Pessoal, atenção com esse capítulo, pois vai tratar de dois momentos com a Hermione. Maiores esclarecimentos nas notas abaixo.

Boa leitura!

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Capítulo 4 - Juramento

Sometimes I feel I'm gonna break down and cry

Às vezes, eu sinto que vou ceder e chorar

Nowhere to go, nothing to do with my time

Nenhum lugar para ir, nada para fazer com meu tempo

I get lonely, so lonely living on my own

Eu fico solitário, tão solitário vivendo na minha

Sometimes I feel I'm always walking too fast (so lonely)

Às vezes eu sinto que estou sempre andando muito rápido (tão solitário)

And everything is coming down on me, down on me

E tudo está caindo sobre mim, caindo sobre mim

I go crazy, oh, so crazy living on my own (living on my own)

Eu fico louco, oh, tão louco vivendo na minha (vivendo na minha)

(Living on my own, "Vivendo na minha", Freddie Mercury)

O bruxo a fitava como se houvesse dito um absurdo. Bem, não deixava de ser. Se fosse pensar com certa lógica, não seria a melhor solução. O mais razoável era o que lhe propunha, de deixá-la no meio de outras pessoas. Estas poderiam encaminhá-la para um local onde houvesse algum poder de autoridade bruxa que lhe oferecessem proteção e talvez informações a seu respeito. Duvidava que "seu anfitrião" a levasse para tal lugar se era um fugitivo, como ela tinha certeza. Porém, estava insegura se teria a boa sorte de encontrar bruxos que a levassem para esse local. A probabilidade era grande, mas estava com medo. Preferia se manter ao lado do homem que havia lhe salvado. É claro que essa opção também não lhe deixava segura, pois se ele fosse um criminoso, estaria em apuros se a encontrassem com ele. No entanto, havia ruminado sobre isso também enquanto aguardava pelo almoço: devia estar com ele. Era sua intuição que lhe dizia que naquele sujeito poderia confiar, quase como... se o conhecesse.

- Levar você comigo? – ele perguntou como se certificasse de que havia escutado direito. Ela assentiu – Está brincando?

- Não, não estou, pensei nisso na sala – ela suspirou - Estou com medo de ficar com desconhecidos.

- Eu sou um desconhecido.

- Um que cuidou de mim. Que podia ter me largado no meio do nada.

- É, podia

- E por que não o fez?

- Boa pergunta. Também fiz a mim mesmo

- Porque você não é assim. – foi incisiva – Você não deixaria uma pessoa em dificuldade para trás.

- Moça, não julgue uma pessoa só por causa de um ato. – emulou um sorriso irônico – Talvez eu estivesse de bom humor na hora e você deu sorte.

- Não acredito nisso.

- Pois deveria. Baby, ameacei apagar sua mente… mais do que já está se você resolvesse sair daqui hoje. Ou prendê-la se não concordasse com meus termos para te libertar.

- Bem… você me deu opções… E imagino que se pretendia recorrer a esses meios é porque… - ela se deteve

- Continue – ele arreganhou os dentes

- Porque você está fugindo… e não quer ser encontrado. - engoliu em seco pela expressão dele, mas se atreveu a dizê-lo – Não?

- Que bom que você percebeu o óbvio. - deu mais uma daquelas risadas insanas – E sabendo que sou um fugitivo, você deve imaginar que por boa coisa não deve ser. E ainda assim prefere ficar comigo?

- Não sei te explicar, mas... sinto que você é bom – ele a olhou com espanto outra vez. – Me leve com você. Por favor.

- Não acho que seja uma boa ideia – cruzou os braços – Tenho planos

- Certo – mordeu os lábios e pensou por instantes - Ou então... você poderia me deixar num lugar de autoridade bruxa. Não sei... talvez tenham dados sobre mim.

- Sem chance – balançou a cabeça – Até mesmo pra eu te levar num lugar próximo a bruxos estou arriscando meu pescoço.

