Capítulo 8 - De volta ao Beco Diagonal
But it's gonna take Money
Mas isto custará dinheiro
A whole lotta spending Money
Um bocado de dinheiro
It's gonna take plenty of Money
Vai custar muito dinheiro
To do it right child
Para fazer bem feito, querida
It's gonna take time
Vai levar um tempo
A whole lot of precious time
Um tempo bem precioso
It's gonna take patience and time, mmm
Vai ser preciso paciência e tempo, hum
(I got my mind set on you, "Eu não paro de pensar em você", George Harrison)
A bruxa se sentiu como que puxada para dentro de um cano, só que com uma força maior. Black havia lhe explicado que quanto maior a distância para a aparatar, maior a pressão. Era por isso também que somente bruxos poderosos e capacitados eram capazes de se deslocar para países muito distantes ou até outros continentes. Por fim, os pés de ambos tornaram a sentir o chão.
- Chegamos - anunciou Black
- Que lugar é este?
Era um estacionamento e, diante dele, uma instalação com várias portas, como apartamentos geminados. Havia apenas dois carros, que a bruxa reconheceu como um transporte dos trouxas.
- Aqui… é um motel – ele engoliu em seco – Não existem muitos na Inglaterra, mas aqui em Londres tem esse. É um tipo de hotel dos trouxas quando… bom... eles querem…
- Entendi o que é – cortou a bruxa com expressão fechada – Mas por que aqui?
- Bem, Sereia, já tive uma vida antes de Azkaban – abriu um largo sorriso ao vê-la corar e desviar o rosto – E esse é um dos poucos lugares do mundo dos trouxas que não corro risco de me encontrarem. O lugar para onde vamos é muito frequentado por bruxos… e seria arriscado se fôssemos direto para lá – olhou ao redor, sua expressão era melancólica. Ele trouxe algumas mulheres trouxas para aquele local – Que bom que esse lugar ainda está aqui. Não mudou muito desde a última vez…
- Certo, certo… - cortou-o de novo. Incomodava-a saber que aquele homem havia estado ali antes com outras mulheres. Não deveria se surpreender pelo jeito irreverente com o qual ele se expressava de vez em quando, porém, não conseguia imaginá-lo ali interagindo com elas. Ainda bem! – Será que fomos vistos?
- Não, está vazio. Costumava ficar a essa hora e parece que isso também não mudou – de fato, não havia ninguém no estacionamento, nem mesmo nos dois carros. O bruxo avistou um vigia de uma guarita e este até os olhava em dúvida, mas desviou o rosto após alguns momentos – Correção, quase vazio – apontou para o funcionário – De qualquer jeito, é só usar o feitiço para confundir.
- Acho que não vai ser preciso.
- Veremos.
Estavam saindo do local, passaram pela guarita e saudaram o guarda. O homem lançou um olhar bastante estranho para Black. A princípio, o bruxo achou que fosse por suas roupas ou a aparição repentina deles, mas quando viu sua foto estampada na folha de um jornal em uma mão do sujeito e a outra se dirigindo para o telefone, Sirius foi mais rápido e enviou um Confundus nele.
- Por que você fez isso? - a bruxa protestou
- Porque foi preciso – pegou o jornal do vigia enquanto este ainda estava atordoado e viu a foto tirada de quando ele foi preso. Era estanho ver a imagem não se mexer como acontecia no mundo dos bruxos. Na legenda se dizia: "Perigoso criminoso à solta" – Parece que já estou ficando famoso… até para os trouxas.
Tacou fogo no periódico antes que sua parceira inventasse de ler e enviou outro Confundus para o guarda.
- Você não viu nada. Apenas uma jovem mulher passeando com seu cachorro. Entendeu?
O homem assentiu atordoado. Em seguida, Sirius entregou a varinha à bruxa e assumiu sua forma animaga.
- Teria sido mais fácil se tivesse nos levado para um lugar mais deserto – ela reclamou
Obviamente, Sirius não lhe respondeu, mas deu um latido e foi na frente. A moça revirou os olhos e seguiu-o.
