Olá de novo! Consegui escrever esse capítulo e publicá-lo em menos tempo!
Quero dedicar esse capítulo à leitora Andréia Santos do site Nyah Fanfiction por ter feito uma capa nova para minha história. Amei!
Enfim, espero que gostem! Ah, não deixem de ler as notas finais.
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Capítulo 16 – Contatos e conversas
And you may not think that I care for you
E você pode pensar que eu não me importo com você
When you know down inside that I really do
Quando sabe bem no fundo que eu realmente me importo
And it's me you need to show
E é para mim que você precisa mostrar
How deep is your love
Quão profundo é seu amor
How deep is your love, how deep is your love?
Quão profundo é seu amor, quão profundo é seu amor?
I really mean to learn
Eu realmente quero saber
'Cause we're living in a world of fools
Porque nós vivemos num mundo de insensatos
Breaking us down
Nos rebaixando
When they all should let us be
Quando deveriam nos deixar ser
We belong to you and me
Nós pertencemos um ao outro
(How deep is your love, "Quão profundo é seu amor", Bee Gees)
Sirius ficou atento e confuso. Jean estava em Hogwarts? Ela havia ido para lá por sua causa? O cheiro que aspirava só podia ser dela porque não conhecia nenhum parecido, mas não dava para sentir sua essência pura por estar mesclado com outro. Inalou o odor misturado e notou que era de um animal, parecido a um...
Surgiu um gato de tamanho acima do normal de pelo espesso e fofo e cara amassada a pouca distância da árvore em que Sirius estava; dele que emanava o aroma similar ao de Jean. O bicho paralisou ao vê-lo, mas Sirius notou que não era medo, mas desconfiança, pois este estreitou os olhos. Na mesma hora, Sirius captou uma espécie de mensagem mental do animal, algo como "O que é você?" e espantou-se; aquele felino não era um qualquer.
O animago fez menção de se aproximar, mas o gato eriçou o pelo, curvou o corpo para trás em posição de defesa e sibilou; Sirius se deteve; o bichano o olhou mais uma vez e afastou-se, porém, com uma mensagem clara: não se aproxime.
Sirius ficou intrigado tanto com o pouco de inteligência que captou do animal quanto o cheiro bastante similar ao de Jean impregnado nele.
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O sol da manhã de sábado entrava pela janela da cozinha, iluminando os grãos de poeira que flutuavam no ar. Jean passava pela casa como um furacão, com a varinha em punho. Cada movimento de seu pulso fazia vassouras e panos de limpeza dançar em harmonia, limpando prateleiras e removendo até as teias de aranha. Ela murmurava os feitiços de limpeza que aprendeu sozinha através de um dos livros da biblioteca do chalé em tom baixo, a voz tensa.
Até então, ela realizava a limpeza pelas próprias mãos; Sirius a ajudava, mas ela própria gostava de realizar a maior parte. Então descobriu o tal livro e escolheu praticar nesse sábado. Ela poderia ter feito a faxina em qualquer dia de semana, mas decidiu justo naquele em que o Maroto regressaria.
Seu estômago se contorceu e então foi para cozinha. Executou mais uma série de feitiços, com movimentos precisos que fizeram uma pilha de pratos levitar para a pia. As xícaras sujas mergulharam na água ensaboada antes de serem colocadas de volta ao armário.
Era preciso foco para manter o feitiço, pelo menos nesse início de execução até que se acostumasse e então poderia deixar a mágica no automático. E era tudo que ela precisava: foco para não pensar em Sirius. Porém, com mágica, tudo se tornava mais rápido e prático; apenas uma hora depois de começar tudo, Jean estava sem nada para fazer. Como ainda era cedo para cozinhar; decidiu ler na biblioteca e forçar a mente a se concentrar na leitura.
