Jenny revirava os olhos e contorcia o corpo enquanto os dedos de Santana se moviam em velocidade dentro da vagina dela. Santana, por sua vez, estava com raiva. O sentimento não estava direcionado à suposta namorada, mas era ela quem estava sentindo o impacto da frustração. Não que Jenny estava achando isso ruim. A foda mais enérgica lhe agradava. Era realmente aquilo que acontecia no momento: uma foda. Começou com Santana batendo à porta do apartamento de Jenny e indo direto aos negócios.
"San... San... San..." Jenny falava alto, de maneira incoerente. "San!"
Santana diminuiu o ritmo, mas os dedos ainda se movimentavam procurando mais contato com as paredes vaginais, de modo a prolongar o orgasmo da companheira. Jenny não teve tempo para recuperar o fôlego, no entanto. Santana reposicionou o corpo sobre o de Jenny e a beijou na boca, enquanto procurava se encaixar de maneira a conseguir a fricção que tanto ansiava. Quando conseguiu a posição apropriada, se moveu a fim de provocar o próprio orgasmo.
"San... deixa eu... te ajudar..."
"Só um minuto." Santana disse com irritação.
Jenny deixou Santana ter a vez dela, e apenas observou a expressão da jovem mulher que ela gostava. Santana estava de olhos fechados enquanto se movimentava, concentrada demais em atingir o próprio prazer. Quando ficou perto, encostou a testa sobre o ombro de Jenny e mordeu a pele que encontrou. O orgasmo chegou. Não foi um intenso, mas foi suficiente. Santana relaxou sobre o corpo de Jenny e, em seguida, rolou para o lado dela. Estavam no tapete, entre o sofá e a mesa de centro. Santana olhou para o teto por um momento e Jenny se posicionou ao lado dela.
"Posso saber o que aconteceu?" Jenny beijou o ombro de Santana antes de mordiscá-lo.
"Não."
"Problemas na faculdade?"
"Não, minhas médias continuam boas."
"Então?"
"Eu estava trabalhando naquele projeto, e um dos meus colegas ferrou com tudo."
"Sobre o serial killer?"
"Esse mesmo."
"Bom, espero que você fique frustrada mais vezes." Jenny colocou a mão sobre o seio de Santana, massageando levemente. "Foi incrível."
"Jenny... e acho que a gente deveria terminar seja lá o que a gente tem."
"O quê?" Jenny levantou o tronco do corpo para encarar a namorada. "Um minuto atrás estávamos tendo um orgasmo uma com a outra, e agora você quer terminar? Você é bipolar por um acaso?"
"Você não se cansa da relação que temos? De uma procurar a outra só quando sente comichão e não tem ninguém melhor por perto?"
"É só para isso que você me procura?" Jenny estava visivelmente magoada.
"Me desculpe."
"Acho que você deveria se vestir e ir embora."
Santana não discutiu. Ela silenciosamente pegou as roupas e as vestiu depressa. Normalmente, depois do sexo, ela gostava de tomar uma chuveirada. Ali não seria o caso. Ela se vestiu, pegou a mochila que estava no chão e saiu do apartamento sem dizer nada. Antes de entrar no carro, conferiu as mensagens de celular. Havia mensagens de Grant e de Mercedes. Grant pedia que se encontrassem no apartamento dele, Mercedes só perguntava se a amiga estava bem. Santana deu uma resposta negativa para Grant e disse para a melhor amiga que não se preocupasse. Ela ligou o carro e dirigiu até o setor mais humilde da cidade. Estacionou o carro na lateral de um conjunto comercial, onde ela sabia que não haveria câmeras de segurança. Ainda no carro, colocou o colete à prova e balas, a jaqueta por cima e, por fim, a máscara.
O trajeto a partir dali já era estudado. Não apenas Santana tinha uma privilegiada inteligência espacial e geográfica, como os recursos proporcionados por Grant ajudavam a traçar rotas seguras para o deslocamento deles, com o mínimo de câmeras de segurança pelo caminho. Santana se deslocou até uma rua comercial e se deslocou por cima dos prédios. Para ela era fácil correr e saltar, pois conseguia fazê-lo com melhor destreza do que de um atleta de nível olímpico. Naquela noite, no entanto, ela teve um pouco de dificuldade de efetuar os saltos com precisão. Havia a lenda entre os boxeadores de que fazer sexo antes da luta era ruim porque as pernas e os braços perdiam a força. Santana achou que isso devia ter um fundo de verdade ao julgar pelo que estava experimentando.
Ficou por cima de um prédio e observou com a ajuda de um binóculo. Havia uma loja de conveniência ali por perto, mas era completamente gradeada, e os pedidos pelos produtos eram feitos diretamente por uma janelinha. Lojas gradeadas daquela forma era o resultado de muitos assaltos no bairro. Santana se deslocou pelo quarteirão e aquela noite parecia ser lenta. Decidiu ouvir a frequência da polícia, o que era um recurso válido nas patrulhas, porém de ações mais arriscadas. Naquela noite acontecia chamadas por brigas domésticas. A polícia era capaz de fazer um trabalho melhor sobre isso. Ouviu chamadas sobre reclamações por causa de som alto e de notificações de roubo. Eram ocorrências que Santana não se importava, apesar de que uma vez ela danificou propositalmente o som do carro de um cara da faculdade por causa do incômodo. Então houve uma chamada sobre um assalto em andamento em um bairro distante. Não seria possível chegar lá à tempo. Resolveu caminhar pelos telhados dos edifícios em direção ao quarteirão seguinte. Aquela avenida estava calma, então tentaria a próxima.
