Pessoal, desculpem o sumiço inesperado. É que assumi um cargo de confiança que requeria eu priorizar aprender a organizar as tarefas e adaptar à minha rotina. Agora que deu uma aliviada e pude escrever esse capítulo.
Sendo assim, não sei se vou conseguir postar toda semana, mas acredito que a cada dez dias, sim. Então acho que três capítulos por mês eu consigo liberar, ainda que pequenos.
Mais para o final do capítulo, aparecem três personagens que foram citados lá nos dois primeiros capítulos.
Enfim, espero que gostem!
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Capítulo 14 – Despedidas e anomalias
A man decides after seventy years
Um homem decide depois de setenta anos
That what he goes there for, is to unlock the door
Que o que ele vai lá fazer, é destrancar a porta
While those around him criticize and sleep
Enquanto outros próximos a ele criticam e dormem
And through a fractal on a breaking wall
E através das rachaduras de um muro quebrado
I see you my friend, and touch your face again
Eu vejo você, meu amigo, e toco seu rosto de novo
Miracles will happen as we trip
Milagres acontecerão enquanto nós viajamos
But we're never gonna survive, unless
Mas nunca sobreviveremos, a menos que
We get a little crazy
Enlouqueçamos um pouco
No we're never gonna survive, unless
Não, nunca sobreviveremos, a menos que
We are a little
Sejamos um pouco
Crazy, crazy, crazy
Loucos, loucos, loucos
(Crazy, "Louco", Seal)
Jean não queria encará-lo, mas era inevitável. Sirius partiria e somente o veria dali há uma semana.
Se tudo der certo e os dementadores não o apanharem.
Estremeceu ao imaginar a cena. Suspirou.
Depois que saiu correndo do quarto de Sirius, ela voltou para seu próprio cômodo e trancou-se com o coração batendo sem parar. Tentou dormir, mas não conseguiu e agora seu corpo reclamava do descanso perdido.
Mas como poderia voltar a dormir? Impossível. Não depois daquele beijo.
E que beijo.
Voltou a suspirar, fechou os olhos e tocou nos lábios. O gosto de Sirius ainda estava na sua boca, seu cheiro e seu toque. Ainda podia sentir o calor, o desejo e a excitação daquele momento. Mas o que a impactou foi o choque e o estremecimento que a percorreu, como se lhe atravessasse a alma. E o sentimento de união, como se Sirius e ela fossem um e se pertencessem.
Por Merlin, não tinha palavras para descrever o que havia acontecido. Será que com Sirius havia se passado o mesmo? Ou foi apenas algo puramente carnal para ele?
Não foi só o beijo, também as carícias em seu pescoço... e o toque em seu seio. Ela quase se deixou entregar sem nem mesmo pensar. Então, veio a consciência... e o medo das sensações intensas. Depois, em seu quarto, lembrou-se dos empecilhos pelos quais não podia se entregar a Sirius.
Para começar, o bruxo era um fugitivo em busca de vingança. Assim que conseguisse, ele teria que sair da Inglaterra. Como Jean poderia ir junto? Teria que se tornar também uma fugitiva? Isso se ele quisesse levá-la.
Sirius também era um Don Juan, ou pelo menos foi. Ele não havia dito com todas as letras, mas o fato de não mencionar muito sua vida amorosa, nem nomes e apenas dizer "que saiu com muitas garotas" deu a indicativa. Também houve aquela circunstância ao abandonarem a cabana e terem aparatado naquele motel, onde ele admitiu ter levado "algumas" mulheres trouxas. OK, era o passado dele, mas não significava que não quisesse retomar esse estilo de vida. Já que ela era única "à mão" e ele ficou anos aprisionado e sem ninguém, talvez a quisesse apenas para compensar todo esse tempo sem mulheres. Não que achasse que Sirius se aproveitaria dela, sem se importar com seus sentimentos, afinal, eram amigos; porém, talvez ele achasse que poderiam ter uma espécie de amizade com benefícios. Jean não era romântica, mas tampouco dissociava sentimentos de sexo.