- Você está fugindo da polícia? – a pergunta saiu antes que ela se contivesse. Ele contorceu o rosto – Ou de bruxos com poder de polícia? Que crime você cometeu?

- Você faz muitas perguntas! – levantou-se num rompante da mesa, fazendo-a se encolher. Ele a observou alguns instantes e apenas retirou a travessa – Muitas!

- Está bem, não precisa me responder. - olhou-o com cautela um pouco trêmula – Prometo que não te questiono mais. Mas me leve com você. E em troca...

- Em troca...? – voltou-se para ela curioso

- Em troca, te ajudo com seus planos – engoliu em seco – Sejam quais forem.

- Cuidado com o que vai prometer – esboçou um sorriso malicioso – Talvez você tenha que cumprir

- Er... claro... eu matar alguém não está incluído – ele arregalou os olhos e então riu de novo, mas, dessa vez, a risada dele não lhe arrepiou e deixou-a mais confiante – Mas... posso te ajudar na sua fuga ou no que precisar de mim... e você pode até usar minha varinha por um tempo.

- Hum... – fitou-a pensativo.

É claro que o homem poderia ficar com sua varinha, mesmo sem sua permissão, porém, talvez se lhe oferecesse de boa vontade, mostraria que ela era de confiança.

- Depois.. se você não precisar mais, a gente se despede... como dois bons amigos – insistiu ela – Pelo menos... pelo menos, pense no assunto.

- Está bem... Vou pensar – ele fechou o rosto – Mas agora chega de conversa. Está na hora de você descansar.

- Me sinto bem – ela se pôs de pé – Eu...

Porém, ao cambalear de lado, contradisse as próprias palavras. O bruxo correu para evitar que caísse.

- Você está bem? – ele encostou as mãos na lateral do seu corpo

De imediato, ela sentiu um choque elétrico percorrê-la com um simples toque. Afastou-se assustada e olhou para o homem que recolheu as mãos após posicioná-la; ele parecia ter sentido o mesmo.

- Er... está melhor? – ele assumiu a máscara de indiferença

- Sim... estou... mas me sinto zonza.

- Você ainda está fraca, precisa se alimentar mais aos poucos... e descansar. É melhor voltar para seu quarto – engoliu em seco – Quer que eu a ajude?

- Não, pode deixar... eu... eu vou sozinha.

E caminhou com passos mais firmes, mas devagar; ao chegar na porta, ele ainda a observava. Por fim, a bruxa se segurou nas paredes até chegar no seu quarto. Ao entrar e se deitar, pensou naquele choque que teve com o toque dele.

O que foi aquilo?

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Cara Senhorita Granger,

Informo que já enviei todas as cartas que precisava ao Departamento de Mistérios solicitando um Vira-Tempo para seus estudos. O Chefe do Setor facilitou para que o Ministro Fudge desse sua permissão o mais rápido possível. Mas seu pedido ainda está em análise.

Você saberá a resposta de mim quando vier a Hogwarts no primeiro dia de aulas. Agora é esperar

Professora Minerva McGonagall

Hermione Granger deu um pulo em sua cama! E começou a andar pelo quarto toda eufórica. Estava hospedada num chalé com seus pais na França, mas não foi impedimento para que a coruja enviada por McGonagall lhe encontrasse. Que animais inteligentes! Deu três pulinhos no chão.

Sua mãe gritou do cômodo ao lado perguntando o que estava acontecendo e a adolescente teve que dar em resposta uma desculpa esfarrapada. Era outro segredo que teria que lhe esconder de tantos que lhe acontecia no mundo bruxo.

Por mais que a resposta da professora não fosse definitiva, tinha quase certeza de que em breve teria um Vira-Tempo em mãos. Assim, além das matérias obrigatórias, cursaria todas as disciplinas eletivas do Terceiro ano – e que não teria conseguido por vias normais por uma questão de tempo (agora essa questão seria resolvida). Mal podia esperar!

Foi uma feliz coincidência ter escutado uma conversa na festa de bodas de prata de um casal amigo de seus pais! Ocorreu num sábado, poucos dias depois do encerramento do segundo ano letivo em Hogwarts.

