Finalmente, Sirius aparece! Espero que gostem. Importante que leiam as notas finais para alguns esclarecimentos.
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Capítulo 3 - Sem memória
Aqui estou em silêncio
Aqui estou em silêncio
Olhando em volta sem nenhuma pista
Olhando em volta sem fazer ideia
Eu me encontro sozinho novamente
Eu me encontro sozinho novamente
Sozinho com você...
Completamente sozinho com você
Eu posso ver atrás dos seus olhos
Consigo ver por trás de seus olhos
As coisas que eu não sei
As coisas que não sei
Se você se esconder de mim
Se você se esconde de mim
Como nosso amor pode crescer?
Como o nosso amor pode crescer?
( What's on your mind , "O que está preocupando você", Sociedade da Informação )
Ela estava queimando e, ao mesmo tempo, um frio a percorria. Tremores inundaram seu corpo. Não sabia em que lugar estava, mas tudo ardia... e sua cabeça doía. Por que você faria tanto? Sentiu algo molhado sendo colocado na testa. Tremeu. Abra os olhos devagar. Um rosto cadavérico e branquíssimo numa massa de cabelos embaraçados a fitava com duas fendas. Ela tomou um susto e quase caiu da superfície de algo. Uma cama?
- Calma... – a voz do rosto era tão baixa e arrastada, que parecia mesmo de um cadáver. Ele a segurou pelo braço com a mão fria – Está tudo bem...
Tentou enxergar a privacidade. Era humano, não? Talvez... Havia um cinza em cada fenda e um brilho. Os olhos dele não estavam vazios. Então era uma pessoa... Um homem. Mas estava tão cansada e com o corpo tão dolorido que não conseguia pensar direito. Só queria dormir mais... ainda que fosse um pouco receosa aquela aparência sinistra.
- Durma – como se adivinhasse seu desejo, o homem falou num tom calmante – Não vou te fazer nenhum mal.
Ela acreditou. Não sabia bem o motivo, mas acreditava nele. Suas possíveis se fecharam e ela mergulhou na escuridão outra vez.
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Sons de passarinho a despertaram e um calor invadiu o espaço em que estava. Tossiu. Com o próprio som e o movimento, despertou.
A primeira coisa que viu foi um teto de madeira. Olhou confuso para o local: estava em um quarto e, numa cama de casal envolta por uma colcha e um grosso cobertor de lã. À sua frente, uma poltrona com pequenos rasgos no encosto ao lado de um guarda-roupa com as portas escancaradas; à direita, uma cômoda com gavetas abertas; à esquerda, uma cadeira de vime; ao lado desta, a porta. Onde diabos estava?
Sentou-se no colchão e, ao fazê-lo, reparou sua nudez; alguém havia tirado sua roupa. Ou ela própria havia se despido? Não se lembrava, aliás, pretendia evocar a última gravação que tinha. Um homem de aparência bem estranha, quase de um morto-vivo. E ela estava mal. Sim, lembrava-se de não se sentir bem, estar muito cansada e esse indivíduo cuidar dela.
Mas quem era? Hum amigo? Hum, pai? Irmão? Ou... Não queria pensar. Tentei se lembrar de antes desse primeiro momento. De repente, entrou em pânico. Não consigo lembrar de nada! E não consegui se lembrar de quem era ela.
Colocou as mãos na cabeça: desespero não ia levá-la a nada; talvez fosse momentâneo. E talvez aquele sujeito, fosse quem fosse, pudesse lhe dizer o que havia acontecido, o que era dela... e o mais importante: sua identidade.
