Nota da autora: Mais um capítulo do presente chegando, desta vez com o dobro de páginas. Resisti à ideia de dividir o capítulo porque realmente queria o suspense do final!

Resolvi postar hoje porque vou precisar viajar a trabalho esta semana e fiquei com medo de não conseguir arranjar tempo para postar. Na semana que vem planejo atualizar na sexta, mas, caso não consiga, sai um capítulo durante o carnaval e outro na sexta 😁

Tenho uma pergunta em relação ao presente: pensei em incluir uma parte da visita das três a Chiba no fim de semana da atual parte do presente, mas não sei se vão gostar de sair um pouco do ponto de vista de Sesshoumaru. Se vocês preferirem, posso fazer a parte da visita a Chiba como um outtake, da mesma forma que fiz com o "noite de meninas" (aí eu mando para quem comentar). O que acham da ideia? 😁

Eu gostei muito de escrever esse capítulo e espero muito os comentários sobre o que acharam... Estou realmente ansiosa pra ler tudo! 😍

Muito obrigada a quem está lendo e comentando, estão me ajudando muito a continuar postando: 05csomoragnes11, Tinker, DR, Valgv9, Yuki, Merinah e DindaT! 😍😍😍 Muito obrigada! Gracias! Thank you!

Cheguei aos 100 comentários! AAHHH! 😍😍😍

Até o próximo capítulo no passado! 😘

De todo coração

Capítulo 23 – Presente

Parte XII

— O que foi que você disse? – Sesshoumaru perguntou.

A voz dele, em tom severo, não intimidou Towa. Irritada, a menina desviou o olhar para um ponto qualquer do estacionamento e cerrou as pequenas mãos em punho.

—Ele tava batendo na mamãe e eu tentei impedir.

Sesshoumaru sequer piscou. Na cabeça dele, agora começava a entender as atitudes mais agressivas das gêmeas em alguns momentos desde que se conheceram.

—Quando isso aconteceu? – ele exigiu saber.

—Foi quando a gente ainda morava em Chiba. – as mãozinhas fechadas em punho agora tremiam, a voz estava carregada de raiva e rancor – Ele apareceu lá em casa um dia quando o tio Kohaku e os outros tinham viajado e atacou a mamãe. Eu só queria que ele não tocasse mais nela e não machucasse a Setsuna.

—E como isso aconteceu? – agora ele já sabia que Towa havia se machucado tentando defender a mãe, mas outras perguntas martelavam. Como ele havia entrado na casa? Por que ele atacou Rin? Ele teve coragem de quebrar o braço de uma criança? E Setsuna, como ela tinha reagido?

E esse homem estava preso? Solto? Morto?

Towa fez um biquinho e demorou a responder, cada segundo de silêncio deixando-o impaciente. Ele precisava de respostas para todos os cenários possíveis.

—Eu mordi o braço dele e ele me atirou na parede. – ela respondeu sem um pingo de vergonha.

Uma rápida imagem de como teria sido aquilo a partir do relato dela passou na cabeça dele. Towa pequena se jogando em cima de um homem sem rosto com o dobro do tamanho dela, mordendo o braço dele com força. Ele gritando de dor e arremessando-a a ponto de fazer o braço dela quebrar.

Recuperando a postura, ele continuou:

—Foi por isso que vocês mudaram para cá?

Outra vez uma sombra apareceu no rosto dela e mais uma vez houve uma demora nas respostas para deixá-lo de certa maneira impaciente. Ele não a apressava no relato, no entanto. Queria ouvir a história toda e estava disposto a ficar até o final da noite naquele estacionamento até ela contar tudo o que aconteceu.

—Não... – ela virou o rosto de lado novamente para não encontrar o olhar dele – Foi por minha causa.

Se Rin não mudou de cidade para se proteger de um homem que a atacou, então ele está preso, ele concluiu.

— Um menino mais velho que sempre perdia pra mim no kendo quis me bater. – ela começou, interrompendo os pensamentos dele – Eu nem ia fazer nada porque ele era fraco, mas ele descobriu o que aconteceu naquela noite com a mamãe e falou que a ela mereceu apanhar daquele homem. Aí eu quebrei a mão daquele fracote e ainda deixei ele pendurado de cabeça pra baixo na grade da escola.