Mesmo que desconsiderasse as questões sobre Black, ela própria tinha as suas. Era livre para ter alguma relação com Sirius? O tal Ron não saía de sua cabeça, embora não sentisse seu coração bater por ele. Era alguém com quem estava envolvida? E o quão sério era o relacionamento deles? Infelizmente, sem sua memória as dúvidas persistiam.
Sua memória: era o principal problema. Sem saber nada de si e o que lhe aconteceu, não seria nada sensato construir qualquer base de relação com Sirius, nem mesmo sem compromissos.
E aí estava sua conclusão.
Entre Sirius Black e ela não podia haver nada, por mais forte que fossem seus sentimentos por ele. E sim, estava apaixonada. Não podia mais negar, principalmente depois daquele beijo arrebatador. E se antes era difícil resistir a ele, agora o seria mais.
Talvez fosse bom que Sirius ficasse longe por uma semana, por mais que lhe angustiasse a ausência dele e a aflição que sentiria por estar perto de seus carcereiros.
Pôs as mãos no rosto. Não queria que Sirius fosse, mas também não o queria tão perto com sua cabeça fervendo. Soltou mais um suspiro e levantou-se da penteadeira, após escovar e abaixar sua cabeleira.
Adentou a cozinha e apanhou os utensílios e ingredientes para fazer o café. Olhou várias vezes para o umbral onde Sirius poderia entrar.
Pare com isso.
Balançou a cabeça e deu as costas para acender uma das bocas do fogão e mexer os ovos na frigideira
- Bom dia.
Jean deixou a frigideira cair ao escutar a voz grave e rouca de Sirius atrás de si. Além do ruído, o utensílio deixou as gemas se espalharem pelo chão.
- Droga! – ela praguejou tanto pela bagunça quanto por sua reação
- Eu ajudo
Sirius se postou ao seu lado e, embora não erguesse a vista para encará-lo, podia sentir os olhos dele.
- N... não precisa – a bruxa estremeceu – Eu...
Porém, antes que se abaixasse, um feitiço ergueu a frigideira até a boca do fogão e fez as gemas retornarem à forma que estavam no utensílio.
- Er... obrigada
- Era o mínimo que eu podia fazer... depois de te assustar – havia um traço de diversão no tom de voz dele – Me desculpe por isso.
- T... tudo bem! – ela começou a mexer os ovos sem ainda fitá-lo – Eu... eu só estava... er... distraída
- Você está nervosa?
- Eu? – deu um leve risinho – Imagina!
Sirius não disse nada, porém, ela podia sentir a força do seu olhar. Por Merlin! Um calor a percorreu por dentro e por fora e uma vontade louca de se virar para ele e beijá-lo, ao mesmo tempo em que se continha. Por sorte, suas mãos estavam firmes ao preparar os ovos.
- A propósito, você deixou cair... – ele mostrou a varinha dela. Jean olhou para o objeto e engoliu em seco – ...quando foi no meu quarto.
A insinuação da voz dele mesclava um tom de sensualidade e diversão. Jean arfou e abriu a boca, mas fechou-a sem nada dizer.
- Vou deixar aqui no balcão – Sirius largou o objeto e afastou-se. – Enquanto você faz o café, vou arrumar a mesa.
Ele saiu do cômodo levando pratos, talheres e copos; Jean soltou o ar que estava preso. Não fazia a menor ideia do que dizer e nem estava pronta, mas precisavam conversar sobre o que aconteceu.