Black não tinha como retrucar, mas como havia dito, ali era um dos poucos lugares mais seguros para não o encontrarem, pois se localizava numa região pouco movimentada de Londres. Além disso, ele não conhecia outros pontos dos trouxas sem movimento para os quais poderiam aparatar. Sem contar que mesmo não se localizando no centro da cidade, a região não era muito afastada; podiam chegar aonde ele pretendia a pé.
Caminharam por cerca de meia hora pelos cálculos dele; de vez em quando, Sirius olhava para trás, a fim de ver se a bruxa ainda estava aguentando; felizmente, ela parecia ter um bom condicionamento, além de ter se recuperado bem, mesmo com uma alimentação um pouco deficiente.
A moça via tudo à sua volta, tentando reconhecer se havia estado ali antes, mas nenhuma lembrança lhe veio. Nenhuma das livrarias, lanchonetes ou qualquer outro estabelecimento. Ainda não havia se cansado apesar de terem caminhado bastante. Por fim, depois de andarem por mais um tempo, estava prestes a solicitar uma pausa quando Sirius a levou para um beco onde não havia ninguém. Ele parou diante de uma lixeira grande e esperou que ela se aproximasse. Ocultou-se atrás e voltou à sua forma humana.
- Já chegamos no lugar? - a jovem ofegou
- Cansada, Sereia? - ela lhe dirigiu um olhar petulante que Sirius achou muito engraçado, mas não riu. Apontou para uma direção – Do outro lado daquela rua há um bar que também serve como hospedaria para os bruxos. É o Caldeirão Furado. Basta entrar e chegar no pátio. Lá tem um muro que se abre para o nosso mundo, uma parte dele, o Beco Diagonal. Vou te dar algumas instruções e depois que entrarmos te passo outras. Tudo bem?
A moça acenou com a cabeça e ele lhe explicou o que fazer. Repetiu mais uma vez para conferir se ela havia entendido, mas a bruxa havia memorizado suas orientações. Black se transformou de novo em cachorro e saíram daquele beco, cruzaram a rua e depararam-se com o bar. À primeira vista, era um estabelecimento pequeno e sujo, que vários transeuntes ignoravam; apenas dois ou três adentraram o local e eles se diferenciavam dos demais por suas roupas; ela soube que eram bruxos como eles. A jovem teve impressão de que o lugar era visível apenas para si e seu parceiro; então adentrou o ambiente que parecia mais sujo, escuro e miserável no interior, mas ao avançar, era um local limpo acolhedor e amplo, repleto de quadros nas paredes. Três indivíduos os avistaram, mas não fizeram caso, nem mesmo pelo fato de a bruxa entrar com um cachorro; havia oito mesas largas e cheias de pessoas, que estavam entretidas em conversas, em compartilhar bebidas ou em tomarem um lanche; no balcão, cinco copos eram preenchidos ao mesmo tempo apenas com um toque de varinha do barman.
Sirius experimentou um leve sentimento de melancolia ao reconhecer Tom, o dono do lugar. O homem quase não havia mudado desde a última vez que esteve lá com os Marotos. Ah, quantas noites incríveis Sirius passou ali! Ou às farras dando gargalhadas com os amigos ou aos beijos com alguma bruxa linda que levou depois para um dos quartos do lugar.
O animago se deteve e ficou rígido ao avistarem na parede atrás de Tom, um cartaz de procurado com sua foto, a mesma do jornal do trouxa no motel: a única diferença é que nessa, embora quase não se mexesse, ele piscava os olhos com uma expressão de indiferença.
- Podemos voltar se você quiser – sua parceira lhe sussurrou ao se abaixar para lhe falar perto do ouvido ao olhar na mesma direção
Porém, Black estava decidido e acelerou seus passos até o pátio; a bruxa o acompanhou. O cão se postou ao lado de um muro e aguardou-a.
- Ainda acho essa sua ideia arriscada e louca… mesmo que seja para nosso conforto – ela o advertiu. Ele soltou um leve ganido – Mas se você quer assim…
E agiu conforme as instruções que Sirius lhe deu: contou o número de tijolos, parou no terceiro à esquerda acima de um latão de lixo e olhou para o cachorro que assentiu; bateu três vezes com a ponta da varinha. Um arco enorme se abriu no muro e a moça abriu a boca. Súbito, uma vaga imagem se formou em sua mente.