Ao sair da cama, esbarrou numa bacia de água com um pano; devia ser o que o sujeito usou para abaixar sua temperatura. Cambaleou um pouco tanto pela leve dor do impacto com a vasilha, quanto por uma leve tontura. Tentei encontrar suas roupas, mas não estava nem no guarda-roupa e nem na cômoda. Não podia sair do quarto sem estar vestida (ainda que o homem tivesse visto sua nudez)! O único jeito que encontrei foi enrolar as cobertas no corpo; abriu a porta e saiu. Percorreu um pequeno corredor até chegar no que parecia a sala. A casa estava limpa e, ainda assim, parecia não ser usada há um bom tempo pelo estado dos móveis do quarto e por várias rachaduras e descascamentos na madeira das paredes que tateava
- Olá! - chamou, mas não houve resposta. - Tem alguém aqui?
De novo, o silêncio. Será que o sujeito foi dito? O lugar não parecia tão grande assim, era mais como uma… cabana.
Chegando na sala, havia um sofá velho junto a uma parede à esquerda; à frente, de costas para ela, uma poltrona; e, encostada na parede oposta, uma cadeira. Perto desta, uma janela aberta, na qual, a moça se moveu com alguns passos trôpegos e olhou para fora: tudo o que viu foi um pequeno trecho de terra até um monte de árvores mais a frente; nenhum sinal do indivíduo. Não sabia que estava aliviado ou assustado. Se ele a deixasse sozinho depois de cuidar dela, o que faria?
- Bom dia.
A moça deu um pulôo e soltou as cobertas; virou-se na direção do som. O homem largou-se na poltrona e endireitou-se imediatamente ao vê-la. Era o mesmo sujeito que vislumbrou meio desacordado, porém, agora o contemplava com mais nitidez: o rosto branco, macilento e ossudo, que deixava antever o formato do crânio; os cabelos negros e embaraçados, que se estendem além dos ombros; uma barba espessa e volumosa lhe cobria o queixo; os olhos dos indivíduos quase se fundiam às órbitas, mas havia algum brilho neles e estes a sondavam com certa frieza.
- Quem… quem é o senhor? - Disse trêmula e recuada para a parede
- Antes de conversarmos… - ele fez uma pausa. A voz era arrastada, rouca e cansada –… talvez fosse melhor você se cobrir.
Foi aí que a moça se deu conta de ter largado as cobertas e ficar totalmente pelada. oculto, abaixou-se e cobriu-se de novo. A expressão do homem era de indiferença, mas uma leve remexida no pomo de adão entregue que não era imune às formas do corpo dela. Desviou os olhos e agarrou-se mais ainda à colcha e ao cobertor. Aquele homem cuidou dela, mas, no processo, havia tirado a roupa e viu-a nua. Será que…
- Fique tranquilo… não me aproveitei de você. - voltou-se para ele assustado, por lhe adivinhar o rumo de seus pensamentos. O rosto dele havia reforçado uma expressão sombria – Não sou do tipo que abusa de mulheres desacordadas, bêbadas ou febris.
- É o que o senhor diz… - fitou-o de frente, numa atitude desafiadora
- Se eu fosse desse tipo, moça... você nem estaria de pé. E sim, amarrada nua na cama pelos braços e pelas pernas... à disposição – ele repuxou levemente os lábios numa tentativa de sorriso. Porém, revestiu uma expressão mais séria, talvez notando o desconforto da moça por suas palavras – Queira me desculpar. Foi uma tentativa patética e de expressão engraçada. E nada gentil de se dizer… a uma dama – o tom se suavizou – E me desculpe também... por ter tirado sua roupa, mas não tive escolha. Encontrei você desmaiado e molhado. Quando você trouxe pra cá, você começou a tremer e arder de febre. Foi preciso tirar sua túnica. Mas não toquei e nem fiquei olhando pra nenhuma de suas partes íntimas – clamou a mão – Juro por minha honra.
- Certo – a jovem se sentiu triste. Por alguma razão, acreditei nele – Mas… onde estão minhas roupas?
- Lá fora… secando… Bom, essa hora já deve estar seca
Pegou uma varinha que segurava e fez um movimento. A moça arquejou ao sentir tecidos cobrindo em sua pele. Olhou-se e viu que usava uma espécie de túnica azul; seus pés também estavam cobertos por um tipo de sapato da mesma cor.
