Feliz 2025 para todos! E começamos o ano com o pé direito com um novo capítulo.

No meio dele, tem outro personagem que apareceu lá no segundo capítulo. Trago para vcs também mais uma música nacional, da banda Pato Fu.

Uma excelente leitura!

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Capítulo 15 - O vira-tempo

Tempo, tempo, mano velho

Falta um tanto ainda, eu sei

Pra você correr macio

Como zune, um novo sedã

Tempo, tempo, tempo, mano velho

Tempo, tempo, tempo, mano velho

Vai, vai, vai, vai, vai, vai

Tempo amigo, seja legal

Conto contigo pela madrugada

Só me derrube no final

(Sobre o tempo, Pato Fu)

Harry Potter e a enfermeira Madame Pomfrey saíram da sala de Minerva McGonagall, deixando Hermione sozinha com a professora. O garoto aguardaria por sua amiga do lado de fora.

Os dois alunos haviam sido chamados por diferentes motivos. Harry havia desmaiado no Expresso de Hogwarts por causa de um dementador que procurava por Sirius Black. Infelizmente, seu desmaio não ficou restrito ao vagão e ele acabou se tornando alvo de zombaria de Draco Malfoy e, com certeza, logo o seria dos alunos de Sonserina. O evento chegou até aos ouvidos dos professores e funcionários da escola, já que Minerva o chamou para ser atendido pela enfermeira. Contudo, o menino garantiu que estava bem e foi dispensado.

Agora, era a vez de Hermione falar com a professora, e a garota mal continha a ansiedade, pois tinha certeza do que se tratava. Mesmo assim, não ousou questionar sua mestra.

- Você deve saber por que te chamei aqui, não é, Granger? – indagou Minerva com expressão séria

- O vira-tempo? – a menina perguntou. McGonagall assentiu – Eles... aceitaram meu pedido? – a professora não respondeu. O rosto da adolescente desmoronou – Eles... negaram?

- Eles aceitaram, querida – por fim, Minerva emulou um imperceptível sorriso. Hermione abriu o dela, segurando as mãos na cadeira para se conter. O rosto da professora tornou a se fechar – Mas antes que eu te entregue e explique o funcionamento dele, precisamos conversar.

- Sim, professora – Hermione assumiu uma expressão igual à de Minerva.

- Em primeiro lugar, devo reforçar que você não deve contar a ninguém sobre o vira-tempo

- Não vou, professora. Não falei nem para Harry, nem para Ron nas minhas cartas.

- Então você jura que vai manter isso em segredo?

- Juro – Hermione ergueu a mão para o alto

- E jura também que vai usar o Vira-Tempo somente para as aulas eletivas que escolheu?

- Juro

- Muito bem, Granger, estou confiando na sua palavra. Como você sabe, tive que escrever várias cartas para o Ministério da Magia, tanto para o Chefe do Departamento de Mistérios, quanto para o Primeiro-Ministro. Garanti a eles que você é uma aluna-modelo e que nunca vai usar o vira-tempo para outra finalidade a não ser estudar. É muito importante que você cumpra com sua palavra.

- Sim, professora.

- Ninguém pode mudar o tempo, as consequências seriam desastrosas. - Minerva estreitou os olhos – Presumo que você tenha lido A Magia do Tempo e suas aplicações no Mundo Bruxo, não? Já que sabia sobre os vira-tempos, antes de conversar com o bruxo que usou um para estudar em Hogwarts.

- Eu tenho esse livro – Hermione assentiu, ignorando a pontada de culpa. Não explicaria que, na verdade, havia começado a ler um exemplar da Seção Restrita da escola, graças a uma autorização equivocada de Gilderoy Lockhart, antes de ser petrificada pelo basilisco. Tampouco admitiria que havia escutado uma conversa alheia, sem ser convidada – Eu... vi na Floreios e Borrões e pedi para meus pais me comprarem.

- E você leu sobre Eloise Mintumble e o que aconteceu com ela?

- Sim. Ela viajou quinhentos anos no passado e... quando voltou para sua época envelheceu todos aqueles anos de uma vez e acabou morrendo.

- Perfeito – Minerva assentiu – E além dela, teve outros bruxos que viajaram para o passado e tiveram fim desastrosos, mesmo não indo tão longe quanto Eloise. Usaram vira-tempos de poucos dias, mas cometeram o erro de serem vistos por suas versões do passado que ainda não sabiam que usariam um vira-tempo. E esses eus passados pensaram que seus eu futuros eram algum tipo de produto de Magia das Trevas e acabaram lutando contra si próprios até se matarem. E olhe que eram funcionários do Departamento de Mistérios.