Mais um silêncio ficou atravessado entre os dois. Ele de pé olhando para baixo, ela olhando para algum ponto do estacionamento, sem querer trocar um olhar com ele.

— E o que houve depois?

Novamente, ela hesitou antes de continuar o relato:

— Os diretores queriam me expulsar da escola e a mamãe achou melhor me tirar antes de isso acontecer. Viemos pra cá porque foi onde tinha vaga pra ela trabalhar.

De certa maneira, foi culpa daquele homem.

— Foi isso o que aconteceu. – ela resmungou baixinho ainda olhando para o chão, chateada em ter que compartilhar aquela história – A gente nem gosta de morar aqui, mas foi o único lugar que tinha uma vaga pra mamãe trabalhar porque o tio Kohaku já trabalhava na escola daqui. Foi ele quem ajudou a mamãe...

Rin realmente não gostava de cidades do interior. Ela sempre repetia que preferia ficar em Tokyo do que em uma cidade pequena, por mais encantadora que fosse.

— E agora você brigou hoje de novo e corre o risco de ser expulsa da escola. – a voz dele soou um pouco mais dura.

Towa bufou e depois fez um beicinho. Não era culpa dele se os meninos que a encurralaram ficavam usando a mãe para provocá-la. Se tivesse que ser expulsa da escola por agressão, ela seria todas as vezes que tivesse que proteger a honra de Rin.

O campo de visão dela foi tapado por Sesshoumaru, que colocou um joelho no chão para ficar na mesma altura dela.

— Você não pode mais fazer esse tipo de coisa. – ele a advertiu.

De novo, ela desviou o olhar do dele.

— Towa. – ele chamou a atenção da menina – Você vai ter que me prometer também que não vai mais se meter em brigas.

— Por que só eu tenho que prometer? – ela reclamou, franzindo a testa em irritação – Eles ficam inventando essas coisas sobre a minha mãe e eu vou ficar ouvindo sem fazer nada?

Na infância e em parte da adolescência, Sesshoumaru já tinha sido um daqueles garotos que provocavam os outros. Lembrou-se então que Inuyasha, um dos alvos dele, passou a ignorá-lo completamente durante as provocações, agindo como se o irmão não existisse. Às vezes ele até se dava ao trabalho de rir debochado durante as discussões. Agora ele entendia a revolta que ele deveria sentia por ter que ouvir aquelas ofensas. Agora ele entendia o quão revoltada Towa ficava a ponto de querer bater em crianças da idade dela ou mesmo mais velhos.

E só agora, anos depois, ele percebia que foi um adolescente estúpido e que só parou com aquelas coisas depois de conhecer Rin.

— Você vai ter que pensar em outras coisas e fingir que eles não existem. – ele aconselhou ao perceber o efeito provocado pela indiferença do irmão – Eles param depois de algum tempo.

A testa, antes franzida por causa da irritação, agora indicava dúvida. Parecia que ela tentava acreditar que um dia os colegas parariam com as provocações e de falar aquelas coisas sobre a mãe dela.

— Towa. – a voz dele estava mais dura para chamar a atenção e exigir a resposta dela dela.

— Tá bom... – ela resmungou – Eu prometo.

Satisfeito, ele levantou-se, avaliando a situação e pensando no que deveria fazer em relação às três.

Antes de chamá-la para finalmente entrarem no carro, ele notou que Towa mexia o pé em círculos como se quisesse fazer um buraco no asfalto do estacionamento com a ponta do sapato, num claro gesto de hesitação.

— O que foi agora? – ele quis saber.

— Não fala pra mamãe que eu contei sobre o que aconteceu... – ela começou suavemente – Ela não gosta de lembrar e fica triste porque eu me machuquei. Ela disse que aquele homem nunca mais vai chegar perto da gente.

Menos mal. Deve estar preso. Ou com alguma ordem de restrição para não se aproximar delas.

— Vamos. – ele começou a andar até o carro e abriu a porta de trás para ela subir.