- Melhor agora, não? - tornou-se o homem repuxando levemente os lábios
- Como… como o senhor fez isso? - largou as cobertas em cima da cadeira
- Isso o quê?
- Isso. – mostrar o próprio corpo – Colocar essas roupas em mim… desse jeito.
- Foi um feitiço… - olhou-a confusa – Com essa varinha.
- Varinha?
- Sim. Sua varinha.
- Minha?
-É. - olhou-a alarmado – Essa não é sua varinha?
- Eu… - ela colocou a mão na cabeça.
- Você não é bruxa? – fitou-a com descrição
- Eu… - desenhado da memória. Então veio a resposta – Sim… sim.. sou uma bruxa! Eu sou uma bruxa!
- Ah, que bom saber – o tom dele foi sarcástico
- Será que… o senhor poderia me devolver… - estendeu a mão
- Desculpe, mas… vou ficar um pouco com ela. Como empréstimo, se não se importa.
É claro que isso era importante. Não se lembrava exatamente de ser dona do objeto, mas se o sujeito – que também era um bruxo – havia encontrado a varinha com ela, era porque lhe pertencia. Porém, não estava seguro de discutir com aquela figura esquisita.
- E quem é o senhor? Posso dizer?
- Você não sabe? - ela balançou a cabeça para os lados. Ele a encarou com desconfiança – Não faz a menor ideia?
- Eu deveria?
-Talvez. - apresente-se calado por alguns segundos como se avaliasse se acreditava nas palavras dela ou não – Vamos dizer por agora que sou seu melhor amigo… pelo menos até você estar recuperado.
Ela não gostou muito daquela resposta. Por que ele não queria dizer? Uma análise mais detalhada lhe fez perceber as vestes daquele homem, tão descuidadas quanto ele: eram esfarrapadas e com vários rasgos; mostrou o peito dele parcialmente com, pelo menos, três tatuagens à mostra. E pela magreza extrema, quase como se ele fosse um esqueleto vivo, ele não se alimentava bem há anos. Teria o julgado um mendigo, mas também ele poderia ser… um fugitivo. E se ele era um, eu deveria que também era…
- Qual é o seu nome?
Ele assustou mais uma vez, quebrando o silêncio de forma repentina.
- Eu... eu não sei – a bruxa teve que admitir
- Como não sabe?
- Acho que... que perdeu a memória – fechou os olhos e puxou alguma lembrança, mas a cabeça lhe doeu e ela pôs as mãos na cabeça – Ai!
- Calma – o homem se colocou de pé e estendeu o braço, mas não se moveu. Ele era alto – Não se esforce muito...– mostrou a cadeira – Sente-se. – ela obedeceu e ele também passou a se acomodar na poltrona e cruzou as mãos – Me diga... qual a última coisa de que você se lembra?
- Me lembro... me lembro... acho que estava numa praia deserta... estava chovendo... muito forte. E…vi uma fortaleza no meio do mar. É, acho que era isso... e depois... acho que vi um cachorro grande e preto – o bruxo pareceu tenso com a última informação – E só me lembro de sentir minha cabeça doer... e tudo rodar.
- Algo mais?
- Não... er, sim... me lembro de acordar e ver o senhor cuidar de mim.
- Vamos parar com esse negócio de senhor? Não sou tão velho assim. – ele revirou os olhos e a bruxa achou graça nisso, embora não risse – Sei que minha aparência atual não está me ajudando, mas acredita... tenho trinta e três anos.
- Certo. Mas... como o senhor... er, desculpe, você me encontrou?
