Desafio dos 100 temas: 23. Especial de algum feriado
Beta: Fic sem betagem! Qualquer erro será corrigido assim que possível.
Notas da Coelha: Eu confesso que nunca imaginei fazer algo com o dia de Natal. Talvez, quem sabe, por ser uma data que amei muito, por ser o feriado mais esperado após o dia das Crianças, que aqui no Brasil coincide com o de nossa Padroeira, mas por fim, após assistir ao filme "A Dickens of a Holiday!", fiquei com o que vi martelando minhas ideias, e bem... Não é novidade que gosto de me basear em filmes, minha Hearts on Fire está aí por isso mesmo, assim, bem, mas uma vez estou eu aqui, baseando um texto meu, uma nova fic em algo que gostei muito. Pode parecer piegas, mas eu sou uma aquariana às avessas, e amo histórias com finais felizes e amores a serem batalhados, ou mesmo reacendidos após uma longa separação, ou mesmo confessados! Assim, espero que gostem do que irão ler, e perdoem essa Coelha, pois ainda me sinto muito enferrujada.
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2 - A Surpresa
Yuuri deixara a sede da prefeitura e havia caminhado a esmo. Não tinha vontade de contar o que estava lhe atormentando no momento, pois não se sentia seguro sobre o que diria com relação a ter de chamar Viktor Nikiforov, o astro de filmes de ação, para vir substituir seu antigo mentor de teatro. Certo que o platinado também tivera aulas com dileto instrutor e dramaturgo, mas até que ponto a estrela de cinema iria se deixar levar por uma boa causa, e até mesmo pelo saudosismo.
Katsuki definitivamente não saberia dizer!
Balançando a cabeça algumas vezes, tentou afastar aqueles pensamentos que só poderiam fazê-lo caminhar para um desfecho, o qual ele não gostaria. Sua ansiedade estava controlada, na medida do possível, e não queria ter uma recaída tendo tantas coisas para fazer.
Não, não poderia se deixar envolver! Não era o momento!
Respirando profundamente, parou espiando uma das vitrines ricamente decoradas. O clima natalino contagiaria até mesmo a mais recatada das criaturas. Mesmo se não gostasse daquela data, iria sentir pelo menos alguma coisa, pois tudo parecia ganhar um "Q" de magia... E, não seria ele a ser indiferente a tantas coisas! Luzes piscantes, flocos de neve, papais noéis de feltro, pintados, em alto relevo, uma gama enorme de variedades, as renas, e muitos, mas muitos trenós carregados de presentes.
Com um sorriso pequeno, o nipônico continuou seu caminho, já um tanto mais aliviado da pressão que sentira! Resolveu que seria melhor evitar olhares conhecidos, afinal, o que não fosse proferido e questionado, ele não precisaria tentar formular uma resposta ou mesmo justificativa.
Realmente, Yuuri não queria conversar naquele momento. Não sentia vontade de interagir com ninguém. Havia evitado passar pelo estabelecimento de Chris e Phichit, e até mesmo conseguira entrar em sua casa sem chamar a atenção de sua família.
O silêncio desejado o recebeu em seu quarto, e ficar sozinho por um tempo era tudo o que queria. Todavia, nem tudo é como a gente quer! Seu fiel escudeiro, Vik-chan, o pequeno Poodle o vira ao sair de um dos quartos, e com sua euforia e latido esganiçado, fora até seu humano, abanando o rabinho feliz em comemoração pelo retorno de ser amado.
- Oh! Pequeno, eu voltei! Eu disse que voltaria, não é? – Yuuri arrulhou para o cãozinho marrom que eufórico, saltara para os braços do nipônico. Quando estava para fechar sua porta, voltou seu olhar curioso pelo corredor, saindo de seu próprio quarto, sua irmã o mirava com interesse.
- Yuuri, bem-vindo! – desejou Mari ao recolocar o maço de cigarros em seu bolso interno da roupa que usava. – Achei que você não viria mais hoje. Esperamos você, mas como começou a ficar tarde, mamãe pediu para guardar no forno seu prato. – informou ao se aproximar um pouco.
- Desculpe, eu acabei ficando imerso em meus pensamentos e...
- Se perdeu nas horas, não é? – a irmã mais velha completou ao lhe sorrir. - Tudo bem! Está com fome? – e antes que ele pudesse lhe responder, fez um sinal para que a acompanhasse. Na cozinha colocou o jantar para aquecer, enquanto observava o irmão se acomodar na pequena mesa de quatro lugares.
Em pouco tempo a irmã mais velha colocou o prato na frente dele. O cheiro era maravilhoso, fazendo o estômago deste roncar alto.
- Tome cuidado, está quente, esfomeado! – gracejou. Ao notar o bico feito pelo irmão, riu com gosto.
- Nee...
- Eu sei, eu sei! – respondeu Mari, pois sabia que seu irmão já não era um garotinho para que ela quisesse a todo custo o ver nervoso, mas haviam coisas que nunca iriam mudar!
- Obrigado, Mari-nee! – agradeceu ao levar a primeira bocada aos lábios. Sem conseguir se conter, gemeu deliciado ao degustar aquela iguaria que somente sua mãe preparava com esmero.
Sem dizer nada, Mari sorriu abertamente enquanto observava o irmão comer.
- Escuta, quanto tempo você pretende ficar? – perguntou quando ele levava os pratos para a pia e começava a lavar.
- O tempo que for necessário, Mari-nee. – respondeu um tanto pensativo. Sem perceber, Yuuri focara um local no jardim pela janela, e se perdeu em pensamentos. A pergunta de sua irmã era válida. Ele tinha de pensar com calma nisso, mas ainda estava tão confuso com tudo.