- Oh! – a boca da menina se abriu

- Outro dia, quando tivermos mais tempo, vou contar alguns desses casos de que eu soube. Mas tenha em mente, Granger: violar as leis do tempo é muito perigoso. Você não pode contar a ninguém, nem mesmo a seus amigos.

- Sim, professora

- Agora vamos ao que interessa – Minerva tocou a varinha em uma pequena caixa de bronze que abriu a tampa e retirou uma corrente de ouro muito fina com uma minúscula ampulheta dependurada – Isso é um vira-tempo. Na verdade, um modelo bem simples que só volta algumas horas no passado.

- É lindo. - Hermione quase estendeu a mão para tocá-lo, mas se deteve

- Sim, é. - o sorriso de McGonagall se desfez – E perigoso nas mãos erradas.

- É por isso que não tem gravuras deles nos livros? Ou somente no que eu li?

- Em nenhum livro. Pode até parecer um tanto extremo, mas é para evitar roubos no Ministério. Se você não sabe como é um objeto, fica difícil de achá-lo.

- Já roubaram um vira-tempo?

- Tentaram, pelo menos cinco vezes em toda a história do Departamento de Mistérios. A última foi durante meu período lá. Os bruxos foram habilidosos em entrar, mas ficaram perdidos nas seções do Departamento e no meio de tantos objetos. Eles não conseguiram escapar a tempo e foram capturados – Minerva fez um pigarro – Agora vou demonstrar como funciona. É muito simples. - ela apontou a ampulheta – Esse vira-tempo volta no máximo cinco horas. Basta você girar a ampulheta o número de horas que você desejar voltar.

- Então… se eu quiser voltar duas horas, eu giro duas vezes?

- Isso mesmo, você entendeu – Minerva estendeu o aparato. Hermione o apanhou e olhou-o se esquecendo por alguns instantes da professora – Coloque-o agora no seu pescoço e esconda-o debaixo de suas vestes.

- Ah! - Hermione piscou confusa por um momento – Er… sim… sim, senhora.

- Ninguém pode vê-lo, Granger. Mesmo que não saibam do que se trata, mantenha-o escondido sob a gola de suas roupas. E jamais o deixe largado por aí. Se possível, nem o tire para tomar banho, é um objeto à prova d'água. Mas se estiver na companhia de outras pessoas em seu dormitório, em roupas mais íntimas então é melhor guardá-lo na sua mala – Hermione assentiu – Tenha em mente que você pode cruzar com alguma versão sua de horas atrás. Como você já está prevenida, não corre o risco de achar que é alguma magia das trevas.

- Não, Senhora.

- Tome cuidado para não ser vista mais de uma versão de você por outros

- Sim, professora

- Vamos agora, Granger. - Minerva se ergueu da cadeira. Hermione a imitou – Potter está nos esperando e uma festa nos aguarda no Salão

As duas se juntaram a Harry no corredor e os três desceram a escadaria para o Salão Principal.

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Malditos dementadores, praguejou Sirius em sua foram animaga.

Ele já esperava que os seus antigos carcereiros estivessem em Hogwarts à espreita para apanhá-lo, mas não imaginava que fossem tantos.

O bruxo não se lembrava de ter um monte daquelas criaturas em Azkaban, se bem que nunca teve tempo ou qualquer oportunidade de explorar o interior da fortaleza, por mais que tenha "vivido" por lá durante doze anos. Ou será que, de fato, aqueles demônios se multiplicavam com o passar dos anos? Era uma das coisas que se falava a respeito da natureza deles, pelo menos, o que lhe foi ensinado em seu segundo ano em Hogwarts, nas Aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, por Mr. Murdock, um professor magricela, de aparência sinistra e jeito sombrio.

De qualquer jeito, Sirius fugiu apavorado quando viu o que parecia centenas de dementadores se aglomerando em torno do castelo com a chegada dos estudantes. Eles não se aproximaram muito, somente a uma certa distância – talvez por ordens de Alvo Dumbledore que, com certeza, não devia estar satisfeito com aquelas criaturas a mando do Ministério. Estavam distantes o suficiente para não serem vistos pelos alunos e nem sentidos, mas não longe o bastante para não serem vistos pelo Maroto ou ele ser visto pelos dementadores. Ele desistiu de se aproximar da entrada da escola para localizar o garoto Weasley e ver se estava com Pedro.