- Eu passando por aquela praia – disse sem hesitação
- Com aquela tempestade? – fitou-o intrigada
- Gosto de andar debaixo da chuva
A bruxa não estava convencida e retomou a sua linha de raciocínio: não tinha certeza, mas aquele homem era um fugitivo. E se era, devia ser um criminoso. Estremeceu. E se ele a matasse? Não, se fosse o caso, nem estariam conversando, aliás, teria a deixado onde se encontrou desacordada. Ele a fitou como se perguntasse seu silêncio.
- Er... e o que aconteceu com o cachorro? – ela retomou para que não percebesse suas ruminações
- Fugiu... assim que eu cheguei. – ele se tornou a se colocar de pé – Hum... você deve estar faminta.
- Na verdade não, eu...
- Você tem que comer – foi imperativo – Enquanto estiver sob meus cuidados, você vai me obedecer. Entendeu?
Ela assentiu intimidada. O homem variava de humor com rapidez.
- Ótimo. – ele conseguiu alargar o sorriso, mostrando alguns dentes amarelados – Vou preparar alguma coisa para nós. Colhi algumas amoras, peguei uns peixes e uns esquilos. Essa sua varinha veio a calhar. – balançou o objeto
- E onde está a sua?
- Perdi – fechado o rosto – Mas não se preocupe... vou cuidar bem da sua.
Não era bem a resposta que ela queria escutar, esperava que ele dissesse que iria devolvê-la, porém, de novo, não disse nada. Por outro lado, se ela não se lembrasse de quem era, nem sabia se lembraria de como usar os artefatos.
- E você não é minha prisioneira. – ela engoliu em seco porque tal pensamento passou por sua cabeça – Se quiser ficar, vai fazer o que eu disser. Agora... se quiser ir embora, é só eu dizer. - a jovem o fitou em dúvida – Mas vou ter que apagar sua memória um pouco mais. Me tire da sua cabeça. Entende? - ele arreganhou mais os dentes. Ela engoliu em seco – Espero que eu não tenha que fazer isso.
E saiu da sala, deixando uma bruxa boquiaberta.
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Entrou na copa quando ele anunciou que a comida estava pronta. O cômodo ficava ao lado da sala e, não era tão espaçoso, mas o suficiente para acomodar um grupo de seis pessoas à mesa; havia um pequeno espaço dividido por uma pilastra onde estava a cozinha com um fogão com panelas velhas e uma geladeira que parecia não funcionar. O estranho acabou de colocar uma travessa com seis peixes assados rodeados de amoras no centro da mesa.
- Não é muito, mas é o que consegui – ele se desculpou ao mostrar a comida. - Vou deixar os esquilos para o jantar.
- Ahm… certo.
- Pode se sentar.
Ele suspendeu uma cadeira e indicou o lugar. Ela o agradeceu e enviou-se, embora ainda se sentisse intimidada. O bruxo apanhou uma jarra de água e pôs na mesa; logo depois, um prato e um par de talheres. Deus para a bruxa.
- Sirva-se – disse
Porém, ela pegou apenas um peixe e seis amores com um garfo.
- Só isso? -fitou-a desconfiado
- Não estou com fome. Na verdade. Só vou comer… bem… porque preciso.
E porque ele já estava planejado, mas não exprimiu o pensamento
- Está bem então – não insistiu e sentou-se – Bom apetite.
Foi a última coisa que disse antes de puxar a travessa e mergulhar de cabeça e mãos no "restante" do almoço. A bruxa sentiu repugnância, mas não desvia nutrir tal sentimento. Afinal, o homem estava mais ossos do que pele e quem sabe quanto tempo ele não se alimentava? Desviou o rosto para seu prato e tratou de comer. O peixe estava bem assado, mas, infelizmente, sem sal. Mesmo assim, o jovem acabou percebendo que estava mais faminta do que supunha – só não o suficiente para devorar a comida como "seu amigo".
- Está sem sal, eu sei – parou um pouco como se desculpasse. A barba suja pelas migalhas que tratou de limpar um pouco com uma das mãos – Os condimentos que tinham estavam estragados.
- Alguém mora aqui? Ou morava?