- Apenas não se apresse, sim? – pediu ao notar o estado do irmão. Mari sabia que de nada adiantaria se começasse a questioná-lo, o melhor seria dar tempo ao tempo, e ela sabia que Yuuri de uma forma ou de outra, iria procura-la. Mas ao notar o movimento contínuo que ele fazia ao movimentar os ombros, como se estivesse com dores no pescoço, teve de agir. – OK! O que te preocupa? – Mari o conhecia muito bem, aquele silêncio todo não seria por uma boa causa. Se aproximando devagar, retirou a louça de suas mãos, o que o fez voltar os olhos arregalados em sua direção.
- O que disse? – Yuuri perguntou ao piscar várias vezes já um tanto sem graça.
- Eu te perguntei o que está te preocupando? – Mari refez a pergunta, e ao notar o mutismo do irmão, forçou. – Você já falou com Minako e Celestino, correto? – quis saber.
- Sim, e ainda estou tentando digerir o que chegou até meu conhecimento. É preciso entrar em contato com o substituto escolhido por Celestino. – confessou Yuuri.
- Celestino não irá atuar? – Mari perguntou, pois ninguém sabia da condição de saúde do mestre de teatro.
Balançando a mão várias vezes à frente de si mesmo. Yuuri de olhos arregalados, gesticulou para que a irmã falasse baixo.
- Por favor, oneesan, fale baixo! – pediu ao voltar seus olhos para todas as direções. – Vou te contar algo, e gostaria que não dissesse a mais ninguém. Não por hora! – Yuuri murmurou e a puxou para o lado de fora da casa. Sem rodeios, contou o que vira e sobre o problema de saúde de Celestino. – Por hora ainda é um segredo, mas deixará de ser assim que tiver de anunciar a escolha feita por Ciau-Ciau!
- Certo, e é isso que te preocupa? – Mari insistiu. Agora que havia começado, tinha de ir até o fim, pois notara com surpresa, que estava se enganando com relação a seu irmãozinho. Se aquilo tivesse acontecido uns dez anos antes, sabia quer teria de lhe dar tempo para poder ouvir toda a história, no entanto, ali estava ele, inseguro, mas não se deixando levar por sua ansiedade.
- O problema é quem Celestino escolheu! – divagou Yuuri ainda buscando por sua coragem para dizer quem seria essa pessoa.
- Ele não te deixou fazer a escolha sozinho? – quis entender Mari.
- Não! – o moreno mordiscou o lábio inferior. – Como eu disse, ele escolheu o nome não dando chance para os nomes que Minako e eu divagávamos.
- E quem é o escolhido, Yuuri? – curiosa, Mari se aproximou mais do irmão. – É alguém tão ruim, ou repugnante que você não queira trabalhar com ele? – perguntou ao começar a se preocupar.
- Não, não... – Yuuri negou prontamente, e ao notar o olhar questionador de sua irmã, suspirou resignado antes de contar. – Celestino quer que eu contate Viktor Nikiforov! – e ajeitando os óculos sobre a ponte do nariz, sustentou o olhar da morena mais velha.
- Ah! Agora eu entendi! – Mari parecia não ter muito o que dizer, e sabia que o melhor era não fazer nenhuma gracinha.
- Viktor é um ator que se saiu muito bem em filmes de ação, e não sei se ele deixaria Los Angeles agora, apenas para retornar a sua cidade natal para atuar em um espetáculo beneficente! – Yuuri choramingou.
- Yuuri, se Celestino pediu, pode ser por que ele ache que Viktor venha a aceitar, e não adianta se esconder atrás de sua ansiedade, e insegurança. Você sabe que o não, você já tem! Assim, não peque por não tentar! Pense nisso! – e deixando o que havia dito no ar, Mari o deixou sozinho.
Yuuri sabia que sua irmã tinha toda razão, e ele não poderia se acovardar, assim, decidido, se recolheu ao seu quarto, prometendo a si mesmo que no outro dia sem falta, iria até o restaurante dos Nikiforov`s pedir o contato de Viktor.
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Ao acordar no outro dia, Yuuri apareceu na sala de jantar, encontrando sua família reunida. Mari não havia comentado nada a respeito do que haviam conversado, assim ele melhorou um pouco sua aparência para não preocupar seus pais.
- Yuu-chan, o que você fará hoje? – perguntou Hiroko ao servir mais um pouco de chá verde ao filho.
- Agora cedo vou me reunir no teatro com o elenco, e checar como anda a instalação e montagem do cenário. Creio que tenha algumas coisas a serem reformadas, e não quero deixar para depois. – respondeu cauteloso.
- Se precisar de ajuda, só me chamar, Yuu-chan! – Toshyia se ofereceu. – Minha agenda no consultório está maleável esse final de ano.
- Vou me lembrar disso, otousan! – Yuuri sorriu. Sabia que seu pai estava animado por ter sua família toda reunida. Ele sabia que aquilo valia para todos ali, e não se faria de tonto, se precisasse, iria sim pedir ajuda a todos eles.
- Você volta para almoçar conosco? – Mari perguntou antes que os pais fizessem qualquer tipo de pergunta sobre a peça.
- Acredito que só volte na hora do jantar. – respondeu ao mesmo tempo em que checava as horas no cristal de seu celular. – Oh! Céus! – exclamou ao levantar de um pulo. – Vou chegar atrasado! – alarmou-se. - Até mais tarde, obrigado pela comida! – agradeceu enquanto colocava as louças sujas que havia utilizado na pia, e saia apressado de sua casa.
Ao descer a rua, saudou alguns conhecidos, e em pouco tempo estava chegando ao pequeno teatro que se localizava na praça central de Serenity Falls.
- Bom dia, Ben! – saudou um senhor de meia idade que estava dando uma demão em um dos muitos painéis que seriam usados na peça.
- Bom dia, jovem Yuuri! O pessoal já está te esperando. – informou com um sorriso.
- Ótimo! Quero conversar com eles, e ver se teremos de fazer algumas trocas e acertos.
- Esse pessoal gosta do que faz, Yuuri! – Ben replicou rapidamente. – Eles não vão desapontá-lo. – comentou, sem notar que o nipônico seguira resmungando alguma coisa.