Um a zero para vocês, filhos da puta!, pensou recolhido no interior da gruta em que se escondia. Por hora.

Não temia que o reconhecessem, pois o olharam quase como se não estivesse lá, assim como acontecia na prisão quando ele assumia sua forma canina. Tampouco fugiu porque o estavam afetando; de onde estavam, não podiam, ainda mais por ele estar transformado. No entanto, a breve visão deles era o suficiente para recordar de todos os pensamentos negativos que teve, de todos os pesadelos vividos – que ainda tinha, mas eram bem menos aterrorizantes longe deles – e de toda a sensação de que o que o esperava no fim da vida era desespero e sofrimento. Porém, seu pavor maior era por algo que havia escondido de Jean.

Ninguém antes havia escapado de Azkaban, tanto por suas barreiras naturais e mágicas de difícil transposição, quanto pela própria influência dos dementadores. Sirius foi o primeiro e talvez seria o único (ele se divertia às vezes com a possibilidade de entrar para a História Bruxa por esse feito). Contudo, havia uma advertência para todos quando eram introduzidos à prisão. E um dos aurores que o capturou e foi responsável por conduzi-lo à prisão, um tal de Alan Berrycloth, disse-lhe:

- Sirius Black, talvez você tenha escutado que ninguém escapa de Azkaban. Você vai constatar que não é mera historinha que colocam nos livros para impressionar, é a mais pura verdade. Então... sugiro que nem tente – o rosto franzino e meio amarelado que o encarava se abriu em uma risadinha sarcástica, mas depois se fechou – Mas se você for louco o suficiente como o foi ao explodir aqueles trouxas... o que vai encontrar é a morte certa. Veja por si mesmo – estavam ainda do lado de fora da fortaleza, no portão de entrada. O homem mostrou as tempestades, os ventos fortes, a altura do penhasco e as pedras pontiagudas lá embaixo banhadas pelo mar agitado. Em seguida, apontou para dentro da prisão um grupo de dementadores a certa distância que aguardava para colocar as mãos em Sirius. Black estremeceu ao vê-los, mesmo que sua mente ainda estivesse processando todos os eventos infelizes com os Potters e Pedro – Sem contar que os guardas daqui vão esvaziar sua mente de qualquer vontade de tentar sair – o auror sorriu de novo – Mas se mesmo assim, você o fizer e por algum milagre escapar daqui sem morrer... – o sorriso dele tornou a se fechar –... sugiro que corra o mais rápido que puder, porque o Ministério vai enviar todos o seu pessoal atrás de você, incluindo os dementadores. E dependendo de quanto tempo demorar para te achar, talvez o Ministro perca a paciência e dê carta branca para os dementadores. E carta branca significa que eles vão te encontrar não para te trazer de volta, mas para te beijarem. – o sujeito agarrou a face de Sirius entre as mãos com falsa gentileza – Sabe o que um beijo dessas criaturas pode fazer, Black?

Sirius assentiu, mal absorvendo suas palavras por ainda estar em choque. Foi outra informação que o Professor Murdock compartilhou a respeito dos dementadores na aula:

- A pior coisa que um dementador pode fazer com um bruxo quando o encontra não é sugar suas emoções... mas beijá-lo.

- Eca! – exclamou Sirius – Então estou ferrado! Porque são tão bonito!

E arrancou gargalhadas de Tiago, Remo, Pedro e boa parte da classe, até mesmo de Lilían; apenas os sonserinos, incluindo Severo Snape (que fez uma careta), permaneceram sérios. Todos se calaram diante do olhar vazio do professor, até mesmo Sirius. Por um momento, o Maroto pensou que o professor fosse lhe tirar pontos.

- Esperemos que o senhor Black não tenha essa sorte – Murdock disse sem sequer esboçar um sorriso. Deu as costas para Sirius que soltou um suspiro de alívio – Agora... alguém gostaria de me responder por que o beijo de um dementador pode ser a pior coisa a acontecer para um bruxo? – ninguém se arriscou, já sabendo que não conseguiriam superar a velocidade da mão levantada de Lílian Evans. – Senhorita Evans?

- O beijo de um dementador suga a alma de um bruxo... para dentro de si. E o bruxo passa a viver como uma casca sem vontade. Sem sua personalidade, oco por dentro.

- Muito bem, Senhorita Evans. Vinte pontos para Grifinória!

