Disclaimer: Saint Seiya não me pertence e, sim, a Masami Kurumada, Toei e cia.

Capítulo 2

Julia suspirou, se olhando o espelho. Passou os dedos sobre o local onde, pelo seu próprio relato no antigo caderno de anotações que levara para a Grécia, Shura havia deixado a marca de um chupão.

Dez anos haviam se passado em um piscar de olhos.

Se formara em Artes Visuais, começara a trabalhar no departamento de marketing de uma produtora cultural, tentou levar sua vida adiante, conheceu outro rapaz, com quem nada dera certo e depois disso, se fechara para relacionamentos, pedira demissão, tentou trabalhar por conta própria, começara a dar aulas, trocara de emprego de novo, fez uma pós-graduação, criou seu site para vender artes, veio uma pandemia, começou a trabalhar com gestão de projetos em uma agência de marketing digital. Depois de muito tempo fechada para relacionamentos, conhecera outro rapaz que, por fim, já tinha namorada, seu coração se partira de novo, se reergueu, mas se fechou novamente para relacionamentos novamente, embora sonhasse em encontrar um amor que transcendesse o tempo, o espaço e até a morte! Se jogou de cabeça na vida profissional se dedicando tanto ao trabalho e, aos 35 anos, teve seu tapete puxado na empresa, sendo dispensada sem nenhum reconhecimento por seus anos de dedicação. E, então, se sentindo esgotada, recomeçava em um novo trabalho, em uma empresa melhor que a anterior.

Mas o vazio deixado por Shura ainda estava lá. Todos os dias, em todos os momentos, o vazio estava lá, mesmo que ela - de fato - não se lembrasse dele. Tudo o que tinha eram os relatos dela e de suas amigas e uma marca no pescoço que se lembrava de já estar desaparecendo quando chegara ao Brasil.

Em cada rapaz que conhecera ao longo de dez anos, era ele quem ela procurava. Aquele amor de conto de fadas, que parecia tão impossível, tão surpreendente e avassalador.

Suspirou profundamente de novo, abotoando a camisa preta e ajustou-a dentro do jeans. Calçou as sapatilhas pretas, pegou a bolsa e o celular.

Na tela, havia uma notificação de Isabel.

"Mana, já saiu? A estrada para São Paulo está bloqueada por causa de um acidente."

"Estou saindo agora. O evento começa só às 15h. No maps, diz que chego às 14h30 em São Paulo. Você vai me encontrar no Starbucks depois, lá embaixo, né?" Digitou rapidamente e enviou. Pegou as chaves do carro, se despediu de sua mãe e partiu a caminho do prédio onde teria um evento, onde haveriam muitos diretores e C-levels de empresas importantes.

Em São Paulo…

Isabel terminava de revisar o novo artigo de uma aluna do quinto semestre de Ciências Sociais. Ela terminara seu mestrado ao longo daqueles anos, mas não tivera ânimo de fazer o doutorado.

As memórias que tinha anotado no caderno de Julia pareciam irreais, mas algo nela tinha certeza de que eram verdade e saber que Camus poderia tê-la levado a Marselha… E que, depois dos acontecimentos narrados, jamais poderia fazê-lo, pois provavelmente teria morrido na guerra contra Hell, tirara todo o gosto de seguir sua pesquisa.

Tentara diferentes trabalhos ao longo dessa década até que decidira trabalhar como revisora de trabalhos acadêmicos. No começo, era um pouco difícil ter uma boa remuneração, mas ao longo do tempo, melhorou.

Agora, sua mesa vivia cheia de trabalhos para revisar. O que era bom, pois a distraía de outros problemas em casa.

Retirou os óculos e os pousou sobre a escrivaninha, se espreguiçando e se alongando. Olhou as horas. Era bom almoçar para depois terminar seus afazeres logo e pegar o ônibus para encontrar Julia.

"Sheila, você não vai conseguir mesmo nos encontrar no Starbucks?"

Enviou a mensagem antes de descer a cozinha e preparar seu prato.

No centro de São Paulo

"Infelizmente, acho que não, Isa. O CFO pediu um relatório financeiro do último mês e preciso preparar isso para a reunião dele amanhã às 08h."

Sheila bloqueou a tela do celular depois de responder Isabel e voltou a se concentrar na tela do computador onde havia uma extensa planilha com diversos lançamentos financeiros que o departamento havia discriminado, mas que ela precisava organizar melhor e simplificar alguns dados para o CFO.

Suspirou, pois queria terminar logo para poder se concentrar em algumas outras tarefas, como o agendamento da viagem do CEO para a Grécia.

Talvez, o fato do destino ser justamente a Grécia era o que a deixava ansiosa. Se lembrava do quão bonita era Athenas e só podia imaginar como seria lindo ver o pôr-do-sol do alto, voando junto de Aiolos, se aquele relato que anotara no caderno de Julia fosse verdade.