- Mãe, pai, olha que incrível!
A menina declarou no meio de um casal. O muro diante deles estava aberto. Ao lado da abertura, uma senhora de óculos com vestes diferentes das deles e um chapéu cônico lhes sorria. Ela segurava uma varinha e disse:
- Bem-vindos ao Beco Diagonal.
O latido de Sirius a trouxe de volta ao presente. A moça o encarou; ele a olhava com expressão confusa.
- Eu… acho que tive uma lembrança – explicou-lhe – Já estive aqui antes. Acho que… a primeira vez com meus pais.
O coração dela se apertou com a lembrança. Não viu os rostos deles, mas tinha certeza de quem eram. Queria contar mais de sua recordação, porém, um casal de bruxos lhe pediu licença enquanto passavam por ela e adentravam o beco. Black latiu outra vez como a convidando para entrar e depois comentarem sobre o assunto. A moça assentiu e atravessavam o arco que se fechou com a entrada deles.
A bruxa olhava para tudo com fascinação. Por mais que agora soubesse que já tinha estado ali, sem as suas lembranças era como se fosse tudo novo para ela. Lojas das mais variadas: desde uma com caldeirões de vários tamanhos, passando por outra de vassouras (a qual expunha uma em uma vitrina com vários garotos olhando), até algumas de vestes. Animais como corujas e morcegos abundavam aqui e ali; porém, o que chamou mais a atenção da moça foi uma loja de livros, pergaminhos e penas. Apesar da estranheza de, no lugar da vitrine, estar uma gaiola de ferro com um monte de livros que se mexiam e se digladiavam, ela queria entrar e espiar. Por Merlin, como ela sentia falta de ler alguma coisa! Na cabana de Sirius, não havia nenhum exemplar (ele mesmo se lamentava de não tê-la sortido com alguns).
A bruxa quase foi em direção à livraria, mas os latidos de Sirius a lembraram de sua presença e desviaram-na da distração. Ou talvez ele simplesmente estivesse latindo de contentamento por também estar de volta àquele lugar ao qual devia ter frequentado bastante antes de sua prisão.
Caminharam por mais algumas lojas adiante, até o cachorro entrar debaixo de um dos tapetes dependurados no telhado de um estabelecimento; ela fez o mesmo; ele foi para a parte de trás do local, quase pegado a um muro; não havia ninguém no pequeno espaço e nem dava para serem vistos. Sirius se transformou e ela se aproximou.
- Estamos perto do Banco Gringotes. É aquele lá – Black apontou para um edifício branco cuja torre dava para ser vista naquele pequeno esconderijo – Mas antes de eu te passar mais instruções, me diga: você teve mesmo uma lembrança lá na entrada do beco?
- Sim, tive. Tenho certeza. Eu estava com os meus pais… e com outra senhora. Ela… era uma bruxa – franziu o cenho evocando a imagem – Ela estava nos apresentando o Beco Diagonal.
- E você se lembra como ela… essa bruxa era? - após a jovem descrever a mulher, a fisionomia de Sirius se abriu em compreensão – Pela sua descrição… só pode ser Minerva McGonagall.
- Quem é ela?
- Uma professora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. - sorriu – Ela...
- Hogwarts? - a jovem tentou se lembrar e abriu a boca – Espere! Escutei você falar desse lugar! Você quer invadir uma escola!?
- Shhh. - ele se encolheu e puxou-a para mais perto. Felizmente, o barulho das vozes de vários bruxos misturados a outros sons abafou o grito da moça – Se quiser, pode falar um pouquinho mais alto. - tornou sarcástico
- Desculpe – ela voltou aos sussurros e ignorou a proximidade com Sirius naquele esconderijo – Mas você vai mesmo invadir uma escola?