A biblioteca do chalé era um lugar aconchegante, mesmo pequeno, com paredes cobertas por cinco prateleiras de madeira clara repletas de livros. Jean se sentou em uma poltrona perto da janela, com um livro aberto em seu colo. Seus olhos percorriam as linhas de texto, mas as palavras no papel não conseguiam capturar sua mente distante dali em Hogwarts.
Latidos de fora da casa a tiraram de seus pensamentos; seu coração falhou uma batida. Exalou a respiração, ergueu-se e foi até a porta da sala; Sirius devia ter sentido seu cheiro porque parou de latir e apenou arranhou a madeira. Ela abriu e deixou que o animago entrasse; assim que largou a cesta que carregava na boca, o bruxo tornou a assumir a forma humana. O olhar dele pousou sobre ela com uma ânsia que fez seu coração acelerar.
- Olá, Jean – o som grave e baixo da voz dele a arrepiou.
- Er... olá – Jean engoliu em seco e desviou os olhos para as próprias mãos
- Como você está? – os passos dele se aproximaram
- Bem... – ela tornou a encará-lo, mas recuou para uma poltrona
- Correu tudo bem por aqui?
- Sim, eu... fui almoçar todos os dias no Três Vassouras e aproveitei para... para explorar mais as lojas e os lugares. Ontem fui à Casa dos Gritos – ela recuou os passos e disparou de uma vez sem dar pausa, como se falar a ajudasse a abafar a tensão entre eles – Eu... eu vi mais de perto. Não é tão assustadora, sabe? Mas... parece um lugar bem opressivo. Triste... er... solitário...
- E é – Sirius a interrompeu. Ela o olhou intrigada. Ele engoliu em seco como se tivesse dito algo que não devesse, mas logo abriu um sorriso – Então... parece que você se distraiu bastante.
- Mas e você? – ela disparou de novo – Como foi lá em Hogwarts? Conseguiu ver o Pedro?
- Que nada! – Sirius bufou e largou o corpo no sofá, estirando os braços para o encosto. Jean também se sentou na poltrona – A única coisa que pude fazer mesmo foi me acomodar em uma gruta e reconhecer o terreno. Não pude nem me aproximar da entrada do castelo.
- Por causa dos dementadores?
- É – admitiu o bruxo – Eu... não esperava que tivesse um monte deles lá. Meio que me pegaram de surpresa.
- Eles te viram?
- Viram, mas não me reconheceram. Só que... eu não estava muito preparado para eles, não no primeiro dia. Mas não foi por causa desses carniceiros que me mantive longe da escola. – ele fez uma pausa – Foi pelo Remo.
- O Remo? Aquele seu amigo? – Sirius acenou com a cabeça. Ela arregalou os olhos – Ele está lá?
- Pelo que eu descobri, ele foi nomeado professor de Defesa Contra As Artes das Trevas este ano.
- Mas você não disse que corre o boato de que este cargo é amaldiçoado?
- É, o Remo sabe disso.
- Então... se ele aceitou e foi nomeado neste ano...
- Foi porque eu fugi – Sirius bufou – Tenho certeza. É bem capaz do próprio Dumbledore ter oferecido o trabalho para o Remo por causa disso. – soltou uma risada amarga – Claro que também porque somente alguém corajoso, doido o suficiente ou sem opções de emprego pegaria esse cargo.
- Como o Remo... por causa da condição dele.
- Exato.
- Sirius, então você não pode mais se arriscar com seu plano! Não com seu amigo lá. Ele conhece você melhor do que ninguém e sabe que você é um animago! E se…?
- Como já disse, Jean, nada vai me impedir. - ele ergueu a mão para impedi-la de continuar – Se nem o tal auror Gray e os dementadores conseguiram me afastar, não vai ser o Remo – ele fez um gesto com mão em sinal de desdém – Não se preocupe, posso lidar com ele também.