Santana checou quatro quarteirões até ver que em um apartamento residencial, um homem batia em uma mulher e a ameaçava com uma arma. Santana conseguiu entrar no apartamento, por uma janela entreaberta. Isso a permitiu que ela chegasse por trás do agressor e agarrasse o punho com a arma. Apertou tão forte, que os ossos do punho do homem quebraram. A arma caiu no chão, enquanto Santana imobilizou o homem em meio a um repertório inacreditável de palavrões. Um tapa forte no rosto resolveu o problema e o homem se calou.
"Opa!" Ela levantou as mãos quando percebeu que a mulher apontou a arma para ela. "Eu não vim aqui te assaltar, moça. Estou aqui para te ajudar."
"Não machuca ele." A mulher gritou.
A vigilante soltou o homem e fez movimentos suaves. Aquilo não era uma ocorrência incomum, porque muitas das mulheres que sofriam violência doméstica tinham sérias dificuldades de deixar seus companheiros. Jenny explicava que isso poderia ser fruto de uma série de patologias psicológicas, além do medo das ameaças e chantagens que muitas delas sofriam. Nada era simples.
"Olha, se eu fosse você, chamava a polícia. Seja lá o que aconteceu entre vocês, homem algum tem o direito de bater ou abusar de uma mulher. Se você se ama, você vai escolher a sua dignidade em vez da dependência de um sujeito assim. Aproveite essa chance e corra."
Em um movimento rápido, Santana desarmou a mulher.
"Saiba que você é muito mais, que você vale muito mais. Há pessoas decentes nesse mundo que te amariam da maneira como você merece. Dê uma chance a você mesma. Esse sujeito não te ama. Ele só está te usando para satisfazer o ego dele. Pense nisso. Só você tem o poder de mudar a sua realidade."
Santana deixou o apartamento pela mesma janela que entrou. A arma foi deixada no telhado do edifício, pois nunca era bom se livrar da arma de um crime. De volta a patrulha, ela viu ali perto uma gangue encurralando um pobre coitado. Agiu rápido e, no minuto seguinte, alcançou o chão e correu em direção a gangue. Sete contra um não era justo, então ela não moderou a força. Jogou dois deles para longe, chocando os jovens homens contra uma parede. Os outros voltaram a atenção para ela e atacaram. Santana se valia da força que tinha, mas também das técnicas e luta que treinava quase toda semana com Grant. O limite que colocava para si mesma era não matar. Quebrar alguns ossos lhe parecia razoável para o tipo de situação. Esses embates eram capazes de gerar revezes. Santana era forte, mas sentia dor e o impacto, por exemplo, do soco que um sujeito aplicou em seu rosto. A máscara protegia a identidade dela, mas não amortecia os golpes. Também sentiu quando outro lhe atacou com uma corrente que atingiu suas costas e suas pernas. Ela reagiu, jogou os sujeitos para longe. O último sacou uma arma e atirou. Mesmo com o colete a prova de balas, o impacto era dolorido. Isso a fez recuar alguns passos para trás. Era uma questão de vida ou morte se recuperar rápido. Se movimentou o mais rápido que pode mesmo levando um segundo tiro, desarmou o sujeito e o soco o fez desmaiar.
"Você está bem?" Perguntou ao sujeito que apanhava. Não passava de um homem de meia idade vestido em um terno. Aparentemente, esse homem carregava uma pasta e uma bíblia.
"Eu queria apenas conversar... eles me cercaram. Eu disse que não precisava chegar naquele ponto... mas eles só queriam atacar, como se estivessem possuídos." O homem disse amedrontado.
"Eu acredito no senhor. Chame a polícia... diga que o vigilante bateu nesses caras, não faz mal colocar a culpa em mim. Volte seguro para a sua casa."
Santana saiu do local mancando um pouco e com a mão no peito, na altura em que uma das balas se alojou no colete. Desapareceu da vista do homem e da gangue caída, subiu em um dos edifícios e contabilizou o estrago. O olho dela ficaria roxo pelo menos por um dia inteiro antes de sarar. As balas foram contidas, o golpe de corrente que levou nas pernas incomodou muito. Se não fosse pela calça jeans grossa, o golpe teria cotado a pele. O pior foi a torção no tornozelo. Ela tinha certeza que precisaria de pelo menos três dias para curar por completo. Decidiu que teve o suficiente pela noite. Voltou ao carro estacionado ao lado do mercado. Tirou a máscara e dirigiu em direção a Stevenson, 304. Estacionou o carro. Colocou a roupa de vigilante na mochila. Foi em direção ao dormitório mancando, com um olho roxo, e com hematomas pelo corpo.
"Mas que..." Mercedes ainda estava acordada àquela hora e se assustou com o estado da amiga.
"Ataque de gangue." Santana explicou. "Sete contra um." Ela se deitou e fez careta de dor, fazendo Mercedes reagir.
"Preciso chamar Mike?"