Fez-se um silêncio na sala, não pelos pontos dados a Lílian, mas pela resposta dela. Os estudantes estremeceram, até mesmo os Marotos, ao saberem de um destino tão terrível ao se depararem com uma criatura assim. O professor emulou um sorriso maquiavélico e depois continuou sua aula. Depois de encerrada, Sirius e seus amigos saíram comentando a respeito tão impressionados que ficaram. Deram graças a Merlin de tais seres se encontrarem apenas em Azkaban. Mal sabia o garoto Black que anos depois ele teria o azar de conviver com eles!

Sim, Sirius se lembrava do significado do beijo de um dementador quando o auror lhe comentou para dissuadi-lo de qualquer fuga e recordava-se ainda. Não, ele não subestimaria as criaturas, mas como havia dito a Jean, elas não ficariam diante de seu objetivo.

O bruxo faria de tudo para não ser capturado. Porém, se tal acontecesse, daria um jeito de tirar a própria vida antes de permitir que sua alma fosse sugada. Viver com um corpo sem alma não era nem o problema, mas era a alma dentro de um dementador. E por mais que Sirius não fosse alguém dado à religiosidade, ele sabia que a consciência de um ser vivo estava na alma, portanto, viver dentro de uma criatura como um dementador devia ser o equivalente a viver no inferno. Então, não, obrigado, já bastava os doze anos em Azkaban.

Sirius não era um covarde, mas havia coisas que eram piores do que a morte. Então quer ele conseguisse matar Rabicho ou não, se os dementadores o descobrissem e fossem para cima dele, se o feitiço do Patrono (que ele conseguia realizar) não fosse suficiente para afastá-los, ele se mataria antes de permitir que uma daquelas coisas tocasse nele.

Era fugir deles ou morrer.

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Jean observava a famosa Casa dos Gritos.

Fazia um mês desde que havia pisado em Hogsmeade – do qual residia há três semanas – e era apenas a segunda vez que ia àquele ponto turístico. A primeira havia sido com Sirius quando ele a levou para conhecer a Vila. Bom, primeira vez se não estivesse contando antes de perder a memória. Se ela havia sido estudante de Hogwarts – como havia mostrado aquela lembrança do Beco Diagonal com seus pais e a tal Professora Minerva –, era provável que ela houvesse estado antes na Vila. E talvez houvesse visto a Casa dos Gritos.

Madame Rosmerta havia anunciado que, no fim de outubro, dois meses após o começo das aulas em Hogwarts, a Vila estaria lotada de estudantes, particularmente nos estabelecimentos principais, como o Três Vassouras. A estalajadeira mal podia esperar, depois de uma baixa de clientes por conta das duas invasões por dementadores. Para a felicidade dela, as criaturas haviam direcionado seu interesse para a Escola de Bruxarias, acreditando no que escutaram da boca do próprio Sirius de que iria para lá. Jean não ficou tão feliz sabendo que ele estaria rodeado daqueles horrores.

Sirius.

Era o quinto dia desde a partida dele e a falta que o homem fazia a Jean foi maior do que esperava, tanto quanto a preocupação por sua segurança. Será que estava se alimentando bem? Será que estava cuidando de si? Será que estava conseguindo se esconder bem dos dementadores? Será que não estava tendo pesadelos por causa deles tão terríveis quanto àquele que a acordou?

E claro, havia a lembrança do que aconteceu na última noite com ele. Aquele beijo. Volta e meia estava em sua mente. Não apenas em sua cabeça, mas incrustado em sua pele, seu coração... e sua alma.

Se um beijo com Sirius foi capaz de provocar todas aquelas sensações nela, imagine se fizessem amor!

Não, isso não vai acontecer!

Ela repetia toda vez que se recordava dos lábios de Sirius nos seus e do gosto de sua língua e boca. Não ficaria à mercê de Sirius Black, não importava o quanto o desejasse e estivesse apaixonada.

Para tirar os pensamentos do Maroto, Jean passou aqueles dias se distraindo de diferentes formas: uma delas foi almoçar todos os dias no restaurante de Rosmerta. Antes, só o fazia duas vezes por semana, já que cozinhava para Sirius; porém, o Maroto insistia para que ela não deixasse de frequentar o local tanto para não se isolar muito, quanto para trazer de vez em quando um pouco do tempero de Rosmerta através de uma encomenda.

- Não estou reclamando de seu tempero, Jean – Sirius declarou com receio que ela achasse que não estava apreciando seus dotes culinários – É que... o sabor da comida de Rosmerta me traz lembranças de quando ia lá com meus amigos.