Enquanto ela colocava o cinto de segurança, ele falou da porta ainda aberta:

— Vamos passar em uma farmácia e comprar o remédio que a médica passou.

Towa concordou com a cabeça. Ela achava que não precisava de remédios porque não sentia dor, mas como ele insistiu em levá-la ao hospital e queria passar na farmácia...

— Okay... – ela murmurou.

O trajeto foi extremamente silencioso até ele encostar em uma farmácia próxima da residência em um quarteirão com vários outros estabelecimentos comerciais.

O silêncio se dava porque Sesshoumaru estava mais pensando no que Towa havia relatado do que preocupado com o trajeto indicado pelo GPS. A imagem da menina sendo atirada na parede ficou repetindo em loop, como um filme travado em uma única cena.

Depois de comprar o remédio, Towa o parou antes de seguirem para o carro:

— Senhor Sesshoumaru... – ela começou num tom tímido e fez com que ele olhasse para ela – Podemos passar na konbini pra comprar uma coisa?

— Comprar o quê? – ele quis saber.

— Um lanche pra eu entregar pro Riku. – ela falou a contragosto – Mamãe diz que é melhor levar um presente ou comida pras pessoas quando vamos pedir desculpas.

— Ela diz isso, é? – ele falou aparentemente sem nenhuma reação, mas a mente processava as mil informações passadas por Towa – Então vamos.

Havia uma loja de conveniência a poucos passos da farmácia, onde vendia-se um pouco de tudo. Lá, Towa procurou a seção de industrializados e pegou um doce de maçã, depois um suco em lata na parte de bebidas, tudo sob um olhar atento de Sesshoumaru. No encontro que teve com Rin no restaurante, ele a viu comprar um pedaço de torta de maçã para a filha mais velha. Na hora, aquilo passou despercebido, mas agora percebia o quanto ela gostava da fruta.

— Hmm... – ela murmurou meio hesitante – Posso ver uma coisa pra mamãe e pra Setsuna?

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha, pedindo explicações.

— Vou pedir desculpas pra mamãe também. – ela completou.

— Por que para Setsuna também? – ele perguntou suavemente.

Towa baixou o rosto e levou um tempo para responder.

— Ela ficou preocupada. Eu não gosto quando ela fica assim.

— E o que você vai levar?

A menina olhou para a seção de biscoitos doces e chocolates e os dois foram até lá apenas para ela pegar os biscoitos com cobertura de chocolate em formato de bichinhos para levar para a irmã e um tablete de chocolate ao leite para a mãe.

— Pronto. – disse ela, mostrando os itens para mãe e a irmã na mão direita e o suco e o doce de maçã na outra.

— Não vai levar nada para você? – ele estranhou.

Towa olhou para um lado e para o outro.

— A mamãe conversou sobre o que fizemos na semana passada e disse que só era para comprar o necessário... Porque depois pode ser um problema pra você...

— "Problema"?

— É... – ela parecia receosa – Ela disse que você poderia se aborrecer... Só isso.

Absurdo, ele zombou mentalmente. Ele nunca havia negado ou se aborrecido ao comprar coisas para Rin. O máximo que ela pediu foram livros de moda das primeiras viagens que havia feito e ainda insistia em pagar por eles.

— É claro que não é um problema. – ele afirmou.

—Não mesmo? – ela ainda tinha dúvidas.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha e a menina então olhou para a prateleira de biscoitos e pegou mais um pacote de biscoitos com cobertura de chocolate – o mesmo que ia levar para a irmã.

O caminho de volta ao carro continuou silencioso, com os dois perdidos nos próprios pensamentos. Towa pensava no que dizer para a mãe. Já a mente de Sesshoumaru trabalhava para compreender uma situação e, com a menina ao lado, só conseguiria chegar a algumas conclusões depois que estivesse sozinho.

Coisas que o faziam compreender apenas agora sobre porque as duas meninas ficaram tão desconfiadas quando o conheceram ou por que Rin estava evitando uma aproximação.

—Hmm... – ela de novo se aproximou dele timidamente já perto do veículo – Posso pedir outra coisa?