Para Yuuri, não era com os atores sua preocupação, mas sim com ele mesmo e sua direção do espetáculo. Agora, sentia o peso de tomar decisões erradas, ou mesmo dirigir a nova trupe erroneamente e estragar o show. Se nunca tivesse se anulado tanto, nada disso teria acontecido. Mas como diz o dito popular: De nada adiantaria chorar ao leite derramado! Assim sendo, ajeitou melhor seus óculos, e entrou pelo corredor principal do teatro.
No palco entre conversas e risos, pode notar rostos conhecidos, entre eles o de Phichit, que ao vê-lo abriu um sorriso feliz.
- Bom dia! – saudou a todos. Yuuri pode observar, que só faltava mesmo a Celestino. Ele duvidava que o antigo mestre estaria ali com eles. Ele precisava de seu repouso e descanso.
- Bom dia! – vozes em uníssono vieram em resposta.
- Alguns não me conhecem, mas sou Yuuri Katsuki, seu novo diretor, e gostaria de conversar com todos antes de começarmos a ensaiar.
- Não, isso é inadmissível! – rosnou alguém ao fundo, escondido entre as sombras ao fundo do palco. – Não podemos ter dois Yuris! – a voz irritada cortando o moreno.
- Claro que podemos, você sempre será Yura para nós, e se aquiete! – ordenou Phichit. – Deixe nosso novo diretor falar!
- Sim, claro que vou deixar. – o tal resmungão fuzilou o tailandês, e continuou a carga. - Onde está Celestino? Geralmente ele é o primeiro em chegar, e sempre faz o Scrooge e nos dirige. – seu olhar parecia fuzilar aos dois morenos que o encaravam surpresos. Olhos muito verdes os miravam com rancor e indignação.
Era estranho e até mesmo surreal notar que um jovem tão pequeno poderia ser assim tão amargo e bocudo.
- Yuri, tenha modos! – alguém solicitou, o que fez com que o garotinho apenas fizesse uma careta.
- Vejo que a prefeita digo, Minako-sensei não conversou com vocês. – Yuuri suspirou com pesar ao notar os olhares para si.
Phichit era o único que conhecia metade dos fatos, e o nipônico estava agradecido aos céus por ele não ter contado nada aos outros.
- Esse ano, excepcionalmente, Celestino-sensei não poderá estar junto conosco. – começou Yuuri, deixando que algumas pessoas contestassem aquela informação. – Ele está com um problema de faringite, e as ordens médicas foram que ele precisa manter repouso em absoluto. – Sei que não estou à altura de Celestino, também sei que ele me confiou a direção, e eu vou tentar fazer o meu melhor, e espero que vocês também façam o mesmo! – seus olhos curiosos vagaram em todas as direções, mirando seus novos atores com mais curiosidade do que eles o miravam, e em seguida as apresentações começaram.
Em pouco tempo, muita coisa fora vista, papéis foram mantidos, e aos olhos do japonês, cada pessoa que se apresentava, e passava um pequeno trecho de uma parte, escolhida por ele, da peça se encaixavam como uma luva!
Exausto emocionalmente, o moreno não notara que ele estava sendo esperado por seu melhor amigo, surpreendendo-se com sua aproximação.
- Sério mesmo que o Ciao-Ciao não atuará esse ano? – Phichit perguntou ao para ao lado de Yuuri um tempo depois.
- Não tem como, Phichit! – Yuuri respondeu ao mesmo tempo em que guardava suas coisas. – Mas ele já escolheu um substituto, eu só tenho de criar coragem para o chamar. – confessou o moreno.
- E pode-se saber quem é o favorito escolhido por Ciao-Ciao? – o tailandês mal conseguia controlar sua curiosidade.
- Nem preciso dizer que é um segredo por hora, não é? – começou enquanto via o amigo concordar com sua exigência, continuou. – Ele quer que eu chame Viktor Nikiforov para assumir o papel.
- Como? – o moreno de olhos acinzentados estava em choque. – O Viktor, grande ator de filmes de ação? – Phichit parecia uma criança surpresa, olhos arregalados e eufóricos. Só faltava estar pulando e batendo palmas ao mesmo tempo.
Yuuri apenas sorriu pequeno e até mesmo sem graça. O melhor amigo conhecia sua paixonite secreta, e o moreno mais velho, estava quase caindo de joelhos e agradecendo aos céus, por Phichit não ter feito um escândalo.
- Eu vi pelas colunas de fofocas, que ele está terminando as gravações de seu último filme.
- Também fiquei sabendo a esse respeito, mas é como se eu não tivesse muitas opções. – Yuuri comentou suspirando em seguida. Era estranho, mas ao mesmo tempo parecia o correto chamar o platinado. – Eu sei que o não eu já tenho, mas eu preciso me preparar para essa possível negativa, e somente aí começar a pensar em quem poderia estar no lugar do senhor Scrooge.
- Então, ligue para ela! – Phichit apontou o celular do amigo.
- Tenho um pequeno problema. – e Yuuri mirou o amigo um tanto entristecidos. – Eu não tenho o celular, ou mesmo um e-mail para contato com ele.
- Entendi! – Phichit bufou ao balançar a cabeça algumas vezes. Ele poderia pedir a Chris o número, mas ele tinha certeza que o marido iria correndo contar ao amigo, talvez não, mas o melhor seria evitar uma situação que acabasse estragando tudo. – Acho que você poderia pegar o número com Mila no restaurante deles. – comentou ao arquear uma sobrancelha.
- Sim, eu... Você quer vir comigo? – chamou o japonês.
- Você sabe que tenho de estar no restaurante com Chris, esse horário já começamos a ter um maior movimento. Desculpe! – Phichit abriu um pequeno sorriso um tanto chateado. Sim, ele gostaria de ir com o amigo, mas ele precisava voltar para ajudar o marido em seu próprio negócio.
- Sem problemas! Creio que não terei nenhum contratempo em pedir o número do irmão dela. – Yuuri disse mais para si mesmo, tentando com isso se convencer que não estaria tocando em um assunto delicado.