"Não precisa incomodá-lo." Santana cogitou tomar um banho, mas pensou também que a condição dela chamaria atenção de quem cruzasse. Era melhor esperar para o dia seguinte. "Cedes."
"O que foi?"
"Um analgésico seria bom."
"Okay." Mercedes foi até o espaço que era apelidado de farmacinha para pegar um Dorflex.
"Cedes."
"Sim?"
"Eu terminei com Jenny."
"Dessa vez é para valer?"
"Sim."
"Bom pra você."
...
Não interessou o fato de Rachel Berry ter ido pessoalmente à delegacia em companhia de Finn e de Leroy e ter reafirmado categoricamente que Hunter Clarington era o seu agressor. 72 horas após a prisão dele, os advogados de defesa conseguiram a libertação por absoluta falta de provas. Não havia nada contra ele a não ser o testemunho de Rachel Berry. Hunter tinha um álibi vindo ironicamente do próprio local de trabalho, a boate Divas e Loucas, com relatos, inclusive de Unique Adams em defesa do colega. Além disso, não foram encontrados nenhum tipo de evidência na casa dele, nenhum fio de cabelo ou troféus de nenhuma das vítimas.
O nome de Rachel Berry estava proibido de ser divulgado no processo jurídico, mas isso não queria dizer que ela se sentia frustrada e até mesmo constrangida pelo insucesso da captura do homem que ela tinha certeza ser o agressor. Ainda mais frustrados com tudo isso estavam Santana Lopez, Mercedes Jones e Grant Fish. Se Hunter era culpado, descobrir as provas poderia se tornar uma tarefa muito mais complexa, pois ele teria toda a liberdade e tempo para destruir qualquer vestígio. Por isso, a melhor alternativa passou a ser o flagrante. Mas como prever a próxima vítima e o próximo ataque? A verdade frustrante era que o serial killer estava dois passos à frente de todo resto.
"Grant disse que instalou o gps na moto de Hunter." Santana comentou com Mercedes enquanto as duas caminhavam pela avenida em direção ao laboratório de engenharias da universidade estadual. "Aposto que esse sujeito vai se comportar como uma dama nesses próximos dias. Pelo menos Grant pode monitorá-lo."
"Você deveria parar de remoer isso, San. Você anda patrulhando quase todos os dias, e você colocou na cabeça que Marley Rose pode ser a próxima vítima. E você também se recusa a responder qualquer mensagem de Rachel Berry, mesmo sabendo que você precisa falar com ela."
"Eu também sou humana, Cedes. Desculpe que raiva e frustração fazem parte de mim."
"Pelo menos você vai voltar a fazer a peça? O reencontro é hoje a noite."
"Eu não sei." Santana franziu a testa. "Obrigada por me acompanhar até o laboratório. Te vejo mais tarde."
...
Quinn adorava dias mais frios. Não apenas ela se sentia mais energizada e disposta, como também se vendia mais cafés na faculdade comunitária. Dias frios era bom para a saúde dela e para a saúde dos negócios. Após o break proporcionado com o horário em que as aulas começavam, Quinn aproveitou o tempo para ir ao banheiro, deixando Joe tomando conta do quiosque. Depois de se aliviar, caminhou até os portões do hall de entrada, onde podia ver o prédio histórico principal, o estacionamento e a ampla calçada que conectava os dois edifícios que faziam a composição do campus. Viu duas pessoas ali perto, fumando, uma vez que isso era proibido no interior.
Quinn costumava fumar, porque, de alguma maneira, a química tóxica funcionava como um inibidor dos poderes dela. Ela achava relaxante e conveniente ao mesmo tempo. Beth mudou tais hábitos. Quinn não sabia porque razão isso aconteceu, mas enquanto estava grávida, foi como se ela tivesse voltado a ser uma pessoa normal. Obviamente, foi uma condição temporária, pois seus poderes voltaram a se manifestar poucos meses depois do parto. Depois de Beth, o hábito do fumo ficou no passado, na época da adolescência quando experimentou inclusive a maconha. Ela olhou para aquelas pessoas e não sentiu inveja. Quinn não trocaria mais a sensação do seu poder em controle, como acontecia nas sessões de meditação com Mike, por um inibidor em forma de cigarro.
"Um milhão de dólares por seus pensamentos."
Quinn foi surpreendida com a presença de Rachel Berry ao seu lado.
"Não que isso seja da minha conta, mas você não deveria estar em aula?"
"Sim." Rachel disse sem hesitar. "Não consigo mais me concentrar."
"Por que?"
"Desde que fui violentada, tenho passado por dias bons e dias ruins. Hoje é um dia ruim."
"Você foi..." O impacto da informação pareceu com um soco no estômago de Quinn. "Oh, Rachel, eu sinto muito."
"Eu também."
"Quem fez isso contigo?"
"Um cara que ia ao meu restaurante. Infelizmente a polícia não conseguiu nenhuma prova contra ele, a não ser a minha palavra. Você acredita que até álibi ele conseguiu?"
"Que merda!" Quinn passou a mão nos cabelos antes de encarar a cliente. "Eu sinto muito mesmo que isso aconteceu contigo, Rachel."