- Eu costumava vir aqui com uns amigos – o rosto ficou sombrio – Mas faz anos que está abandonado.
- Aqui… é seu? - não poderia esconder sua admiração
-É. - poderia-lhe os olhos frios – Achou que eu tinha arrombado?
- Eu... aham... – ela corou – Não... Pensei que estava abandonado e...
- Claro, como alguém com minha aparência poderia ser dono de um lugar assim? - emulou um sorriso amargo
- Desculpe, não quis ofender...
- Sem problema – ele voltou a atenção para a comida e arrancou um pedaço de um peixe – Estou acostumado com o pior julgamento das pessoas.
Ela baixou os olhos e não comentou mais nada. Os dois comeram em silêncio por mais tempo, porém, a bruxa sentiu necessidade de perguntar:
- Faz… quanto tempo estamos aqui?
- Dois dias. - ele não declarou os olhos da travessa e degustou as amoras – Se você estiver melhor amanhã, partiremos um dia depois. E então… vou te deixar o mais próximo possível de um lugar com bruxos.
- Vai me deixar?
- Sim. - parou o que comia e fitou-a – Não é seguro pra você ficar comigo. Não é conveniente. Outras pessoas poderão te ajudar com sua memória.
- Mas então você vai apagar minha memória de qualquer jeito, não?
- Hum… pensei nisso. Mas tenho outra maneira de impedir de falar com meu respeito. - ela o fitou com descrição – Um juramento. Se você quebrar isso, não vai ser muito agradável o que vai te acontecer. .
- Não gosto disso.
- Você tem essas duas opções… ou então vou te deixar presa aqui e sozinha – ele a fitou sombrio – Acredite, posso fazer isso. E teria coragem. Claro que viria de vez em quando pra te alimentar. - ele se calou um pouco para tragar mais comida – E então? O que vai ser?
- Não sei – ela largou os talheres, pôs os braços sobre a mesa e a cabeça entre as mãos – Não sei o que é melhor pra mim…
O bruxo soltou uma risada alta e insana que a fez estremecer.
- Como não sabe, moça? - tornou-se ele – É claro que você vai preferir estar no meio de bruxos de melhor aparência e menos estranho do que eu.
- É, seria o mais lógico, mas...
- Mas…?
- Estou com medo. - ele a olhou como se aguardasse uma explicação - E se… estiverem atrás de mim?
- Você está a fim?
- Er… não sei… É meio estranho ter parado numa praia deserta no meio de uma tempestade... e ter desmaiado. Não acha? – ele não respondeu, mas não pareceu surpreso com sua conclusão como se também houvesse pensado na possibilidade. Ela engoliu em seco –Será que eu não estava fugindo de alguém? Ou você estava sendo atacado?
Foi algo em que ela ficou pensando na sala enquanto o bruxo preparava a refeição. E se você estivesse atrás dela e a encontrasse antes que chegasse aos seus familiares?
- Também não sei se ainda tenho família – tornou-se a bruxa – E se eu tive, talvez possa colocar em risco a vida deles sem saber – pôs a mão na cabeça – Não sei... não sei em quem acreditar.
- Conheço exatamente essa sensação – retrucou ele – Em quem acreditar...
- Então você entende? Não sei se estaria seguro se você me deixasse num lugar sem conhecer ninguém. Não teria como saber quem seria confiável. Er... talvez eu esteja sendo paranoica – deu de ombros ao ver seu interlocutor ainda calado a deixando com suas suposições – talvez haja outra explicação pra eu ter parado naquele lugar. Por que razão alguém me atacaria?
- Por você ser uma bruxa nascida trouxa – ele largou os últimos pedaços da refeição no prato e recostou-se na cadeira – Essa seria uma boa razão para um maldito bruxo sangue puro cheio de preconceitos.
- Eu... o que é um bruxo nascido trouxa?
- É um bruxo filho de trouxas. E um trouxa é...