- Bem, com Mila e Sarah talvez não, mas com Yuri, o pequeno gato arisco que estava aqui até a pouco tempo, hmm... Tenho cá minhas dúvidas. – Phichit parecia muito pensativo e até mesmo um tanto sério. – Esse pode querer te irritar com seus modos grosseiros, e desafiador. Realmente, ele não parecer ter a idade que tem! - ponderou o tailandês. – Mas, pensando bem, o gatinho irritado, só ficou assim após o falecimento de seus pais, e não perdoa o tio por levar uma vida longe daqui. Algo sobre promessas quebradas...
- Entendo, mas mesmo assim, eu ainda preciso do número de Viktor. – Yuuri murmurou pensativo. – Acho que não tenho muita escolha. – completou ao dar de ombros. – Me deseje sorte! – pediu ao amigo.
- Merda! – gracejou o moreno ao utilizar o bordão do teatro, em vez de apenas desejar-lhe sorte como uma pessoa qualquer.
Com um sorriso divertido, Yuuri caminhou ao lado do amigo seguindo juntos até uma parte do caminho. Se separaram a frente do principal banco da cidade, onde Phichit seguiu para a esquerda, e o japonês a direita.
Curioso, observava as vitrines notando quem ainda estava ali, e os poucos rostos novos que divisara através dos vidros ricamente ornamentados.
Parando de chofre, observou com saudosismo a construção no final da rua. As cores pareciam estar um pouco mais claras, quiçá fosse devido ao gelo e neve, mas tudo parecia igual como da última vez que ali estivera. Observando melhor quando já estava quase as vias de fato de entrar, notou as pequenas mudanças aqui e ali, coisas mínimas, mas que anteriormente não faziam parte da bela fachada.
Balançando um pouco a cabeça, voltou seu foco para o que realmente precisava. Aquele não era o momento para se perder em devaneios e encontrar novidades na fachada do restaurante.
Atravessando a rua, entrou no estabelecimento para ser recebido por uma linda mulher de tez levemente amorenada e expressivos olhos lilases.
- Olá! Seja bem vindo! – uma voz melodiosa o saudou. – Mesa para um? – perguntou sem dar-lhe chance de responder o cumprimento.
- Olá, boa tarde! Sim, por favor, mesa para um. – agradeceu Yuuri ao se deixar ser guiado por ela até uma mesa vaga. – Obrigado! – agradeceu ao pegar o menu para escolher o que iria pedir.
Estava se decidindo ainda, quando levantou os olhos rapidamente do menu para travá-los com os esverdeados que se encontravam bem a sua frente.
- Diretor... – Yuri o saudou com um olhar desconfiado.
- Oi, Yuri! – respondeu o japonês. De todas as pessoas que poderiam aparecer em sua mesa, tinha de ser o loiro arisco. – Estou indeciso, o que você poderia me indicar? O que você mais gosta? – perguntou ao encará-lo e tentando com isso evitar uma possível explosão de ira do loirinho.
- Pirozhkis! – respondeu sem muito pensar. – Tenho certeza que vai gostar. – comentou o pequeno puxando uma cadeira e se ajeitando nesta. – Vou chamar alguém para pegar seu pedido! – informou o loirinho, mas antes que ele pudesse se levantar, uma mulher alta, ruiva de olhos azuis se aproximou da mesa com um sorriso aberto e jovial.
- Olá em que posso ajud... – parando de falar, a mulher arregalou os olhos. – Aí pelos céus! Yuuri Katsuki! Nossa estrela de balé? – perguntou mais para ter certeza do que estava dizendo.
- Oi, Mila! – saudou o moreno sentindo suas bochechas em chamas. – Hoje eu já não danço mais! – informou ainda levemente envergonhado.
- Eu soube por Mari. – Mila respondeu ainda sorrindo. – Mas para nós você sempre será nosso melhor bailarino. – comentou meigamente. - Fico feliz que tenha voltado. Yura nos disse que você está dirigindo a peça para o festival. – a ruiva disparou a falar. – Confesso que estou bem empolgada para assistir esse ano. – dando uma piscadela na direção do loirinho, que emendou um bico feio e enorme em resposta. Arqueando as sobrancelhas, a russa voltou seus olhos pelo salão antes de por fim perguntar: - O que vai ser?
- Sim, esse ano a direção será minha, e eu espero não desapontar ninguém! – Yuuri ciciou, para logo em seguida comentar. – Me indicaram Pirozhkis, e gostaria de provar. – abrindo seu melhor sorriso, o moreno deu uma piscadela para o jovenzinho a sua frente.
- E queremos suco natural de morango! – a voz mandona se fez ouvir.
- Ah! Sim, e suco, por favor! – o nipônico pediu polidamente tentando com isso demonstrar ao gatinho arisco que este precisava ser cordial e respeitoso. Mas ele duvidava que o mesmo havia percebido o que ele tinha insinuado.
- Ah! Uma boa escolha! – respondeu com um sorriso. – Yura, não seja malcriado, ok? – não era um pedido, mas sim uma ordem.
O que o japonês entendeu ser algo divertido, em parte, pois a criança a sua frente parecia estar tentando se controlar como solicitado.
- Por que você aceitou ficar no lugar de Celestino? – questionou sem rodeios o de menor assim que eles ficaram sozinhos.
Ajeitando os óculos na ponte do nariz, Yuuri lhe sustentou o olhar.
- Por que ele não pode falar. – começou rapidamente. – Se ele tentasse forçar sua voz, quem sabe o que poderia acontecer, não?
- Entendo... – Yuri quis parecer sabido ao responder como sempre vira os mais velhos falarem. – Você parece ser interessante, mas vamos ver como se sai. – comentou sem filtros nenhum.
O nipônico arqueou as sobrancelhas um tanto ressabiado, mas achou de bom tom, não responder nada, afinal, não estava com muita vontade de ver aquele garotinho com ares de sabe tudo, se inflamar.