Depois de pronto o desjejum com torradas, geleia, ovos mexidos, croissants e uma variedade de outros alimentos, ela levou a primeira leva de alimentos para a sala de jantar. Engoliu em seco ao vê-lo sentado à mesa com os olhos abrasadores focados nela. E um sorriso de canto charmoso, malicioso e irresistível como o próprio dono. Black usava uma camisa vermelha em tom escuro que deixava à mostra seus braços tatuados. Havia músculos se acentuando neles, o que ela suspeitava que era por ele estar se exercitando quando saía cedo para os arredores da gruta no alto do morro. Jean desviou os olhos, seu rosto queimava.
- Vou… vou pegar o restante – disse após deixar parte do café na mesa.
- Deixe que eu vou – ele se levantou e puxou a cadeira para ela – Sente-se.
Jean estremeceu tanto com o tom baixo da voz dele, quanto por sua respiração quente, próxima à sua nuca. Acomodou-se no assento e apenas murmurou "obrigada". Enquanto o aguardava, ela pensava em como abordaria o que havia acontecido.
Sirius, precisamos falar sobre o que aconteceu ontem no seu quarto. Não, hoje de madrugada.
Balançou a cabeça.
Sirius, olha, sobre o nosso beijo, foi legal, mas…
Bufou.
Antes que pensasse em mais alguma frase, Black retornou. Ele dispôs as iguarias na mesa e tornou a se sentar. Jean achou melhor se servir de um gole de café antes de falar, porém, Sirius colocou a mão sobre a sua. A eletricidade a atingiu na hora e ela também percebeu que o mesmo se passou com ele. A bruxa abriu a boca, mas Sirius se adiantou:
- Jean, não fique nervosa ou preocupada pelo aconteceu no meu quarto – ele assumiu um semblante sério – Aliás, quero te pedir desculpas.
- Pelo… pelo quê? - perguntou mais para ignorar o toque da mão dele
- Em primeiro lugar por ter te acordado. Imagino que eu estava gritando bastante pra você vir até meu quarto.
- Foi – ela assentiu – Fiquei preocupada com você. Você parecia em agonia... quando fui até você - ele se encolheu – Foi por causa dos dementadores?
- É. Achei que nunca mais ia vê-los e que tinha ficado livre da influência deles – ele riu amargo – Mas os malditos ainda perturbam a minha mente.
- Também mal consegui dormir. Não tive pesadelos, mas… - desviou o olhar. Ainda não queria compartilhar suas recordações – Só de me lembrar da aparência do dementador que veio até mim e do que senti, me arrepia até agora.
- Ele te fez lembrar de alguma coisa perturbadora? - ela não respondeu, mas ele assentiu – Não precisa me falar se não quiser. De qualquer jeito, me desculpe por ter te acordado.
- Sem problema, Sirius.
- Também queria me desculpar pela maneira como te agarrei... e por te beijado. Não devia ter acontecido.
- Ah… - em vez de experimentar alívio, ela se sentiu desapontada, com uma pontada no peito. Desviou o rosto por temer demonstrar o quanto – Tudo... bem
- Ei, não é o que está pensando – Jean o olhou de volta. Pelo visto, havia sido transparente em sua reação. Black abriu um largo sorriso – Me arrependo pela forma como aconteceu, não do beijo. - apertou a mão dela. Jean sustou a respiração – Não foi do jeito que imaginei que seria, mas que bom que aconteceu.
- Sirius… eu…
- Jean, eu entendo. - soltou a mão dela – Não precisamos falar disso agora. Mesmo porque tenho que ir pra Hogwarts – ele ficou pensativo – A essa hora os alunos estão embarcando no trem – o rosto se contorceu – Harry… o menino Weasley… e o rato.
As mãos de Sirius se torceram uma sobre a outra. Um bolo se formou na garganta de Jean. Não queria estar na pele do tal Rabicho. Notando a expressão da jovem, Black suavizou o rosto.
- Quando eu voltar, vamos conversar sobre o que aconteceu. Mas agora quero que fique à vontade comigo... como sempre estivemos. – ele deu uma piscada – OK?
- OK.