- Meu alvo não é nenhum aluno. Como eu te disse, não pretendo envolver inocentes no meu plano. E, por favor, sem perguntas a esse respeito – ergueu a mão quando ela ia protestar – Voltando à sua recordação… se lembrou de mais alguma coisa? Seu nome? - ela negou com a cabeça – O de seus pais?
- Nada… - ela suspirou e sua expressão se anuviou – Nem dos rostos deles.
- Pelo menos você se lembrou de algo. - teve vontade de alisar o rosto dela para consolá-la, mas se conteve – Isso é algo bom.
- É. - ela abriu um sorriso
Ficaram ali parados olhando um para o outro, com os corpos bem próximos. Foi a bruxa que se afastou depois de se lembrar de respirar.
- E… o que é para eu fazer?
- Certo – a voz de Sirius saiu quase nula com o peso da respiração. Ele pigarreou e tirou um pedaço de papel do bolso, o mesmo que a bruxa o havia visto guardar antes de partirem da cabana – Aqui tem informações do código do meu cofre. Parecem apenas números, mas são encantados por magia para que apenas o dono possa escrever… ou um herdeiro nomeado. Isso é uma da forma de se ter acesso ao cofre se o dono não puder ir pessoalmente no banco e quiser encarregar alguém. - deu o papel para a moça – É por isso que estou te entregando. Preciso que você saque para mim.
A bruxa pegou o papel e leu. Além do código, estava escrito o nome Harry Potter. "O maldito está em Hogwarts! Tenho que pegá-lo! Tenho que pegá-lo! Harry! Harry!" Ela se lembrou de escutar Sirius em mais de uma ocasião repetir essa frase. Franziu o cenho porque no seu entendimento o tal Harry era a pessoa que o bruxo desejava "pegar."
- Harry Potter é o meu afilhado – tornou Black como se adivinhasse seu questionamento. Ela o encarou de volta – E meu único herdeiro se alguma coisa me acontecer. Eu poderia usar meu próprio nome para sacar que os duendes não se importariam. Eles…
- Duendes?
- Sim, o banco dos bruxos de toda Grã-Bretanha é administrado por duendes – sorriu diante do espanto dela – Mas eles têm suas próprias regras. São neutros sobre as questões que envolvem bruxos.
- Isso significa que eles são como… como a Suíça?
- Boa comparação. É isso mesmo. Significa que um criminoso procurado pela comunidade bruxa poderia sacar dinheiro com eles, desde que não tentasse roubar o Gringotes. Porque se você tentar… - ele assobiou – Não queira enfrentar a ira de um duende.
- Mesmo assim… você acha que pode ter bruxos dentro do banco à sua espera.
- É provável… não duvido que esteja cheio de aurores. Er… caçadores de bruxos criminosos e outras criaturas perigosas – ele se apressou em explicar – Claro que não deixaria os duendes contentes, mas eles poderiam concordar desde que não interferissem em seus negócios. Mesmo que o Ministério da Magia não tenha colocado nenhum, lá dentro vão ter outros bruxos…. que podem me reconhecer se eu fosse doido o bastante para ir eu mesmo – ele tornou a sorrir – Ainda não cheguei nesse nível de loucura.
- Mas por que usar o nome do seu afilhado e não o seu? Se estou indo para lá pegar seu dinheiro em seu lugar.
- Os duendes são neutros com relação às questões dos bruxos, mas também são muito desconfiados a nosso respeito pelo que fizemos com eles no passado. Longa história – deu de ombros ao ver a ânsia estampada na face dela por querer perguntar – E talvez eles fiquem vigilantes se o pedido for feito no meu nome com medo de eu planejar um assalto e comuniquem isso aos aurores se tiver algum por lá. - suspirou – Enfim, pode ser paranoia minha, mas nunca é demais tomar precauções. E não quero arriscar sua segurança – admitiu sua preocupação. Ela piscou os olhos e engoliu em seco.– E a minha também, é claro – ele se apressou a dizer – Se você for pega tirando dinheiro no meu nome, podem te prender e te questionar. Mesmo que você não consiga dizer nada por causa do nosso juramento, podem usar outras maneiras… e chegarem até mim.