As duas jovens mulheres ficaram em silêncio por um momento claramente desconfortável. Rachel apenas procurava encontrar uma calmaria entre o turbilhão de pensamentos e de frustrações que invadiam a mente. Quinn não conseguia sequer se mexer, pois parecia que qualquer decisão que tomasse a respeito de fazer companhia a Rachel ou voltar ao trabalho poderia ser mal interpretado. Na verdade, Quinn podia imaginar o que a cliente sentia. Ela nunca foi violada, mas sabia muito bem o que era se deitar com uma pessoa que não gostava apenas pela força da necessidade. Era um passado que Quinn preferia apagar da memória.
"Rachel, eu preciso voltar a trabalhar... mas eu quero que você saiba que se precisar conversar, você pode me procurar." Quinn forçou um sorriso. "Você pode ligar para mim, se quiser."
Rachel limpou uma lágrima e acenou. Ela pegou o celular dentro da mochila para gravar o número do telefone da adorável moça que lhe vendia café. Quinn estava pronta para ditar os números, mas emudeceu quando encarou Rachel.
"O que foi?" Rachel ficou intrigada quando viu a moça em sua frente completamente paralisada.
"Seus olhos..."
...
O prédio do laboratório de engenharias era a nerdlândia. Muito mais do que o lugar onde os estudantes das diversas áreas de engenharia desenvolviam projetos, era onde as mentes mais criativas conseguiam colaborar entre si. Havia um torneio de MMA de robôs que tinham nas equipes estudantes de robótica, de TI e de engenharia elétrica. Havia concursos para estudantes da engenharia civil que eram feitos em colaboração com estudantes da elétrica, da hidráulica, do TI. Teve uma vez que Santana participou de uma equipe para projetar uma casa para realizar o sonho de um sujeito, que era ter uma varanda em que ele pudesse ver o nascer e o por do sol, e que o quarto dele tinha de estar protegido das horas mais quentes do dia. A equipe de Santana desenvolveu o projeto vencedor da casa que girava 180, por ter sido considerada não apenas a mais funcional, como também a menos dispendiosa. Santana estava se especializando em estruturas, e o projeto foi vencedor também pelo detalhe que ela foi diretamente responsável em planejar: o banheiro e a cozinha. Sendo uma casa giratória, o banheiro e a cozinha foram montados no centro da casa. Dessa maneira, o quarto mudaria de lugar, a varanda idem, mas a tubulação se mantinha devidamente fixa e centralizada.
Santana chamava todo mundo de nerd, mas ela própria era uma, por mais que fizesse pose e garota sexy e descolada. O trabalho de vigilante era gratificante por fazer bem fisicamente e moralmente. O estudo nas engenharias era igualmente gratificante, porque ela tinha a oportunidade de exercitar a criatividade e a capacidade de solucionar problemas. Naquele momento, ela estava assistindo a uma aula, que já estava chegando ao fim. Seu olho estava roxo, ainda havia hematomas pelo corpo pelas atividades da noite anterior, mas estava tudo em paz. Ela planejava sair do laboratório, almoçar e estudar um pouco na biblioteca, antes de se envolver com assuntos de outra natureza. Mas a insistente vibração do celular dela lhe tirou o foco. Ela olhou discretamente o aparelho, e franziu a testa quando viu dezenas de mensagens de Quinn Fabray.
Quinn Fabray? Santana não tinha a menor proximidade com ela, além do fato de Quinn ter sido convidada por Grant a integrar o grupo dos especiais, para ajuda-la a desenvolver os poderes que tinha. Santana sabia o básico sobre Quinn, a achava extraordinariamente bonita, porém não necessariamente sexy, gostava de Beth e era basicamente isso. Ela resolveu checar as mensagens, mesmo sabendo que o seu professor poderia lhe direcionar palavras pouco amistosas, que certamente a deixaria constrangida perante aos colegas. Imediatamente, Santana pegou suas coisas, colocou dentro da mochila, e saiu do laboratório.
Foi até o estacionamento em frente ao Stevenson e pegou o carro. Por precaução, pegou a máscara que ficava no porta-luvas e a colocou no bolso do casaco. Dirigiu o mais rápido que pode em direção a faculdade comunitária. Encontrou Rachel e Quinn se refugiando na área exterior do prédio histórico.
"Berry! Que merda..." Santana recuou ao ver os olhos de Rachel vermelhos brilhantes, de um jeito mais intenso o que eles ficaram quando Rachel teve uma cena na trilha do parque. "Oh..."
"Eu não sei o que fazer, e ela insistiu em te ligar." Quinn disse com urgência.
"Santana..." Rachel estava sem fôlego. "Eu não estou me sentindo bem."
"Berry... procure respirar. Você lembra daquele dia na trilha, que a gente começou a andar e você melhorou?"
"Eu não sei se isso vai adiantar agora." Rachel estava tremendo.
"Me diga, o que está sentindo?"
"Raiva... frustração... eu também estou com vontade de explodir."
Santana olhou ao redor, na tentativa de encontrar o lugar mais seguro para Rachel explodir. Ela sabia que, naquele estado, seria muito otimismo achar que uma caminhada a apaziguaria.
"Santana, o que nós podemos fazer?" Quinn também estava muito angustiada.
"Eu não sei."
Santana, num impulso, abraçou Rachel com força. Usando um pouco mais do que seria um abraço apertado. Ela podia sentir o corpo de Rachel vibrar.