Quando Yuri ia abrir a boca para quem sabe, estorvar mais um pouco ao moreno, sua tia chegou com o pedido, o que o fez ficar em silêncio, e apenas agradecer por terem sido servidos. Pensou que poderia fazer uma das suas com o novo diretor, mas deixou que o mesmo tivesse tempo de paz, tranquilidade e até mesmo de privacidade ao ficar em silêncio.
Ao provar a primeira iguaria, Yuuri sorriu abertamente. O gosto era maravilhoso, e ao voltar seus olhos na direção do loirinho comentou:
- É delicioso!
- Eu disse que iria gostar! – Yuri comentou com orgulho. – É o meu preferido! Tia Mila mesmo quem faz, e fica até um pouco melhor que o de minha mãe e o de minha babushka! (avó) – disse com carinho e até mesmo orgulho.
- Hmm... acho que também vou eleger Piroshkis como um de meus pratos favoritos. – abrindo um sorriso satisfeito, não demora muito para se sentirem saciados.
Um pouco antes de pedir a conta, se viu mais uma vez rodeado, agora não só pela ruiva, mas pela morena que o tinha recepcionado.
- Yuuri, essa é Sara, minha noiva! – Mila apresentou.
- Ora, mas vejam só! – o japonês sorriu ao segurar a mão da recém chegada entre a sua. – Prazer em conhece-la. Felicidades as duas! – desejou, e antes que pudesse tomar uma atitude embaraçosa, as duas sentaram com eles a mesa, iniciando uma conversa amistosa.
Yuuri descobrira que Sara chegara à cidade a pouco mais de nove anos, e que eles não se conheceram antes, pois ele já havia ido embora para Juilliard. Quando o nome de Viktor surgiu, o nipônico se sentiu a vontade de contar seu dilema, e como Phichit mesmo havia lhe dito, Mila não fora um empecilho, muito pelo contrário, puxara o celular do moreno para si, incluindo o número de seu irmão em contatos importantes.
- Se eu fosse você, nem ligaria para ele! – a voz azeda do loirinho acabou por chamar a atenção de todos a mesa. – Você pode encontrar alguém melhor por aqui mesmo!
- Yura! – Mila mirou-o estupefata. – Ele é seu tio, não seja assim! – exigiu.
- Por favor, Yuuri, não ligue para esse arroubo de ingratidão. – pediu Sara, ao tentar apaziguar um pouco a situação. – Ele está assim, pois o tio não tem sido uma pessoa presente, faltando um pouco com suas promessas.
- A carreira dele é mais importante que voltar para nos visitar! – ruminou o de menor ao deixar que um bico maior que chaleira surgisse em seus lábios. – Ele nem deve se lembrar de nós!
- Yura, seu tio nunca esquece seu aniversário e natal! – Mila sustentou-lhe o olhar enviesado.
- Quem garante que não é outra pessoa que faz isso para ele? – perguntou ao levantar um pouco o queixo em sinal de desafio.
- Yura, chega! – Mila o fuzilou. – Se não sabe ser cordial e respeitar a visita de seu diretor, e falar de quem nem aqui está, acho melhor ir se recolher lá no fundo e aguardar que o levemos para casa! – e ao notar que o jovenzinho iria retrucar, foi mais rápida. – Aconselho vossa senhoria, de que tome cuidado no que irá dizer, ou poderá receber um castigo severo e a altura! Agora vá lá! – e indicou a porta que levaria para o escritório nos fundos do estabelecimento.
Sem se despedir, e ruminando o que gostaria de falar, Yuri deixou a mesa sem nem mesmo olhar para trás. Ele sabia que se enfrentasse a tia, não iria ser algo legal, e verdade fosse dita, ele não queria receber um castigo faltando tão pouco para as festividades, e ele gostaria muito de aproveitá-las junto de seu amigo Otabek!
- Yuuri, mil desculpas! – pediu Mila parecendo finalmente ter voltado a si. Ela tinha o rosto afogueado, e os olhos azuis brilhavam com lágrimas contidas. – Yura sempre fora um menino bom, respondia por vezes, mas a situação piorou quando seus pais faleceram, e as visitas de meu irmão se tornaram mais escassas.
- Por favor, vocês não têm do que pedir desculpas para mim. – Yuuri apressou-se em responder. – Eu, talvez, devesse ter pedido o número de Viktor longe dele, e se eu soubesse que isso poderia acontecer...
- Não, não se recrimine por algo que não foi sua culpa. – Sara o mirou com calma. – Yura tem o gênio forte, e pelo que me lembro de meus cunhados, ele é a cópia fiel do pai e da mãe. – mirando um ponto qualquer, a italiano perdeu-se em seu saudosismo.
- Mesmo assim, eu não quero gerar um mal estar, ou mesmo algo inconveniente. – Yuuri não podia deixar-se levar por sua ansiedade. Não agora!
- Relaxa, Yuuri! – pediu Mila ao segurar a mão deste por sobre o tampo polido da mesa. – Viktor é sempre um tema perigoso próximo de Yura! Esse garotinho tem o temperamento muito esquentado...
- Mas que no fundo, no fundo, ama o tio! – Sara completou o pensamento de sua noiva. – Ele só tem um jeito peculiar de o demonstrar! – risos anasalados escaparam de ambas as mulheres, e o diretor a frente delas pareceu relaxar um pouco.
Volvendo os olhos para o cristal liquido de seu celular, Yuuri arregalou os olhos surpreso. Haviam conversado até demais, e acabara que era um tanto tarde para ligar para o platinado. Talvez, quem sabe, este não estivesse mais em filmagem, assim não seria tão tarde! Ou seria? Dando de ombros, seguiu as anfitriãs até o caixa, fazendo questão de acertar sua conta, e saindo em seguida.
Nos degraus de pedra, parou para admirar a abóboda azulada. O céu estava límpido, e trazia muitas recordações boas de sua meninez correndo e brincando com sua irmã e os poucos conhecidos de Pega-pega, e Esconde-esconde. Estava tão absorto em seus pensamentos, que quase deu um pulo ao escutar uma voz baixa logo atrás dele.