- É claro – a bruxa disfarçou o desapontamento na voz. Bobagem! Por que deveria se importar que ele pensasse na sua segurança independente da dele? Pois mais que estivesse ciente de que ele a desejava, era apenas isso. E uma parceria de conveniência – Quanto que eu devo sacar no seu cofre?
- A quantia está atrás do papel.
Os olhos da bruxa se arregalaram com o montante. Não precisava de sua memória para saber o quanto era alto o valor pedido.
- Isso é…
- O suficiente para manter duas pessoas num nível confortável durante dois anos, com direito a um lugar decente, boa comida, roupas de primeira e ainda desfrutar de alguns luxos. Como livros, por exemplo – ela corou com o sorriso malicioso dele – Acredite, Sereia, isso não é nada para mim. O que tenho no cofre daria para sustentar vinte pessoas por um período de cem anos sem que precisassem trabalhar.
- Certo – disfarçou um pouco seu incômodo, pois viveria às custas dele, mesmo que fosse temporário – Então você me espera aqui?
- Irei com você até a portaria, mas não vou entrar. Não tenho muita certeza, mas acho que já na entrada do banco, podem detectar feitiços de disfarce. Talvez consigam verificar que sou um animago transformado. Espere. - ele entregou uma bolsa velha, grande e marrom que havia pego na cabana – Use isto para carregar o dinheiro. Encantei para que fique leve mesmo depois de cheia – esperou ela colocar a alça no ombro – E mais uma coisa: se você sentir qualquer movimento suspeito no banco, alguma armadilha para te reter, não pense duas vezes e saia correndo de lá. Entendeu? - a bruxa assentiu – Ótimo.
Black voltou a se transformar, saíram de trás da loja e caminharam alguns metros até chegarem na escadaria do edifício branco. A moça viu um duende de uniforme vermelho e dourado diante de uma porta de bronze. A criatura fez um leve meneio com a cabeça, ao qual ela correspondeu. Teve uma vaga sensação de reconhecimento, mas não chegou a ter uma lembrança como havia acontecido perto do muro do Caldeirão Furado. Sirius latiu lhe chamou a atenção e ela apenas acenou.
A bruxa subiu os degraus, passou por aquela porta e encontrou uma segunda de prata guardada por outros dois duendes. Leu a inscrição no alto da parede com uma advertência para os ladrões e prosseguiu seu caminho. Lá dentro, havia mais de cem duendes realizando várias atividades, como escrever em livros-caixa e avaliar o peso de pedras preciosas numa balança, além de atender vários bruxos.
A jovem olhou para os lados e não observou nenhum bruxo de vigia ou questionando os clientes que entravam e saíam; nenhum se aproximou dela também; havia mais cartazes de Sirius Black em duas ou três paredes de Gringotes, mas nada mais que quebrasse a rotina; tudo parecia tranquilo. Então ela suspirou e aproximou-se do balcão.
- Bom dia! – cumprimentou ao duende que havia acabado de dispensar uma bruxa – Vim sacar uma quantia de um cofre. – abaixou o tom, pois havia dois bruxos a seu lado sendo atendidos no balcão – Em nome de Harry Potter.
- Você é parente dele?
- Não. Sou... uma amiga.
- Hum... tem a chave?
- Tenho isto – mostrou o papel com os códigos numéricos escritos por Sirius. O duende leu e, em seguida, encarou-a de volta com os olhos estreitados. Ela engoliu em seco, mas virou o papel – E a quantia que desejo é essa.
- Muito bem. – ele desanuviou a fisionomia – Parece em ordem para mim. Grampo! – outro duende se aproximou e pegou o papel que o atendente lhe estendeu – Leve a senhorita para a sala especial e cuide disso.
- Sala especial? – a bruxa o fitou sem entender
- É para a senhorita aguardar enquanto ele busca seu pedido. Trouxe alguma coisa para carregar?
- Aqui – ia entregar para o balconista, mas ele fez um gesto para que a desse a Grampo que estava ao seu lado – Mais… alguma coisa?
- Isso é tudo. Tenha um bom dia, senhorita.
- O… o senhor também.