Jean relaxou um pouco e conseguiu manter uma conversa normal, embora um pouco menos espontânea, não apenas por causa do beijo, mas pelo peso de Sirius ter que partir.
A bruxa preparou uma cesta grande com uma variedade de comida que Sirius levaria para se alimentar durante a primeira semana em Hogwarts. Mesmo com bastantes alimentos, ele teria que racionalizar um pouco, já que às vezes se excedia. Jean lançou um feitiço para manter os alimentos conservados e na temperatura própria de cada um. E lançou outro que fizesse a cesta ficar leve já que o Maroto a carregaria na forma animaga.
Ela o acompanhou até a porta e ambos se fitaram. Jean queria lhe dizer muitas coisas, mas tudo o que conseguiu foi sussurrar:
- Tome cuidado.
- Pode deixar. Você também. – ele fechou o rosto – Fique bem longe do caminho dos dementadores, Jean. Eles pareceram bem interessados em você.
- Sirius, eles vão todos para Hogwarts... por você.
- Para sua segurança, espero que sim. Posso lidar com eles – Jean bufou e revirou os olhos. Sirius riu – Atrevida.
- Falo sério.
- Eu sei. – os olhos dele escureceram – Pode deixar, Sereia.
Jean corou e sentiu que ele queria beijá-la de novo ou ao menos abraçá-la. Uma parte dela também o desejava, mas não admitiria, nem tomaria a iniciativa...
- Então... nos vemos daqui uma semana.
Sirius não fez qualquer movimento para ela; transformou-se em cachorro e apanhou a cesta com a mandíbula.
- Fique bem – murmurou a bruxa
Sirius balançou o rabo e saiu depois que Jean abriu a porta. Ela o observou até que sumisse de vista; depois, fechou a porta, encostou-se e colocou a mão no peito.
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Ninguém em Hosgsmeade estranhou um cachorro levar na boca uma cesta grande pelas ruas; ao contrário, alguns sorriram e outros comentaram "Que bonitinho!". Certamente achavam que Sirius era um cão bem treinado de algum morador. Dessa forma, ele percorreu todo o trajeto até Hogwarts sem atrair muita atenção e instalou-se em um lugar bem escondido na Floresta Proibida.
Estava nos limites do território dos Centauros, mas não chegou a traspassá-lo. Não se arriscaria a penetrar em seus domínios, afinal, eles possuíam a arte da Adivinhação, mais até do que os bruxos e talvez não fossem ludibriados por um aparente cachorro. Nos tempos de estudante, Sirius até tinha explorado a terra daqueles seres junto com seus amigos em suas formas animagas enquanto acompanhavam Remo como lobisomem, porém, não permaneciam o suficiente para serem notados pelos centauros. Ou talvez as criaturas simplesmente fingiam ignorá-los por compreenderem a situação.
De qualquer jeito, o lugar que escolheu era perfeitamente oculto, uma gruta, da qual apenas seus companheiros e ele tinham conhecimento. A entrada era por uma pequena fenda por onde somente um anão, uma criança ou um animal de tamanho médio conseguiriam entrar; em compensação, a caverna era ampla por dentro, embora não muito profunda. Ali havia espaço para uma pequena lagoa, uma extensão do lago, mas sem nenhum tipo de criatura dentro dela, nem mesmo peixes; porém, a água era limpa e cristalina, dava para beber e se banhar.
Apesar de a caverna ser um ótimo esconderijo, era um ambiente frio e escuro. Ele preferiria a famosa Casa dos Gritos, onde Tiago, Pedro e ele esperavam Remo passar pela transformação nas noites de lua cheia. Lá costumava ter uma cama, onde Lupin se deitava e alguma mobília. O problema é que para entrar era necessário passar pelo Salgueiro Lutador e o único modo de pará-lo era acertar um pequeno nó no centro da árvore. Apenas um animal menor do que ele conseguiria se aproximar sem ser abatido pelos galhos, como um rato, a forma de Pedro. Um gato também serviria, mas infelizmente, ele não tinha e duvidava que algum se aproximaria de um cachorrão como ele.