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Estava entediada; não conseguia se enturmar com nenhum garoto ou garota de sua idade, porém, não a incomodava mais; antes de descobrir que era uma bruxa, sentia-se um peixe fora d'água, fosse com a garotada da vizinhança ou da escola normal, ainda mais por zombarem dos seus dentes proeminentes. Contudo, após encontrar seu lugar no mundo bruxo, não se importava e nem tentava mais se conectar com os adolescentes trouxas. É claro que também não era popular, mesmo em Hogwarts; mas, pelo menos lá havia feito amizade com Harry, Ron, Gina e até mesmo Neville. Era mais do que o suficiente.

Irritava-a ver as garotas da sua idade gastarem tempo em querer impressionar os garotos e ela não estava com vontade de perder tempo comentando "os olhos de fulano", "os músculos de sincrano" e "você o viu olhando para mim?", "ah, será que ele gosta de mim?" Não, não tinha paciência. Que a julgassem uma esnobe, uma maldita sabe-tudo – como também o faziam na Escola de Magia –, mas ela não queria discutir sobre homens (se bem que suas colegas de quarto Lilá Brown e Parvati Patil não ficavam atrás das garotas trouxas nesse ponto). Não é que não pensasse de vez em quando em garotos (bom, em certo garoto), mas havia coisas mais importantes para se pensar e fazer. Pena que na festa não estava encontrando nenhuma!

Foi tomar um ar na sacada da mansão dos anfitriões; seus pais estavam com eles no momento e ela aproveitou para dar uma escapadinha. A frente da casa dava com vista para um imenso jardim cujo centro possuía uma fonte de água. Havia três pessoas do lado de fora, mas nenhuma se incomodou com ela e ficaram entretidos em seu próprio mundo.

Na próxima semana, viajaria de férias para a França com seus pais! Havia bruxos naquele país, além da Escola de Magia Beauxbatons. Uma pena que não poderia visitar a instituição! Estava fechada para as férias e só autorizava visitas de alunos estrangeiros mediante uma solicitação do diretor de Hogwarts. Em compensação, veria os lugares onde se poderia entrar em contato com os bruxos franceses e os locais históricos deles.

Sons da festa, risadas e conversas ainda ressoavam nos ouvidos de Hermione, mas sua mente estava longe dali, porém, uma conversa em particular, mais alta do que as outras, embaixo da sacada lhe chamou a atenção:

- Ah, bons tempos aqueles em Hogwarts! – disse uma voz masculina suave

- Nem me diga, meu jovem, também tenho saudades – retrucou outra, cujo tom era mais grave

Granger sustou o ar. Havia bruxos ali na festa! Sempre ficava emocionada quando via ou encontrava algum entre os trouxas, era como se seus dois mundos se colidissem. Não devia escutar conversas alheias, mas era o que mais de interessante podia lhe acontecer ali

- Sabe que eu fiz todas as matérias da Escola desde o Terceiro até o último ano? – declarou o primeiro homem – Até as eletivas?

- É mesmo? Mas como você conseguiu isso? Você pediu pra voltar para estudar em Hogwarts de novo?

- Não, eu fiz todas durante o tempo em que estudei lá.

- Ora, conta outra! – riu o segundo homem – Você teria que se dividir pra fazer algumas ao mesmo tempo.

- Foi o que fiz. Com um Vira-tempo.

Hermione não podia ignorar mais a conversa. Um Vira-Tempo? Ela tinha lido a respeito de Vira-tempos. Mas usar um para aulas?

- Está falando sério? – perguntou o segundo homem exprimindo a dúvida da adolescente – E como você conseguiu um negócio desses? Não é coisa do Departamento de Mistérios?

- Tenho um tio que trabalhava lá. E quando eu disse que se pudesse cursava todas as matérias eletivas do Terceiro Ano, ele me falou que podia ver com o Chefe do Departamento. Parece que já havia precedentes, outros alunos da Escola também estudaram dessa forma.