Ela abriu a boca para continuar seus argumentos, mas logo a fechou e apenas balançou a cabeça. Pensou até em comentar sobre Adam Gray, o encontro inesperado perto da Casa dos Gritos, o fato do auror ainda estar em Hogsmeade e ter um chalé por lá – um que era a habitação mais próxima da deles –, mas refletiu que seria perda de tempo. Com sua atitude, Sirius talvez nem visse a presença do homem ali como uma ameaça.
- Senti sua falta, Sereia.
A respiração de Jean falhou por alguns segundos com a declaração inesperada. A moça se viu presa no olhar intenso de Sirius enquanto suas mãos se agarravam e apertavam-se. De repente, a tensão entre eles e toda aquela aura pareceram crescer. Ela queria dizer o mesmo, mas se o fizesse, talvez desse um incentivo para Sirius, ao qual não estava pronta. Como se sentisse seu dilema, ele apenas suspirou.
- Preciso comer alguma coisa. Não deu para tomar café – ele apontou a cesta – Ontem foi a conta da comida acabar.
- Você... você... quer que eu prepare um sanduíche?
- Não, eu faço depois. Preciso de um banho – ele se levantou e fitou-a com um olhar penetrante que fê-la prender a respiração mais uma vez – Depois... precisamos conversar. Se estiver bem para você.
Ela sabia que ele traria o assunto à tona. O beijo. Tão inesperado, mas tão cheio de sentimento e magia que ainda fazia seu peito se apertar sempre que pensava nele. Jean suspirou, assentiu e também se ergueu para retornar à biblioteca. Sirius estava a meio caminho de sair da sala quando se voltou para ela:
- Jean?
- Sim?
- Você por acaso entrou em Hogwarts ou chegou perto do terreno?
- Não – ela franziu a testa – Por quê?
- Ah, por nada. Só pensei… que talvez você tivesse curiosidade em conhecer a escola para ver se tinha alguma lembrança.
- Até pensei nisso, Sirius, mas não vou me arriscar, não com aqueles dementadores. Além do que é um bom chão até lá, não? E seria suspeito eu rondar pelo terreno da escola sem ser uma estudante ou professora.
- É, tem razão.
Ele apanhou a cesta e deixou-a com uma ruga entre as sobrancelhas. Jean deu de ombros e soltou uma exalação alta e profunda; então retornou à biblioteca.
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A água quente envolvia o corpo de Sirius Black como um abraço, o vapor subia enchendo o pequeno banheiro de seu quarto com um ar denso e tranquilizante. O bruxo encostou a cabeça na borda da banheira de cerâmica, os cabelos longos e negros caindo em mechas molhadas sobre seus ombros. Ele fechou os olhos, permitindo que o calor relaxasse os músculos tensos. Até se lavava na lagoa da gruta, mas como a água era gelada, mesmo que o frio ainda não houvesse começado em Hogwarts, ele só se banhava três vezes durante a semana e, mesmo assim, não um banho completo. Agora desfrutaria desse prazer enquanto vagava seus pensamentos, a começar na lembrança do beijo trocado com Jean.
O toque suave de seus lábios nos dela, inicialmente hesitante, quase temendo cruzar aquela linha, mas logo cedendo à paixão avassaladora entre eles. O gosto doce, a sensação de seus dedos entrelaçados nos cabelos dela, puxando-a para mais perto. Era como se o mundo tivesse desaparecido, e tudo o que existia fosse aquele momento, a conexão entre eles.
Bastou tornar a vê-la para que todas aquelas sensações voltassem ao seu corpo. Por Merlin! Teve que recorrer às suas forças para se manter parado diante dela, em vez de avançar e tomá-la nos braços depois de ficar ausente por dias.
Sorriu. Ela ainda estava tão afetada pelo beijo quanto ele. Bastava fitar aqueles olhos castanhos brilharem, com uma mistura de desejo e vulnerabilidade que o desarmavam.