Sim, Rosmerta tinha um ótimo tempero. E uma excelente conversa, apesar de ainda ser um pouco enxerida em tentar saber mais sobre Jean. E nos últimos dias sem a presença de Sirius, a bruxa ia para a estalagem na hora do almoço e trazia para comer em casa, na hora do jantar, alegando ser para "seu cachorro", como o fazia quando Sirius estava no chalé. A verdade é que Jean não se animava em cozinhar apenas para si.

Além do Três Vassouras, a bruxa percorreu com mais calma os lugares mais frequentados da rua principal de Hogsmeade, observando a variedade das mercadorias, conversando com os lojistas e tentando puxar alguma recordação de ter frequentado os locais por onde passava. Adquiriu alguns itens sem exagero, apesar da constante insistência de Sirius que ela podia gastar mais. Foi na Dedosdemel (comprou apenas cinco sapos de chocolate e alguns caramelos), na Zonko's e outras lojas.

Nesse dia específico, Jean escolheu visitar a famosa Casa dos Gritos, um lugar abandonado no alto de uma colina, que muitos diziam que era assombrada, devido a escutarem em certas noites – de lua cheia, para ser mais preciso – gritos de horror. De fato, mesmo à luz do dia, a habitação era sombria por seu aspecto decrépito, com as janelas fechadas por tábuas e um jardim devastado. Na primeira vez que viu a tal casa junto com Sirius, Jean teve uma sensação estranha de reconhecimento, mesmo de relance. Foi uma impressão rápida, mas o suficiente para lhe causar certo mal-estar; no entanto, disfarçou e nada comentou com Black. Agora, de novo, olhando para o local, voltava à sensação e Jean tentava captar alguma lembrança, talvez de uma visita em seu tempo de estudante.

- Um pouco assustador, não?

Jean se virou sobressaltada pela voz às suas costas. Era Adam Gray em seu uniforme de auror. Seu corpo se tensionou com a presença dele; o homem era outro perigo para Sirius, embora o Maroto estivesse naquele momento nos terrenos de Hogwarts.

- Desculpe, Senhorita Evans, eu a assustei? – o sorriso que ele emulava se desfez

- Não – ela disse secamente, mas tentou imprimir um tom mais cordial – Bom dia, Mr. Gray.

- Bom dia, senhorita Evans. – tornou a sorrir e aproximou-se dela até se postar ao seu lado diante da cerca que cobria o terreno da Casa dos Gritos. Ele indicou com a cabeça para a habitação – O que acha? Parece tão assustadora quanto dizem?

- Não sei dizer – ela tornou a olhar para o local – Me passa mais a ideia de... tristeza e solidão. Alguém sofreu bastante aqui... por um tempo.

- É isso que a senhorita acha? – o tom dele era mais curioso do que descrente

- É – Jean não soube o motivo de sentir aquilo, mas de alguma forma sabia que era verdade – Sinto que não é um local para se ter medo.

- De fato – concordou Gray – Eu vinha muito aqui nos fins de semana quando estudava em Hogwarts. Meus pais tinham me falado sobre essa casa e me disseram que os rumores da Casa dos Gritos ser assombrada era apenas uma bobagem que inventaram para manter as pessoas afastadas porque aqui havia um segredo. – Jean o olhou surpresa. Gray riu – Bom, eles não acreditavam muito nisso de fantasmas por aqui, apesar de ter alguns em Hogwarts.

- Ah, certo. – ela fez uma breve pausa – Me desculpe a pergunta, mas... o que o senhor ainda faz aqui? Madame Rosmerta disse que os dementadores foram para Hogwarts porque acreditam que Sirius Black possa estar lá. O senhor não quis ir junto?

- De maneira nenhuma. Posso trabalhar com eles, mas até eu me sinto mal perto daquelas criaturas, mesmo que saibam que não podem me atacar. E depois, o número deles é suficiente para apanhar Black – Jean disfarçou um leve estremecimento – De qualquer jeito, é bom que eu fique aqui caso ele decida vir para esses lados se fugir da escola por causa dos dementadores. Além disso, tenho um chalé por essas bandas e é bom que eu posso desfrutar dele enquanto estou aqui.

- Que bom. – ela forçou um sorriso – Er... se o senhor me permite, é melhor eu ir.

- Permita que eu a acompanhe?

- Ah... não precisa.