- Por Merlin, se eu soubesse disso na minha época! – exclamou o outro homem – Eu também era um amante de estudos, sabe. E como foi o procedimento?

- Uma burocracia, segundo o que meu tio falou. Ele teve que escrever cartas e cartas e isso porque eu era um aluno modelo e porque ele era um Inominável. Eles só emprestam Vira-Tempos para alunos que os Inomináveis indicam. Ou pelo menos, alguém que tenha trabalhado como um.

- E valeu a pena?

- Foi bem exaustivo, mas valeu sim. Eu faria de novo se pudesse – eles fizeram uma pausa. Hermione queria que falassem mais. – Acho que já deu para se divertir o suficiente aqui. Vamos?

- Vamos.

Eles estavam indo embora? Herrmione precisava falar com o sujeito, ainda que se revelasse como uma bisbilhoteira. Desceu correndo uma escada ali perto, mas antes que chegasse no local onde supunha que estavam os bruxos, escutou o som do que parecia um estalido de cano de carro; as pessoas da sacada se assustaram, assim como a garota, mas ela continuou a descer. Quando chegou ao local, não havia ninguém lá. Era provável que houvessem desaparatado; até então nunca havia escutado o som de uma desaparatação, mas concluiu que foi assim que eles se foram.

Naquela noite, ao voltar para casa com os pais, mal conseguiu se conter. Nem comentou dos bruxos que havia visto – não por eles se assustarem em saber que pessoas mágicas andavam entre os trouxas – e sim por ter que revelar a informação que escutou. Nem dormiu direito pensando a respeito: e se ela também usasse um Vira-Tempo para estudar todas as matérias eletivas em Hogwarts até o último ano? Porém, havia um problema: o sujeito havia dito que só por recomendação de um Inominável, ou pelo menos, alguém que havia trabalhado como um. E ela não conhecia...

Espere! Ela conhecia sim! A Professora Minerva McGonagall! A bruxa havia trabalhado por dois anos no Departamento de Mistérios antes de ficar de vez em Hogwarts. E Hermione sabia (sem falsa modéstia) que a docente a considerava uma aluna-modelo. Sim, escreveria para ela perguntado a respeito! A garota se conteve em não levantar altas horas para fazê-lo.

Logo pela manhã redigiu uma carta para Minerva, falando sobre sua descoberta. Acrescentou apenas uma mentirinha: havia conversado com o bruxo que mencionou o Vira-Tempo, mas havia se esquecido de perguntar o nome dele. É lógico que não falaria que escutou uma conversa sem ser convidada.

Teve que esperar até segunda-feira para ir ao local de um correio-bruxo e enviar uma coruja. Após dois dias, recebeu a correspondência de McGonagall:

Cara Senhorita Granger,

Em todo tempo em que trabalhei no Departamento de Mistérios, nunca soube da possibilidade de oferecer um Vira-Tempo para um aluno de Hogwarts estudar uma carga maior de matérias eletivas do que os demais. Você tem certeza do que escutou? Mas se você afirma e sei que não é uma estudante dada a brincadeiras, sou levada a acreditar.

Vou investigar a respeito com o Chefe do Departamento de Mistérios e questionar sobre os procedimentos necessários. Espero que esteja certa em sua informação. Em breve lhe comunicarei.

Professora Minerva McGonagall

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Hermione só obteve resposta de Minerva um dia antes da partida de sua viagem. Na mensagem, a professora dizia que, de fato, a informação de Hermione procedia, mas demandava certas exigências e cartas que seriam trocadas entre ela e o Chefe do Departamento e, posteriormente, com o Ministro. Afirmava também que, independente se seu pedido fosse aceito, a jovem não poderia contar nada sobre o dispositivo para ninguém, nem para seus pais e, muito menos, para seus amigos. Perguntava ainda se Hermione tinha certeza se era mesmo seu desejo. A jovem escreveu uma carta reafirmando sua vontade e, comunicou que estaria em determinadas cidades da França, caso a professora fosse lhe enviar alguma correspondência nesse meio tempo.

