Isabella

É impressionante como nós sempre sabemos que algumas coisas eventualmente vão acontecer, mas isso não nos faz estarmos preparados quando elas se tornam realidade.

Era uma tarde normal quando Esme entrou com pressa no restaurante, quase atropelando um garçom. Eu estava pronta para fazer uma piada, mas algo na expressão dela me preocupou. Pedi que Seth olhasse Chloe por um minuto e seguimos em silêncio para o escritório.

— O pai de Edward morreu e ele está vindo para Forks — soltou de uma vez.

Senti todo o sangue sair do meu rosto, como se tivesse sido drenado.

— Bella? Você vai desmaiar? — ela pegou na minha mão.

Eu queria apagar. Pelo menos me faria fugir dessa situação.

— Estou bem — consegui responder, apesar de não ser verdade. — Quando?

— O pai se foi ontem. Nós não tínhamos contato desde a morte de Elizabeth, você sabe. Edward me ligou hoje, pediu que não fossemos para lá porque ele virá em alguns dias.

Elizabeth era a mãe de Edward, falecida quando ele era criança, e irmã de Esme. Duas irmãs que se casaram com dois irmãos, apesar dos homens Cullens serem completamente opostos. E eu queria tanto que o Cullen que era pai da minha filha tivesse saído ao tio, e não ao próprio pai que lhe causou tanto sofrimento.

— Ele perguntou sobre ela? — consegui falar depois de um tempo.

— Não — suspirou — Querida, você sabe que ele nunca perguntou.

Era inacreditável que ele quisesse voltar para Forks, mais inacreditável ainda que ele voltaria fingindo que não sabia que tinha um filho aqui, que nunca buscou saber ao menos se estava vivo. Edward era pior do que eu pensava.

— Vocês vão precisar conversar, Bella. Edward vai ficar na minha casa, e obviamente vai perceber que uma criança é presença constante ali. Ele virá com dois amigos. Você está no seu direito de não querer conviver com ele, mas não poderá esconder Chloe para sempre. Ela tem direito de ter um pai, de receber a pensão, ter uma vida de acordo com a estabilidade financeira que ele tem, não seja orgulhosa.

A última frase me ofendeu. Nós não precisávamos do dinheiro dos Cullen, em primeiro lugar. Eu era perfeitamente capaz de mantê-la sozinha. Meu trabalho era o suficiente para nós duas.

— Ele escolheu não ser o pai dela, esqueceu? Ele me mandou resolver sozinha e optou por fingir que ela não existia, que eu não existia! Ela é minha e só minha.

Caralho, eu odiava chorar por ele. Há muito tempo tinha tentado prometer para mim mesma que não faria mais isso, mas falhava sempre. Toda vez que lembrava que ele abriu mão de nós com uma mensagem de texto, eu chorava de raiva e de tristeza. Toda vez que Chloe fazia algo novo, eu chorava por não ter um parceiro com quem dividir aquilo. Em seu primeiro aniversário, eu chorei porque ela não tinha um pai para cantar parabéns e apagar as velas junto conosco. E agora, estava chorando porque ele se achava no direito de simplesmente voltar para o único lugar no mundo em que eu me sentia segura.

Eu devia estar chorando no colo de Esme há muito tempo, porque minha cabeça já começava a doer quando Seth bateu na porta, com Chloe nos braços. Virei de costas, não queria que ela me visse assim.

— Ei, Bells, posso atrapalhar um minuto? Preciso trocar a fralda da monstrinha… — pediu — Ahn, o que aconteceu?

Vi pelo canto do olho quando Esme sinalizou que não era um bom momento para falar e se ofereceu para trocar a fralda, o que foi prontamente aceito pelo meu irmãozinho mais novo - como se ele fosse reclamar de não precisar trocar. Chloe se animou, ela adorava ficar com a titi Esme e não esperava vê-la hoje. As duas conversaram infantilmente sobre como uma das árvores em frente ao restaurante estava crescendo enquanto eu tentava me recompor.

Nesses momentos, eu desejava ser apenas uma adolescente que poderia passar o dia todo encolhida na cama, chorando todos os problemas até esgotarem as lágrimas. Mas, infelizmente, não era assim. Na verdade, antes de Edward, eu havia precisado fazer isso apenas uma vez: quando perdi minha mãe em um acidente de carro, aos dez anos.

Quando ele voltou para Londres, eu chorei também. Mas nada se comparou ao dia que enviei a mensagem contando da gravidez e recebi aquela resposta. Eu chorei tanto, mas tanto, que qualquer um que estava em casa ouviu. E foi assim que todos descobriram, também. Com Jacob me tirando do chão do banheiro, Leah e Sue me dando banho, Charlie me colocando na cama e Seth me vigiando durante a noite. Desde o primeiro momento, a ideia de me ver tão vulnerável assustou a todos. Se pudessem ter me colocado em uma redoma, eles teriam feito.

E justamente por isso, eu também tinha medo de qual seria a reação deles ao saber que Edward estava vindo para Forks. Foi fácil impedir que Charlie pegasse um avião para Londres, mas seria difícil segurá-lo na mesma cidade que nós.

Os próximos dias passaram como um borrão. Estávamos com menos funcionários no restaurante e entre trabalhar e cuidar de um bebê, eu mal tive tempo de respirar. Por sorte, eu tinha Esme e Carlisle, além de amigas - Alice, principalmente - que me ajudavam e revezavam nos cuidados.

Na sexta-feira, quando busquei Chloe na casa dos padrinhos, as coisas estavam diferentes. A rotineira bagunça do dia não estava mais ali, o canto da sala que costumava estar cheio de brinquedos estava vazio. Era um sinal de que a chegada dele estava se aproximando.

— Carlisle achou que era melhor não deixar tudo tão à vista. Coloquei tudo no quarto dela, ele não vai entrar lá… — Esme começou a justificar, mas isso era até bom. Ele não precisava conhecê-la tão rapidamente.

— Quando? — perguntei, tentando não deixar claro de quem estava falando.

Minha filha podia ser muito criança, mas era esperta. Se ela ouvisse um nome, ia querer saber mais. Além disso, falar o nome dele em voz alta fazia tudo parecer muito real.

— Amanhã, no início da tarde. Pousa em Seattle pela manhã e deve vir direto pra cá. Vai dar tudo certo, Bella, acredite — ela disse, em um tom maternal.

Muito bem. Eu tinha menos de vinte e quatro horas para estar na mesma cidade que Edward Cullen novamente. Vinte e quatro horas para descobrir se ele iria continuar vivendo como se eu e a própria filha não existíssemos ou se tinha finalmente tomado vergonha na cara e vindo conhecê-la.

Quando fui tirar uma Chloe adormecida da cadeirinha de segurança do carro, percebi que ela estava febril. Seria uma longa noite.