentar."
Rachel acenou e abriu os olhos, encarando Santana. A vigilante procurou manter a calma e nada comentou, mas os olhos de Rachel estavam completamente vermelhos.