"Rachel, concentre na respiração do meu corpo." Ela disse baixinho, ao pé do ouvido da garota que estava com o corpo encaixado ao dela. Quanto mais Rachel vibrava, mais Santana a apertava.
"Santana... estou ficando sem fôlego." Rachel reclamou enquanto Santana a apertava mais e mais.
"Tudo bem. Apenas se concentre."
"San..."
Santana a apertou de tal maneira, que Rachel ficou sem ar e desmaiou.
"O que você fez?" Quinn ficou desesperada quando viu Rachel desacordada enquanto Santana a deitava no gramado.
"Eu já senti o poder de Rachel antes... na primeira vez que eles se manifestaram." Santana sentou-se ao lado da colega desmaiada, enquanto observava a outra agitada, confusa e com raiva. "Ela me jogou longe. Eu apaguei por um momento no impacto. Se Rachel não aprender a controlar isso, vai ser um problema sério."
"Por que só estou sabendo disso agora? Por que você não contou isso para ninguém?"
"Um, você é novata e ainda não tem a minha confiança. Dois, Grant sabe."
Quinn olhou Santana com raiva e a temperatura do local começou a esfriar a ponto do ar da respiração de Santana começar a condensar.
"Acho melhor você se controlar também, Fabray. Você ligou o seu ar condicionado."
Quinn se afastou das duas por um momento e procurou respirar e trabalhar nos próprios poderes, controlando a raiva.
"O que pensa em fazer?" Quinn perguntou com mais controle das próprias emoções. Ela não tinha outra escolha a não ser confiar em Santana, que era muito mais experiente do que ela naquele assunto.
"Eu não sei como ela vai acordar. Pelo sim e pelo não, precisamos estar em um lugar seguro quando isso acontecer."
"Conhece algum?"
"O rancho. É o lugar mais seguro que temos."
"Mas é longe."
"Como vou achar um lugar ermo na cidade em plena luz do dia?"
"Quinn!" As duas foram interrompidas com Joe. "Eu estava te procurando... oh, o que aconteceu aqui?"
"Rachel passou mal e desmaiou." Quinn disse com urgência, querendo afastar o sócio dela dali. "Santana vai cuidar dela, enquanto eu chamo a enfermeira, okay?"
"Não quer ajuda?" Joe insistiu. "É preciso elevar as pernas dela para melhorar a circulação. Assim ela volta mais rápido."
"Joe, procure a enfermaria, por favor."
Ele acenou e andou depressa pela emergência. Não havia tempo a perder. Santana pegou Rachel no colo e correu com ela até o estacionamento, fazendo Quinn correr ao lado dela.
"Você tem certeza que isso é o melhor plano?" Quinn perguntou enquanto Santana arrumava o corpo de Rachel no banco de trás.
"É o único que tenho. Você vem?"
"Não posso. Eu posso até deixar Joe sozinho por hoje, mas tenho que pensar em Beth. Não tem quem a busque na escola."
"Tudo bem. Preciso ir antes que o seu amigo volte com a enfermeira."
"Por favor, me ligue."
Santana sentou no banco do motorista e saiu do estacionamento da faculdade comunitária, deixando Quinn Fabray para trás. O trânsito àquela hora próxima ao meio dia estava mais intenso de pessoas que saiam do trabalho para comer qualquer coisa pelas proximidades do trabalho, ou se deslocando por alguma razão. Santana tinha pressa porque ela não sabia o que poderia acontecer. Rachel poderia acordar bem, ou ela poderia acordar e literalmente explodir. Infelizmente, o rancho estava distante, o trânsito não colaborava, e não havia um lugar conhecido e seguro. Outro local que lhe passou pela cabeça foi a tubulação de águas fluviais que caía em um canal da cidade, usado para evitar inundações. Na angústia, Santana optou pelo plano B, pois as tubulações e o canal só eram perigosos na chuva, o que não era o caso naquele dia em específico.
"O quê..." Rachel despertou. "O que está acontecendo?"
"Oi Berry." Santana olhou rapidamente para trás. "Você desmaiou por um tempo, e eu estava te levando para um lugar seguro, caso quisesse explodir, ou sei lá."
"Eu não sinto bem... eu estou enjoada."
"Okay, o meu carro é velho, mas não precisa vomitar nele." Santana encostou o veículo nas proximidades do canal, em uma rua pouco movimentada de pequenos edifícios que abrigava comércios modestos de serviços e residências. "Pode sair do carro e vomitar se quiser."
Rachel saltou do carro e correu em direção a um beco. Vomitou ao lado da lata de lixo. Santana se aproximou com cautela, sem saber ao certo qual o nível de perigo Rachel poderia representar para si mesma, para Santana ou para quem mais estiver por perto. A vigilante colocou a mão sobre o ombro da cantora apenas como maneira de prestar alguma solidariedade.
"Relaxe, okay? Eu vou comprar uma garrafa de água em algum lugar. Vou o mais rápido que puder. Tudo bem?"
