Ele odeia hospitais, odeia o cheiro, odeia por tudo ser tão branco, odeia os barulhos, odeia a comida, tudo! Por isso, quando ele acordou em um, desejou que fosse um pesadelo.

Quando Sheldon tentou levantar ele teve a sensação de que seus pulsos estavam pegando fogo, sua pele ardia e seu corpo estava tão cansado, era como se ele tivesse ficado dias sem dormir.

Sheldon sentiu uma mão em seu ombro.

— Seja cuidadoso, seu corpo ainda está sensível! — disse uma voz desconhecida

— Não me toca! — disse Sheldon.

Sheldon não gostava que tocassem nele, ele se sentia invadido, desrespeitado. Como alguém pode ser tão mal educado ao ponto de achar que pode despejar sujeira e suor através de um toque que não foi pedido?

— Tudo bem! – disse a voz. — Eu sou a enfermeira do turno da noite.

— como você está se sentindo? — perguntou a enfermeira.

— Bem — mentiu Sheldon.

— Oh, tudo bem — Disse a enfermeira — o hospital oferece comida, você deve estar faminto… — completou.

— Não estou com fome. — Disse Sheldon, de forma monótona.

A enfermeira entendeu o recado e saiu do quarto.

Sheldon finalmente estava sozinho, sua mente ainda estava tentando entender onde ele estava, Sheldon se sentia sujo, Ele odiava hospitais, ele odiava o cheiro, o vazio, os cômodos extremamente brancos e principalmente os germes.repetiu para si mesmo. Ele podia sentir os germes se espalhando por todo o seu corpo, entrando em seu organismo, deixando ele doente. Ele já podia sentir os sintomas de qualquer que seja a doença que os germes estavam trazendo. Quantas vezes na semana eles lavavam os cobertores? Quantas pessoas usaram o avental que Sheldon estava usando? Quais foram as doenças que as pessoas que já ocuparam esse quarto antes dele tinham?Isso era um pesadelo, uma tortura! Milhares de pensamentos passavam pela mente de Sheldon, e nenhum deles melhorava a situação.

Sheldon queria ir pra casa, descansar e com " ir pra casa" ele não está se referindo a seu apartamento em Pasadena e sim, sua casa de infância em Medford, ele odiava admitir mas no fundo sentia saudades dela. Ele não sentia saudades de Medford em si, e nem de sua vizinhança, mas sim do conforto que aquela casa trazia, o conforto que as pessoas que estavam nela traziam. Ele sentia saudades de ver seu pai reclinado na cadeira, bebendo uma cerveja e prestes a quebrar a TV por seu time de futebol americano perder de novo, sentia saudades de brigar com a missy por motivos fúteis o tempo todo, sentia saudades de estar a uma calçada de distância de sua amada meemaw. Mas, tudo isso são só lembranças, lembranças extremamente exatas por causa de sua memória eidética, porém continuavam sendo lembranças. E por falar em memória eidética, ela é mais uma parte da maldição de se ter uma mente tão brilhante quanto a de Sheldon Cooper, ele consegue se lembrar de tudo o que ele já viveu, e nem sempre as lembranças avisam quando vão aparecer. E de repente ele sente tudo denovo, tudo oque aconteceu naquele maldito dia de 1994, A morte de seu pai. A notícia da morte repentina foi um soco no estômago pra ele, Ele não chorou, Sheldon nunca chora. Ele repetiu de novo, e de novo, e de novo, e de novo as últimas interações que ele teve com seu pai em sua mente, se culpando por não ter dito um simples " Tchau, pai " ou " Pai, eu te amo " ele viu sua família desmoronar, sua mãe se tornou mais fanática religiosa do que ela já era, Georgie

Tentava compensar a perda com irresponsabilidade financeira e missy tinha raiva, era só isso que ela sentia, raiva. Ele também se viu desmoronar, porém silenciosamente e lentamente, até chegar no seu limite na fatídica tarde de 1995. Ele queria poder dizer que já tinha superado tudo e que não era mais aquele Sheldon que se deixou levar pelo cansaço, mas aqui estava ele, internado num hospital por ter rasgado seus pulsos , aquela casa é o fantasma que persegue ele, e que ele não é esperançoso de um dia as lembranças dela deixarem de persegui-lo.

Pasadena, Califórnia

Sheldon tinha sido levado pelos paramédicos para o hospital de Pasadena, o banheiro do apartamento estava interditado, qualquer pessoa que entrasse lá poderia ver uma banheira encharcada de sangue, com manchas espalhadas por todo o chão. penny e leonard não tinham nenhuma informações sobre o estado de seu amigo e visitas não eram permitidas no momento, eles estavam em silêncio no apartamento, tentando entender se tudo aquilo era real ou algum tipo de pesadelo lúcido.

Leonard estava sentado no sofá segurando seu celular, penny estava sentada ao seu lado, se apoiando no ombro de seu namorado, era possível perceber a feição de quem acabou de chorar em seu rosto, seus olhos estavam vermelhos, os cílios molhados e pequenas marcas de lágrimas estavam espalhadas pela bochecha rosada da garçonete.

Leonard tinha mandando mensagens para cada um do grupo há 20 minutos atrás.

'' Por favor, venha pro meu apartamento agora, é uma emergência, preciso contar a todo mundo pessoalmente. ''

Quando o resto do grupo chegou foi possível sentir uma sensação pesada no ar e um nó apertado sendo formado no estômago de cada um, como se cada um, inconscientemente, já sabia que algo horrível tinha acontecido.

raj foi o primeiro a dizer algo.

— cadê o sheldon? — perguntou, sua voz parecia trêmula.

Leonard sentiu como se fosse vomitar, após ouvir o nome de seu colega de quarto.

— ele… — Leonard sentiu como se a sua voz não conseguisse sair de sua garganta. — ele tá no hospital. — Leonard disse.

— o'que?! — Amy disse, assustada.

— Eu preciso que me deixem explicar — Leonard disse.

Todos se sentaram, tentando ficar em silêncio mesmo que estivessem preocupados e um pouco curiosos sobre o que tinha acontecido.Leonard contou o que tinha acontecido mais cedo o mais calmamente possível, tentando não se mostrar tão abalado, o'que não foi uma missão sucedida.

— mas, o que aconteceu? — perguntou amy tentando processar tudo o'que ela tinha acabado de ouvir. — como ele se machucou? — completou seu raciocínio.

— Não temos certeza, mas os paramédicos disseram que se parecia muito com uma cena de suicídio. — Leonard disse, com a voz trêmula.

— O'Que? — Bernadette disse, incrédula.

— Suicídio? — amy repetiu para si mesma — Porque o Sheldon faria isso? — Disse sussurrando.

— O'Que o hospital disse sobre o estado dele? — perguntou Howard.

— Nós sabemos tanto quanto vocês, o hospital por enquanto não está permitindo visitas e não nos deu nenhuma informação. — Disse Leonard.

— Mais isso é um absurdo! — disse Howard. — Nós temos que saber pelo menos se o Sheldon está bem! — Howard levantou, e todos entenderam o'que ele ia fazer, ele ia para hospital.

Então todos foram juntos.