Pelo silêncio dele, ela entendeu que deveria continuar:

—Mamãe queria cortar meu cabelo antes de a gente viajar pra Chiba... Mas ela ficou sem tempo essa semana... – ela pegou a ponta do cabelo prateado e brincou entre os pequenos dedos e virou o rosto para olhar para o lado esquerdo, na direção de outros estabelecimentos – Posso passar no salão agora?

Seguindo o olhar dela, ele viu que estavam diante de um pequeno salão ainda aberto com uma mulher de no máximo trinta anos dentro. Não havia ninguém, e os pés dele automaticamente o levaram para dentro, sendo seguido por ela.

—Boa noite... – Towa anunciou, tomando a dianteira. A mulher, que estava lendo uma revista aberta nas pernas na cadeira reservada aos clientes, levantou o rosto e piscou, arregalando os olhos.

—Ora, ora... – ela começou e levantou-se depressa, cercando a menina. As mãos habilidosas tocaram os fios – Que liiinndo cabelo prateado.

Timidamente, a menina começou:

—Minha mãe gosta do meu cabelo curto.

—E você quer o seu cabelo curto, garotinha linda? – ela perguntou numa voz melosa, quase sedutora, com o olhar fixo no cabelo de Towa.

— Ela diz que eu fico mais bonita desse jeito... – o rosto dela ficou meio rosado.

—Oh... – a cabelereira sorriu e os olhos brilharam – Se a sua mamãe diz, então deve ser verdade.

— Sim... – a menina concordou – É verdade.

A mulher começou a mexer os dedos com enormes unhas num claro gesto de animação. Ela queria tocar mais naqueles fios como se a vida dependesse daquilo.

—Menininha... – os olhos da cabelereira brilharam – Qual é o seu nome?

—To-Towa.

—Towa-chaaan... – ela prolongou o -chan propositalmente para uma cadeira – Sente-se ali e já vamos começar. Vou lavar o seu cabelo primeiro.

Em silêncio, a menina sentou-se no lugar indicado e aguardou a mulher preparar as coisas.

Depois viu, pelo canto dos olhos, Sesshoumaru sentar-se em uma das cadeiras e a dona do salão aproximar-se dele.

—Você também não gostaria de um corte? – ela convidou, aproximando o rosto sem qualquer medo de invadir o espaço dele – Vocês dois têm o mesmo rosto, ficaria perfeito de cabelo curto também.

—Não. – ele respondeu curto e direto.

Mas a resposta não intimidou, olhando para ele com pena por não aceitar ou entender a sugestão de cortar o cabelo. A menina já havia falado que a mãe gostava do cabelo curto, então...

—Não sabe o que está perdendo. – falou, por fim.

A mulher afastou-se e foi em direção a Towa, que não havia conseguido ouvir a conversa entre os dois adultos, e começou a lavar e a hidratar o cabelo da pequena cliente. Momentos depois, Towa já estava em outra cadeira e a mulher pisava em um pedal para subir o assento para que a menina ficasse em uma boa altura. Depois, jogou um manto listrado em preto e vermelho por cima para proteger a roupa dela dos fios que cairiam durante o corte e girou a cadeira duas vezes, parando-a na frente de um espelho.

O rosto dela apareceu por trás do de Towa, as mãos tocando os fios molhados.

—Preparada, Towa-chaaan?

A menina concordou com a cabeça.

—Pode me chamar de Yura. – ela deslizou os dedos carinhosamente e fechou os olhos por alguns segundos como se sonhasse – Eu já sei como a sua mãe quer o corte. Cabelos curtos ficam bem mesmo em você.

Towa parecia preocupada. Ou em dúvida. Ela só queria que a mãe não tivesse mais trabalho depois do que havia acontecido.

— Feche os olhos.

Towa obedeceu e, segundos depois, Yura já estava cortando a primeira mecha prateada. Depois a segunda, a terceira... Sesshoumaru observava os movimentos pelo espelho e notou o quanto a mulher era habilidosa.

Enquanto Yura fazia o serviço, ele aproveitou para processar as informações que Towa havia passado, compreendendo, finalmente, a agressividade das gêmeas em alguns momentos.