- Alguém sem magia – ela completau. Não foi nem dedução, foi uma vaga lembrança que emergiu – E como você sabe que sou nascida trouxa?
- Você tem uma cicatriz no seu braço esquerdo com a palavra "sangue-ruim" escrita por magia – o rosto dele se fechou mais ainda – Vi enquanto cuidava de você
Permaneceu alguns segundos sem fala, como se esperasse que ele estivesse apenas zombando e fosse rir. Como não aconteceu, ela arregaçou a manga esquerda e viu a cicatriz, conforme ele havia aqui. Olhou-o com espanto, mas não disse nada.
- Não sei se você se lembra... – contínuo ele – Mas é assim que bruxos supremacistas chamam da pior forma possível os bruxos que compartilham "impuros".
- Eu... acho... que sim... – pôs a mão na cabeça – Acho que me lembro do termo. Só não me lembro de terem me chamado disso... e nem como me deram essa cicatriz
- Fique feliz por isso.
- Você... também é nascido trouxa?
- UE? – ele explodiu em mais uma risada insana – Não. Pode-se dizer que nasceu de uma das famílias de puro-sangue "da mais alta linhagem" – enfatizou as últimas palavras com escarnio – Mas todos sem um pingo de decência na alma – fez uma careta que tornou suas feições mais assustadoras – Antes tinha nascido trouxa... – ele a analisou por alguns segundos, talvez consciente de ter revelado mais do que devia – Mas, bem... essa cicatriz não parece recente. Tanto pode ser atacado por você ser uma trouxa nascida, quanto por outro motivo.
- Qual?
- Por esse – tirou do bolso uma corrente de ouro que ostentava três ampulhetas
- O que é isso?
- Eu esperava que você pudesse me dizer quando acordosse, mas... já sei que essa pergunta também vai ficar sem resposta.
- Então... isso é meu?
- É – estendeu para ela - Verifiquei com sua varinha se era algum objeto mágico e mostrei que sim, mas não consegui descobrir a especificamente. Mas pode ser que você ataque por isso se for algo de valor ou poderoso.
- Posso pegar?
- Claro – jogou na mão dela que o apanhou – Não tem utilidade para mim.
- Ao contrário da minha varinha. – estreitou os olhos
-É. Então... – encontrou o objeto na mão dela – O que acha? Nada lhe vem à mente?
- Não. – uma bruxa observada com cuidado os detalhes do objeto. As três ampulhetas eram de tamanhos diferentes, mas todas eram menores que a palma de sua mão. Tentou mexer nelas, mas estavam fixas – Não faço a menor ideia do que seja.
- Então sugiro que a esconda bem se você atacaram por isso. – peguei os últimos pedaços da refeição na mão
- Está vendendo? É disso que estou falando. – fechou o objeto sobre a mão – Não sei se estarei seguro no meio de outros bruxos. Pelo menos não sem minha memória.
- Mas é a única coisa que posso fazer por você depois que melhorar.
- Tem outra coisa que você pode fazer por mim.
- Qual?
- Me levar com você.
O bruxo quase se engasgou com o pedaço de peixe na sua garganta.
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1) Optei por não me referir a Hermione pelo nome, porque estou adotando o ponto de vista dela. Por mais que a estória não seja narrada em primeira pessoa, gosto de colocar na perspectiva dos personagens. Mas não se preocupem, logo ela vai ser nomeada, embora por outro nome.
2) Aqui nesta fanfic, Sirius não mostrará esse lado totalmente brincalhão e maroto, pelo menos não de início, afinal, o cara acabou de fugir da prisão e está puto, além de obcecado. Mas ele vai suavizar um pouco seu comportamento, diante da Hermione. Também não vou retratá-lo como um homem de aparência muito atrativa nestes primeiros capítulos, pela mesma razão. Gradativamente, ele vai recuperar seu brilho e charme.
Enfim, espero que tenham gostado! Mandem seus comentários!