E agora ela tinha a resposta em suas mãos de que tudo estava encaminhado! Era melhor do que tudo o que havia visto ali com seus pais. Só não era melhor do que ter descoberto que era uma bruxa. Queria ter contado a novidade para Harry na carta que lhe enviou com seu presente de aniversário, mas não podia. Nem para ele, nem para Ron. Tudo bem! Era bom ter seus próprios segredos.

Aulas do Terceiro Ano, me aguardem!

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- Está bem. Levarei você comigo – informou o bruxo de pé diante dela no meio da sala – Mas... você e eu vamos ter que fazer um juramento

- Um juramento? – inquiriu a mulher

Fazia dois dias em que estavam convivendo na cabana e o sujeito mal lhe dirigia a palavra desde o primeiro almoço que compartilharam. Ela até tentava puxar um assunto durante os momentos de refeição – que eram os únicos em que permaneciam juntos -, porém, ele desconversava. Se bem que, de qual assunto falariam? Nem se lembrava de quem era ainda, quanto mais seus próprios interesses. Mesmo assim, tentava introduzir algum tema, ainda que fosse sobre a região em que moravam ou os feitiços que ele conhecia, ou mais sobre o mundo bruxo de que ela tampouco se recordava. Ele mal lhe respondia; quando muito por monossílabos, até que ela ficasse sem graça e sem ânimo para continuar a abordá-lo.

Desejava se lembrar muito de quem era, assim não precisaria ter esse homem como única companhia.

Com frequência, olhava-se no espelho da cômoda ou no do banheiro acima da pia. Vislumbrava seu rosto para puxar alguma recordação, mas nada. Era uma fisionomia desconhecida, embora lhe pertencesse.

Quanto ao medalhão que trazia no pescoço, mexia e remexia, mas tampouco lhe evocava alguma lembrança; também não havia descoberto seu funcionamento. Apenas o levava consigo o tempo todo, bem escondido por baixo das vestes, como o bruxo recomendou; só o tirava na hora de tomar banho.

Pensava nos pais que deveria ter, se estavam vivos e preocupados com ela. Teria irmãos? Amigos? Um namorado? Talvez um marido? Seria mãe? Estavam bem ou em perigo? Eram muitas perguntas.

Sozinha em seu quarto ou lá fora, às vezes chorava por não ter memória de si e não ter mais ninguém com quem pudesse se confortar.

Não devia reclamar de sua sorte, pois estava viva e recuperando-se. Claro que a comida não era das melhores, pois além de se limitar a peixes, animais pequenos e frutas que o bruxo conseguia pegar, não havia sal para temperá-la. Ele não podia conjurar condimentos, pois era um tipo de alimento e contrariava um princípio da lei de Gamp, conforme lhe explicou. Contudo, era suficiente, pois ele podia multiplicar o que apanhava, desde que comessem na hora e era nutritivo o bastante. Além disso, ela podia cuidar de sua higiene ao tomar banho e fazer suas necessidades no único banheiro da cabana. E agora que estava melhor, saía livremente da casa e podia percorrer seus arredores. Havia um lago lá por perto com um banco de madeira onde gostava de se sentar para refletir e passar o dia. O homem não lhe proibia de sair, nem a maltratava e evitava o máximo possível deixá-la desconfortável. Até havia melhorado seu comportamento nas refeições desde a primeira, pois deixou de comer direto da travessa e passou a usar os talheres, além de um pano para limpar a boca e a barba.

Porém, não havia mais nada naquele local que pudesse distraí-la, nem um mísero livro e ela sentia falta de ter uma conversa com alguém, no caso, o seu "salvador", o que não parecia se dar o mesmo com ele.

A jovem não sabia se o bruxo evitava de lhe falar por temer soltar alguma informação sobre si próprio – como fez ao mencionar sobre a família puro-sangue – ou se era pelo que havia acontecido na cozinha, o choque ao se tocarem. O que aconteceu entre eles não era nada para ser considerado de outro mundo, afinal, pela vaga reminiscência que ela tinha, aquele era um fenômeno comum de eletricidade: pessoas se tocarem e terem um choque, ou também ao tocarem objetos. A questão era o que veio após o toque entre os dois (ou pelo menos, da parte dela): uma leve atração.