O sorriso se desfez e uma ruga se formou em sua testa ao evocar a imagem daquele gato misterioso, nos limites da Floresta Proibida, na noite do dia anterior.
Uma das vantagens que tanto ele como seus amigos descobriram ao se tornarem animagos foi que conseguiam se misturar e até se aproximar de muitos animais com mais facilidade, pois estes os tomavam como se fossem bichos de verdade. Embora não entendessem a mente dos animais, os animagos captavam melhor o que as espécies sentiam e integravam-se a eles em suas andanças e brincadeiras pela Floresta.
Só que aquele gato era outra coisa, com uma mente mais complexa do que um felino normal – até mais do que Madame Nora –, a ponto de Sirius ter conseguido captar um pensamento de estranheza do animal. Não era que o bichano formasse palavras na cabeça: era mais uma imagem mental traduzida em mensagem; na falta de uma definição melhor, praticamente uma telepatia. Havia poucos animais no mundo mágico que tinham essa capacidade e uma dessas espécies vivia na Floresta Proibida: os testrálios.
Uma vez, ao percorrerem as regiões mais profundas da floresta, em uma noite de lua cheia, os Marotos se acomodaram em uma clareira. De repente, um som estranho – algo como o bater de asas, mas muito mais sutil – ecoou ao longe. Aluado rugiu, pronto a atacar o invasor, mas os seus companheiros o acalmaram, apesar de estarem assustados. Rabicho, o covarde de sempre, escondeu-se atrás de Pontas e Almofadinhas. Antes que pudessem investigar, uma estranha sensação invadiu suas mentes, como se mãos suaves e calmas tocasse em seus pensamentos com imagens que se mesclavam, ao mesmo tempo. Eles demoraram um pouco para descobrir que estavam se comunicando com testrálios, já que aqueles cavalos esqueléticos só podiam ser vistos por quem havia entrado em contato com a morte, fosse por ver alguém próximo morrer, ou que passasse por uma experiência de quase-morte.
No começo, os animagos e o lobisomem se apavoraram, afinal, além de invisíveis, testrálios eram classificados como perigosos; porém, descobriram que os de Hogwarts eram domesticados e eles que puxavam as carruagens dos alunos a partir do segundo ano. O local onde os Marotos estavam era o território dessas criaturas quando estavam soltas e elas apenas questionaram a presença deles ali. No fim, os animagos tiveram uma "conversa" bastante interessante com esses seres; até mesmo Aluado relaxou ao perceber que não eram uma ameaça; os garotos foram até "convidados" por eles a retornarem lá sempre que quisessem, o que fizeram algumas vezes.
Os testrálios foram os únicos animais inteligentes com que Sirius conseguiu se comunicar até então. E agora... aparecia aquele gato que percebeu que o bruxo não era um cachorro de verdade. Tentou puxar da memória se havia alguma raça especial com certo grau de inteligência, mas não se recordou. De qualquer jeito, o felino o intrigou tanto por sua percepção quanto... pelo cheiro de Jean.
Não, não era o cheiro dela, embora se assemelhasse. Claro que não podia ser. Para quê estaria em Hogwarts? Por mais que se preocupasse com sua segurança, Jean não seria imprudente de ir lá, sabendo dos seus planos. Perguntou a ela mais para tirar qualquer sombra de incerteza; porém, antes mesmo de sua negativa, já tinha descartado a hipótese. A menos que ela houvesse treinado aquele gato para espiá-lo, o que seria improvável, já que em todo aquele tempo nenhum felino havia aparecido e o próprio animal se mostrou hostil ao vê-lo. Então não; o gato não estava relacionado a Jean. Porém, de quem ele era?
Seja de quem fosse a essência, estava misturada ao odor do gato. Apesar de ter um olfato canino, Sirius não conseguia separar cheiros misturados tão bem quanto um cachorro de verdade, já que ele continuava sendo humano mesmo na forma animaga.