Grampo fez um movimento para que o acompanhasse e caminharam juntos para uma ala. A bruxa estava preocupada, pois observou os dois bruxos ao seu lado tendo feito o mesmo tipo de pedido e acompanhado outros duendes que foram chamados pelos atendentes para a outra direção. Será que intencionavam prendê-la ali enquanto chamavam os tais aurores? Começou a suar, talvez devesse...
- É por aqui – interpelou-a seu acompanhante e mostrou uma porta no começo de um corredor, que estava apenas encostada. Dentro do recinto, havia três conjuntos de sofá vinho e uma mesinha ao centro com uma jarra de água – Queira se sentar, senhorita. Já trago seu pedido.
A bruxa não teve alternativa senão entrar. O duende a encarou com expressão desconfiada antes de fechar a porta. Ela se sentou, mas não estava nada tranquila. E se ele fosse mesmo chamar os aurores? O que ela faria? Sirius a aconselhou a sair correndo se sentisse qualquer movimentação suspeita, mas... por algum motivo, refletiu que deveria aguardar. Se fugisse dali correndo seria pior...
Talvez não fosse mesmo nada. Em todo o caso, pensaria em uma estória convincente.
- 0 –
Sirius estava arrependido de ter enviado a "Sereia" para o banco. Ela tinha razão: no que ele estava pensando ao se arriscar daquele jeito indo para um lugar como o Beco Diagonal cheio de bruxos e cartazes com seu rosto estampado por todos os lados? E a arrastando consigo ainda por cima?
Por mais que ninguém conhecesse seu segredo de animago – exceto Remus e Pedro –, ele não se sentia seguro de estar exposto daquela maneira. Mesmo para um cachorro, chamava bastante atenção por seu tamanho: alguns subiam as escadas e olhavam-no como se temessem que ele fosse avançar; outros, acompanhados de crianças, apontavam-no como se fosse um objeto interessante; e havia até aqueles que se arriscavam a mexer com ele e acariciar sua cabeça – belas mulheres, para ser mais preciso.
Contudo, ninguém conseguia tirá-lo da aflição que sentia a cada instante que sua parceira demorava. Estava decidido que se visse um bando de aurores a arrastando dali avançaria neles para dar tempo a ela de fugir. Por Merlin, tomara que não precisasse fazê-lo, pois isso arruinaria seu disfarce e seus planos caso o apanhassem! Mas ele não estava tão obcecado por vingança, a ponto de deixar uma inocente ser presa por sua causa. Não gostava da proporção com que a Sereia estava se tornando importante para sua vida, naqueles curtos dias, mas não podia evitar.
A bem da verdade, a quantia que havia pedido para se estabelecer em algum lugar não era tanto para si, era mais por ela. Seu plano original nunca foi se instalar num local confortável; por ele, o castelo e sua floresta serviriam como abrigo. Mesmo porque ele não teria a quem recorrer para sacar dinheiro e custear tais despesas. Contudo, não podia ignorar o conforto da moça e a conveniência de ele também se beneficiar de tal vantagem.
E o período calculado em dois anos era mais para ela, pois quando terminasse com Pedro, ele teria que fugir da Inglaterra. Porém, levá-la junto estava fora de questão. Nesse meio tempo, a moça podia se recordar de quem era e, mesmo que não ocorresse, a deixaria em segurança tanto financeira quanto física. Havia pensado em Alvo Dumbledore para lhe proteger: enviaria a jovem para o mago com uma carta explicando a situação dela e o resto sobre Pettigrew. Mesmo que Alvo duvidasse de sua estória, com certeza, perceberia que a moça acreditava; com certeza, não a entregaria às autoridades e a colocaria sob sua proteção. Sua bruxa ficaria bem depois que ele obtivesse sua vingança e deixasse Harry seguro.
Sua bruxa! Desde quando?
Começou a andar de um lado para o outro. Por mais que soubesse que era demorado o atendimento – a moça teria que descer com um duende no subsolo até chegar no seu cofre –, a espera o afligia. Estava considerando entrar no banco – mesmo que houvesse feitiços que detectassem sua forma – quando a bruxa saiu com a bolsa cheia. Ele não se conteve e soltou um latido alto e abanou o rabo várias vezes; ela lhe sorriu.