- Você vai mesmo ligar para o meu tio vir? – Yuri questionou se afastando da parede que estivera encostado até aquele momento, apenas aguardando a passagem do diretor.
- Eu pretendo! – respondeu ao ajeitar melhor os óculos sobre a ponte do nariz.
- Tomara que ele aceite, assim poderei passar um tempo com ele. – ciciou Yuri, que ao perceber o que havia dito, fechou a cara, murmurando coisas sem nexo algum.
- Vou fazer meu melhor, prometo! – Yuuri falou solenemente. – Te vejo para o ensaio hoje à tarde! – e sem esperar respostas, desceu as escadas rapidamente, ganhando as ruas e se misturando com os transeuntes.
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Los Angeles – mesmo dia
Um homem se joga para fora do alcance de tiros, se escondendo entre escombros, para logo em seguida, atirar na direção de seu algoz, que abalroado por tiro certeiro, passou desta para uma melhor.
Ao sinal do diretor, a cena foi cortada. E o homem que caíra morto ficara em pé, sorrindo feliz, cumprimentando seu algoz.
- Obrigado por hoje! – desejou ao sair do set de filmagem o homem alto e de cabelos platinados.
Estava quase chegando em seu camarim, quando foi abordado por seu assessor.
- Viktor, oi! – lhe chamou a atenção. – Te trouxe um pouco de chocolate quente, e já comprei os presentes para sua irmã, cunhada e sobrinho. – informou, sempre sendo bom no que fazia.
- Ah! Obrigado, Georgi! – agradeceu ao pegar o copo descartável, e tomar uma boa golada, deixando o líquido doce e encorpado esquentar seu corpo frio. – Hmm... do jeitinho que eu gosto! Obrigado! – agradeceu mais uma vez. – Agora, me diz o que comprei de presente para minha família? – questionou. Seria outro natal que ele não voltaria para casa, assim, precisava se inteirar das coisas, para não cometer nenhuma falta.
- Bem, vamos lá! – o moreno de expressivos olhos azuis, buscou por sua caderneta no bolso interno de seu sobre tudo, abrindo quase no meio desta, começou a ler. – Para sua irmã e cunhada, um dia em um Spa para poderem relaxar um pouco dos afazeres. – fez uma pausa ao escutar o platinado aprovar sua escolha, continuando a seguir. – E para seu sobrinho, um novo controle gamer de última geração, e um novo jogo para ele, pois se lembro bem, alguns meses atrás quando vocês se falaram ao telefone, algo tinha acontecido com a mídia do jogo "The Last of Us – Parte II". – Georgi respondeu, por fim fechando sua caderneta de notas.
- Perfeito, Georgi! Fico muito agradecido! – Viktor lhe sorriu. – Eu não teria tido tempo para ir até a loja, e você sabe que minha paciência não é uma das melhores para fazer uma encomenda online.
Sim, o platinado não tinha boas recordações com encomendas feitas na web. Assim, Georgi, seu fiel escudeiro, era seu "salva pátria"!
Bebericando mais um pouco de seu chocolate, escutou com atenção o que teria para mais tarde, e deixando o corpo cair no sofá confortável, suspirou pesaroso.
- Algum sinal de Yakov? – Viktor não conseguiu conter sua curiosidade.
- Não, nada ainda! – Georgi voltou seus olhos na direção do ator. – Ele não se pronunciou, e não sabemos nada sobre aquele novo projeto. Yakov saiu para uma reunião com os patrocinadores, e você sabe como isso pode ser demorado, não? – sustentando as íris tão claras como as suas, o moreno pode notar que Nikiforov parecia ter murchado um pouco.
- Será que Yakov se esqueceu como eu quero aquele papel? – questionou ao coçar atrás da nuca. – Minha mãe amava aquele livro, e eu queria tanta fazer isso, mesmo que ela já não esteja mais aqui.
- Sei disso, Viktor, e tenho quase certeza de que ele não deve ter se esquecido. Basta termos fé. – completou o moreno.
- Ah! Como sempre muito esperançoso Georgi! Gosto disso! – Viktor comentou. – Bem, agora vou descansar um pouco. – e com um aceno, fechou a porta do trailer, e lá ficou.
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Serenity Falls – mesmo dia
O segundo ensaio, mesmo ainda sem Yuuri contar sobre quem iria substituir Ciau-Ciau, havia corrido bem. No palco haviam ficado Phichit e Yuuri, pois este último, estava estudando alguns acertos no cenário.
O silêncio começava a ser constrangedor.
Quando Yuuri pensou em falar alguma coisa, o tailandês curioso tomou a frente.
- Certo, o que foi que eu perdi, ou ainda não entendi, Yuuri? – Phichit pergunto ao mirar seu melhor amigo enternecido.
- Não perdeu nada! – Yuuri respondeu prontamente, sem nem voltar os olhos para ele. O cristal liquido de seu celular com nome de Viktor, conseguidos com Mila, parecia ser muito mais interessante de se olhar, do que focar no rosto do amigo.
- Você conseguiu o número de Viktor, então por que não liga? – perguntou tentando se controlar.
- Oras, e você acha que ele iria atender uma ligação minha? Um número desconhecido? – Yuuri rebateu com nova pergunta. – Acredito que Viktor seja um homem ocupado, e que não perderia tempo com isso. – e ao falar, gesticulou com um braço aberto, apontando para o local a fim de dar maior ênfase ao que acabara de dizer.
- Se você não tentar, nunca irá saber o que ele pode ou não te responder! – simples e direto ao ponto, este era Phichit.
- Não sei, Phi... – o diretor fez uma pequena pausa para pensar, antes de continuar. – Estou receoso com toda essa situação.
- Bem, se você não fizer isso, nunca irá saber. – Phichit em um arroubo de impaciência, se aproximou sorrateiramente, tocando na tela do celular alheio, fez com que a chamada fosse iniciada.