Cada objeto, planta, árvore, comida ou ser possuía um aroma único. Os seres vivos, especialmente os humanos, tinham odores mais singulares ainda. E ele descobriu que membros de uma família tinham cheiros similares e, quanto mais estreito o laço de sangue, mais parecidos ainda, embora um mínimo de odor diferenciava um familiar do outro; porém, só quando estava próximo de familiares com odores similares, que Sirius conseguia notar uma pequena diferença.
O aroma de Tiago, por exemplo, assemelhava-se bastante ao de seu pai, Fleamont, a ponto de confundir Sirius às vezes, quando estava à distância. Já com Harry, mesmo com o pouco contato que teve ao encontrá-lo fugindo da casa dos tios, Sirius reconheceu a marca de Lílian em seu aroma, mesmo com a aparência física idêntica ao de Tiago.
Então a única explicação para aquele aroma similar ao de Jean no gato era que ele pertencia a um parente dela. Um estudante de Hogwarts. Ou talvez algum professor ou funcionário. E se era assim, quem seria? Uma irmã caçula? Ou um irmão? Pai? Mãe?
Sirius teria que descobrir, mas não por agora, pois o desviaria de seu plano de capturar Pedro. OK, não era apenas esse o motivo: não queria que ela ao descobrir seus familiares se afastasse dele. Estava sendo egoísta pelas duas razões, mas não podia contar para ela. Ainda.
Suspirou. Quando tudo aquilo terminasse, falaria com ela. Primeiro, precisava se aproximar do gato, não apenas para investigar o assunto, mas porque o animal poderia lhe ser útil de diferentes maneiras. Se era tão inteligente quanto parecia, talvez pudesse convencê-lo a entrar no Castelo e encontrar Rabicho para ele. Também poderia usá-lo para apertar o nó da raiz do Salgueiro Lutador onde entraria no túnel que o conduziria à Casa dos Gritos.
A gruta estava incomodando Sirius um pouco e logo o frio começaria, talvez na próxima semana. Ele queria um local mais quente e aconchegante e a Casa dos Gritos onde passou tantos momentos com seus amigos era ideal. Claro, na noite de lua cheia, não ficaria por lá por causa de Aluado. Tampouco na semana que a antecedia, para que seu cheiro não ficasse impregnado no lugar e Remo o detectasse ao se instalar, fosse na sua forma humana ou lupina.
Sirius abriu os olhos, esfregou o rosto com as mãos e levantou-se da banheira, com a água escorrendo por sua pele; enrolou-se em uma toalha e foi para o quarto.
Estava decidido. Buscaria por aquele gato pelos terrenos de Hogwarts e ganharia sua confiança, mesmo que aos poucos.
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Jean estava acomodada na biblioteca quando Sirius chegou; ela fingia se concentrar no livro que havia começado a ler, mas havia percebido a presença dele no cômodo, embora seus passos fossem tão macios que não se poderia escutar.
- Comi o sanduíche que você preparou para mim – ele disse, fazendo-a erguer os olhos
- Sei que disse que você mesmo ia fazer, mas já que eu estava à toa, não vi problema em montar. Estava bom?
- Assim como tudo que você cozinha – Jean corou com o tom que ele empregou junto ao olhar caloroso – Obrigado.
- Por nada – ela ofereceu um sorriso tímido, mas desviou o olhar, um calor percorreu seu corpo.
Black se sentou na poltrona oposta, estudando-a por um momento antes de falar.
— Jean, podemos conversar sobre o que aconteceu no meu quarto antes de eu ter ido para Hogwarts?
— Sirius, eu… - ela pensou em todos os argumentos que havia elaborado para contestá-lo, porém, sua mente ficou em branco. Sirius esperou, mas ela não conseguiu se expressar – Eu… não sei o que dizer.