As cenas passaram rápido na mente dele por terem acontecido tão recentemente: Towa dando um tapa na mão dele na saída do concerto, quando se conheceram, impedindo que ele agarrasse o braço de Rin. As duas na entrada da casa falando que ele não poderia entrar quando Rin estava doente. Towa abrindo os braços na porta achando que conseguiria impedi-lo, caso ele forçasse a entrada. No carro, elas perguntando sem cerimônia alguma se ele já havia machucado Rin.

Os indícios estavam ali o tempo todo e ele demorou para ver.

— Prontinho. – Yura anunciou.

Towa abriu os olhos e os arregalou:

— Tá muito curto!

— Está lindo. – a mulher apareceu por trás dela e falou próximo ao ouvido – Sabe o que sua mãe vai dizer? Que você está linda e que esse cabelo curto combina com você.

Depois ela se virou para Sesshoumaru, virando a cadeira com Towa para que ele visse melhor o resultado:

— Não está bom assim?

Houve um momento de silêncio. Sesshoumaru arregalou de leve os olhos, um pouco assustado.

Havia uma versão infantil dele sentada naquela cadeira, ainda preocupada com o tamanho do corte. Towa estava incrivelmente parecida com ele quando criança, quando tinham mais ou menos a mesma idade e antes de ele preferir manter o cabelo longo.

— Vejo que gostou. – Yura deu um sorriso triunfante – Vou aguardar sua vinda para cortar o seu depois que ouvir a impressão da mãe. Trabalho todos os dias de nove da manhã até às nove da noite.

— Quanto é? – ele perguntou, tirando a carteira do bolso interno do paletó.

— Cinco mil ienes. – ela respondeu, estendendo prontamente uma bandejinha de prata para ele colocar a nota.

Momentos depois, ele saía do salão acompanhado de Towa.

o-o-o-o-o

Quando chegaram na frente do prédio de dois andares, ele desceu primeiro e abriu a porta para Towa, que ainda estava tirando o cinto para pegar as sacolas com os produtos da loja de conveniência e da farmácia.

Do lado de fora do carro, os dois andaram juntos até a escada, mas, antes de colocar o pé no primeiro degrau, ela parou e o chamou:

— Senhor Sesshoumaru? – a voz estava hesitante.

Curioso com o tom dela, ele também parou.

— Obrigada por hoje e desculpe se dei trabalho. – ela parecia sincera, decidindo reafirmar o compromisso assumido momentos antes – Eu prometo que não vou mais bater em quem me provocar da escola.

O que ele deveria dizer agora?

O que ele deveria fazer agora?

Então ele se lembrou do professor conversando com ela e imitou o gesto dele: pousou a mão nos cabelos prateados recém-cortados, macios e leves como se estivesse tocando em pluma. A menina fechou um olho e tinha o outro aberto numa careta.

— Tá bom, já chega... – ela parecia não ter gostar do contato prolongado, tentando tirar a mão dele da cabeça dela – Eu não sou mais um bebezinho...

Sesshoumaru parou e enfiou a mão no bolso da calça, e os dois, em silêncio, voltaram a subir as escadas, chegando até o apartamento.

Towa tirou uma chave do bolso da calça jeans e abriu a porta, tirando o sapato do genkan e subindo para o corredor. As luzes estavam acesas, mas o local estava mergulhado em silêncio.

— Mamãe, cheguei. – ela anunciou suavemente.

A porta da cozinha abriu e Rin, de avental branco por cima do vestido azul simples de manga curta, apareceu.

— Bem-vin...

A voz morreu ao ver a filha de cabelos curtos.

— Oi, mamãe... – ela começou timidamente, aguardando pela reação dela.

Recuperando-se, Rin sentou-se em seiza na frente da filha e tocou o rosto e o cabelo curto.

— Não está machucada. – Sesshoumaru se fez presente, já sem o calçado de rua e de meias dentro da casa – Trouxemos uma pomada que a médica passou e os exames.

Rin concordou com a cabeça e depois deu um pequeno sorriso para a filha.