- Faço questão. Também já estava indo embora.

- Ok... Er, obrigada.

Adam caminhou ao seu lado. Jean não queria se aproximar muito do auror, mas decidiu não recusar a oferta para não despertar suspeitas.

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Merlin, que falta Jean lhe fazia! Sirius lamentou pela centésima vez ao se lembrar da bruxa.

Aquela primeira semana foi mais penosa do que esperava por várias razões. Para começar, no dia seguinte à chegada dos estudantes, ele descobriu que Remo Lupin estava em Hogwarts. Foi pela manhã quando sentiu o cheiro de seu velho amigo perto do Salgueiro Lutador. Sirius se escondeu em um arbusto e o localizou perto da árvore conversando com Alvo Dumbledore e Madame Pomfrey. Com sua audição canina, Sirius captou fragmentos do diálogo e pelo que entendeu, Lupin havia sido nomeado professor de Defesa Contra a Arte das Trevas e o diretor e a enfermeira da escola comentavam que ele poderia voltar a se esgueirar pelo túnel debaixo do salgueiro até a Casa dos Gritos.

Sirius teria ficado contente pelo amigo – ainda que sua amizade não fosse a mesma –, se não fosse pelo seguinte detalhe: por que justo naquele ano ele estava sendo contratado? E era para um cargo temporário, já que se dizia que a vaga daquela matéria estava azarada e nenhum professor ficava por mais de um ano (o que devia ser verdade, já que em seus tempos de estudante ele teve sete professores diferentes, contando com Murdock). A conclusão a que Sirius chegou foi de que Dumbledore havia contratado Remo por causa de sua fuga, talvez por seu amigo ser um dos poucos a conhecer seu estilo de duelar e maneira de agir.

Raios! Praguejou contra o diretor, mesmo que ainda o admirasse. Tal medida atrapalharia os planos de Maroto. Ele não poderia se esgueirar em sua forma animaga pelo castelo para buscar o garoto Weasley e Pedro, pois se Remo o visse, reconhecê-lo-ia de imediato e o denunciaria (se já não houvesse comentado sobre ele se transformar em um cão)

Não bastasse isso, Sirius não teve oportunidade de voltar a ver seu afilhado, mesmo com as aulas externas, como Trato de Criaturas Mágicas. Não seria sensato que algum aluno o visse e saísse espalhando que havia um cão negro solto nos terrenos de Hogwarts, o que certamente chegaria nos ouvidos de Remo.

Bufou. A semana foi um fiasco. Só não foi uma perda total porque aproveitou para fazer uma espécie de reconhecimento do terreno. Aparentemente, pouca coisa havia mudado. Um número maior de árvores havia crescido e novas espécies de animais viviam na Floresta Proibida, porém, nada que o confundisse. De resto, tudo parecia igual, pelo menos na parte externa. Até a cabana de Hagrid permanecia a mesma, com exceção de uma plantação de abóboras; e a presença de um novo cachorro bem grande. O animal até o viu de longe, mas nem deu mostras de se sentir ameaçado ou incomodado.

Ajuntando os contratempos e mais a presença dos dementadores, havia essa falta da presença de sua bruxa. Sim, sua bruxa. Não importava se não a havia reivindicado, Sirius já considerava Jean como sua, por sua recente descoberta de serem almas gêmeas.

Seu consolo é que no dia seguinte retornaria ao chalé deles e a veria de novo. E eles teriam a conversa. Engoliu em seco. E se ela fingisse que nada havia acontecido e o rejeitasse? Falaria do vínculo deles? Não, teria que lhe dar espaço e esperar.

Súbito, o cheiro da bruxa chegou às suas narinas. Ele se retesou e ergueu as patas da raiz da árvore em que estava.

Jean estava ali?

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Só um esclarecimento a respeito de Sirius: ele não é do tipo suicida. Ele é corajoso e enfrentaria qualquer coisa, ainda mais por alguém que ama como o Harry, pela interpretação que faço dos livros. Mas acho que ele jamais ia querer ter sua alma sugada, porque como nas próprias obras dizem, isso seria pior que a morte e é um tormento pelo qual acredito ele não ia querer passar. Ele ia lutar o máximo que pudesse contra os dementadores, mas se não houvesse escapatória, acho que ele recorreria a se matar antes de permitir ser sugado para dentro deles. Enfim, espero que isso tenha ficado claro

E aí, gente? O que vcs acham desse final?

Comentem! E aguardem o próximo capítulo! Até lá!