Sheila não era muito de se apegar ao passado e coisas que ela apenas teria anotado. Mas a ideia de que poderia ter tido aqueles momentos com o Cavaleiro de Sagitário a levava a pensar em como poderia ter sido bom ser a primeira dama do Santuário.

Ajeitou os óculos e voltou a digitar. Se preocuparia com isso depois.

Em Minas Gerais, Fernando havia começado a ajudar o pai com as vendas de materiais para irrigação. Ele assumiria o lugar do pai no negócio em breve.

Uns meses atrás, Julia havia ido visitá-lo e passara alguns materiais de marketing para estudar e agora, parecia que relia o mesmo parágrafo de um desses materiais, dezenas de vezes.

O estômago roncou. Era hora do almoço e saco vazio não para em pé, pensou. Levantou da cadeira e foi ver se o almoço estava pronto. O cheiro da comida estava bom.

Viu um imã na geladeira que trouxera da Grécia. Olhou longamente, pensando em Marin.

Ele e Rodrigo tiveram um pouco mais de sorte do que as garotas. De quando em quando, alguma notícia sobre o Grupo Mitsui saía na imprensa com alguma foto da Deusa e de Marin quando esta a acompanhava.

Mas as meninas… Mesmo com os relatos que cada uma registrara, jamais nenhuma havia visto o rosto de qualquer um dos Cavaleiros, desde que deixaram o Santuário.

Pegou o celular e mandou uma mensagem no grupo, que agora contava com poucas das meninas.

Ao longo dos dez anos, cada qual seguira com sua vida, suas atribulações. Algumas se afastaram, pela correria da vida. Outras mantiveram o contato.

Mas o pacto entre eles continuara vivo.

Foram dez anos guardando um segredo que seria só deles e de mais ninguém. Talvez, o fardo de guardar o sigilo também os tenha afastado.

Cristiane estava trabalhando em uma fintech e fazia um último relatório antes de almoçar.

Terminou o material e enviou por e-mail, checando o relógio no pulso direito depois. Saiu para almoçar com alguns amigos do trabalho.

Chegando ao restaurante, sentou-se com os amigos e fez seu pedido. Quando chegaram os pratos, almoçou enquanto conversava e somente depois de voltar ao escritório, enquanto escovava os dentes, notou que haviam notificações não lidas no celular.

Entrou no whatsapp rapidamente e viu a mensagem de Fernando.

"Hoje fazem 10 anos que a gente preparava as malas para ir a Grécia. Como será que estão as coisas por lá?"

"Nem lembrava disso! Então, daqui a uma semana, vão fazer 10 anos que a gente encontrava os Dourados pelo que anotamos no caderno da Julia?"

"Sério? Já faz tudo isso?"

"Oi, Gabe! Pois é. 10 anos já, quem diria?"

"Oi, gente! Eu estava pensando nisso mais cedo antes de vir para São Paulo."

"Você ainda tem aquele caderno, Ju?"

"Tenho, Mabel. Eu deixei ele guardadinho na minha caixa de memórias!"

"Você e essa caixa de memórias! Kkkkkkk"

"O que mais você guardou nessa caixa?"

"As passagens, a etiqueta da mala, os ingressos dos passeios, Ju."

O elevador fez um barulho de que havia chegado ao andar de Rodrigo.

Entrou e apertou o botão para descer. Precisava ir ao banco e aproveitaria a hora do almoço para resolver isso.

Ao chegar a rua, atravessou a mesma, passando a caminhar na calçada sob as marquises dos prédio do centro de Salvador.

O calor forte fazia a pele arder. Quando passou por uma banca de jornal, notou algo na capa de um tablóide.

Era uma foto de Saori junto de Julian Solo. Ambos posavam para uma foto dando as mãos. Era uma pose muito formal, de aperto de mãos. Na manchete, o tablóide anunciava mais um acordo entre o conglomerado Solo e o Grupo Mitsui.

- Espera… Isso é no Brasil!

- O que foi, rapaz?

- Ah, não foi nada. Escuta, esse jornal é de hoje?

- É, sim. Por quê?

- É essa matéria aqui. Quanto é o jornal?

- Quatro e oitenta.

- Tem troco para dez?

- Tenho.

Rodrigo pegou o jornal e olhou com mais atenção. Saori e Julian apertavam as mãos junto de um governador brasileiro… que por acaso, era seu chefe, indiretamente.

No texto, o periódico informava que Solo e Mitsui firmaram um grande acordo comercial em parceria com os governos da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Piauí. Além deste acordo, novas parcerias seriam negociadas ao longo da semana, por representantes dos dois grupos e empresários de diversos setores.

Rodrigo até esqueceu do que ia fazer no banco e voltou correndo para o trabalho.