— Então me deixe falar — ele disse, inclinando-se para a frente. Havia uma intensidade em seu olhar que a prendeu no lugar. — O que eu disse antes de partir é válido. Não me arrependo nem um pouco do beijo e não vou me desculpar mais pelo que aconteceu porque eu queria muito. E sinto que você também. – Jean sustou a respiração, mas não negou. A expressão de Sirius era de alguém que foi recompensado – Mas quero deixar claro que não planejei o que aconteceu... saiu do meu controle.
- Eu sei. - ela assentiu
- Não vou forçar nada que você não queira, Jean, mas preciso ser honesto com você. Esse beijo… quero que ele se repita. - a voz dele ficou rouca e levemente baixa. O pulso de Jean acelerou – Quero estar com você.
- Sirius…
- Não quero que pense que é por eu estar sem alguém há anos… e que é por você ser a opção mais fácil. - ela engoliu em seco. Ele adivinhou duas de suas objeções – Eu te respeito e me importo muito com você para ter esse pensamento. Tive muitas mulheres, não vou negar, mas não enxergo você como mais uma na minha vida, Jean. Aliás, você não é mais uma. - se o coração da mulher pudesse saltar do peito, aquele teria sido o momento. Sirius agarrou os braços da poltrona – Eu… aquele beijo, você sabe, não foi qualquer coisa… você deve ter sentido seu núcleo mágico se mexer.
- Sim. - ela arqueou as sobrancelhas – Isso é normal entre os bruxos?
- É… quando há algo mais entre eles – Sirius ainda não podia dizer que eram almas gêmeas. Não queria forçar a escolha da bruxa. Ele entrelaçou as mãos e inclinou-se em direção a ela – E há algo mais entre nós, Jean. Você sabe disso. - ela abriu a boca duas vezes para dizer algo, mas não conseguiu. Sirius tinha essa capacidade de deixá-la sem palavras. Ele sorriu – Quero ter uma relação de verdade com você. Não algo apenas para satisfazer meus desejos – de novo, ele a deixou sem ar – Mas sei que as coisas entre nós são complicadas – o rosto dele se fechou – Pra começar, sou um fugitivo considerado perigoso e isso deixa você em uma situação de risco se te encontrarem comigo. - ele suspirou – Também sei que te incomoda que eu pretendo matar alguém, por mais que você entenda meus motivos – a moça não respondeu, mas seu silêncio foi uma confirmação para Sirius – E tem também sua amnésia. Você não se lembrar de sua vida… nem mesmo do seu nome completo – ele engoliu em seco – Talvez até haja um homem em sua vida.
- Tem. - ela o surpreendeu com a convicção – Quer dizer... eu acho.
- Você se lembrou?
- Poucas recordações… e apenas flashes – sua voz era trêmula
- Foi o dementador lá no Três Vassouras?
- Ele me trouxe outras, mas… eu já tinha uma memória... do dia que você me contou sobre você lá no hotel.
- Por que você não me falou? - ele estreitou os olhos e tentou disfarçar o desagrado na voz sem sucesso
- Porque… era uma lembrança... um tanto íntima – ela corou e desviou o olhar.
- Ah. - ele se endireitou no recosto da poltrona. Algo o corroeu por dentro.
- O dementador me puxou outras recordações com… esse rapaz. Mas nenhuma era agradável. - tornou a fitar Sirius. O rosto dele era inexpressivo – Em duas delas, parece que eu tive alguns desentendimentos fortes com ele. Não sei… talvez… nem estejamos juntos, mas não posso ter certeza. - Sirius apenas acenou com a cabeça. O coração dela se apertou — Eu… eu sinto muito, Sirius. Não vou fingir que nada aconteceu entre nós… e que o beijo não significou nada para mim, mas eu… não sei se posso corresponder a isso agora. Não com tudo... tão… incerto.
Ele assentiu lentamente, passando uma mão pelos cabelos desgrenhados.