- PHICHIT, SEU DOIDO! É UMA CHAMADA DE VIDEO E...
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- Você já quer ir para casa? – Georgi perguntou, enquanto Viktor parecia mais frustrado, perdido em pensamento, com o olhar fixo no livro que havia ganhado de sua mãe. O mesmo que estava em produção, e que ele gostaria de participar fazendo um dos personagens chave. – Viktor?
- Oi... desculpe, Georgi, o que foi que você disse? – perguntou o platinado ao sair de seu torpor.
- Casa? – mas Georgi parara de falar ao ouvir o toque do celular de Viktor. O pegando entre as mãos, pois estava mais próximo, observou o cristal e acabou por reconhecer o código de área de Serenity Falls, murmurou. – É de sua casa, mas desconheço o número. Quer que atenda? – perguntou, mas com a demora do platinado, Georgi tocou a tela em atender, e deixou a ligação acontecer.
- Ah! Olá...
- Oi... Um momento! – pediu. – É... é Viktor... – Georgi virou o celular na direção do platinado para que esse pudesse ver o moreno do outro lado.
Curioso, o platinado voltou sua atenção para o aparelho. Arregalando os olhos, ele se aproximou um pouco mais.
- Oh! Céus! Yuuri... – Viktor venceu o resto de distância que faltava entre ele e Georgi, pegando o eletrônico das mãos dele. – Quanto tempo! Acho que a última vez que nos vimos, foi quando você dançou o Quebra Nozes!
- Sim, faz tempo! – Yuuri respondeu corando violentamente. Será que nunca iria se livrar daquilo? Sempre seria assim quando estivessem próximos, ou se falando?
- Fiquei sabendo que você estava dirigindo após se formar na Juilliard! – comentou. – Estava com um projeto grande para a Broadway, não é? – quis saber.
- Não foi bem assim, era um teatro secundário, algo quase lá... – respondeu um tanto atordoado. Não sabia que Viktor acompanhava sua trajetória. Balançando a cabeça, buscou um modo de abordar o assunto desejado antes que algo acontecesse, e a ligação terminasse.
Viktor era um ator ocupado!
- Você está em Serenity Falls? – perguntou curioso. – Seu código de área está dando como...
- Sim, e é até mesmo por isso que estou te ligando. – Yuuri controlou sua ansiedade focando sua atenção ao que deveria fazer. – Como você deve se lembrar, nessa época do ano temos a grande festa de final de ano, com apresentações de teatro, danças, e bem, o carro chefe sempre foi "Um conto de Natal" de Dickens.
- Sim, claro que me lembro, como eu poderia me esquecer? – Viktor comentou eufórico. – Celestino ainda faz o senhor Scrooge? – quis saber. Seu sorriso em forma de coração continuava tão sedutor como antigamente.
O coração de Yuuri disparou no peito, e respirando pausadamente por um tempo, respondeu.
- Faria, Viktor, mas ele está doente, com faringite, e não poderá se apresentar por ordens médicas, por isso estou aqui para dirigir a peça, e Celestino te escolheu para o substituir. Você poderia assumir o papel? – Yuuri mordiscou o lábio inferior em pura agonia. Ele nunca havia desejado que alguém aceitasse um convite como esse.
- Puxa, Yuuri! Eu gostaria muito de poder ajudar, mas estou no aguardo de um grande papel que é muito importante para mim. – um tanto chateado, o platinado coçou atrás a nuca. – Fico lisonjeado por ter sido escolhido por Celestino, mas sou obrigado a declinar de tal pedido. Desculpe! – ciciou o platinado ao notar o olhar entristecido do moreno.
- Tudo bem, eu compreendo! – Yuuri murmurou. – Obrigado por sua gentileza em me atender. Até um dia, Viktor! – e antes que o russo pudesse responder, o nipônico desligou a chamada. Não havia notado as lágrimas de desapontamento deslizando por seu rosto, até que Phichit as limpou. – Não, não diga nada, por favor! – pediu tentando esconder mais sua frustração.
Como bom amigo, naquele momento o tailandês deu o espaço que Yuuri precisava, mas em um outro momento, eles iriam ter uma bela conversa.
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Los Angeles – por do sol
Mais tarde, Viktor já em sua casa, sentia-se impaciente, e tentava distrair a mente.
Flashs da conversa com Yuuri voltavam a todo momento a lhe bombardear as ideias, e ele precisava de tranquilidade, pois Yakov poderia chegar a qualquer momento com a notícia que poderia transformar sua carreira.
Andando de um lado para o outro, o platinado parou ao escutar um barulho quebrando o silêncio.
- Calma, Viktor! – pediu Georgi preocupado. – Você pode ter alguma coisa, passar mal!
- Sim, eu sei, Georgi! Todavia, eu não consigo ficar calmo e quieto em meu canto. Ainda mais com Yakov para chegar, trazendo alguma resposta para meu dilema. – ao terminar de falar, notou o carro do agente estacionado bem a frente da entrada principal. Pela janela, pode ver quando o homem meio calvo deixou seu veículo, e rumou para dentro.
- Boa tarde!
- Boa tarde, Yakov! – Viktor o saudou, quase pulando feito aqueles cães pequenos, que ficam felizes quando seu tutor chega. – Alguma novidade? – quis saber.
- Não, Viktor, realmente eles não acharam que você se encaixe naquele filme, mas não se preocupe, podemos arranjar algo melhor para você. – a voz de barítono parecia ribombar entre as paredes da sala de estar.
Que balde de água fria!
"Bem, mas nem tudo estava perdido!" - pensou ao mirar seu celular, e em seguida para Georgi. Uma ideia mirabolante se formando.
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Fora difícil fazer Phichit jurar que não iria contar nada para ninguém, mas por fim, o tailandês concordara em não falar nada, até o outro dia, quando Yuuri os reuniria logo pela manhã para um ensaio, e contaria que não haveria apresentação naquele ano.