Por Merlin, só podia estar louca! Ou carente de contato com outras pessoas e de toque familiar! Ou então padecendo de alguma espécie de algum efeito mental por ele ter lhe salvo a vida e cuidado dela (tentou se lembrar de algo a respeito, mas não conseguiu). O fato é que se via pensando nele a todo momento e desejando sua companhia, mesmo que não quisesse falar muito. Queria até que ele a abraçasse! Era absurda aquela atração por mínima que fosse.

Pra começar, o homem nem era bonito, nem ao menos tinha uma aparência agradável. Com aquela magreza esquelética, a palidez de cadáver e o emaranhado de cabelos e barba no rosto que lhe dava um ar mais sinistro, era difícil considerar alguma beleza ali. Se bem que os olhos sim eram belos: um azul tão claro que os tornavam de uma tonalidade cinza. Fora isso... não havia mais nada.

Quanto a higiene, até era asseado, pois tomava banho e, apesar, dos dentes amarelados, parecia que estava cuidando da limpeza bucal, pelo menos, a ponto de não ter um mau hálito. Porém, trajava as mesmas roupas rasgadas; se bem que, ela mesma também estava usando a mesma túnica (não havia mais roupas na cabana para nenhum dos dois). Só que mesmo que ele lavasse as próprias vestes, estas ainda exalavam certo fedor, talvez do lugar onde esteve antes.

Os modos dele? Tinha que admitir que era um cavalheiro nas refeições ao permitir que ela se servisse primeiro na quantidade que desejava e puxasse a cadeira para se sentar. Só que não amenizava seu mutismo.

Sem contar que o homem era esquisito, pra não dizer louco! E estava tramando contra alguém. Por duas ou três vezes, ao ir para fora da cabana tomar um ar, deparou-se com o sujeito andando de um lado para o outro como um desvairando, murmurando consigo mesmo: "O maldito está em Hogwarts! Tenho que pegá-lo! Tenho que pegá-lo! Harry! Harry!" Saiu de fininho antes que ele se desse conta de sua presença. Mas se perguntou: o que era Hogwarts? Um lugar? Casa? Bairro? E quem era Harry? Um antigo inimigo? O responsável por ele ter sido preso? Sim, porque estava mais do que convencida de que ele era um criminoso.

E ainda assim, queria partir com o bruxo. Por quê? Se perguntava o tempo todo. Se ele estava tramando uma vingança contra o tal Harry, por que ela deveria tomar parte? Tudo por um sentimento de gratidão ou de querer pagar "uma dívida" de vida? Ele nem mesmo havia cobrado. E a única resposta que vinha era uma intuição forte de que esse era seu caminho. Seu destino. Aquele homem era seu destino. E, por duas ou três vezes, uma sensação de familiaridade com relação a ele lhe invadiu. Uma sensação forte de que já o conhecia e de que deveria confiar nele. Pensou que fosse só por aquela estranha atração, mas não. Era muito mais do que isso. E o único de que se lembrava de ser uma bruxa era que não se devia ignorar uma intuição. Então sim, por isso, iria com ele. Agora só dependia da decisão do indivíduo.

E ele lhe dava agora, no dia estabelecido da partida deles. Após tomarem o café da manhã, ficou apreensiva sobre o que o bruxo diria de seu pedido, mas não lhe questionou e foi para a sala para aguardar. Seu coração bateu forte ao escutar uma resposta positiva.

- Que juramento? – tornou ela após alguns instantes

- Um juramento mágico de que você não contará para ninguém sobre mim, caso mude de ideia e decida ir embora. – retrucou o bruxo com expressão séria – Isso se estiver disposta.

- É um juramento de morte?