— Cortou o cabelo mais curto agora, foi? – ela deslizou os dedos nas mechas prateadas.

— Você disse que queria cortar antes de a gente ir pra Chiba... – ela explicou – Ficou bom assim?

— Ficou ótimo. Curto combina mais com você. – ela coçou o couro cabeludo da menina, fazendo carinho com as unhas a ponto de vê-la fechar os olhos e dar um sorriso – Você é tão linda, Towa.

Segundos depois, a menina estava reclamando:

— Para, mãe, ele tá olhando... – a filha, com o rosto vermelho de vergonha e resmungando numa voz manhosa, tentou tirar a mão de Rin da cabeça, olhando de canto para Sesshoumaru parado perto delas – Eu não sou mais um bebê...

Mas Rin não tirou a mão. Simplesmente continuou deslizando os dedos entre as mechas prateadas, ouvindo a filha quase ronronar de olhos fechados.

Até que Towa abriu os olhos e começou:

— Mamãe, me desculpe por ter decepcionado você e quebrado minha promessa. – Towa falou no tom mais sincero que tinha – Eu não me incomodo de não ficar mais no time de aikido. Vou levar um lanche de presente pro Riku e pedir desculpas pelo que fiz.

— O que você vai levar? – Rin perguntou gentilmente, sorrindo satisfeita. Era aquilo que ela queria que a filha entendesse.

— Doce de maçã...– ela respondeu e depois olhou irritada para o lado, fazendo um biquinho de desgosto – E aquele suco que eu gosto.

Rin inclinou o rosto e franziu a testa.

— Achei que gostasse mais de chocolate do que do doce de maçã.

Towa virou o rosto teimosamente de lado para resmungar:

— Não vou dar chocolate porque ele vai achar que eu gosto dele.

Rin sufocou a vontade de rir e deu um beijo na testa dela.

— Você é uma boa menina, Towa-chan. Mas já pedi pra você não se meter em brigas. Eu não quero que você seja expulsa da escola. Você não disse que quer ser mestra em artes marciais e ensinar outras crianças como Kohaku faz? Você não pode ser expulsa assim.

— Eu sei... – Towa concordou com a cabeça, só então abrindo a sacola da loja de conveniência para tirar a barra de chocolate que havia comprado para a mãe – Desculpe, mamãe.

—Oh... Obrigada. – ela murmurou, olhando o nome na embalagem – Chocolate, é?

—É... – ela coçou a nuca meio jeito – Pra você e pra Setsuna eu dou chocolate.

Rin levantou-se e trocou um rápido olhar com Sesshoumaru, mostrando um sorriso educado de agradecimento por trazer Towa de volta. Depois indicou a pequena mesa no centro da sala, falando:

—Preparei okonomiyaki hoje. Você vai jantar aqui ou já vai embora?

Sesshoumaru não tinha fome ainda, mas ele queria ficar mais um tempo ali.

— Eu aceito o convite para jantar. – ele respondeu educadamente. Não era bem um convite, mas aparentemente, por educação, ela não ia deixar de oferecer comida para a pessoa que levou e trouxe a filha do hospital.

— Podem se sentar, eu volto logo. – ela voltou para a cozinha e Sesshoumaru e Towa, sozinhos, caminharam até a mesa e sentaram-se no chão.

—... Setsuna? – ele perguntou ao olhar para a sala e notar o silêncio. Ele queria ver se ela estava bem depois de toda a confusão inicial.

—Minha irmã dorme cedo porque ela demora pra acordar de manhã. – a menina explicou — Senhor Sesshoumaru, você vem ainda amanhã?

— Sim. – ele respondeu – Com Hakudoushi e Jaken.

— Podemos sair pra comprar um presente pra mamãe? – ela estava tão animada que nem parecia a mesma menina chateada com toda uma situação ruim – Setsuna me ajudou a escolher ontem à noite.

Antes que ele pudesse perguntar mais sobre o tal presente, Rin apareceu na sala com dois pratos de okonomiyaki e dois pares de hashi.

Towa olhou para o prato com os olhos marejados e um sorriso emocionado.

— O que foi, Towa-chan? – Rin ficou preocupada.