- Deu tudo certo – sussurrou a jovem. Havia alívio em sua voz – Vamos sair daqui.
Sirius assentiu e seguiu por uma ruela com a jovem em seu encalço. Ali era o início da Travessa do Tranco, um lugar não-recomendado para bruxos decentes, mas havia um certo beco onde poderia conversar com ela em sua forma humana sem serem incomodados. Assim que chegaram ao local, trouxe-a para um vão de um muro e ali se transformou.
- Como foi? – perguntou. – Algum auror se aproximou e questionou você?
- Na verdade, não. Nem de mim e de nenhum bruxo. Não vi ninguém de vigia, fora os duendes.
- Estranho – ele coçou o queixo – Pensando bem, também não vi ninguém do lado de fora parecendo um auror.
- Como você disse, talvez não achassem que você seria louco de ir ao banco.
- É, deve ser – deu de ombros – Alguma coisa incomum?
- Eles me levaram para uma sala e pediram para eu aguardar. Achei estranho no começo, mas depois o duende que me entregou a quantia, me explicou que por eu não ser parente de Harry Potter ou do dono do cofre, eu não podia acompanhá-lo até lá. Era uma medida de segurança.
- Eu não sabia disso. Achei que fossem te levar até meu cofre.
- Sem problema. Mas fiquei preocupada no começo, com medo de ser um truque
- Eu disse pra você ir embora se sentisse qualquer coisa suspeita – Sirius não conteve o tom de repreensão.
- Achei que seria mais suspeito se eu saísse de lá fugida – empinou o nariz – Em todo caso, bolei uma história. Eu diria que estava sem memória e que um bruxo me resgatou de algum lugar e cuidou de mim. E como agradecimento, resolvi ajudá-lo a sacar um dinheiro que ele me pediu, mas não fazia ideia de quem ele era porque não quis me revelar seu nome. – Black fez expressão de desdém – Não seria uma mentira de todo. E não comprometeria o juramento que fiz com você.
- E acha que eles acreditariam?
- Era só fazer uma cara de desamparada. E mostrar minha cicatriz com aquela palavra grafada. E eu seria até capaz de levá-los para a cabana só para convencê-los de que estivemos lá – Sirius riu – O que foi? Acha que não seria suficiente?
- Não, acho que você os convenceria. Eu só estava pensando que...
- O quê?
- Que você com essa cara inocente esconde uma verdadeira mente maquiavélica. Nem quero saber do que é capaz quando recuperar sua memória – ele levantou os braços quando ela fechou o rosto – É um elogio. Beleza?
- Hum... está bem – ela acabou por sorrir – E agora? O que fazemos?
- Agora começa a vida boa, baby.
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Uma observação sobre uma informação que coloquei nesse capítulo sobre motéis. Na Inglaterra, não existem motéis. Quem me falou a respeito foi uma leitora de outro site que já esteve lá. Como eu já tinha escrito e não queria perder a piada, deixei como estava, apenas mudando na fala do Sirius que aquele era o único motel em Londres e que havia poucos.
Gente, por enquanto ainda não fui para a Europa ou viajei para fora (com exceção de uma viagem para a Argentina), mas procuro pesquisar sobre a cultura de outros países. Mas têm coisas que às vezes me escapam. Se alguma de vcs também já viajaram ou moraram na Inglaterra e perceberem que algo não bate aqui, podem me apontar. Assim como podem me corrigir também se eu colocar alguma informação que contradiga algo do Universo de Harry Potter. Não quer dizer que não vou inventar, apenas não vou confrontar com algo já estabelecido nos livros (exceto o final da saga, claro). Ou podem comentar qualquer outra coisa que acharem que eu possa melhorar. Viu? Não vou brigar com vcs, sei receber um feedback. Mas é claro, peço a devida educação
Bom, espero que tenham gostado. A memória da Hermione começa a emergir, mas vai demorar bastante até voltar.
Comentem! Até o próximo capítulo!