- Oh, não, baby, não sou tão extremo – mostrou os dentes amarelos, como se quisesse rir – Um Voto Perpétuo, como é chamado esse tipo de feitiço, requer uma terceira pessoa, uma espécie de avalista. Mas como somos só nós dois, é outro tipo de juramento que proponho. – explicou num tom professoral – A consequência mais grave que vai te acontecer se você tentar me trair, é que sua língua vai ficar travada e seu corpo vai ficar todo coberto de pústulas roxas – alargou mais o sorriso como se recordasse de algo parecido em outra época – E você só vai voltar ao normal depois de semanas.

- Era esse juramento que você queria que eu fizesse caso eu quisesse partir?

- Esse mesmo.

- Pois não pretendo te dedurar para ninguém. Não sou mal-agradecida – empinou o nariz ofendida pela simples sugestão. Ele contraiu os lábios para reprimir um riso pelo gesto – Mas se você se sente mais seguro, vamos fazer o seu juramento

- Como queira – ele balançou o dedo – Aproxime-se

O bruxo tirou a varinha dela do bolso e ajoelhou-se no chão da sala e esperou; ela estava sentada na cadeira perto da janela, ergueu-se e fez o mesmo, só não ficando na mesma altura, porque ele era mais alto. Ignorou as batidas do coração pelos olhos que a encaravam.

- E agora? – perguntou

- Entrelace sua mão com a minha – o bruxo estendeu a mão esquerda que estava livre. Ela a tomou, juntando os dedos e, embora não houvesse mais aquele choque entre eles, seu corpo estremeceu. Teve a impressão que com ele acontecia o mesmo, embora mantivesse o rosto indiferente. O homem colocou a ponta da varinha sobre as mãos juntas – Você jura que nunca dirá nada a ninguém a meu respeito?

- Juro.

- E jura que não tentará ficar no meu caminho seja o que for que eu tiver que fazer? – ela hesitou. Ele esbugalhou os olhos e arreganhou os dentes. – Você jura?

- Sim, sim,sim… - assustou-se tanto com a expressão dele quanto o tom que empregou na última pergunta, quase gritando – Eu juro.

- E por último, jura que vai me obedecer naquilo que eu te pedir enquanto estiver comigo?

- Juro.

- Muito bem. – ele assentiu – E em troca, juro que te darei proteção. E juro também que deixarei você partir livre no momento em que desejar, mesmo que recupere sua memória. Intertexere.

Várias linhas coloridas e reluzentes saíram da varinha e rodearam as mãos entrelaçadas. A bruxa ficou fascinada; pouco havia visto ele usar o objeto pra fazer mágicas e ela quase não fazia também (o sujeito a havia ensinado um feitiço para limpar os dentes e a boca quando lhe perguntou se tinha algo para escovar os dentes; nesses momentos, ele lhe entregava seu objeto mágico). As luzes coloridas formaram uma única luz e apertaram suas mãos como selando o acordo.

- Está feito.- declarou o bruxo ao se levantar e ajudou-a gentilmente. Porém, logo soltou a mão dela ao ficarem de pé – Acho que vou poder confiar um pouco mais em você de agora em diante.

- Acho que posso dizer o mesmo. – retrucou ela – E já que estamos nesse processo de confiança, será que poderia me dizer seu nome? Não aguento mais ter que me dirigir a você por "Moço"

- Certo – ele riu um pouco de seu comentário – Meu nome é Sirius Black. – assumiu uma expressão séria – Fugitivo de Azkaban, uma prisão daquela fortaleza que você viu antes de desmaiar... na praia em que te encontrei.

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Bom, como devem ter percebido, neste capítulo apareceu a Hermione do ano de 93, a adolescente. Nesse caso, vou chamá-la pelo nome. Já a Hermione que está com Sirius, vou continuar a me referir a ela sem nomear, mas como eu disse, em breve ela vai ter outro nome e uns apelidos aí com que o Sirius vai se referir a ela.

Espero que tenham gostado. Pessoal, enviem seus comentários. São um incentivo para mim continuar.

Até a próxima!