Rachel acenou e Santana correu pelo quarteirão e entrou em um pequeno mercado que ficava um lote antes da esquina daquele quarteirão. As moedas que tinha no bolso eram suficientes apenas para um copo de água mineral de 300 ml. Pagou para o vendedor e foi novamente em direção ao beco em que Rachel se encontrava. Porém, antes de poder entrar no espaço em meio ao quarteirão, foi surpreendida com uma explosão que foi capaz de jogar o corpo dela para trás. A onda e choque fez com que as vidraças das duas lojas ao lado se espatifassem, assim como o vidro do carro que estava estacionado imediatamente em frente ao beco. A onda de choque assustou os motoristas que passavam na avenida àquela hora, provocando batidas entre três carros. O cenário era assustador. Santana se levantou e correu para dentro do beco. Viu Rachel desmaiada no chão.
"Berry?" Santana se aproximou com cautela, mas Rachel não estava consciente.
Em seguida, ela pegou a máscara que estava no bolso da jaqueta e a vestiu. Saiu correndo primeiro em direção às vítimas de trânsito. Ela não tinha treinamento em salvamento, a não ser em noções básicas de CPR que o pai dela um dia ensinou. Mesmo assim, verificou os três carros acidentados para ver se havia alguma vítima grave. No primeiro veículo checado, havia um homem de meia idade que estava bem, apesar da confusão mental. No segundo carro havia uma mulher e uma criança de aproximadamente sete anos no banco de trás. A criança parecia bem, mas a mãe estava sangrando e sem consciência.
"Senhora? Senhora?" A vigilante perguntou mesmo com o som do choro da criança, mas a mulher não respondia. Ela então percebeu que a mulher não respirava. Por instinto, a vigilante retirou a mulher do cinto de segurança, a puxou para fora do carro e a deitou no asfalto. Ela esperava que o básico que conhecia fosse o suficiente naquelas circunstâncias.
"O que aconteceu?" Um homem se aproximou.
"Essa moça teve parada respiratória."
"Você vai fazer melhor o CPR se tirar a máscara."
"Você é médico?"
"Não, mas..."
"Você sabe CPR?"
"Sim."
"Por favor, assuma."
A vigilante passou para o terceiro e último carro acidentado, mas quanto a esse, o motorista já estava se retirando do veículo, mesmo que atordoado pela súbita onda de choque que o atingiu.
"Senhor, está bem?" A vigilante o amparou antes que o motorista caísse, e o ajudou a se sentar no asfalto.
"O que aconteceu?"
"Não tenho a menor ideia." A vigilante mentiu e olhou os arredores. Algumas pessoas se aproximavam, dispensando a necessidade de ela permanecer ali. "Alguém, ajude esse homem."
Santana gritou às pessoas que se aproximavam e correu em direção a um dos edifícios que teve as vidraças espatifadas. No lado direito havia uma lanchonete, e no lado esquerdo funcionava uma lavanderia. Aparentemente, a lavanderia estava vazia no momento da explosão, então a vigilante correu para a lanchonete, onde as pessoas ainda pareciam atordoadas com o impacto da onda de choque. Algumas delas davam sinais de surdez. Uma mulher gritou devido a geladeira de bebidas ter caído em cima dela. Um homem tentava a ajudar, mas ele não tinha a força necessária para vencer o peso da máquina sem machucar ainda mais a mulher. A vigilante se aproximou e estudou rapidamente a situação.
"No três, você puxa ela para fora." Ela disse ao homem.
"O quê? Como?"
"Eu disse, no três, você puxa ela para fora." A vigilante disse com mais ênfase, e o homem segurou nas mãos na mulher.
O homem ficou impressionado quando aquele corpo claramente feminino ergueu a geladeira de bebidas de uma maneira que humano nenhum conseguiria. Ele puxou a mulher para fora da área da máquina, que foi deixada novamente no chão por aquela pessoa mascarada. Santana olhou mais uma vez ao redor. Do lado de fora, os primeiros paramédicos se aproximavam para ajudar os acidentados. Do lado de dentro da lanchonete, as pessoas a cercavam com curiosidade, admiração, e até mesmo certo grau de desconfiança para aquela personagem que supostamente demarcava os noticiários locais. Santana estava prestes a correr para fora dali. Ela precisava passar rapidamente no beco, pegar Rachel Berry e fugir daquele local, até que um detalhe lhe chamou atenção.
"Há quanto tempo aquela rachadura está ali?" Ela perguntou para ninguém em específico.
"Eu não me lembro de ter rachadura ali." O mesmo homem que a ajudou com a mulher presa respondeu a dúvida.
"Se essa rachadura aconteceu agora, pode significar que a estabilidade do edifício está em risco." A vigilante alertou. "Precisamos tirar todas as pessoas que moram nesse prédio. Aqui não é seguro, vão para a rua! Os paramédicos vão ajudar vocês."
"O que você vai fazer?" O homem lhe perguntou.
"Tirar todas as pessoas esse prédio, nem que eu tenha que arrombar as portas."
"Eu te ajudo. Eu conheço a vizinhança."
"Okay."
A vigilante e o homem correram escadaria acima, começando do último andar. Havia dois apartamentos por andar, o que facilitava de certa maneira o trabalho deles. Não havia ninguém no último andar, correram então para o segundo, onde morava uma mulher com uma criança em um dos apartamentos.
"O prédio pode desabar, por favor saia." A vigilante ordenou.
"Cai fora!" A mulher gritou desesperada, achando que estava sendo assaltada.