Deu de ombros: a caverna era o melhor que tinha. De qualquer forma, ainda era verão; quando entrasse o outono e, principalmente, o inverno, poderia se arranjar. Sempre poderia fazer uma fogueira, mesmo sem uma varinha. Além disso, como ficaria sendo um cachorro na maior parte do tempo, teria mais resistência ao frio com seus pelos
Mesmo a gruta envolta na escuridão, seus olhos enxergavam bem; seus outros sentidos também estavam em alerta. Achando um local adequado, deixou a cesta e acomodou-se um pouco para descansar. Dali a pouco, percorreria o terreno da Escola para reconhecer o local. Faltavam horas ainda para os alunos chegarem, mas quando escurecesse, eles estariam ali e Sirius ficaria próximo à entrada do castelo. Pronto para ver o menino Weasley. E para Pedro Pettigrew.
Latiu para o vazio como se o traidor estivesse ali diante dele. Havia exercitado bastante seu físico tanto humano como de animal durante aqueles dias na caverna próxima ao chalé para a hora que fosse pegar o rato. Podia não ter uma varinha consigo, mas sua resistência estava em alta; era pouco provável que Rabicho possuísse alguma e estivesse em forma.
Sirius rosnou. O rato não perdia por esperar.
Seus pensamentos se voltaram para Jean. E o beijo deles. E as carícias. Seu corpo estremeceu.
Depois que Jean saiu do quarto, ele não conseguiu mais dormir. O beijo com ela lhe provocou um estrondo e não pelo fato de ter sido a primeira mulher que beijava em anos. Foi surreal; não, transcendental era a palavra. Um encontro de almas: era mais do que uma metáfora. Seu núcleo mágico se agitou e nem mesmo a maior transa de sua vida lhe provocou tal efeito. Era a confirmação de uma suspeita que Sirius tinha pouco depois de encontrá-la e levá-la para a cabana.
Jean era sua alma gêmea. Eles eram almas gêmeas.
Sirius negou os indícios até então, mas estavam lá.
O contato físico entre eles que provocava eletricidade, embora não a todo momento.
A varinha da bruxa que lhe obedecia como se ele fosse seu próprio dono desde que a segurou.
Mas depois do que houve em seu quarto, sua negação não fazia mais sentido. O beijo era um canalizador forte da energia entre duas almas gêmeas.
Sirius sabia sobre as manifestações do vínculo de almas tanto por teoria como pela experiência de alguém próximo. Por teoria, havia lido uma obra intitulada "A Magia do Amor e suas misteriosas manifestações no Mundo Bruxo", da biblioteca particular da família Black. No livro, constava a seção "O mistério das almas gêmeas" e lá estavam descritos como um bruxo identificava a sua.
Por experiência, ele o testemunhou através de Tiago e Lílian. Os dois eram almas gêmeas. Por mais que Lílian houvesse demorado em aceitar Tiago, até esse fato era um indício do vínculo entre eles.
Era raro uma pessoa encontrar sua alma gêmea, até para bruxos. E mesmo Sirius testemunhando entre seus amigos esse vínculo, nunca acreditou que pudesse ocorrer com ele. Agora havia acontecido: encontrou seu par na circunstância mais improvável, sua fuga de Azkaban. E com todos os fatos em contra: primeiro, ele ser procurado e em busca de vingança. Segundo, sua alma gêmea ser mais jovem do que ele; quantos anos não sabia, dez ou onze, mas era. Terceiro, Jean estar sem memória e identidade. A vida lhe dava um presente junto com problemas!
Ele ganiu. Tiago teria feito uma piada tremenda disso.