— Eu entendo. E como eu disse, não quero pressioná-la, Jean. Não é assim que quero que as coisas sejam entre nós. Mas também não posso fingir que não sinto o que sinto.
Jean sentiu os olhos arderem, mas segurou as lágrimas. Ela não queria magoá-lo, mas também não podia ignorar a confusão dentro dela.
— Eu também me importo com você, Sirius. E… você me atrai – ela engoliu em seco. Um sorriso se acentuou nos lábios do Maroto – Só que não posso começar nada com você sem entender mais sobre quem eu sou e de onde vim – ela suspirou – Preciso de tempo.
O sorriso dele permaneceu, mas havia uma leve decepção nos olhos cinzentos.
— Tudo bem – ele acenou com a cabeça – Você tem razão. Mas vou esperar o tempo que for preciso… não importa se não der em nada.- o calor que a percorria se aqueceu mais com essa resposta dele – E quero que fique tranquila sobre nós. Vou continuar sendo o amigo que você precisa.
Jean sentiu outro aperto no peito, mas também alívio. Mesmo que não estivesse segura em se jogar naquela relação sem ter mais informações sobre si mesma e do tal Ron, não tinha mais dúvidas de que amava Sirius. Ele era para ela mais do um amigo: era tudo; não suportaria se ele colocasse uma distância entre eles, por conta de sua negativa. Também estava feliz pela conversa, por constatar que os sentimentos do Maroto eram verdadeiros e de que suas intenções eram sérias, tanto pela sinceridade nas palavras e no olhar dele.
Sirius deu uma piscadela, pediu licença e saiu da biblioteca, deixando-a mergulhada em suas reflexões.
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Há! Por essa, vcs não esperavam! O Bichento aparecer com o cheiro da Hermione. Não foi dessa vez que Sirius descobriu sobre ela. Mas só para esclarecer algumas coisas:
1) Dei uma pesquisada sobre o olfato dos cachorros e eles têm uma grande percepção desse sentido. Conseguem inclusive separar os elementos de uma receita, segundo o que li. Parece apenas que perfumes fortes podem irritar o olfato deles e até confundi-los. Já escutei inclusive um caso de um cachorro que quase atacou o próprio dono quando ele começou a usar um perfume forte desconhecido do cão. Então, aqui apesar do Sirius ter os sentidos bastante próximos ao de um cachorro, quis colocar essa informação de que seu olfato não é tão preciso quanto o de um cão pelo fato de ele ainda ser humano mesmo transformado, justamente pra ele ficar meio confuso com esse cheiro da Hermione que ele vai sentir constantemente ao encontrar o Bichento
2) No filme, infelizmente, Bichento não é tão explorado quanto no livro e tampouco sua relação com Sirius. A importância do gatinho foi muito vital para se descobrir a identidade de Pedro como o Perebas. Inclusive, há quem brinque que o verdadeiro herói de "O prisioneiro de Azkaban" seja o Bichento. Aqui na minha história, pelo menos nessa primeira parte, vou trabalhar essa relação dele com o Sirius. Não é mostrado nem no livro, tampouco no filme, como foi esse primeiro contato, mas no livro Sirius diz que notou a inteligência de Bichento que não era um gato comum e que este percebeu o que Sirius era assim como havia percebido que o Perebas não era um rato de verdade, e esse foi o verdadeiro motivo de o perseguir. E demorou para Bichento confiar no Sirius antes de começar ajudá-lo. Vou dar asas à imaginação e escrever como teria sido essa aproximação entre eles, bem como seria a maneira de se comunicarem.
3) Por último, já expliquei aqui em um capítulo, mas só para lembrar que o Bichento, de fato, não é um gato normal e sua inteligência se deve por ele ser o cruzamento de um gato doméstico com um Amasso, uma raça mágica, de inteligência acima de um felino comum. Essa informação não tem no livro, mas no site Wizarding World.
Enfim, espero que tenham gostado. Comentem, viu? E até a próxima!