Ao entrar no teatro, o nipônico teve de engolir a seco, pois todos já se encontravam ali, e bem, ele tinha de ser honesto com todos eles.
- Bom dia, pessoal! Antes de mais nada, gostaria de tratar um assunto com vocês. – Yuuri fez uma pausa para logo em seguida continuar. – Sabemos que Celestino está adoentado, e ele solicitou que eu convocasse quem ele queria para o papel de Scrooge. – fez uma pausa para apenas ter a certeza que todos estavam prestando atenção. – Ele queria Viktor Nikiforov para o substituir, mas ao entrar em contato com ele, bem, o senhor Nikiforov não poderá vir, pois está para ser chamado para um novo papel, e ele precisava estar disponível na mesma época de nosso festival.
- Como sempre, eu já nem me espanto mais! – ralhou Yuri ao estreitar os olhos.
Yuuri não tinha coragem de lhe dirigir o olhar. Ele havia fixado em um ponto qualquer, que não onde o gatinho arisco estava.
- Sendo assim, por não termos um tempo hábil para acharmos alguém que possa levar o papel principal, estou cancelando a peça esse ano!
- Não, Yuuri! Podemos dar um jeito! – as vozes pareciam se unir em uníssono apenas para o confrontar. Confrontar sua decisão.
- Desculpem, eu tentei, mas não há meios! Temos de cance...
- Mas você pode atuar! – Yuri insistiu.
- Não, eu não posso levar a direção e atuar, Yura! O melhor é cancel...
- Opa! Oiii... Oieee! Não, como assim? – a voz de barítono, forte e máscula chamara a atenção de todos.
Pelo corredor central, o platinado caminhava apressado, para subir no palco.
- Como assim? – Yuuri não conseguia compreender anda. Se aproximando do homem recém chegado, fez sina para que eles se afastassem um pouco. – O que aconteceu?
- Resolvi te fazer uma surpresa! – gracejou ao lhe dar um sorriso em forma de coração.
- Viktor, não brinca comigo, conosco! – pediu ao sustentar lhe o olhar.
- Eu não estou brincando! – reforçou. – Me diga, Yuuri, eu preciso fazer algum teste? – perguntou com certa picardia na voz, fazendo uma pose de ataque geralmente usada em seus próprios filmes de ação.
Foram ouvidos vários suspiros e sussurros, o que fez com que o diretor revirasse os olhos e suspirasse profundamente.
- Não, Viktor! Não precisa disso! – o moreno esfregou as têmporas com vigor. Estava começando a ficar com uma dor de cabeça irritante.
- Yuuuu... ri... eu estou vendo sua cara feia, sem isso por favor! – pediu o platinado. – Não somos mais crianças, e você sabe, o show tem de continuar! – deu-lhe uma piscadela.
Desconcertado, Yuuri deu um passo para trás, ao ter um mini furacão passando entre eles.
- Por que você veio?
- Yura, eu vim, pois fui convidado, e quis te fazer uma surpresa.
- Surpresa é? – questionou o loirinho muito desconfiado.
- Isso mesmo, gatinho arisco! Perdoa o tio, sim? – pediu ao fazer beicinho.
- Vou pensar! – grunhiu Yura, que se esperneou todo ao ser abraçado por Viktor.
Sinceramente, Katsuki não sabia quem era a criança ali. Mas de uma coisa ele tinha certeza: O show iria continuar!
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Lembretes e explicações:
Serenty Falls, como podem ter percebido, foi uma invenção minha, pois como boa aquariana, eu queria algo diferente, algo meu... Assim, nasceu esta cidade, que sim, fica nos Estados Unidos!
A Juilliard School é uma escola de Ensino superior de Música, Dança e Dramaturgia localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ela gradua alunos nas áreas de dança, música e dramaturgia. – Wikipédia
Pirozhki (em russo: пирожки; no singular: пирожок, pirozhok; o "zh" se pronuncia como o "j" português) são pãezinhos, assados no forno ou fritos, recheados com carne, vegetais, ou outros ingredientes, originários da Rússia, mas populares em toda a Europa Oriental, incluindo os Balcãs e a Grécia, e da região báltica até à Ásia Central.
Não confundir com pierogi, que são a versão polaca dos pelmeni russos (embora na Letónia os pirozhki sejam conhecidos como "pīrāgi"). Os pirozhki podem igualmente ter um recheio doce. - Wikipédia
Momento Coelha Aquariana no Divã:
*ouvindo Shape of you – Ed Sheeran com o headphone, e cantarolando enquanto coloca o novo capítulo em ordem*
Kardia: *parando ao lado do aquariano que como sempre está lendo um livro enorme* Ouvi dizer que ela estava ouvindo muito David Garrett e André Rieu!
Dégel: *ajeitando os óculos na ponte do nariz* Sim, ouvi corretamente, e creio que fui eu mesmo que lhe contei. *arqueando as sobrancelhas*
Kardia: Será que ela vai dar continuidade ao quarto capítulo de nossa fic?
Dégel: Talvez, quem sabe... É complicado responder, pois nossa coelhinha se tornou um tanto instável devido as crises de falta de inspiração e as de ansiedade. Assim, melhor não aporrinhar!
Kardia: Poxa vida! E que graça terei eu... que prazer terei se não puder atormentá-la?
Dégel: Aí, é por sua conta e risco, e bem, eu não faria isso, ainda mais como você diz que quer ler o final daquela fic! *sorriso de lado ao ver o escorpiano rabugento sair resmungando*
Mereço! *murmuro ao puxar os fones da cabeça*
Vocês viram que não basta minhas cobranças pessoais, agora tenho as de Kardia também! Ah! Que bichinho sem paciência e ciumento! Mas deixemos esse pormenor para lá...
Obrigado a você que por aqui chegou! Estou fazendo o meu melhor, e espero que esse capítulo seja do agrado!
Esse novo capítulo, também não passou por uma revisão, mas assim que o possível erros e afins serão corrigidos.
Beijocas
Theka