Estava confuso com a constatação... e com medo, não podia negar; porém, maravilhado! A ideia não mais o repelia, mesmo que nos seus primeiros dias com Jean, tentasse negar os primeiros sinais do vínculo, a atração e seus sentimentos pela bruxa que cresciam.
Jean era sua! Ele a queria! Havia sido feita para ele. Esse sentimento de posse se instalou de vez após o beijo.
Talvez o Universo quisesse compensá-lo por todo mal e injustiça que havia sofrido, embora em circunstâncias desafiadoras. Porém, ainda necessitava processar a descoberta; pelo visto, Jean também, pois estava amedrontada e confusa, o que ficou claro naquela manhã. Por mais que tenha flertado e praticamente se insinuado para ela, Sirius notou seu desconforto. Eles conversariam como havia dito ao retornar, claro, mas sem pressioná-la. Teria que sondar e ver até onde ela estava disposta a ir.
Contaria para Jean sobre o vínculo deles? Ainda não. Queria que o aceitasse por sua própria escolha e não por sentir que deveriam ficar juntos por serem almas gêmeas, embora essa magia os empurrasse na direção um do outro.
Além disso, havia seu objetivo de se livrar de Pedro e não podia se desviar. Era uma questão não apenas de honra, mas de amor e proteção a outro ser que lhe era caro: Harry.
Seu negócio com Jean teria que esperar.
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Naquele mesmo dia, no período da tarde, quase no fim do expediente do Ministério da Magia, um alvoroço acontecia no Departamento de Mistérios. Os Inomináveis corriam de um lado para o outro, tentando conter a instabilidade no setor com suas varinhas. A Sala do Tempo havia sumido com tudo o que possuía. O arco do Véu da Morte ameaçava desmoronar e deixar que a energia que continha se espalhasse. No Hall da Profecia, cinco estantes haviam caído e derrubado os globos de vidro, dos quais vários se quebraram, deixando escapar suas profecias. Imprecações, gritos, xingamentos, pedidos de ajuda, ordens, estalidos se misturavam numa balbúrdia.
- Mais ajuda aqui! - gritou um Inominável ao lado de mais vinte que empurravam um feitiço para segurar o arco do Véu. - Mais três pelo menos!
- Estamos indo! Estamos indo! - gritou outro Inominável acompanhado de mais dois companheiros do Hall das Profecias que haviam acabado de fazer um Reparo em alguns globos.
- Todos os Inomináveis parem agora o que estão fazendo e se dirijam à Câmara da Morte! - um galo prateado ia de sala em sala avisar aos funcionários que ainda não haviam comparecido ao local. - Todos os chefes das salas reúnam seus funcionários! O Véu estava instável! O Arco está se desmoronando! Temos que segurá-lo!
A conjuradora do Patrono, Donna Taylor, uma mulher de cabelos pretos e olhos verdes, estava à frente de todos os funcionários diante do Véu empunhando sua varinha. Não era tão jovem, mas ainda não havia chegado na casa dos quarenta. Com o maxilar apertado, ela se mantinha firme
- Mrs. Taylor! ! - uma jovem mulher de cabelos castanhos e óculos se aproximou – Mrs. Taylor!
- Agora não, Alice! – Donna nem se virou para a outra bruxa para não perder o foco. O véu pressionava a energia de dentro do arco – A não ser que você já tenha descoberto o que houve com a Sala do Tempo, não é uma boa hora!
- O Paul foi chamar o Primeiro-Ministro!
- Merda! - praguejou Donna – Era só o que me faltava!
- O que fazemos agora?
- Deixe isso de lado. Não há o que fazer – ela não tinha como se desviar da urgência do momento para se preocupar com Cornélio Fudge – Volte para a Sala do Tempo… para onde ficava… e continue tentando descobrir…
Súbito, a Sala do Tempo estava de volta ao seu lugar como se nunca houvesse desaparecido e com suas paredes delimitando os espaços da Câmara da Morte e do Hall das Profecias. De imediato, a energia do Véu se recolheu para dentro do Arco. Os Inomináveis, incluindo Donna, caíram para frente por conta da pressão dos feitiços.