"Não ouviu a explosão? Esse prédio está instável." A fala, por coincidência, foi seguida por um pequeno tremor.
"Lilly, a vigilante está dizendo a verdade." O homem reforçou o alerta. "Precisamos sair até os bombeiros dizerem que está seguro voltar."
A mulher encarou o rosto conhecido e cedeu. Pegou a criança de aproximadamente três anos no colo e desceu as escadas. No primeiro andar, os dois apartamentos tinham as portas trancadas, mas com ambos moradores no lar. O primeiro não quis abrir a porta e ameaçou atirar. O segundo gritou por socorro.
"Vê se convence o sujeito a sair." A vigilante pediu enquanto, com um pontapé, derrubou a porta do segundo apartamento.
Encontrou o lugar cheio de vidros quebrados e uma idosa deitada no chão com a perna ferida. Um bom pedaço de vidro fincou na perna dela.
"Senhora, eu vou te pegar no colo e nós vamos sair daqui, okay?"
A idosa apenas acenou, demonstrando medo e que não tinha escolhas. A vigilante a ergueu no colo e passou pelo homem que ainda insistia em convencer o homem a sair.
"Se ele estiver mesmo armado, não vai valer a pena o risco sem as devidas proteções. Deixe ele para os bombeiros." A vigilante disse com pragmatismo. Santana aprendeu quando era possível ou não ajudar uma pessoa.
O homem relutou por um momento, mas concordou por fim, descendo as escadarias juntamente com a vigilante que carregava a idosa no colo. Como na cena de um filme, mal os dois chegaram à calçada, parte da fachada do edifício cedeu, atingindo um dos bombeiros. Santana colocou a senhora idosa no chão, próxima a um paramédico, e correu juntamente com outro bombeiro para socorrer o socorrista infortunado.
"Precisamos de ajuda..."
O bombeiro começou a gritar e imediatamente ficou mudo ao ver claramente uma mulher usando uma máscara de ninja pegando os pesados destroços e os jogando para o lado. O homem que estava debaixo dos escombros foi rapidamente liberado pela ação de uma única pessoa, porém o estrago no corpo dele era visível. A vigilante não se aproximou do bombeiro caído, mas observou a uma distância segura os colegas agindo.
"Como?" O paramédico perguntou enquanto começava o atendimento ao homem recém liberto dos escombros.
"Só faça o seu trabalho, okay." A vigilante pensou em correr, mas parou por um momento. "Há um homem no primeiro andar que não quis sair do prédio."
"Okay."
A vigilante deu mais uma olhada no caos. Pessoas traumatizadas, feridas, confusas e curiosos se misturavam aos paramédicos e bombeiros que chegavam. Agora o trabalho era com os primeiros socorristas. A vigilante quis correr mais uma vez em direção ao beco, mas viu Rachel Berry na calçada, com as mãos na boca, como se estivesse se segurando para não vomitar. Andou até a amiga e disse discretamente.
"Ande até a ponte do canal e me encontre lá." Santana disse e seguiu adiante, ciente de que havia câmeras de celulares apontando na direção dela.
Santana correu para fora da cena de caos. Quando encontrou um local seguro, retirou a jaqueta e a máscara. As calças estavam sujas de poeira dos escombros, mas quanto a isso não havia muito o que fazer além de bater no tecido a fim de tirar um pouco da sujeira. Ela estava preocupada com o destino das pessoas envolvidas na explosão, mas estava ainda mais preocupada com a pessoa que causou todo o transtorno. O percurso que precisou fazer até a ponte foi mais longo por uma questão de necessidade. Ainda assim, Santana procurou não perder tempo ao correr a maior parte do percurso que contornava o quarteirão afetado. Ao conseguir fazê-lo, viu ao longe a movimentação de sirenes de paramédicos, de bombeiros e da polícia. O trânsito naquela região estava completamente paralisado, inclusive na ponte. Santana caminhou em direção à estrutura, pela passagem destinada a pedestres. Não viu Rachel, e por um momento ela ficou inquieta sobre a colega problemática. Olhou para baixo da ponte, e viu a jovem mulher próxima à margem do canal. Santana foi até a colega, temendo que Rachel fizesse alguma besteira ou mesmo que explodisse novamente.
"Ei!" Santana disse alto, em direção à amiga, sem se preocupar com o volume a voz, já que a poluição sonora ao redor era significativa.
"Fique longe." Rachel gritou de volta.
"Você está sentindo o seu poder se manifestar de novo?"
"Não!"
Santana deu mais passos em direção à colega até alcança-la de vez. Ela segurou Rachel pelos ombros e a estudou por um momento. Os olhos estavam normais, porém a jovem mulher estava com o rosto molhado em lágrimas.
"O que eu fiz?" Rachel encostou o rosto nos ombros da colega em busca de consolo. Santana tinha um corpo magro, não era muito mais alta, não tinha o mesmo conforto do que o corpo de Finn.
"Isso vai passar." Santana deixou o pragmatismo da vigilante de lado por um segundo para confortar uma colega que nem gostava muito, mas que naquele momento, ela era tudo o que Rachel tinha.
Santana abraçou Rachel até que ela se acalmasse, que o choro apaziguasse. Só então rompeu o abraço e procurou pelo celular.