— Mamãe, você fez meu prato favorito hoje depois de tudo?

—Claro que sim. – ela de novo deslizou os dedos no cabelo da menina. Ele estava extremamente macio – Sua irmã já está dormindo. Quando terminar aqui, vá se arrumar para dormir e tome cuidado para não acordá-la.

—Okay. – ela confirmou com a cabeça.

—Bom apetite, espero que gostem. – Rin falou antes de voltar para a cozinha.

Sozinhos novamente, Sesshoumaru e Towa compartilharam um silêncio confortável até que ela resolveu quebrar:

—Mamãe contou que você quer que a gente faça uma visita a Tokyo juntos... – ela começou – Mas ela não quer ir... Seria só nós três.

—Ela disse o motivo? – ele parecia impassível por fora, mas por dentro ele ainda remoía as histórias que ela tinha contado.

—Só falou que queria ficar um pouco com vovô Mushin. Ele tem um restaurante em Tokyo e a gente vai lá de vez em quando pra visitar. – ela respondeu com um enorme sorriso – Tem muita comida gostosa lá!

O nome do avô chamou a atenção. Mushin não era o...

—Mas não se preocupe... – Towa piscou um olho com esperteza, interrompendo as lembranças dele – Nós estamos tentando convencer a mamãe a ir. É muito divertido passear com ela também.

Sesshoumaru não respondeu. Talvez as gêmeas ajudassem a convencê-la nos acordos. Isso facilitaria também nos próximos passos do processo da guarda compartilhada e o reconhecimento delas. Por enquanto, as visitas eram apenas uma forma de conhecer as gêmeas para que elas não estranhassem a presença dele.

E, sim, ele sabia o quão divertido era passear com Rin pelas ruas de Tokyo.

Momentos depois, os dois terminaram de comer e Towa pediu licença para se levantar e levar os pratos.

— Eu faço isso. – ele avisou, levantando-se para pegar os pratos – Você precisa se arrumar para dormir. Já está tarde.

— Mas... – ela hesitou. Era errado a visita ter que fazer aquela tarefa. Só Rin e as gêmeas podiam levar os pratos para a cozinha.

— Quero conversar com a sua mãe. – ele foi direto – À sós.

Houve um momento de silêncio entre os dois, com troca de olhares firmes. Depois de tudo o que ela contou, entendia que provavelmente ela iria se negar a deixar a mãe sozinha com ele.

Mas aquele dia mostrou que havia já uma ponte entre Sesshoumaru e as gêmeas. Setsuna ligou para ele. Towa contou coisas do passado para ele.

A menina finalmente deu um pequeno sorriso confiante e confirmou com a cabeça. Ele podia conversar sim com a mãe dela à sós.

— Boa noite, senhor Sesshoumaru. – ela acenou e se apressou para entrar no corredor que levava ao banheiro e aos demais cômodos da casa. Ele ainda não conhecia o local, mas certamente o banheiro e os quartos de Rin e das gêmeas ficavam naquela direção.

Na cozinha, Rin estava de costas para a porta, terminando de arrumar as marmitas do dia seguinte, quando ouviu alguém entrando.

— Towa, deixe os pratos na mesinha e vá se arrumar para dormir.

— Ela já foi se arrumar. – Sesshoumaru anunciou.

Tensa, ela virou-se para vê-lo no meio da cozinha e notar os pratos sujos em cima da pequena mesa do cômodo.

Depois de dias, apenas agora que ele se deu conta do motivo de Rin não querer a aproximação dele desde que se reencontraram. O encontro num lugar público, a presença de mais uma pessoa nas conversas com ele, as conversas apenas por e-mail ou telefonemas, ela pedindo para as gêmeas irem para o quarto quando ele apareceu naquela noite cobrando explicações sobre o sumiço e falta de respostas dela...

Segundos de silêncio se passaram até ela ajeitar a postura, ficando menos tensa e mais em alerta. O olhar ia para ele com desconfiança e para a porta da cozinha fechada.

... Ela estava com medo de ser agredida de novo.

— O que você queria conversar comigo hoje? – ela finalmente perguntou.