- Mrs. Taylor, a senhorita está bem? - Alice se abaixou e ajudou sua superior
- Sim, estou – ela segurou a mão de sua subordinada enquanto se erguia. Olhou para os outros Inomináveis que também se levantavam – Todos estão bem? - houve um assentimento geral. Todos olharam para o véu com a energia estável. Donna não conteve um suspiro. Graças a Merlin! Voltou-se para seus subordinados – Os chefes das outras salas reúnam seus funcionários e retornem para seus espaços. Quero que verifiquem se houve algum abalo e me comuniquem depois qualquer dano ou coisa fora de lugar – Quanto a você, Alex... – ela se voltou para um bruxo careca, baixo e de óculos, que era o responsável por coordenar a Câmara da Morte – … verifique junto com seus Inomináveis a estabilidade do Véu.
- Sim, senhorita – assentiu o bruxo
- Alice…
- Sim, Mrs. Taylor
- Confira se sua sala está inteira, ela tem que ser a mais analisada. - Alice Davis assentiu. Uma carranca se acentuou no rosto cansado de Donna, enquanto fitava a recém-nomeada Chefe da Sala do Tempo – Acredito que Fudge deve vir a qualquer momento se o idiota do Paul conseguiu encontrá-lo. Se ele vier, diga que tudo foi resolvido e que depois eu mesma explicarei a situação.
- A senhorita vai sair?
- Vou tratar com Charlie Clock
- Ah. - foi tudo que Alice exprimiu
- Somente Clock pode nos explicar o que aconteceu aqui. Talvez eu demore apenas alguns minutos.
- E se o Ministro quiser falar direto com Mr. Clock?
- Terá que se contentar comigo se Clock se recusar. Entendido?
- Entendido.
Donna se foi sem perda de tempo antes que Cornélio surgisse ali exigindo explicações que ela não tinha como fornecer. Percorreu a Sala do Tempo junto com Alice, e embora vislumbrasse com os olhos se o local estava intacto (o que aparentemente sim, os objetos estavam em seus lugares), não se deteve. Taylor deixou a chefe da sala e dirigiu-se até uma porta nos fundos que dava para seu gabinete.
Ao entrar no escritório, trancou a porta e direcionou-se para uma estante com alguns livros enfileirados e várias atas de reunião; havia um fundo falso na terceira prateleira. Ao tocá-lo com a varinha, uma portinhola se abriu e revelou uma chave dourada. Donna a apanhou e foi para a parede branca atrás de sua escrivaninha. Fechou os olhos para sentir onde estaria o local de abertura dessa vez (já que mudava constantemente de lugar) e enfiou a chave em uma concentração de energia em um ponto acima da cabeça. Uma porta vermelha se materializou e abriu-a deixando antever outro espaço que adentrou.
Era uma sala clara e luminosa em tom bege suave; à primeira vista suas paredes pareciam lisas, sólidas e fixas, mas ao se aproximar, percebia-se sua consistência granulada e nada firme; remexiam-se sutilmente, mas o movimento era perceptível: eram grãos de areia. À primeira vista, o local era pequeno, mas quanto mais você entrava, mais se aprofundava, como se não tivesse dimensões. Aparentemente era vazio, sem nenhum móvel, enfeite, acessório, nem mesmo janela. Donna franziu a testa, apertou os lábios e suspirou:
- Onde você está? Não tenho tempo para esse tipo de brincadeira.
- Também estou muito feliz em vê-la, Donna
Taylor se virou na direção da voz. De repente, na sala, materializou-se sofás, estante e quadros repletos de imagens de vórtices e relógio; duas colunas em forma de ampulheta formavam um arco diante da escrivaninha onde um bruxo se encontrava recostado na cadeira.