Em São Paulo

O evento estava sendo um sucesso. Diversos empresários estavam presentes e era uma ótima oportunidade para a empresa em que Julia trabalhava fechar negócios.

Ela pegou um copo de água antes de se voltar para a mulher a sua frente, vestida com um terno claro e cabelos presos em uma trança baixa.

- Nós queremos fechar negócio com vocês, então, vou enviar todas as especificações dos treinamentos que vocês desejam para a equipe já deixar o contrato pronto no seu e-mail para você assinar amanhã cedo.

- Eu agradeço muito, Julia. Mas tem uma especificação que ainda não discutimos. Nós somos parceiros do Grupo Mitsui. Nossa maior operação está na Grécia e não no Brasil e queremos que você pessoalmente para acompanhar o projeto de implantação. Será que isso é possível?

- Vocês querem que eu acompanhe a implantação dos treinamentos na Grécia?

- Sim, acreditamos muito no seu trabalho e achamos que seria muito importante você acompanhar, pois os resultados seriam ainda melhores com você lá pessoalmente supervisionando. Claro, nós vamos pagar a mais para a WN para ter essa atenção especial e pagaremos todas as suas despesas para ir a Athenas.

- Claro… Eu vou conversar com o CEO sobre isso.

Athenas, Grupo Mitsui… Julia ainda tentava processar a informação quando encontrou Isabel e Sheila no Starbucks que ficava no térreo do prédio onde trabalhava.

O evento transcorrera muitíssimo bem e a proposta da representante da empresa de Saori tinha sido aprovada pelo CEO que dera aval para Julia acompanhar a implantação do projeto em Athenas. Ela partiria no início da próxima semana.

- Meninas… vocês não vão acreditar no que aconteceu!

- Só se for mais louco do que aconteceu comigo.

- O que aconteceu com você, Isa?

- Uma professora da universidade da Fundação Mitsui me convidou para participar de um estudo em Athenas! Mas preciso ir na semana que vem!

- Sério? Uma representante do Grupo Mitsui fechou negócio com a empresa que eu trabalho e querem que eu vá pessoalmente acompanhar a implantação do projeto lá!

- Nossa, vocês também?

- Por quê? O que aconteceu?

- O CEO da ACO Brasil quer que eu vá para Athenas para acompanhar ele em umas negociações com a Mitsui.

- Pera… Nós vamos voltar para a Grécia juntas?

- Acho que não seremos apenas nós…

- O quê?

- Olha no grupo do whatsapp com as meninas.

- Eu não estou mais no grupo.

- Eu estou… Olha aqui!

"O governador da Bahia está me mandando para a Grécia na semana que vem para uma visita oficial ao Grupo Mitsui junto com uma delegação do Brasil."

"Eu também estou sendo enviada nessa delegação, junto com representantes de Pernambuco."

"E eu, com a do Piauí!"

"Gente, o que está acontecendo? Eu vou a trabalho também, a Sheila idem e a Isa foi convidada para participar de um grupo de estudos lá!"

"A Saori está dando um jeito de nos levar de volta?"

"Só pode. A Fundação Mitsui abriu vagas de intercâmbio de professores e alguns profissionais das escolas estaduais de São Paulo e me escolheram do nada."

"Será? E as outras meninas?"

"Vou falar com a Helu, a Paula e a Marcela. Eu também fui chamada para um evento de design em Athenas."

"Boa, Ju!"

xxx

Olás! Séculos depois, um retorno, Julia?

Faz tempo, hein?

Eu não vou dizer que é um comeback de fato, porque eu não sei se é.

Mas depois que assisti ao live-action de CDZ (o qual eu adorei, diga-se de passagem), eu lembrei de ALSA e reli ela inteira. E fiquei pensando em como seria ALSA 10 anos depois… Eu, particularmente, mudei tanto! Conversando com as meninas que participaram, sei que elas mudaram muito também!

E, no meu caso, quase toda a parte do que eu coloquei no começo do capítulo é um resumo do que aconteceu na minha vida nos últimos 10 anos. Eu não sabia muito bem o que inventar sobre o que poderia ter sido na minha fictícia, então, coloquei a real mesmo, só mexi em algumas coisas! Kkkkkkkkkk

Reli meu gaiden também e vi que eu não dei continuidade a ele na época.

E não saiu da minha cabeça uma certa vontade de dar continuidade. Eu vou tentar dar a devida atenção a cada personagem de ALSA, o máximo que eu puder, vou dar meu melhor para isso, mas é possível que eu traga algum destaque maior a algumas delas, com quem ainda tenho mais contato ou conheça melhor.

Enfim, vou fazer o meu melhor para agradar a todos e especialmente para escrever e ir até o fim.

Beijos!

PS: Devo mudar meu penname em breve para Redelvina, então, só avisando.