"Estou pedindo ajuda a um amigo, já que não vai dar para pegar o meu carro por enquanto." Santana explicou a Rachel enquanto ligava. "Ei..." Ela se afastou dois passos de Rachel para falar ao telefone. "Eu sei... sim... foi ela... eu não me feri, só estou cansada... eu sei, só que antes de tudo isso preciso de um favor. Berry precisa de ajuda e de um centro de apoio... sim, conheço... as coisas estão sob controle por enquanto... okay... até mais." Santana desligou o telefone e encarou a colega ansiosa. "Um amigo meu vai nos ajudar. Ele vai nos buscar do outro lado do canal e vai te levar para casa."
"Não quero ir para a minha casa." Rachel disse com a voz fragilizada.
"Você pode ir para a casa do seu pai, se quiser."
"Por que eu não posso ficar contigo?"
"Porque o meu dormitório não é confortável para três pessoas. Alguém vai dormir no chão e esse alguém não será eu." Santana suspirou em frustração. "Olha, eu estou exausta, Berry. Meus ombros estão me matando, minhas mãos estão esfoladas, minhas pernas estão trêmulas. Eu sei que eu vou ficar boa em um dia ou dois. Mas neste exato momento, eu preciso de um chuveiro, e da minha cama!"
"Tudo por minha culpa..."
"Berry, eu não te culpo por não controlar esse seu poder. Tudo ainda é muito novo para você. Eu te prometo que nós vamos cuidar disso, mas neste momento ir em casa e ficar quieto é o melhor que poderemos fazer." Santana fez uma breve pausa e disse com a voz mais abrandada. "Eu sei que não podemos ficar assim, eu sei que você precisa aprender a se controlar. Mas isso não será feito da noite para o dia, Berry. Precisamos esfriar a cabeça e organizar um plano."
Do ponto de vista de Rachel, as coisas aconteceram com outra noção de tempo. Em um momento, ela estava tendo uma crise de ansiedade na companhia de Quinn Fabray, a barista simpática e bonita do quiosque de café da faculdade comunitária. Ela se lembra de Santana ir até onde elas estavam e, tudo ficou confuso. Rachel se lembra de acordar no carro de Santana Lopez. Por um instante, ela pensou que estava sendo sequestrada. Então veio a náusea, ela saltou do carro e vomitou. Rachel sinceramente mal notou a presença de Santana. Ela se lembra da paisagem do beco, da rua, do movimento moderado de pessoas indo e vindo que a ignoravam por completo. Era um cenário próximo ao que ela viu quando Hunter, ou seja lá quem for, a agarrou, a espancou e a violentou da maneira mais cruel. A visão lhe veio à mente, e Rachel procurou repelir tudo aquilo de uma maneira instintiva. Foi quando ela sentiu um ardor intenso na boca do estômago, como uma crise aguda de ulcera com cólica de vesícula biliar. Então essa dor irradiou para os braços e para a garganta. Foi quando ela escutou um boom intenso dentro do seu ouvido.
Rachel desmaiou por um momento. A primeira coisa que reparou quando despertou novamente foi o zunido irritante nos ouvidos, como acontece quando o avião começa a descer, e o ouvido desacostumado sofre com a pressão. Pouco a pouco, o zunido foi ando lugar ao som do ambiente externo. Rachel não estava sentindo nada mais, nem dores, nem queimações. Foi como se a angústia física que sentia por semanas finalmente tivesse abrandado. Ela se levantou e caminhou um pouco cambaleante para fora daquela área e se deparou com um cenário terrível. Bombeiros e socorristas atendiam diversas pessoas pelas ruas e calçadas. Ela viu uma pessoa mascarada carregando nos braços uma mulher idosa e a deixou no chão ao lado de um socorrista. Então a fachada de um dos prédios ruiu e atingiu em cheio um homem. A pessoa mascarada correu e retirou os escombros e deixou para que o homem resgatado fosse atendido pelos especialistas.
Tudo foi muito frenético e confuso, mas o que estava muito claro para Rachel foi que ela, de alguma maneira, foi a responsável pela tragédia. Ela precisava de ajuda e, infelizmente, ela precisava de Santana Lopez.
Rachel seguiu a vigilante até um ponto na estrada além da ponte do canal. Um SUV de luxo piscou o farol para as duas e parou ao lado delas. O vidro desceu e Rachel pode ver um homem bonito, magro porém forte, cabelos curtos de cor castanho escuro, olhos azuis. Vestia terno e gravata, o que pareceu bastante estranho.
"Bela confusão que vocês aprontaram." O homem jovem abriu a porta do carro.
Santana abriu a porta do banco de trás para Rachel entrar e depois ocupou o banco de passageiros ao lado do elegante motorista.
"Berry, este é Grant Fish."
"Fish? Como da firma de advogados?" Rachel estava impressionada.
"Eu mesmo." Grant procurou parecer simpático. "Eu apertaria a sua mão, mas estou dirigindo."
"Berry, Grant é um amigo que eu confio o meu segredo. Nós vamos te deixar em casa ou onde mais você quiser." Santana explicou.
"Okay." Rachel disse sem pensar muito. A verdade era que estava absurdamente cansada, e mal haviam chegado no meio da tarde. Santana tinha razão em um ponto: nada poderia ser resolvido ainda no calor dos acontecimentos.