- Há quanto tempo. - disse o homem com um sorriso largo – Faz semanas que não tenho o prazer de sua companhia
- Deixe de galanteios, Charlie! Nós tivemos problemas! E vamos ter mais um agora se acrescentar…
- Sim, sim, eu sei – ele suspirou – Cornélio Fudge em nossos calcanhares.
- Não acredito que aquele idiota do Paul foi chamá-lo! Imagine! Como se o imbecil do nosso Ministro fosse capaz de resolver algum problema do nosso setor! Ele mal dá conta de governar com aquela cabeça dele que só serve para encaixar aquele chapéu oco e ridículo! - Charlie riu. Donna o fuzilou com os olhos –Aliás, por que mesmo eu nomeei Paul Fudge como chefe da Sala dos Cérebros já que parece que ele não tem nenhum?
- Porque Paul era o mais qualificado para a função, apesar de ser obtuso. E porque você queria evitar problemas já que ele é sobrinho do Ministro.
- Eu devia ter pensado mais! Porque pelo visto ele confia mais no tio dele para resolver uma emergência no nosso Departamento do que em mim!
- Relaxe, Donna, vou falar com Cornélio. Quanto ao Paul, ele só estava assustado. Você estava ocupada tentando estabilizar o Véu enquanto ele não fazia a menor ideia de onde me achar.
- E se você sabia o que estava acontecendo, onde se meteu? - Donna se voltou com um dedo acusador – Pelo amor de Merlin, Charlie! A sala do Tempo sumiu e isso comprometeu a estabilidade da magia do Departamento! E do Véu! Do Véu, Charlie! Foi um pandemônio por aqui! Eu tentando acalmar a todos, dando instruções e tendo que cuidar do Véu! Sabe o que poderia ter acontecido se a Sala do Tempo não tivesse retornado bem na hora?
- Fui chamado para resolver o mesmo tipo de problema no Departamento de Mistérios da França – Clock proferiu em um tom tranquilo. Donna o encarou com assombro – E acredite, o problema lá era mais urgente. O Véu deles já tinha estalado e engolido gente. Foi necessário voltar uma hora no tempo para impedir que eles fossem sugados. Todo o setor quase desapareceu também.
- Por Morgana! Mas… - Donna nem sabia o que dizer – O que está acontecendo, Charlie?
Seu chefe se ergueu, deu-lhe as costas e olhou para um buraco que se transformou em uma janela, permitindo ver o exterior. Ela aguardou que o bruxo respondesse depois de alguns instantes, mas ele continuou calado. Além do próprio setor, Clock era convocado para ajudar em outros Departamentos de Mistérios de outros países; Donna não tinha certeza se era somente na Europa, mas sabia que ele era bastante requisitado, dado o fato de o setor do Reino Unido ser uma referência de pesquisas e avanços dos mistérios estudados no Mundo Bruxo,
Fazia dez anos que Taylor era a assistente de Charlie e era ela quem ditava as ordens no Departamento em sua ausência ou mesmo com ele por ali, como uma espécie de subchefe. E mesmo sendo a única que tinha acesso a Clock – fora o Ministro da Magia –, o homem ainda era uma incógnita. Não sabia seu verdadeiro nome, nem quem foi seu antecessor (ou antecessora), pois todos os chefes do Departamento assumiam o pseudônimo de Charlie Clock, mas não ficava registro nenhum sobre eles. Era uma proteção de identidade, já que detinham todos as informações das pesquisas e experimentos e isso os tornavam alvos interessantes para qualquer buxo com sede de conhecimento ilimitado.
– É… é algum tipo de Magia das Trevas? - tornou Donna
- Não. - Charlie se virou para ela – São … anomalias.
- Anomalias? De que tipo?
- Anomalias temporais. - ele disse quase em um tom indiferente. A mulher à sua frente arregalou os olhos – E hoje foi só o começo.
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E aí? O que acham dessas anomalias? Comentem.
E até a próxima!
